quinta-feira, 23 de julho de 2009

DOZE LIVROS PARA AS FÉRIAS

Algumas sugestões de livros para as férias:

As férias são, por excelência, o tempo de leitura. Os dias são grandes e a tensão do dia-a-dia está atrás de nós. Eis doze sugestões de livros portugueses, de publicação recente, para as férias, sobre temas de ciência e não só: a história, a economia e a ficção também são contempladas. A ordem é a alfabética do apelido do autor:

- Philip Ball, “Massa Crítica”, Gradiva, 2009.

Este livro, grande a todos os títulos, recebeu o Prémio Aventis do ano de 2005, o melhor galardão para livros de divulgação de ciência. O autor, um inglês com licenciatura em Química e doutoramento em Física, foi editor da revista “Nature durante mais de uma década. A tradução de José Malaquias Lima é excelente. O tema, na fronteira da ciência actual, é explicado pelo grande subtítulo: “O modo como uma coisa conduz a outra. Investigação sobre a acção recíproca do acaso e da necessidade no desenvolvimento da cultura, dos costumes, das instituições, da cooperação e dos conflitos humanos”. Isto é, as Ciências Físico-Químicas a entrar nas Ciências Humanas e Sociais...

- Manu Bhaumik, “O Detective do Cosmos”, Gradiva, 2009.

Da autoria de um físico indiano, este foi considerado “livro oficial” da Ano Internacional da Astronomia, que se está a comemorar com sucesso por todo o mundo e também em Portugal por ocasião da passagem dos 400 anos das primeiras observações de Galileu com o telescópio. O subtítulo “Desvendando os mistérios do universo” ajuda a esclarecer o objectivo deste útil volume de divulgação astrofísica.

- António Câmara, “Voando com os Pés na Terra”, Bertrand, 2009.

O professor da Universidade Nova de Lisboa que conheceu o sucesso como empresário da YDreams (recebeu, entre outros, o Prémio Pessoa e o Prémio Inovação do Fórum III Milénio) relata, num conjunto de crónicas, “como vencer a ausência de perspectiva, a aversão ao risco, a falta de confiança e a tendência para criticar em vez de gerar ideias.” Um bálsamo nestes dias de crise internacional e nacional.

- Rómulo de Carvalho, “Bárbara Ruiva”, Página a Página, 2009.

Um conto sobre o desejo do professor de Física e Química e poeta (António Gedeão) que ficou na gaveta, mas que agora – e ainda bem – foi publicado, enriquecido com um prefácio de Manuel Gusmão e ilustrações de Helena Abreu. Leitura muito rápida e muito agradável.

- Bruno Frey, “Felicidade. Uma Revolução na Economia”, Gradiva, 2009.

Terceiro volume da série “Economia Aberta” (patrocinada pela PT Prime e pela PT Negócios), este volume de um professor de Economia da Universidade de Zurique, coordenador de um volume recente publicado sobre economia e psicologia, tenta levar a economia para lá dos seus limites tradicionais. Bastante actual numa altura em que, por causa da crise internacional, tanto se fala de economia e também numa altura em que o tema da felicidade ganha abordagens científicas.

- Keith Harrison, “O Nosso Corpo. O peixe que evoluiu”, Presença, 2009.

Mais um interessante volume sobre evolução que contribui para o ano Darwin, que está em curso (200 anos do nascimento de Charles Darwin e 150 anos da “Origem das Espécies”). Este livrinho, que é o nº 3 da colecção “Aventura da Ciência” (os dois primeiros foram de autores portugueses, João Lin Yun e Clara Pinto Correia), é da autoria de um biólogo inglês que contribuiu para a Cambridge Encyclopedia, lembra-nos aquilo que devia ser óbvio, mas para muitos não é: que a nossa espécie é o resultado do longo e gradual processo de evolução e que, em nós mesmos, encontramos marcas disso.

- Lourenço H. Henriques-Mateus, “Portugal na Aventura de Voar”, 2 vols., Público.

Acompanhando o jornal “Público” dois belos volumes sobre a história da aviação em Portugal, que sai no ano em que se comemoram os 300 anos da primeira ascensão em balão (Bartolomeu de Gusmão) e os 100 anos do primeiro voo de avião em Portugal.

- Amadeu Carvalho Homem, “Teófilo Braga, Ramalho Ortigão e Antero de Quental. Diálogos Difíceis”, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2009.

