quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

A ciência em julgamento


Charlatães processarem aqueles que mostram publicamente que as suas práticas são charlatanices é uma tática bem conhecida. Quatro exemplos:

1. O charlatão Matthias Rath, que vendia vitaminas na África do Sul para supostamente tratar a infecção por VIH, em substituição dos tratamento convencionais anti-retrovirais, processou o médico Ben Goldacre por este denunciar no jornal “The Guardian” (que também processou) a sua aldrabice assassina. Rath teve respaldo político na África do Sul, num quadro de desconfiança das empresas farmacêuticos ocidentais. Estima-se que a recusa das autoridades sul-africanas dos tratamentos anti-retrovirais (mesmo quando estes eram oferecidos) tenha resultado em 343 000 mortes que poderiam ter sido evitadas, entre 1999 e 2007. O caso é contado por Goldacre no livro Ciência da Treta (Bizâncio, 2008). Agora que o mundo está a braços com a epidemia do novo coronavirus COVID-19, vale a pena recordar a publicidade que a fundação de Rath divulgou quando surgiu pela primeira vez um outro coronavírus, responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS): “É um facto científico que todos os vírus que foram investigados cientificamente podem ser bloqueados por nutrientes essenciais naturais específicos”. Não podem. Mas há charlatães sem escrúpulos, que não recuam diante de nenhuma pilha de cadáveres. E que ainda assim processam quem os denuncia.

2. A Associação Britânica de Quiropraxia processou o divulgador de ciência Simon Singh por este expor a falta de fundamento da quiropraxia, uma terapia alternativa pseudocientífica que os seus praticantes alegam poder curar quase tudo (desde cólicas em crianças a infecções no ouvido), principalmente através da manipulação da coluna vertebral.

3. O charlatão Andrew Wakefield, grande instigador do movimento anti-vacinas moderno, processou o jornalista de ciência Brian Deer (e o Channel 4 da BBC) por este ter exposto a sua fraude científica: falsificou registos hospitalares para criar a mentira que os primeiros sintomas de autismo surgiam logo após a toma da vacina tríplice (contra o sarampo, papeira e rubéola), publicando um estudo manipulado em que descrevia 12 casos. Wakefield recebeu cerca de 400 000 libras, pagas por um um fundo de apoio jurídico constituído para processar os fabricantes das vacinas, tendo em vista indemnizações aos pais de crianças autistas.

4. Em Espanha, um grupo de 24 homeopatas processou o presidente da Sociedade Valenciana de Medicina Familiar e Comunitária e o porta-voz da Associação Para a Protecção dos Doentes Contra as Terapias Pseudocientíficas, por atentado contra a sua honra, por causa de textos que consideravam injuriosos.

Em todos os casos a charlatanice perdeu ou desistiu. O caso espanhol teve o seu desfecho no mês passado. O tribunal teve em conta a posição da Real Academia de Farmácia, segundo a qual “a homeopatia não só não funciona, como põe em risco a saúde”.

Na actualidade nacional, o médico João Júlio Cerqueira, autor do site SCIMED (que se dedica a divulgar análises muito bem fundamentadas acerca de intervenções na área da saúde) e Manuel Sant’Ana, Vice-Presidente do Conselho Profissional e Deontológico da Ordem dos Médicos Veterinários, estão a ser acusados de difamação por praticantes de medicinas alternativas, da área da medicina tradicional chinesa e da acupuntura. Não vou aqui discutir a comprovada falta de eficácia e segurança das terapias alternativas, já escrevi extensamente sobre isso noutros lados. Refiro apenas um facto inquestionável: a nenhum tratamento de nenhuma terapia alternativa é exigido o mesmo nível de prova de eficácia e segurança que é exigido para introduzir um novo medicamento no mercado. Se os terapeutas alternativos (incluindo os acupunctores) acreditassem mesmo nas provas científicas dos seus tratamentos, seriam os primeiros a advogar iguais exigências para a aprovação dos tratamentos que ministram. Como sabem que isso seria o fim das suas práticas, preferem outras táticas, como intimidar os críticos com processos judiciais.

Portugal tem duas particularidades. A primeira, os tribunais portugueses têm um historial pouco recomendável de respeito pela liberdade de expressão, sendo o nosso país sistematicamente condenado por essa razão no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. A segunda, é que os políticos portugueses têm vindo a legislar sobre as terapias alternativas como se elas fossem uma coisa mesmo a sério, concedendo carteiras profissionais a praticantes de medicinas que não funcionam, definindo os conteúdos de licenciaturas em banha da cobra no Diário da República e — a cereja em cima do bolo — integrando as terapias alternativas na nova Lei de Bases da Saúde.

Nesta caldo, e se estes processos alguma vez chegarem a tribunal, será a ciência que estará em julgamento. Não é a primeira vez que acontece. Por exemplo, nos Estados Unidos, num julgamento em 1982, um tribunal do Arkansas teve de decidir se as "ciências da criação" eram ciência e deviam ser ensinadas nas aulas de ciência, a par com a teoria da evolução. Nesse caso a ciência ganhou (independentemente das nossas crenças religiosas não podemos com seriedade afirmar que o Dilúvio e  Arca de Noé são explicações científicas para a diversidade da vida).

Como disse o astrónomo e divulgar científica Carl Sagan numa entrevista em 1996: "Desenvolvemos uma sociedade baseada na tecnologia e na qual ninguém percebe nada de ciência e tecnologia. Esta mistura inflamável de ignorância e poder, mais cedo ou mais tarde, vai-nos explodir na cara."
Está-nos a explodir na cara.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Competência e autoridade do professor

Um texto publicado há dias - É indispensável que o professor recupere a autoridade - teve diversos comentários de concordância e de discordância da afirmação em título. Percebe-se: foram várias décadas em que preponderou um discurso onde se destaca o afastamento da figura do professor da relação pedagógica, sobretudo se entendido como aquele que conduzia os seus desígnios. Chegámos, agora, a uma "nova normalidade" ("new normal") em que se quer fazer do discurso prática efectiva e real. Acontece que isso é deixar as crianças entregues a si próprias e umas às outras, impedindo-as de se tornarem adultas no sentido efectivo da expressão. Importa pensar nisso a partir do olhar de duas filósofas: H. Arendt e O. Pombo: 


