Neil deGrasse Tyson, director do Hayden Planetarium do American Museum of Natural History em New York, fala sobre o desenho estúpido.
Tyson é actualmente o mais conhecido astrofísico americano e o seu último livro, «Death by Black Hole And Other Cosmic Quandaries», uma antologia brilhantemente articulada de textos da série «Universo» publicados na revista Natural History, foi um best-seller uns dias após a publicação. O livro, escrito com a verve e humor que o vídeo indicia, é uma excelente introdução ao Universo e aos seus enigmas. Mesmo os que sabem a diferença entre um fotão e um protão apreciarão até os capítulos introdutórios em que a pena fácil e brilhante de Tyson explica, de forma simples e com um entusiasmo contagiante, os conceitos mais complexos em astrofísica. Como aperitivo que despertará certamente o apetite dos nossos leitores pelo livro, estão disponíveis alguns dos artigos desta série, de que gosto particularmente do que escolhi para dar título ao post, «O perímetro da ignorância».
O capítulo «Holy Wars», é igualmente indispensável. Neste capítulo Tyson desmistifica livros que tentam trazer Deus para a astrofísica, «The God Particle» de Leon M. Lederman ou «A Física da imortalidade» de Frank Tipler - a «bíblia» do CRAP ou princípio antrópico que inclui um «apêndice para cientistas» de 110 páginas, cheio de operadores, derivadas parciais e integrais, um amontoado de equações matemáticas complexas que não têm rigorosamente nada a ver com a tese que o autor quer sustentar: a inevitabilidade da existência de Deus -, como sendo fruto de homens brilhantes que aproveitaram o filão «Deus» que a onda mística que varre o mundo propiciou para encher as respectivas contas bancárias.
Na realidade, Tyson aponta que não há nada em comum entre religião e ciência e que a inspecção da História revela uma guerra entre ambas como explicado no livro que já referi, «A History of the Warfare of Science with Theology in Christendom», do historiador e ex-presidente da Universidade de Cornell (uma das mais prestigiadas universidades do mundo, que incluiu Carl Sagan no seu corpo docente) Andrew D. White.
Para além disso, a ciência assenta em verificação experimental e a religião assenta na fé, que por definição dispensa qualquer tipo de comprovação, pelo que as duas abordagens ao conhecimento são completamente irreconciliáveis. E considerando que ao longo de boa parte da História da humanidade se tentou arduamente aproximar ambas parece pouco provável que a conciliação alguma vez aconteça: «Grandes mentes científicas, desde Ptolomeu no século II a Isaac Newton no século XVII, investiram os seus intelectos formidáveis em tentativas para deduzir a natureza do Universo a partir de afirmações e filosofias contidas em escritos religiosos. De facto, à altura da sua morte, Newton tinha escrito mais palavras sobre Deus e religião que acerca das leis da física, tudo numa tentativa fútil de usar a cronologia bíblica para perceber e prever acontecimentos no mundo natural. Se alguma destas tentativas tivesse resultado a ciência e a religião poderiam ser hoje em dia indistinguíveis».
O artigo «Holy Wars» termina com um parágrafo que subscrevo inteiramente «Eu, como Ptolomeu, sinto-me humilde face ao nosso Universo bem regulado. Quando me encontro na fronteira cósmica, quando toco as leis da física com a minha caneta ou quando contemplo o céu infinito de um observatório no topo de uma montanha, inundo-me de admiração pelo seu esplendor. Mas faço-o sabendo e aceitando que se proponho um Deus para lá desse horizonte, aquele que agracia o vale da nossa ignorância colectiva, o dia chegará em que a nossa esfera de conhecimento terá crescido tanto que eu não mais terei necessidade dessa hipótese».
9 comentários:
grande post. e grande livro. já encomendei.
obrigado pela recensão.
Fabuloso! Também já encomendei o livro. Não conhecia de todo este Tyson, fez-me lembrar o Sagan.
Impunha-se um post como este, depois daquela coisa do Einstein que deixou a beatada toda contente que a ciência sem religião é coxa. A religião que faz falta à ciência e de que falava o Einstein é a religião que Tyson fala no último parágrafo que a Palmira tão oportunamente traduziu.
A ciência tem empurrado Deus para o perímetro da nossa ignorância, tão lá longe que é preciso inventar guerras da evolução para o trazer mais para perto.
Por isso a beatada de todas as religiões anda tão atarefada em guerras contra a ciência. Não sei se a Palmira já viu a última do RATZinger sobre a IDiotia.