O historiador da Universidade de Coimbra cruza as visões dos três dos principais nomes da Geração de 70 sobre os problemas nacionais. Embora de origem universitária, este volume, é muito útil a todos os que quiserem conhecer melhor o Portugal que fomos para afinal compreender melhor o Portugal que somos.

- Stieg Larsson, “A Rainha no Palácio das Correntes de Ar”, Oceanos, 2009.

Terceiro e muito aguardo volume da trilogia policial (“Millennium”) do autor sueco que está a conhecer sucesso, a título póstumo, por todo o mundo (em Espanha, por exemplo, os romances policiais suecos estão nos “tops” de vendas). Para os mais desatentos, os títulos anteriores são “Os Homens que Odeiam as Mulheres” e “A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo” (este com curiosas referências matemáticas).

- New Scientist, “Experiências para Cientistas de Sofá”, Casa das Letras, 2009.

Este “best-seller internacional, com o subtítulo “100 intrigantes, incríveis, simples e divertidas experiências”, baseia-se numa coluna da revista britânica “New Scientist”, de perguntas dos leitores e respectivas respostas. É a sequência de títulos como “Porque é que o Mar é Azul?” e “Porque não Congelam os Pinguins?”. Pode ler-se aos bocadinhos, mas sempre com grande curiosidade.

- Fernando Rosas e Maria Fernanda Rollo (coordenação), “História da Primeira República Portuguesa”, Tinta da China, 2009.

Trabalho de compilação de fôlego sobre os 16 anos da Primeira República Portuguesa (1910-1926), da autoria de uma equipa de historiadores da Universidade Nova de Lisboa. Muito oportuno agora que se aproximam as comemorações do centenário da República (a segunda coordenadora integra a Comissão Nacional das Comemorações). A edição é muito cuidada, tal como a Tinta da China já nos habituou.

- Cartsten Wilke, “História dos Judeus Portugueses”, Edições 70, 2009

Bela edição que condensa o essencial da história do judaísmo em Portugal da autoria de um professor alemão, especialista no judaísmo europeu. A propósito, noto que a Câmara de Coimbra publicou recentemente “Coimbra Judaica”.

Boas leituras!

XI Festival Internacional de Teatro de Tema Clássico chega ao fim


Informação recebida da Associação Cultural Thíasos:

O XI Festival Internacional de Teatro de Tema Clássico termina no próximo fim de semana, de 25 e 26 de Julho, no Anfiteatro Romano de Bobadela (na figura), em Oliveira do Hospital, com duas apresentações pelo Thiasos do Instituto de Estudos Clássicos (IEC) de Coimbra.

Dia 25 de Julho (sábado), às 21h30, “As Vespas” de Aristófanes, e dia 26 de Julho, às 18h30, “O Fulaninho de Cartago” de Plauto. A entrada é gratuita.

AS VESPAS, Aristófanes, Grupo Thiasos do IEC

Apresentadas pela primeira vez em 422 a.C. no contexto da Guerra do Peloponeso, e obra de um Aristófanes já firmemente posicionado no panorama cómico ateniense, “As Vespas” procura testar as diversas iguarias de cómico, entre a tradição e a novidade, e tem de ser entendida como reacção ao desaire que constituiu, para o seu autor, o não reconhecimento do mérito da comédia apresentada no ano anterior, “Nuvens”.

No comum cenário do exterior de uma casa de Atenas, Aristófanes procura satirizar o mau funcionamento das instituições democráticas, centrando-se sobretudo nos tribunais, que apresenta, na pessoa de Filócleon e do próprio coro, como uma obsessão dos cidadãos mais envelhecidos, que só aí encontram a sua fonte de rendimento.

Recriando-se em cena um tribunal doméstico, onde arguido e acusado são dois cães – porém representativos de dois políticos da ribalta, nesse tempo bem conhecidos –, torna-se a cada passo manifesta a corrupção que domina as instituições jurídicas do tempo.

Tradução e encenação: Carlos A. Martins de Jesus

O FULANINHO DE CARTAGO, Plauto, Grupo Thiasos do IEC

A história gira em torno de um menino de sete anos raptado de Cartago. O pai deste definha de desgosto e deixa os seus bens a um primo. Um velho misógino de Cálidon, na Etólia, compra-o, sem saber que ele é filho de um hóspede, adopta-o, e, antes de morrer, nomeia-o seu herdeiro. Entretanto, são depois também raptadas duas primas do jovem juntamente com a ama. Lico, um alcoviteiro, compra-as a uns piratas e leva-as para a vizinhança do rapaz.