“A autoridade do educador e as competências do professor não são a mesma coisa (…). A competência do professor consiste em conhecer o mundo e em ser capaz de transmitir esse conhecimento aos outros. Mas a sua autoridade funda-se no seu papel de responsável pelo mundo. Face à criança, é um pouco como se ele fosse um representante dos habitantes adultos do mundo que lhe apontaria as coisas dizendo: «Eis aqui o nosso mundo!» (…). A educação é assim o ponto em que se decide se se ama suficientemente o mundo para assumir a responsabilidade por ele e, mais ainda, para o salvar da ruína que seria inevitável sem a renovação, sem a chegada dos novos (…). A educação é também o lugar em que se decide se se amam suficientemente as nossas crianças para não as expulsar do nosso mundo, deixando-as entregues a si próprias, para não lhes retirar a possibilidade de realizar qualquer coisa de novo, qualquer coisa que não tínhamos previsto, para, ao invés, antecipadamente as preparar para a tarefa de renovação de um mundo comum.” Hannah Arendt, 1957/2006, pp. 199, 200 e 206. 
"A questão da autoridade é muito interessante, porque, do meu ponto de vista, tem a ver com o reconhecimento que os alunos têm da competência científica do professor para ensinar. Esta é a única autoridade legítima do professor. O que acontece, infelizmente, é que, como está tudo muito confundido, e como o professor muitas vezes nem sequer chega a ensinar, porque o convenceram de que a sua função era mais educativa, depois confronta-se com indisciplina e fenómenos que não pode controlar pelo lado cognitivo, que não pode resolver chamando a atenção para a necessidade – era assim que ele deveria fazer – de a disciplina ser mantida para que alguém possa explicar alguma coisa a outra pessoa. Então, o que acontece é um resvalamento para o lado da pura moralidade, e aí a autoridade desaparece e cresce o autoritarismo. A autoridade é dada pelo aluno ao professor que sabe ensinar aquilo que tem para ensinar. O aluno, quando aprende, reconhece que o professor tem autoridade. Só que, normalmente, os alunos não aprendem porque o professor não ensina, porque está convencido de que essa não é a sua única e mais importante tarefa, e fica sem autoridade. E então, como é que ele vai impor a disciplina? Pelo autoritarismo. Portanto, eu penso que a autoridade varia na razão inversa do autoritarismo: quanto mais autoridade tem um professor, menos autoritário ele é; quanto menos autoridade tem, mais autoritário precisa de ser" (Olga Pombo, sd. aqui).

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

”E AQUELES QUE POR OBRAS VALEROSAS SE VÃO DA LEI DA MORTE LIBERTANDO” A ANTÓNIO DA COSTA NEVES RIBEIRO

Temos o gosto de divulgar mais um artigo de Mário Frota, antes publicado no diário As Beiras.

A apDC – DIREITO DO CONSUMO -, com o suporte institucional da TREVIM – Cooperativa Editora e de Promoção Cultural –, promove a 15 de Fevereiro em curso uma HOMENAGEM PÚBLICA a António da Costa Neves Ribeiro, antigo vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça e presidente do seu Conselho Geral, na Biblioteca Municipal da Lousã, seu torrão natal. 

Neves Ribeiro, que fora por seus pares guindado ao elevado posto de segunda figura institucional do Supremo Tribunal de Justiça e representou o País em missões de enorme importância em distintos areópagos internacionais, foi co-fundador da AIDC - Associação Internacional de Direito do Consumo e da apDC - DIREITO DO CONSUMO - e presidente do seu Conselho Geral.

Espírito sensível, com uma notável capacidade de intervenção, revelou sempre fundas preocupações sociais, numa solidariedade marcante com os mais desvalidos e que, por conseguinte, maiores necessidades experimentavam.

Num escrito que veio a lume n’“AS BEIRAS”, em 2003, por ocasião das celebrações do Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, em encarte que procurava conferir ênfase a um universo nem sempre realçado, como cumpriria, retratara a situação, ao tempo, dos consumidores menos dotados, dos dos meios rurais, perante os monopólios dos serviços públicos essenciais, algo que de todo, volvidas quase duas décadas, na sua essência, pouco ou nada se alterou.

Convém recordar as suas palavras, tão cheias de sentido, tão propícias a uma reflexão mais profunda: 
“Povo que lavas no rio(No Dia Mundial dos Direitos do Consumidor)  
1. O consumidor acabará sempre por pagar a factura! 
Se não paga, então, mais tarde ou mais cedo, cortam-lhe a água, a luz, o gás ou o telefone.  
Poupa na água, não se aquece. E tem o telefone só para receber chamadas da filha que vive em Lisboa. 
Não telefona para ninguém!
Um dia, chega-lhe a factura da luz. 
Reza assim: 
Tarifa simples x;
Consumo estimado x;
Potência contratada x;
Taxa de exploração x; Iva 5% x.*
Soma 25,57 euros. 
[N.A. : * Saudades, o IVA era ainda a 5%]...

Esta soma representa mais do triplo do valor do consumo estimado. Porque este - que nem sequer é o consumo efectivo da luz - era apenas à roda de 6 euros.

2. Ora, andou a mulher a poupar no gasto, deitou-se mais cedo, não acendeu a televisão, rapou frio de rachar para evitar ligar o “radiador”, e pagou três vezes mais do que gastou. 
São gastos essenciais à vida. Não se pode ir para a cama com as galinhas, nem apanhar por sacrifício, frio de rachar, ou estar sempre a apagar a luz. E por aí fora…! 
Por isso, a mulher reclamou uma vez… duas vezes, e sempre a mesma resposta de quem “fala, fala e não faz nada”! 
A mulher releu a factura da luz… do telefone. Queixou-se à filha que vive em Lisboa. 
E esta reportou-lhe as somas líquidas dos lucros da EDP da PT e de outros fornecedores de bens de consumo essenciais. 
E então, quem dá voz à minha razão, perguntou a mãe irritada, como se a filha, silenciosa, tivesse culpa de tudo? 
Não sei - respondeu a voz de Lisboa! O melhor é voltar a reclamar! 
3. Cumprimento, pois, a apDC – associação portuguesa Direito do Consumo e, particularmente, o seu Presidente e tiro-lhe o meu chapéu por, ao longo de vários anos (pelo menos, desde 1988), ter sido a voz dos que, cheios de razão moral, não têm voz para se queixar, porque não se aquecem, porque não telefonam, porque são enganados no quotidiano das suas vidas, sem nenhuma hipótese efectiva de defesa dos seus direitos. 
A sua voz tem sido a voz do prof. Mário Frota; a sua defesa tem sido a palavra Associação a que ele dá corpo e alma.
Este dia mundial dos consumidores pertence-lhe por inteiro e por mérito próprio!

Neves Ribeiro
Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça Vice-Presidente do Supremo Tribunal de Justiça Presidente do Conselho-Geral da apDC - Associação Portuguesa de Direito de Consumo”
Que, em momento em que findou a discussão sobre os impostos e taxas dos serviços públicos essenciais (IVA da energia) e novos preços e taxas incidem sobre a água, na Região do Pinhal Interior, se reflicta sobre a (in) justiça social que decorre, afinal, da privação por tantos de algo que é a pedra angular da existência de todos e cada um: os serviços vitais sem os quais a dignidade da pessoa fica irremediavelmente comprometida!
Que o País se abra a uma discussão plena sobre os serviços de interesse geral e sua operacionalização em ordem à consecução dos objectivos que se lhes assinam.

Neves Ribeiro será recordado como um europeísta de nomeada, sem jamais ter abdicado da sua Lousã natal, de que fora, aliás, como da apDC, embaixador na cosmopolita Lisboa, e de Coimbra em cujos bancos forjou o seu espírito para uma intensa vida pela Justiça para onde quer que os fados o transportassem.

A apDC não o esquece! E, por isso, tudo fará para que o País o não olvide!