Por mim a beatada podia andar toda entretida com as tretas que lhe apetecesse. O problema é a mistura religião política. E a beatada anda ainda mais entretida em guerras políticas. Aquela de convidarem o RATZinger para o parlamento europeu não lembra ao careca...
se puderem vejam a entrevista que jon stewart fez no daily show (a promover o livro), hilariante
Satanucho
Na origem as trevas escondiam-se nas trevas
este universo era onda indistinta.
A Ordem e a Verdade nasceram
do fogo que acende
daí nasceu a Noite
daí o Oceano e suas ondas.
Pelo Tempo sopra o vento purificador
graças ao Tempo existe a vasta Terra
o vasto Céu está no Tempo"
alguns versos dos
hinos dos Veda 1700-1200 aC
Retirado do artigo: "Neste capítulo Tyson desmistifica livros que tentam trazer Deus para a astrofísica, «The God Particle» de Leon M. Lederman ou «A Física da imortalidade» de Frank Tipler - a «bíblia» do CRAP ou princípio antrópico que inclui um «apêndice para cientistas» de 110 páginas, cheio de operadores, derivadas parciais e integrais, um amontoado de equações matemáticas complexas que não têm rigorosamente nada a ver com a tese que o autor quer sustentar: a inevitabilidade da existência de Deus"
Existe uma Biblia do princípio antrópico? Então, tudo o que está lá escrito é aceite por fé, sem questionar!
muito bom, obrigado :)
No entanto devo dizer que este debate entre ciência e religião é etnocêntrico, não nos podemos esquecer que há religiões não teístas.
Muito obrigado pelo post, não conheci o Neil deGrasse Tyson, irei comprar o livro assim que surja oportunidade.
Continuem com esta actividade, está verdadeiramente interessante, Parabéns.
Uáu!!!! A lindíssima Iconaclasta afina pelo meu diapasão... pois então, é uma tântrica paixão!!! :)
Creio que essa é a tradução parcial em português do Hino 129 (Nasadiya Sukta) do 10º e último Mandala do Rig-Veda, não?! Já deixei aqui a versão inglesa abreviada, que é eloquente quanto à extraordinária semelhança existente entre estes textos antiquíssimos... incluindo o ultra-maravilhoso "Tao Te Ching", claro!... e a moderníssima ciência de ponta!
Logo, nada de novo debaixo do sol... desde a aurora ao arrebol!!! :)
E uma Alma Iconoclasta...
Rui leprechaun
(...é um Sonho que se alastra!!! :))
PS: Ainda outra versão alargada do mais famoso hino védico da criação. Composto há talvez 4 milénios ou mais, esta é uma descrição maravilhosamente sublime... e cosmologicamente muito exacta!... da misteriosa origem do Universo!
Non-being then existed not being:
There was no air, nor sky that is beyond it.
What was concealed? Where in? In whose protection?
And was there deep unfathomable water?
Death then existed not nor life immortal;
Of neither night nor day was any token.
By its inherent force the one breathed windless:
No other thing than that beyond existed.
Darkness there was at first by darkness hidden;
Without distinctive marks, this all was water.
That which, becoming, 'by the void was covered,
That one by force of heat came into being.
Desire entered the one in the beginning:
It was the earliest seed, of thought the product.
The sages searching in their hearts with wisdom.
Found out the bond of being in non-being.
Their way extended light across the darkness:
But was the one above or was it under?
Creative force was there, and fertile power:
Below was energy, above was impulse:
Who knows for certain? Who shall here declare it?
Whence was it born, and whence came this creation?
The gods were born after this world's creation:
Then who can know from whence it has arisen?
None knoweth whence creation has arisen:
And whether he has or has not produced it:
He who surveys it in the highest heaven,
He only knows, or haply he may know not.
A avaliar por um artigo de Sean Salomon na revista Science de 4 de Maio de 2007, parece que o planeta Mercúrio tem um campo magnético, o que é estranho de acordo com os modelos geralmente aceites de evolução cósmica. Não devia ter, considerando que se diz ter cerca de 4,6 biliões de anos. Não se percebe como poderia manter as condições térmicas, magnéticas e dinâmicas para a manutenção de um campo magnético durante tanto tempo. Detalhes técnicos à parte, suspeito que os criacionistas se vão agarrar a mais este argumento para defenderem a idade recente do sistema solar. Aguardemos.
Enviar um comentário