Agorástoles – assim se chama o jovem – fica perdido de amores por uma das moças, Adelfásio, sem fazer ideia de que é sua prima; e o alcoviteiro tortura o enamorado com delongas. Mas o rapaz com a ajuda de Milfião, o escravo matreiro, monta-lhe uma armadilha: deste modo, o proxeneta é, na presença de testemunhas adestradas para o efeito, implicado num suposto roubo e arrisca-se a ser arrastado diante do pretor.

Mas o desenlace é precipitado por um reconhecimento. Chega à cidade um velho cartaginês, esperto e manhoso, que descobre que o jovem é o filho do falecido primo e reencontra as filhas que havia perdido.

Tradução e encenação: José Luís Lopes Brandão

THIASOS DO IEC

Em actividade desde 1992, a Associação Cultural Thiasos é formada por um grupo de professores, alunos e funcionários da Faculdade de Letras e de outras faculdades, com o intuito de encenar e reflectir sobre o teatro clássico ou nele inspirado. O grupo de teatro Thiasos, vocacionado para a representação de teatro de tema clássico, está sediado no Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. De natureza universitária, procura levar aos palcos nacionais e internacionais o teatro greco-latino (ou aí inspirado), demonstrando a sua actualidade. É composto por estudantes, professores e funcionários da FLUC e fora dela.

FESTIVAL DAS ARTES COM VISTA PARA AS ESTRELAS


Informação recebida do Festival das Artes na Quinta das Lágrimas em Coimbra:

Foi uma noite de estrelas. No palco e fora dele. Músicos magníficos, servidos por uma excelente acústica, abrigados por uma leve e discreta concha. A descoberta de um espaço verde majestoso e envolvente, a provar que o lugar que pior conhecemos pode ser justamente aquele onde vivemos. No final, os telescópios, espalhados pelo jardim, aguardavam o olhar curioso dos espectadores. O céu é mesmo o limite?

A foto de cima recorda a noite de 18 de Julho, com o "Sonho de Uma Noite de Verão" de J. Felix Mendelssohn (com narração por Beatriz Batarda). Contamos com a vossa próxima visita!

1º FESTIVAL DAS ARTES - 2 ª SEMANA, DIAS 25 E 26 DE JULHO

No segundo fim-de-semana do Festival das Artes, é dado particular destaque ao cinema, com a exibição, em 3 dias seguidos, de três filmes raros que nos falam da noite: a volúpia carnal da noite em La Ronde de Max Ophuls (dia 24, às 22h15), os mistérios e medos da noite em The night of the hunter de Charles Laughton (dia 25, às 14h30) e os encontros e desencontros de corpos e espíritos na noite em Toute une nuit de Chantal Ackermann (dia 26, às 14h15). Como preâmbulo (dia 24, às 20h30), Augusto M. Seabra, que comissariou o ciclo cinéfilo de Festival, falará da noite no cinema e das suas opções para este ciclo. As sessões terão lugar no Teatro Académico Gil Vicente, com entradas ao preço de 5 € (assinatura para as 3 sessões a 12 €).

A música voltará a estar em evidência no dia 25. Rui Vieira Nery e Vanda de Sá (às 17h00, na sala Aqua do Hotel da Quinta das Lágrimas) falarão da noite na música, antecedendo um percurso musical (às 21h15) que se inicia na transição entre os séculos XVII e XVIII e se conclui a transição entre os séculos XIX e XX. Obras de Louis Couperin, Sainte Colombe, François Couperin, Michel Lambert e Guillaume-Gabriel Niviers serão interpretadas pelo grupo Bella Maniera, com a voz de Monique Zanetti. Será o Remix Ensemble a restituir-nos partituras dos compositores da Segunda Escola de Viena (Arnold Schönberg e Anton Webern). Concerto que irão ecoar no espaço do anfiteatro ao ar livre da Quinta das Lágrimas.

Luís Miguel Cintra evocará Galileu (a astronomia de regresso ao Festival depois da observação dos astros na semana anterior) através de um monólogo de Bertolt Brecht e lerá o poema A Noite Transfigurada de Richard Dehmel que inspirou a obra homónima de Schönberg, durante a actuação do Remix Ensemble.