Mário Frota
apDC – DIREITO DO CONSUMO - Coimbra

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Efeitos dos telemóveis na saúde mental das crianças e dos jovens


Na Europa mais próxima, depois de França, é Espanha a avançar com a proibição de telemóveis nas escolas (ver aqui). A medida tem estado em discussão e, em final do passado ano, as Comunidades de Galiza, Castilla la Mancha e Madrid anunciaram que a proibição seria uma realidade a partir do ano lectivo de 2020-2021, tanto nas escolas públicas como nas escolas com contrato de associação. O argumento é a necessidade de melhorar os resultados académicos (que diminuem) e reduzir os danos causados aos alunos pelo bullying e pelas ameaças do ciberespaço (que aumentam). Existem excepções: quando o uso dos aparelhos se encontra "expressamente previsto" no projecto educativo e os fins didácticos são evidentes; quando os alunos precisem deles por razões de saúde ou outras justificáveis (ver aqui e aqui).

Se quisermos ser optimistas (e devemos sê-lo), podemos pensar que o poder político, com responsabilidade na escola pública (eventualmente, tendo em conta a necessidade de "prestar contas"), começa, enfim, a tomar medidas numa matéria que já é um sério problema de saúde pública.

Diversos estudos, que se afiguram sérios, têm mostrado diversos efeitos lesivos do uso de aparelhos com écrans (telemóveis, tablets...) no desenvolvimento cognitivo, afectivo e motor de crianças e jovens (de alguns desses estudos temos dado conta neste blogue). 

Foi recentemente publicado mais um, este de meta-análise (de vinte outros estudos realizados em diversos países que incluem crianças e adolescentes) no Canadian Medical Association Journal, assinado por uma equipa de investigadores que trabalham num hospital infantil de Toronto. O seu título é Smartphones, social media use and youth mental health (ver aqui).

Nele se sistematizam efeitos, que se agravam de ano para ano, do uso intensivo de telemóveis, acompanhado da ligação a redes sociais: aumento do suicídio, da auto-mutilação e problemas mentais variados, alterações do sono e das rotinas biológicas. Também sistematiza efeitos menos "dramáticos" no imediato, mas nem por isso menos preocupantes: percepção de si, dos outros e das relações interpessoais; modificação de valores e de sentimentos; decisões desadequadas ao contexto; diminuição da capacidade de aprendizagem escolar. Mas, o mais alarmante é a "normalização" que se faz no espaço online de tudo isto, incluindo a agressão e a morte. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

"O belo e a consolação" - Entrevista a George Steiner

Na vastidão das suas leituras, a ampla subtileza do seu entendimento 
da força moral da literatura e dos riscos da futuro da verdade 
- apesar de lacunas que especialistas verberavam - 
a perspicácia funda das suas intuições, eram prodigiosas, 
criavam admiradores fiéis e tinham história paralela.
José Cutileiro (sobre George Steiner), 
Expresso, 8 de Fevereiro de 2020, Primeiro caderno, p.34.

Há perto de vinte anos, passou em vários canais de televisão um programa holandês de entrevistas a intelectuais de diversas áreas (ciência, filosofia, literatura, cineastas...). O título desse programa admirável era O belo e a consolação ou, atendendo ao original, Da beleza e da consolação. George Steiner, que agora nos deixou, foi um dos entrevistados. 

Temo que as suas palavras sobre a absoluta necessidade de sabermos - ou, melhor, de procurarmos saber mais e mais profundamente - de sabermos de cor - de coração -, para tentarmos compreender e, mais do que isso, para sermos, sejam das últimas que veremos ditas e escritas. Recordemo-las, enquanto ainda temos uma vaga noção dessa importância.


Nascida com o destino traçado nas linhas da mão

Transcrição do meu artigo de opinião publicado hoje no "Diário as Beiras" 


Nasci para estar ali, eu vou continuar”
 Joacine Katar Moreira 

Tinha prometido a mim próprio não dar palco a Joacine Katar Moreira, vestal do altar do ódio no hemiciclo português, emitindo gritaria estridente e tartamuda contra o racismo branco (como se não houvesse racismo negro!) pondo em causa desagradecida, a propósito e a despropósito de tudo e de nada, o passado histórico de um país que a amparou na subida dos degraus mais elevados da academia e política portuguesas.

Mudei de opinião por ela, com inédita jactância, dizer “ter nascido para estar no Parlamento” sem especificar situar-se ele na Guiné ou em Portugal. 

Quanto às suas intervenções “para lamentar”, respaldo-me num pequeno texto de um vulto maior da nossa Literatura, Eça de Queiroz, que bem as caracterizam: “Hesita, tataranha, amontoa, embaralha, e faz um pastel confuso que nem o Diabo lhe pega, ele que pega em tudo”. 

Seja como for, lamento que ela tente apagar com gasolina um passado, em que há culpas dos lados europeu e africano, muito mais do lado desta banda! Haja em vista a disparidade e a selvajaria entre o número de vítimas no massacre indiscriminado de centenas de brancos e negros no Norte de Angola, génese da guerra do ultramar, e de povoações indígenas em Wiriyamur (Moçambique), nesta situação em pleno clima de hostilidades!

Mas daí a querer desvalorizar a gesta ultramarina lusitana nas sete partidas do mundo encontra idêntico fundamento naqueles patetas que, depois de 25 de Abril, fizeram soar trombetas para incriminar ‘Os Lusíadas’ com a peçonha de ser uma obra fascista e não, “a contrario”, razão de orgulho do mundo literário nacional e internacional.

Com respaldo em argumentos do insuspeito “fascista” Miguel de Sousa Tavares, traço uma breve resenha de um seu comentário público (TVI, 26/11/2019). Assim, sobre a polémica que envolveu a então deputada do Livre, traçou ele o seguinte perfil: “Joacine está deslumbrada com ela própria, tendo falta de preparação política”, acrescentando, de forma premonitória, “precisar ela de uma cura de humildade urgente, de outra forma, terá um futuro político turbulento e limitado”.

Por estas situações, e outras quejandas, viria Joacine Katar Moreira a perder a confiança do "Livre" que a catapultara para um lugar de destaque na Assembleia da República, situação por ela maltratada, quiçá, em nome de uma ambição desmesurada de dar nas vistas. Assim, de forma infantil, encontrou ela matéria para a sua exigência de cobrar dívidas de Portugal no conto (da minha meninice) de um filho que, tendo feito um pequeno arranjo no jardim de sua residência, apresentou à mãe um factura assim discriminada: “Varrer o jardim “x”; regar os canteiros “y”, etc. Pagou-lhe a progenitora a quantia exigida deixando, em troca, na noite seguinte, na mesinha de cabeceira do filho, estoutra factura: Despesas com o parto “x”; despesas escolares “y”, etc., etc.

Ou seja, segundo ela devemos devolver o que trouxemos das antigas colónias sem receber o que lá deixámos numa debandada em massa para salvaguarda de milhares de vidas trazendo parcos haveres em pequenos contentores pagos a peso de ouro e deixando lá belíssima cidades – e valores patrimoniais incalculáveis amealhados num vida de enorme sacrifício – que, certamente, são orgulho do extenso e rico continente africano.

Para além disso, incrimina a ex-deputada do "Livre" os portugueses de gema por actos de um passado colonial, em que parte da nossa geração não era sequer nascida, com o argumento do lobo da fábula de Esopo: ”Pois se não foste tu, foi o teu pai”!