A segunda etapa do ciclo gastronómico (19h30, na Sala Aqua da Quinta das Lágrimas) assinalará a estreia de Miguel Castro Silva em Coimbra.

O património artístico e ambiental será objecto de particular atenção. As manhãs serão preenchidas com visitas guiadas ao Jardim Botânico (sábado) e pelo percurso turístico “Igreja de Sta. Cruz – Centro de Música” (domingo), o qual culminará com um concerto de órgão na Capela da Universidade de Coimbra. Partidas às 11h00 da Quinta das Lágrimas (limite de inscrições – Contacto: 239 802 380).

DEZ ANOS DO PAVILHÃO DO CONHECIMENTO


Informação recebida da Agência Ciência Viva:

No próximo sábado, dia 25 de Julho, esqueça a praia ou o piquenique no campo. Visite o Pavilhão do Conhecimento- Ciência Viva, no Parque das Nações, em Lisboa (imagem em cima) entre as 11h e as 24h, e ajude-nos a soprar as dez velas do nosso bolo de aniversário. A entrada é gratuita.

A festa acontecerá dentro e fora de portas. No espaço exterior, participe, entre as 11h e as 19h, nas actividades propostas pelos 19 Centros Ciência Viva e a Federação Portuguesa de Aeromodelismo, Associação Portuguesa de Amadores de Rádio e Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente.

Às 16h ocupe uma das mesas do foyer e conheça os projectos que têm sido desenvolvidos entre os Laboratórios Associados e os Centros Ciência Viva e as colaborações previstas para o futuro.

Às 17h a festa é novamente lá fora. Contamos consigo para cantar os parabéns ao Pavilhão, com bolo de aniversário e o acompanhamento musical da Sociedade Filarmónica União e Capricho Olivalense.

A partir das 17h30, volte a entrar no edifício e assista à apresentação do primeiro número da série de roteiros científicos “Em Lisboa, à descoberta da Ciência e da Tecnologia”. É o nosso presente de aniversário para a Cidade.

Ocupe de novo umas das mesas do foyer e participe no Café de Ciência “…E para os próximos 10 anos? Digam e nós fazemos”. Carlos Martins, Ana Sousa Dias e Olga Pombo trazem as perspectivas da música, do jornalismo e da filosofia, num debate moderado por Alexandre Quintanilha e que terá no público alguns cientistas. Utilize os individuais de papel das mesas para escrever o que espera do Pavilhão do Conhecimento-Ciência Viva nos próximos dez anos.

Às 22h, Rosalia Vargas, presidente da Ciência Viva, recorda a história do Pavilhão do Conhecimento-Ciência Viva e de uma década de divulgação da ciência.

Às 22h30, todas as atenções vão estar voltadas para a fachada exterior do edifício do Pavilhão, onde será inaugurado o módulo interactivo de arte e ciência “Cascata de Cores”. A apresentação estará a cargo dos artistas que o conceberam, Nuno Maya e Carole Purnelle, e do físico Carlos Fiolhais.

Contamos com a sua presença!

Programa completo em www.pavconhecimento.pt

PARA ESTAR INFORMADO SOBRE A GRIPE



Leia o blogue de João Vasconcelos Costa.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

MUSEU CONVIDA AVÓS E NETOS A DESCOBRIREM OS GIGANTES DO PASSADO


Informação recebida do Museu de Ciência da Universidade de Coimbra:

Eram gigantes e, aos nossos olhos, podem até parecer muito estranhas. Mas não eram, de todo, extraterrestres. Nadas e criadas no nosso planeta, criaturas como as preguiças gigantes deixaram-nos as marcas da sua presença na Terra. No dia 26 de Julho (domingo), o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC) desafia avós e netos a conhecerem os seres invulgares que já habitaram o nosso planeta.

Para comemorar o Dia dos Avós, o primeiro laboratório de química construído em Portugal, abre as portas, das 10 às 18 horas, para um dia recheado de aventuras científicas. Numa visita à exposição "Darwin 150, 200", avós e netos poderão ainda reviver a viagem de Charles Darwin a bordo do navio Beagle, na qual o naturalista inglês fez descobertas sobre o mundo natural que mudariam para sempre a nossa forma de ver o mundo. Pequenos e graúdos poderão assim conhecer, com base em espécimes do acervo da Universidade de Coimbra e de alguns dos maiores museus europeus, as raízes da famosa teoria da evolução, que catapultaria Darwin para os anais da história.