Finalmente, não podia deixar passar em branco a tomada de posição benévola do presidente da Assembleia Nacional, Ferro Rodrigues, que, ao não refrear os discursos de ódio de Joacine Moreira, deu roda livre a gritos tartamudos que, sob a falsa bandeira do combate ao racismo, atearam o fogo desta chaga social tingindo com o negrume do fumo o horizonte relacional entre dois países lusófonos com relações amistosas bilaterais!

Prestou, assim, Joacine Moreira um péssimo serviço ao seu país de nascimento e ao seu país de naturalização.

"Homens lentos"

Os modelos de eficácia e eficiência, de produção e competitividade, de sucesso e felicidade, marcas do neoliberalismo, têm-se refinado no século XXI e entrado em todas as áreas de funcionamento humano, incluindo a educação. Ora, toda a educação, incluindo a educação escolar, requer tempo. Esta, em particular, precisa de tempo dedicado à tarefa, que aumenta à medida que os anos avançam. O nosso cérebro é lento quando se vê confrontado com tarefas de aprendizagem novas e complexas, como são as escolares. Precisa de ser ensinado a resolvê-las, um passo a seguir ao outro.

Vale a pena determo-nos nesta ideia para questionarmos os efeitos que a quantidade de estímulos associada à rapidez com que são apresentados, sobretudo por via de novos aparelhos tecnológicos, entregues precocemente a crianças, estão a fazer aos seus cérebros. Mas podemos também associar os jovens e os adultos. 

Nesse questionamento, poderemos apoiar-nos em trabalhos que começam a surgir na forma de artigos, ensaios, livros. E em termos de livros acaba de sair um que ainda não li, mas que irei ler: Homens lentos escrito por Laurent Vidal, professor de história da universidade de La Rochelle. Distanciando-se da moda que se tornou o "elogio da lentidão" com fins comerciais, enquadra os ritmos de vida humana no percurso civilizacional e em alguns quadros culturais. 

Vale a pena ler (aqui) ou ver (abaixo) a entrevista que deu a uma jornalista brasileira, Adriana Brandão.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

"É indispensável que o professor recupere a autoridade"

O papel dos filósofos é absolutamente fundamental na tarefa de pensar a existência no mundo e de guiar esse pensar. Claro que esta declaração nada tem de novo, além de que é por de mais evidente, mas é preciso recordá-la e... pensá-la.

A flexibilidade que invade os vários domínios da vida ganha rigidez e direcção: se por um lado, linguagens como a publicitária e a de "aconselhamento", que ocupam o espaço público, nos impelem para uma "liberdade" cujo limite é o próprio umbigo, por outro lado, espera-se que obedeçamos a incontáveis regras e normas veiculadas nessas linguagens, a que se juntam as múltiplas possibilidades de monitorização que as tecnologias facultam.

Assim, é de valorizar o trabalho de divulgação filosófica, como faz Gilles Lipovetsky. De uma recente entrevista que deu, publicada no jornal El país (aqui), retirámos as seguintes passagens relacionadas directamente com a educação.
Maria Helena Damião e Isaltina Martins
A escola pública não é uma despesa, é um investimento para o futuro. É preciso pagar bem aos professores e ensinar o aluno a respeitá-los. Não sou eu quem diz isso, hein. Platão já dizia. Se acreditamos que computadores e tablets resolverão todos os problemas, estamos em um erro grave. O professor é imprescindível (...) 
(...) é preciso dar muito mais importância à arte e à cultura. Caso contrário, só nos restará o shopping! (...) 
O hiperindividualismo, um assunto sobre o qual escrevi, não é apenas uma retração egoísta. É também um desejo de expressão de si. O hiperindivíduo quer gostar do que faz. E que o que faz lhe agrade (...).
Uma sociedade cujos eixos exclusivos são as telas, o trabalho e a proteção social é uma sociedade deprimente. É preciso investir em educação. E as possibilidades de investimento em assuntos educacionais são infinitas. 
Um dos maiores fracassos nas sociedades ocidentais do pós-guerra foi a "democratização da cultura". Pensou-se que, ao abrir muitos museus por muitas horas e com grandes obras, graças ao dinheiro do Estado, muita gente nova se juntaria às visitas, mas não foi assim. Quando se presta atenção, ao longo do tempo as pessoas que vão aos museus são as mesmas de sempre: gente de um certo nível educacional. Os camponeses e os operários da construção em geral vão pouco. É uma questão de educação (...).
É indispensável que o professor recupere a autoridade. Há alunos que insultam o professor, e isso é inadmissível. Educar não é seduzir. Há obrigações. Em um dado momento, é preciso obrigar a fazer coisas. Nem tudo pode ser flexível, agradável, discutível. É preciso trabalhar duro, e forçar a trabalhar. O homem é Homo faber, é preciso ensinar a fazer. E é preciso recuperar a retórica, ensinar as crianças a se expressarem e a raciocinar, porque o computador não vai fazer isso por eles. O homem é Homo loquens, o ser que fala.

NO EQUADOR



Início do meu artigo no Público de ontem (na imagem o monumento com a linha do equador  no ilhéu das Rolas; ao fundo a ilha de S. Tomé):

"Quem pousa no aeroporto de São Tomé, vindo de Lisboa, ainda não atravessou o equador. Para o fazer tem de viajar aos solavancos numa estrada sinuosa até ao sul da ilha para depois tomar um barco que atravessa o canal até ao Ilhéu das Rolas, Estamos na estação das chuvas, pelo que há água por baixo e por cima. Chegados ao ilhéu, mais precisamente ao ancoradouro do Hotel Pestana, o equador já não está longe. O melhor, para apreciar devidamente os lautos recursos da floresta tropical e a vida local (leve-leve” é a expressão para designar a calma reinante), é ir com um guia da aldeia piscatória de S. Francisco, vizinha do hotel. O guia será, com toda a probabilidade, benfiquista, pois na aldeia abundam bandeiras do clube da Luz. 

Sobe-se pelo caminho pedonal aberto na mata (um dos arbustos dá o chá de micocó, com propriedades afrodisíacas, tendo um curandeiro explicado ao presidente português que “aquece o material”) e chega-se em poucos minutos ao monumento colonial, assente num mapa-múndi, que exibe a linha que divide a Terra nas metades Norte e Sul. O sítio proporciona uma vista magnífica sobre o canal e a ilha principal, se o céu estiver descoberto. Entra-se finalmente no lado de baixo do equador, onde, como diz Chico Buarque, “não existe pecado. O guia mostra-nos, nesse lado, uma planta cujas folhas se retraem prontamente quando são tocadas, que dá pelos pitorescos nomes de “mimosa púdicaou mulher portuguesa”. Dá a ideia que a planta receia pecar…"

Para ler o resto ver (só para assinantes):


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Uma (a última) entrevista de Nuccio Ordine a George Steiner

Colega e amiga, Maria Augusta Nascimento, enviou-me uma entrevista a George Steiner, realizada por Nuccio Ordine. Foi publicada anteontem no Corriere della Sera (aqui) e ontem no El País (aqui), postumamente, segundo a sua vontade. O crítico literário e o professor de literatura mantinham há anos uma conversa próxima de que a entrevista dá conta. Impossível não a transcrever no De Rerum Natura.
“El secreto de una buena vejez no es más que un pacto honesto con la soledad”; no pude evitar pensar en esta maravillosa reflexión de Gabriel García Márquez cuando me enteré de la desaparición de George Steiner. Murió el lunes hacia las 14.00, por complicaciones derivadas de una fiebre aguda, en su casa de Barrow Road, en Cambridge. 
La última vez que hablamos fue el sábado pasado, por teléfono, y me confió, con voz muy ronca: “Ya no soporto el cansancio de la debilidad y la enfermedad”. Así, Steiner, uno de los críticos literarios más agudos e importantes del siglo XX, vivió los últimos años de su vida lejos del foco de atención, de los medios de comunicación, de los congresos y conferencias, de cualquier cita pública. 
He tenido el privilegio de estar con él también en esta última fase de aislamiento voluntario. Después de más de veinte años de encuentros en París, Italia y otras ciudades europeas, las llamadas mensuales y la visita anual a Cambridge se habían convertido en un ritual. Pero a la última cita, fijada para el 14 de junio de 2018, no le sucedió ninguna otra: el día anterior George la canceló porque no se encontraba bien y no quería mostrarse cansado y desanimado. 
Fue en una de estas reuniones (el 21 de enero de 2014, hace exactamente seis años), cuando a Steiner se le ocurrió concederme una entrevista póstuma: reunir algunas de sus reflexiones y no publicarlas hasta el día siguiente a su desaparición. Una manera discreta de romper el silencio y despedirse de sus amigos, sus alumnos, sus numerosos lectores. 
Volvió a este texto el año pasado, modificando algunas palabras aquí y allá y pidiéndome que volviera a escribir algunas frases. Quién sabe cuántos aspectos desconocidos de su vida y su pensamiento saldrán a la luz en 2050, cuando se puedan estudiar los cientos de “cartas autobiográficas” ahora selladas en los archivos del Churchill College de Cambridge. Ahora que ya no está – su hijo David me dio la noticia –, además del profundo dolor por la pérdida de un amigo querido y un verdadero maestro, ni siquiera cuatro meses después de la desaparición de Harold Bloom, advierto más claramente las consecuencias de ese silencio forzado y el vacío insalvable que deja entre los defensores de los clásicos y la literatura. 
Pienso en sus libros, en su conocimiento enciclopédico animado por una sorprendente curiosidad. Y pienso, sobre todo, en su pasión por la enseñanza, en su capacidad para compartir el amor por la literatura y el conocimiento con los estudiantes y el público. 
George no solo destacó en la palabra escrita. Era también un gran orador: su elegante elocuencia fue capaz de inflamar a estudiantes y colegas. 
¿Cuál es el secreto más importante que quiere revelar en esta entrevista póstuma? 
Puedo decir que durante 36 años he dirigido a una interlocutora (su nombre debe continuar siendo secreto) cientos de cartas que representan mi “diario”, en el que he contado la parte más representativa de mi vida y los eventos que han marcado mi cotidianidad. En esta correspondencia he hablado sobre los encuentros que he tenido, los viajes, los libros que he leído y escrito, las conferencias y también episodios normales y corrientes. Es un “diario compartido” con mi destinataria, en el que es posible encontrar incluso mis sentimientos más íntimos y mis reflexiones estéticas y políticas. Se conservará en Cambridge, en un archivo del Churchill College, junto con otras cartas y documentos que dan testimonio de las etapas de una vida quizá demasiado larga. Estas cartas-diario, en particular, se sellarán y solo podrán consultarse después de 2050, es decir, después de la muerte de mi esposa y (quizá) de mis hijos. En resumen, se harán públicas solo cuando muchas de las personas cercanas a mí ya no estén. 
¿Las leerá alguien después de tanto tiempo? 
No lo sé. Pero no podía hacerlo de otra manera... 
¿Por qué una entrevista póstuma? 
Siempre me fascinó la idea. De algo que se hará público precisamente cuando yo ya no pueda leerlo en los periódicos. Un mensaje para los que se quedan y una manera de despedirme dejando que se oigan mis últimas palabras. Una ocasión para reflexionar y hacer balance. He llegado a una edad en que cada día más o menos normal debe considerarse un valor añadido, un regalo que te da la vida. En esta fase los recuerdos del pasado se convierten en el único y verdadero futuro interior. Es un viaje hacia atrás basado en el recuerdo lo que nos permite alimentar algunas esperanzas. No disponemos de las palabras exactas para definir el recuerdo que encierra en sí el mañana. Me encuentro en un momento de mi vida en el que el pasado, los lugares que he frecuentado, las amistades que he tenido, la imposibilidad de ver a las personas que he amado y sigo amando y hasta la relación contigo, constituyen el horizonte de mi futuro más de lo que puede ser el futuro real. 
¿Se reprocha algo en particular? 
Claro. Más de una cosa. Escribí un pequeño libro, Errata, en el que hablo sobre los errores que he cometido. No he conseguido captar algunos fenómenos esenciales de la modernidad. Mi educación clásica, mi temperamento y mi carrera académica no me permitieron comprender completamente la importancia de ciertos grandes movimientos modernos. No entendía, por ejemplo, que el cine, como nueva forma de expresión, pudiera revelar talentos creativos y nuevas visiones mejor que otras formas más antiguas, como la literatura o el teatro. No he entendido el movimiento contra la razón, el gran irracionalismo de la deconstrucción y, en algunos aspectos, del posestructuralismo. Debería haberme dado cuenta de que el movimiento feminista, que apoyé en Cambridge con gran convicción al reconocer la importancia del papel de la mujer, asumiría después, en la lucha por ocupar un lugar dominante en nuestra cultura, una función política y humana extraordinaria. 
En el ámbito personal, ¿qué errores ha cometido? 
Esencialmente, habría debido tener el valor de probarme en la literatura “creativa”. De joven escribí cuentos, y también versos. Pero no quise asumir el riesgo trascendente de experimentar algo nuevo en este ámbito, que me apasiona. Crítico, lector, erudito, profesor, son profesiones que amo profundamente y que vale la pena ejercer bien. Pero es completamente diferente a la gran aventura de la “creación”, de la poesía, de producir nuevas formas. Y, probablemente, es mejor fracasar en el intento de crear que tener cierto éxito en el papel de “parásito”, como me gusta definir al crítico que vive de espaldas a la literatura. Por supuesto, los críticos (lo he subrayado varias veces) también tienen una función importante; he intentado lanzar, a veces con éxito, algunos trabajos y he defendido a los autores que creía que merecían mi apoyo. Pero no es lo mismo. La distancia entre quienes crean literatura y quienes la comentan es enorme; una distancia ontológica (por usar una palabra pomposa), una distancia del ser. Mis colegas universitarios nunca me perdonaron que apoyara estas tesis; muchos barones y cierta crítica estrictamente académica no aceptaron que me burlara de su presunción de ser, a veces, más importantes que los autores de los que estaban hablando… 
¿A quién desea enviar un mensaje? 
Pienso en algunos estudiantes, más brillantes que yo, que están completando trabajos importantes; su éxito es una gran recompensa para mí. Pienso con profunda gratitud en algunos de mis colegas que me han acompañado en el camino académico. Y pienso, sobre todo, en personas más íntimas, como tú, que han entendido lo que he intentado hacer y gracias a quienes he podido vivir una intensa aventura intelectual y emocional. Pero, en este momento, ante todo, trato de entender por qué la distancia que me separa del irracionalismo moderno y, me atrevo a decir, de la creciente barbarie de los medios, de la vulgaridad dominante, es cada vez mayor. Creo que estamos atravesando un período cada vez más difícil... 
¿Qué es lo que más le ha hecho sufrir? 