Com a ajuda dos avós, o mais pequenos poderão ainda descobrir os segredos dos fósseis e até saber como podem começar uma colecção bem diferente daquelas a que estão habituados.

Entre as 16 e as 17 horas, o Museu vai também acolher contadores de histórias. Avós e netos poderão assim ouvir alguns dos mais fascinantes contos tradicionais relacionadas com o céu. Estas histórias, narradas por Helena Faria e José Geraldo (da Camaleão - Associação Cultural) foram recolhidas por todo o mundo no âmbito do projecto "O Céu dos Nossos Avós", promovido pelo Ano Internacional da Astronomia (AIA2009).

A participação nas actividades do Dia dos Avós custa apenas 3 euros por pessoa (1,50 euros para estudantes e para adultos maiores de 66 anos). Para mais informações, os interessados poderão aceder à página do Museu da Ciência da UC (www.museudaciencia.org) ou ligar para o número de telefone 239 85 43 50.

O Ano Internacional da Astronomia (AIA 2009) é coordenado em Portugal pela Sociedade Portuguesa de Astronomia, com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, da Agência Nacional Ciência Viva, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e da Fundação Calouste Gulbenkian.

ATÉ A RTP DIVULGA A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO SOBRE A LUA...



Já há protestos dirigidos ao provedor do telespectador...

ACTIVIDADES DE FÉRIAS NUM PARQUE DE LISBOA

Informação recebida da Terra-Mater Ambiente:

Entre muitas outras actividades iremos ao longo do mês de Agosto descobrir os mistérios que o Parque Monteiro-Mor, no Lumiar (pormenor na figura), em Lisboa (junto aos Museus do Traje e do Teatro, nos irá revelar. Ficaremos a saber que este parque tem entre as suas árvores uma das espécies vivas mais velhas do mundo. Que o seu jardim botânico é regado com água de uma cisterna com nascente própria. Que o parque é visitado por uma garça-real, guarda-rios, popas, morcegos, entre outros. Enfim vamos descobrir aquilo a que alguns chamam o jardim tradicional português onde encontramos a coexistência de hortas, de aromáticas, de pomar, de mato e de jardim.

Ver aqui.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A CONSTRUÇÃO DE IGREJAS E CATEDRAIS GÓTICAS


Texto já aqui referido de Jorge Lourenço, professor de Engenharia Civil no ISEC de Coimbra, a quem agradecemos a sua cedência:

Há cerca de quarenta anos, um ministro da educação de Marcelo Caetano iniciou uma reforma dos cursos de engenharia, que, não atingindo o objectivo de formar técnicos competentes, diminuiu ainda mais as possibilidades de os jovens terem uma preparação intelectual de sentido humanista. Actualmente, há muitos engenheiros vítimas desta “formação coxa”, reflectindo-se nos quadros técnicos da sociedade portuguesa: neste mundo que os absorve, os jovens estão algumas vezes desadaptados, noutras conseguem ser competitivos, mas quase sempre deficitários nos saberes técnicos, científicos e culturais. Em 1969, J. L. Rodrigues Martins, prefaciando a tradução portuguesa de uma obra de Niels Bohr (1), reflectia a necessidade de as escolas de ensino superior fornecerem uma formação integral para o aluno, ao invés de se tornarem em “fecundas Fábricas de Técnicos marcadas por imperativos de eficiência e de produtividade, mas amputados de todas as dimensões humanas, que não apontem para uma orientação profissional. Um engenheiro, no seu afã profissional, deve estribar-se culturalmente, conhecendo a evolução do pensamento humano, da ciência em geral e das técnicas; só encontrando justificações no desenvolvimento da sua actividade, vai mitigando as angústias da sua existência.

Por isso são muito importantes as Histórias das Ciências, as Histórias das Técnicas e as Histórias das Engenharias. Mas estas deverão ser documentos seguros de um pensamento alicerçado em conhecimentos científicos e técnicos. Eles existem como se pode constatar em muitos bons livros, tal como nas obras referidas das notas: (3)a (8) .