Me ha hecho sufrir el ser consciente de haber publicado ensayos que me habría gustado escribir mejor. Por supuesto, hay páginas de mi trabajo que he defendido y defiendo con convicción, y también con amargura. Pero sé que probablemente no era eso lo que me habría gustado escribir. Y a menudo pienso en la injusticia del gran talento: nadie entiende cómo surgen estos dones supremos y cómo se distribuyen. Pienso en un niño de cinco años y medio que dibuja un acueducto romano cerca de Berna y luego, de repente, representa un pilar con zapatos; desde entonces, gracias a Paul Klee, que así se llama, los acueductos caminan por todo el mundo. Nadie puede explicar las sinapsis neurológicas que pueden desencadenar en un niño este “flechazo” de la metamorfosis, esta brillante intuición que cambia la realidad. Pensé que era una injusticia que pudiéramos intentar, volver a intentar, esforzarnos de nuevo, solo para poder permanecer en la estela de los adultos, pero sin llegar a ellos, porque son diferentes a nosotros. 
¿Y lo que le ha hecho más feliz? 
La felicidad de haber enseñado y vivido en muchos idiomas. La felicidad que he tratado de cultivar todos los días, hasta el final, sacando de mi biblioteca un poema para traducirlo a mis cuatro idiomas (francés, inglés, alemán e italiano). Y aunque no lo haya traducido bien, tengo la impresión de que he dejado entrar un rayo de sol en mi cotidianidad. 
¿Qué deseos no ha podido cumplir? 
Muchísimos: viajes que no me he atrevido a hacer, libros que quería escribir y que no he escrito, sobre todo encuentros cruciales que evité por falta de valor o disponibilidad o energía. Podría haber conocido, por ejemplo, a Martin Heidegger, pero no me atreví. Y creo que tenía razón. Siempre he respetado un principio: no hay necesidad de importunar a los adultos, tienen otras cosas que hacer. Y además, nunca he soportado a quienes se consideran importantes porque coleccionan citas con grandes nombres. Las personas excelentes tienen el derecho a escoger con qué interlocutores quieren “perder” su tiempo. Luego ocurre que un día, al abrir libros de memorias, se leen frases como: “Me importunó el señor X, que insistió en reunirse conmigo, pero no tenía nada interesante que decir”. Siempre me ha dado miedo caer en el error burdo. Pienso en Jean-Paul Sartre, por ejemplo, especialista en revelar circunstancias ligadas a famosos “pesados”. Y me costó mucho renunciar, en los últimos tiempos, a la compañía de un perro. Después de la muerte de Muz me di cuenta de que, a mi edad, era muy arriesgado tener otro. Adoro a estos animales, pero en el umbral de los 90 años me parece terrible ofrecerle una casa para dejarlo solo. 
¿Cuál es la victoria más hermosa? 
Insistir en la idea de que Europa sigue siendo una necesidad importantísima, y de que, a pesar de las amenazas y los muros que se construyen, no debemos abandonar el sueño europeo. Soy antisionista (postura que me costó mucho, hasta el punto de no poder imaginar la posibilidad de vivir en Israel) y detesto el nacionalismo militante. Pero ahora que mi vida está llegando a su fin, hay momentos en que pienso: ¿quizás me equivoqué? ¿No habría sido mejor luchar contra el chovinismo y el militarismo viviendo en Jerusalén? ¿Tenía derecho a criticar, cómodamente sentado en el sofá de mi hermosa casa de Cambridge? ¿Fui arrogante cuando, desde el extranjero, intenté explicar a las personas en peligro de muerte cómo deberían haberse comportado? 
¿Recuerda haber llorado en su vida? 
Desde luego. En los últimos tiempos me encuentro a menudo recordando circunstancias particulares. Pienso, por ejemplo, en grandes experiencias humanas que concluyeron sin que yo hubiera previsto el final. La repentina desaparición de algunas personas que nunca volverás a ver. O lugares que no has visitado y que ya no podrás visitar. Y también pienso en más cosas, sencillas, quizá banales: pescado y alimentos que ya no podrás probar. Y a veces, encontrar en la esquina de una calle o en un jardín la sombra de una persona que amas y que necesitas enormemente, pero que sabes que ya nunca podrás alcanzar. 
¿Qué importancia ha tenido la amistad en su vida? 
Una importancia enorme. Nadie lo sabe mejor que tú. Habría vivido muy mal mis últimos decenios sin ti y sin otros dos o tres amigos con los que he intercambiado una abundantísima correspondencia, interlocutores distinguidos con quienes he compartido una profunda intimidad afectiva. Quizá la amistad sea más valiosa que el amor. Sostengo esta tesis porque la amistad no tiene nada del egoísmo del deseo carnal. La amistad, la auténtica amistad, se basa en un principio que Montaigne, en un intento de explicar su relación con Étienne de la Boétie, condensó en una frase bellísima: "Porque era él; porque era yo". 
¿Y el amor? 
El amor ha tenido muchísima importancia, tal vez demasiada. En primer lugar, la felicidad que me ha dado mi matrimonio y que no puedo explicar con palabras, racionalmente. Y luego uno o dos encuentros que han sido decisivos en mi vida. Creo que, en potencia, las mujeres tienen una sensibilidad superior a la de los hombres. He tenido el enorme privilegio de tener relaciones amorosas en diferentes lenguas (he escrito mucho sobre este tema). El donjuanismo políglota ha sido una enorme recompensa para mí, una ocasión de vivir múltiples vidas. Y es curioso que ni la psicología ni la lingüística se hayan ocupado nunca de este fenómeno apasionante. Por eso, en Después de Babel acuñé una definición original de la traducción simultánea como un buen orgasmo. Siempre he considerado el fenómeno de las palabras y los silencios en relación con el erotismo un tema capital. 
¿Piensa alguna vez en la muerte? 
Continuamente. Pero no solo ahora; también cuando era joven. Crecí a la sombra de la amenaza hitleriana y recuerdo perfectamente que los únicos supervivientes de mi clase del instituto fuimos un compañero y yo. Mi padre y la vida me prepararon para afrontar la pérdida y el peligro de la muerte. Ahora pienso que el encuentro con la muerte tal vez sea interesante; quizá se revele como una manera de entender mejor muchas cosas. 
¿Cree que hay algo después de la muerte? 
No. Estoy convencido de que no habrá nada. Pero el momento del paso puede ser muy interesante. Encuentro infantil la reacción de quienes, después de haber pensado siempre en la nada, en la fase final de su vida cambian y se imaginan un mundo ultraterrenal. Pienso que no tener miedo es una cuestión de dignidad; no se debe perder el respeto a la razón, hay que llamar las cosas claramente por su nombre. Es verdad que se puede cambiar de manera de pensar. He tenido la fortuna de vivir siempre en contacto con grandes científicos y sé que cada día se aprenden cosas nuevas y se corrigen otras. En la ciencia, esto es normal. Ahora bien, creer en una vida más allá es algo muy distinto. 
En esta entrevista póstuma, ¿querría pedir disculpas a alguien con quien se haya peleado? 
Sí, querría disculparme con una persona cuyo nombre no puedo decir. Creo que él también preferiría permanecer en el anonimato. Se trata de un hombre eminente, durante mucho tiempo amigo íntimo, con el que discutí por un asunto estúpido. Una frase mal escrita en una carta hizo saltar por los aires nuestra relación de años. Aprendí mucho de esa experiencia; cómo a veces un instante insignificante puede transformarse en un hecho decisivo en la vida. Es un riesgo que corremos a menudo. Un gesto sin importancia, una simple palabra, en un solo segundo, pueden causar verdaderas tragedias. Y ahora, después de tantísimos años, me gustaría decirle a mi amigo, “ven, vamos a comer juntos y a reírnos de lo que pasó”. Pero, con gran dolor, me doy cuenta de que ya no hay tiempo. Es demasiado tarde. 
Sin embargo, es famoso por su irascibilidad. ¿Siempre ha sido un punto débil de su carácter?  
Sí, es verdad, pero no solo en la edad adulta. Recuerdo que cuando era niño me alteraba por cosas pequeñas, a veces sin una verdadera razón. Esta manera de comportarme me ha creado muchas enemistades. Después, con los años, tuve que aprender a moderarme. Pero también he pagado un precio por mi ironía, a menudo muy mordaz y no siempre bien recibida. Y tal vez la tristeza, fruto de la conciencia de mi mediocridad, ha incomodado no pocas veces a mis interlocutores. Por desgracia, a lo largo de tantos años he coleccionado muchas hostilidades y he roto muchas amistades. Es triste reconocerlo, pero es así. 
¿Le han dado algún consejo que le haya cambiado la vida? 
Por supuesto. Sobre todo los que me dio mi madre con todo su cariño. A ella le debo que me animase a convivir de manera fructífera con mi discapacidad. Cuando era niño, para hacerme reaccionar en los momentos de desesperación, me decía que la "dificultad" era un "don" divino. Además de librarme del servicio militar, mi defecto me brindó la oportunidad de aprender a mejorar, de intentar entender que sin esfuerzo no se obtiene nada en la vida. Lo he recordado en diferentes circunstancias. Uno de los logros más bellos de mi existencia fue cuando conseguí atarme los zapatos por primera vez con la mano impedida.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

CARTAZ SOBRE A MINHA PRÓXIMA IDA AOS AÇORES


Minha entrevista a Rui Massena no Porto Canal

http://portocanal.sapo.pt/um_video/szolzewjigzod9Ir8pVp

MARIA DO CARMO VIEIRA NO PÚBLICO


Vale a pena ler Maria do Carmo Vieira:

"Professora de Português e de Francês, leccionei a última disciplina até ao dia em que retiraram os textos literários do seu ensino, substituindo-os por queijos, bandas desenhadas sem qualidade alguma e canções vulgares de letra chã. Mas o mais grave foi o que aconteceu com a disciplina do 12.º ano de Francês, de Humanidades, aquando da famigerada Reforma de 2003, com a agravante, e vem sendo habitual, de as alterações serem feitas pretensamente em defesa dos alunos. Foi assim que o “Enciclopedismo”, a “Segunda Guerra Mundial” e o “Holocausto” desapareceram do programa de Humanidades, um termo a sublinhar, porque é o pensar que está em causa. Com efeito, esses alunos, que, ao longo dos anos, e na sua maioria, sempre haviam demonstrado um imenso interesse pelas temáticas referidas, foram inesperadamente considerados “demasiado jovens para abordar a violência que representava a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto”. “Cansados estavam eles”, segundo diziam ainda, “da violência da guerra quotidianamente transmitida na televisão”. “O que queriam era vida e não morte”. Eis o que ouvi."

Mais aqui

https://www.publico.pt/2020/02/04/sociedade/opiniao/desprezarmos-memoria-bastara-acendalha-fogo-sera-devastador-1902849


Há que mudar a escola: um apelo que se repete "ad infinitum"

Saiu em finais do ano passado o relatório do Conselho Nacional da Educação sobre o estado da educação em Portugal, relativo a 2018. 

Na introdução intitulada À procura da mudança, a presidente desse Conselho explica porque é que a escola tem de mudar. Faz um apelo que é recorrente, tão antigo como a própria escola, a matriz é sempre a mesma: até aqui havia uma escola (tradicional) daqui para a frente quer-se (alguém quer) uma escola (nova).

Na Agenda do Horizonte 2030, o quarto objectivo operacionalizado pela OCDE em diversas versões, sendo a última também de 2019, o "bem-estar" surge como a razão central da mudança global da educação. O "bem-estar" não é fácil de apreender, mas percebe-se que está ligado às necessidades de uma economia de mercado na qual se introduzem preocupações com a sustentabilidade e o funcionamento social.