Através de duas leituras, vamos exemplificar o cuidado que devemos ter na análise dos textos escolhidos, para a nossa boa formação cultural. Nestes exemplos, trata-se do modo como dois autores descrevem a segurança estrutural garantida pelos construtores de igrejas e catedrais, na Idade Média: James Edward Gordon (9 e 10) e Adriano Vasco Rodrigues (11).

Vejamos como Gordon (9 e 10) distingue a técnica empírica, da técnica racional que começa com o desenvolvimento da Resistência de Materiais. Assim, ele descreve este processo a partir da construção das grandes estruturas dessas igrejas e catedrais, sem qualquer apoio científico, até ao aparecimento de Galileu, que inicia uma ferramenta científica, entretanto só aplicável no século XIX:

“Estes edifícios não só eram muito grandes e muito altos; alguns pareciam transcender a tosca e pesada natureza dos seus materiais de construção e elevá-la à categoria de arte e de poesia. Perante isto parece óbvio que os mestres medievais sabiam muito sobre como construir igrejas e catedrais e por isso muitas vezes o fizeram de forma excelente e altamente satisfatória. Contudo, se tivessem a oportunidade de perguntar a um mestre como o fez realmente e porque resiste, a resposta seria algo como esta: - O edifício resiste graças às mãos de Deus. Sempre que construímos, seguimos fielmente as regras e segredos tradicionais do nosso ofício.”


E Gordon (10) continua mais adiante:

“ O professor Jacques Heyman demonstrou concludentemente que os mestres das Catedrais, em nenhum caso, pensavam e projectavam de forma moderna. Apesar de muitas das realizações dos artesãos medievais serem impressionantes, as bases intelectuais das suas regras e segredos não eram muito diferentes das de um livro de receitas de cozinha. O que esta gente fazia era construir algo muito parecido com o que se havia feito imediatamente antes.”


E mais adiante (10):

“Assim, geração após geração, os homens voltaram as costas a um estudo racional dos problemas da resistência.”

E é muito interessante o cáustico humor de Gordon, quando associa a condenação de Galileu pela Inquisição, em 1633, com o início do estudo da Resistência de Materiais (10):

“Vivendo, virtualmente em prisão domiciliária, ocupou-se do estudo da resistência de materiais, pensando, suponho, que era uma actividade mais segura e menos subversiva.”

Depois desta descrição do engenheiro Gordon, leia-se o que Adriano Vasco Rodrigues escreveu, em obra encomendada pelo Colégio de Engenharia Civil da Região Norte da Ordem dos Engenheiros, a propósito da construção do Mosteiro da Batalha (11):

“A edificação da igreja do Claustro, Casa do Capítulo, Capela do Fundador e começo do panteão de D. Duarte realizados ao longo de 50 anos, corresponde ao gótico joanino, devendo-se a orientação e planificação a Mestre Afonso Domingues (1388/1402), verdadeiro engenheiro pelo conhecimento matemático e físico com que resolveu o problema das estruturas da abóbada da igreja, obra-prima da Engenharia medieval.”

Estes dois exemplos, pela contradição, dão-nos o motivo para que a nossa formação deva ter sempre um grande sentido crítico, de modo a sabermos distinguir
- o fundamental, do acessório;
- a descrição sumária tipo “reader’s digest”, do saber alicerçado;
- o erro da superficialidade, em relação à cuidadosa divulgação que muitos cientistas e técnicos desenvolvem.

Dirijo-me ao Prof. Carlos Fiolhais, para lhe dizer que o senhor fez bem em afirmar que a não tradução em português do “Gordon” (9) é um sintoma do nosso atraso tecnológico (12). E concluo apelando: apesar das edições em inglês (9), ou em espanhol (10), estudantes de engenharia civil ou de outras engenharias, leiam o "Gordon"!

NOTAS:

(1) NIELS BOHR, “Sobre a constituição de átomos e moléculas”, Colecção Textos Fundamentais da Física Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, 4ª edição, 2001. A Gulbenkian afirma que “as raízes da cultura estão naquelas obras cuja mensagem se não esgotou e que permanecem fontes vivas do progresso humano”. José Luís Rodrigues Martins, foi o primeiro português doutorado em física teórica pela Universidade de Coimbra (1945). Tal como a muitos outros cientistas portugueses dessa época, foi-lhe dificultada a sua capacidade de investigar e ensinar (2).