Esta introdução vai no mesmo sentido: a escola ditada pela sociedade industrial já não serve porque o modelo empresarial mudou: não basta, agora, que a escola responda às "necessidades do desenvolvimento económico, mas também do desenvolvimento ecológico e social sustentável". Mais uma vez se esquece a função primeira da escola como contexto educativo (contexto educativo entre outros) especialmente preparado para a formação e a instrução: a construção do humano em cada ser humano. É uma função da ordem da ontologia, pouco compatível, portanto, com as exigências avulsas que a sociedade faz à escola para que as resolva no imediato.
"Mudar a educação porquê? 
Porque todas estas mudanças, levando a uma sociedade cada vez mais complexa, acarretam a necessidade de níveis mais elevados de educação e de uma educação para todos. Por uma exigência de justiça social, de cumprimento dos Direitos Humanos e dos princípios democráticos, mas também como uma consequência da própria organização económica desta sociedade em embrião que requer uma população mais qualificada, mais habilitada e com outro tipo de competências. 
Tem sido defendido que a organização atual da escola é reflexo e foi moldada pela sociedade industrial e pelas necessidades de produção em massa: a separação entre gestão e execução, a estrutura piramidal e hierárquica, a divisão em departamentos rígidos em que aos trabalhadores são atribuídas tarefas claras e estanques, cumprindo regras e regulamentos pré-estabelecidos e executando ordens e planos definidos num escalão de direção. 
A esta sociedade corresponderia uma escola rigidamente compartimentada em anos, turmas, disciplinas, com o saber cuidadosamente organizado do mais simples ao mais complexo, segundo programas definidos centralmente, aulas planificadas pelo professor, segundo regras, regulamentos e instruções que os alunos se devem habituar a cumprir. 
Ora, segundo os novos estudos empresariais e de gestão, as novas empresas pós-industriais já não funcionam assim. O trabalho estará organizado em “equipas de projeto”, em “grupos de produção” – pequenas unidades flexíveis e efémeras onde não há uma clara divisão do trabalho e que se desfazem e se reconstituem conforme o problema a resolver, a tarefa a desempenhar. São pequenos grupos em que as decisões são tomadas em conjunto, por colaboração ou complementaridade. As regras, regulamentos e processos de funcionamento são criados e variam consoante a tarefa. Os trabalhadores que executam são os mesmos que definem os objetivos, delineiam os produtos e planificam o trabalho. 
Necessitam, por isso, de competências muito diferentes das dos trabalhadores da era industrial: precisam de ser capazes de trabalhar em grupo, de colaborar e comunicar, de identificar problemas, imaginar soluções, planificar, ter autodisciplina e assumir responsabilidades pelos resultados. 
Recordam os “quatro Cs” agora frequentemente apontados como competências a desenvolver: pensamento crítico, criatividade, capacidade de colaboração e de comunicação. Que implicações para a escola? Que transformações na organização do tempo, do espaço, na distribuição dos alunos? Trabalho em situações diferenciadas – pequenos grupos, trabalho individual, aulas com a totalidade dos alunos – em momentos diferentes e com uma diversidade de tarefas e de metodologias … 
Autonomia dos alunos para identificarem problemas, escolherem os temas a trabalhar, as questões a debater, os projetos a desenvolver, compromisso na sua consecução e na colaboração com o grupo, capacidade de se autocorrigirem e auto regularem, responsabilidade perante o professor e perante os colegas - poderão ser estratégias mais apropriadas para desenvolver aqueles “quatro Cs”, as competências previstas no Perfil do aluno ou mesmo a aspiração a uma sociedade mais solidária. 
Tudo isto implica uma grande transformação na educação e na escola. 
Mas se quisermos ir mais longe, não nos conformarmos em adaptar a escola às necessidades do desenvolvimento económico, mas também do desenvolvimento ecológico e social sustentável, duma sociedade mais igualitária, justa e inclusiva e do “empoderamento” de cada um como cidadão e capitão do seu destino, então temos de repensar a educação e a escola como motores – e não apenas reatores – de mudança."
Maria Emília Brederode Santos, 2019, 6-7 

ORIGINAL É A CULTURA: "O LUGAR DA MÚSICA"

https://sicnoticias.pt/programas/original-e-a-cultura/2020-01-18-Original-e-a-Cultura---O-lugar-da-Musica

ORIGINAL É A CULTURA: "PORTUGAL VISTO DE FORA"

https://sicnoticias.pt/programas/original-e-a-cultura/2020-01-25-Original-e-a-Cultura---Portugal-visto-de-fora

O jornalista (de ciência) visto ao microscópio, por Teresa Firmino



Na próxima terça-feira, dia 11 de Fevereiro, às 18h, no âmbito do ciclo de palestras de cultura científica Ciência às Seis, realiza-se no RÓMULO - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a palestra intitulada " O jornalista (de ciência) visto ao microscópio", por Teresa Firmino, uma das principais jornalistas de ciência portuguesas, editora de ciência do jornal Público.

Numa altura de grande exigência para o jornalismo de ciência, principalmente devido ao actual problema de saúde com o "novo" Coronavírus 2019-nCoV, é muito oportuno debatermos o papel público do jornalista de ciência na sociedade com a jornalista Teresa Firmino.



O Ciclo "Ciência às Seis" é coordenado por António Piedade, bioquímico, escritor e comunicador de ciência.


RESUMO DA PALESTRA:
Como é a vida de um jornalista de ciência? Como se relaciona com os cientistas? Que dificuldades encontra? O seu trabalho é muito escrutinado pelos cientistas e pelos leitores? São algumas das questões que rodeiam o dia-a-dia de um jornalista.


A entrada é livre e destinada ao público em geral interessado em cultura científica.
LInk para o evento no facebook.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

NOVA ATLANTIS

A “Atlantís” acaba de publicar o seu último número (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à informação.

Imprensa da Universidade de Coimbra

Atlantís - review
v. 31 (2020)

Sumário

[Recensão a] LÓPEZ QUERO, S., Maestre Maestre, J. M. (eds.), Studia Angelo Vrbano dicata, Alcañiz, Madrid, Instituto de Estudios Humanísticos, Federación Andaluza de Estudios Clásicos, 2015, LXIV e 738 pp. ISBN: 978-84-96053-80-9
Rui Coimbra Gonçalves

[Recensão a] PINHEIRO, Joaquim e SOARES, Carmen. (coords.), Patrimónios alimentares de aquém e além-mar, Coimbra, Editora Universidade de Coimbra, 2016, 729 pp., ISBN: 978-989-26-1190-7
 Maria Cecilia Barreto Amorim Pilla

[Recensão a] PINTO, A. Guimarães, Adenda ao livro De Missione Legatorum Iaponensium, de Duarte Sande: as Orationes de Gaspar Gonçalves e Martinho Hara, Aveiro, Universidade de Aveiro, Revista Ágora, Suplemento nº 5, 2016, 129 pp. ISBN: 978-972-789-493-2
 Virgínia Soares Pereira

[Recensão a] RIBEIRO, Cilene da Silva Gomes; SOARES, Carmen (orgs.), Odisseia de sabores da lusofonia. Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra/ PUCPRess Editora Champagnat, 2015, 304 pp. ISBN: 978-989-26-1085-6
 Anny Jackeline Torres Silveira

[Recensão a] MARQUES DA SILVA, António José, La Diète Méditerranéenne. Discours et pratiques alimentaires en Méditerranée. Vol.II. Coll. Questions Alimentaires et Gastronomiques, Paris, L’Harmattan, 2015, 248 pp., 17 imagens. ISBN: 978-2-2343-06151-1
 Inês de Ornellas e Cast

Morreu um Mestre



A nossa colega de blogue Isaltina Martins escreveu-me para me dar a notícia da morte de George Steiner. 

George Steiner, aquele que dizia ler sempre com um lápis na mão e que obriga o leitor a ter sempre um lápis na mão, na esperança de que ao sublinhar, destacar, anotar lhe fiquem na memória as palavras que são expressão de um pensamento extraordinário com o qual se quer dialogar...

George Steiner morreu - "um homem não sobrevive à morte", lembrou Richard Feynmam - mas dele ficam-nos textos que, certamente, nos elevam como pessoas, e que, como professores, têm o dom de chamar de volta as nossas torturadas almas. Por isso, retiro da estante o seu livro As lições dos Mestres, publicado em 2003. Entre as páginas encontro o recorte de uma notícia assinada por José Gabriel Viegas, intitulada "A lição de um mestre". 

Escreveu ele ao início: John Banville recomendou-o [ao livro] como um «indispensável tónico para o moral dos professores nestas épocas de cinzas". E porque as cinzas se têm adensado, há que ler George Steiner...

"O grande ensino, a instrução do espírito humano na procura estética, intelectual, «eterniza» não apenas o indivíduo, mas também a humanidade. Afortunado o discípulo cujo mestre deu sentido à mortalidade (pág. 52).

"Ensinar com seriedade é lidar com o que existe de mais vital no ser humano" (pág. 25).

"A instrução, por palavras ou actos, falada ou demonstrada por meio de exemplo, é obviamente tão antiga como a humanidade" (pág. 17).

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...