(2) AUGUSTO FITAS e ANTÓNIO VIDEIRA, “Cartas entre Guido Beck e Cientistas Portugueses”, Instituto Piaget, 1ª edição, Lisboa, 2004. Este livro descreve a forma como o cientista austro-húngaro de origem judaica, Guido Beck, foi tão mal tratado e pouco considerado no nosso país. Simultaneamente mostra as vidas estragadas por Salazar, de cientistas que seriam tão úteis ao país, nas décadas de 40 e 50 do século XX: Bento de Jesus Caraça, Mário Silva, Egas Moniz, Ruy Luís Gomes e outros.

(3) LAGINHA SERAFIM, “Engenharia Civil em Portugal”, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 2ª edição, 1992. Este grande catedrático de Coimbra explica porque temos uma Engenharia Civil em Portugal, depois de enunciar o que é a Engenharia Civil.

(4) FRANKLIN GUERRA, “História da Engenharia em Portugal”, Livraria Lopes da Silva, Porto 1995. Obra com belíssimas descrições, bem justificadas por conhecimentos técnicos adequados aos seus potenciais leitores: estudantes e profissionais de engenharia.

(5) FRANKLIN GUERRA, “Pequena História da Engenharia”, edição do autor, Porto, 1975.
Um pequeno documento, útil para qualquer estudante de engenharia culturalmente interessado e com referências bibliográficas muito interessantes.

(6) The Civil Engineer : his origins, Committee on history and heritage of Americain Civil Engineering, Ameticain Society of Civil Engineers, 1970.Documento aconselhado pelo Professor Laginha Serafim.

(7) J.P. PANNELL, “Man The BuilderAn illustrated history of engineering”, Thames and Hudson, London, 1977. Documento aconselhado pelo Professor Laginha Serafim.

(8) JEAN PIERRE ADAM, “La Construction romainematériaux et techniques”, 2ième edition, Grand Manuel Picard, Paris, 1989. As técnicas de construção utilizadas ao longo da história deverão ser perfeitamente entendidas, sobretudo para a reabilitação de obras antigas.

(9) J.E. GORDON, “Structures or Why Things Don’t Fall Down”, Penguin, Wardsworth, 1978. O exercício da Engenharia Civil integra um universo que deve ser profundamente entendido, por quem o pratica, ou quer vir a praticar. Nesse sentido esta obra do Professor Gordon “is a godsend” para os futuros engenheiros.

(10) J.E. GORDON, “Estructuras o por qué las cosas no se caen, Celeste Ediciones, Madrid, 1999. Localização das transcrições: linhas 18 a 29 da página 23; linhas 9 a 16 da página 24; linhas 1 e 2 da página 25; última linha da página 25, até à segunda linha da página 26. Nas transcrições, os sublinhados são nossos.

(11) ADRIANO VASCO RODRIGUES, “História breve da Engenharia Civil – Pilar da Civilização Ocidental”, Ordem dos Engenheiros - Região Norte, 2006. Localização da transcrição: linhas 20 a 26 da página 135. Na transcrição, os sublinhados são nossos. Esta obra é desconexa, superficial e tem erros que nos “saltam à vista”, como vírus de um computador infectado; apresentamos alguns exemplos:
- Entre as linhas 28 e 30 da página 261, numa descrição da integração de armaduras de aço no betão, encontramos um deplorável exemplo de ignorância destas matérias, associada a uma má tradução: “A teoria destes trabalhos parte do princípio que o ferro, colocado no sistema de construção, prende os esforços de tracção e algumas vezes os esforços de compressão e os do cinzelamento”.
- Nas linhas 15 e 16 da página 291 lê-se, a propósito da barragem do Alqueva: “O duplo arco da barragem foi construído em concreto”. Até parece que estamos num país da América Latina ...
- Na nota de rodapé nº 173, da página 263 escreve-se: “O cimento obtém-se a partir da cal viva, resultante da cozedura.”. Isto assim, sem mais nada, não é nada! E depois: “O betão é composto por um ligante, o cimento, por inertes, areia e fragmentos de pedra e água.”. Se uma nota se faz para melhor explicar as matérias abordadas, então esta deve ser uma anti-nota...
Não se deve tocar rabecão por simples vontade, ou encomenda. Qualquer actividade específica exige muito estudo e uma prática continuada, que permitirão desenvolver um saber e uma sensibilidade, que então se poderá apresentar posteriormente.

(12) CARLOS FIOLHAIS, “A coisa mais preciosa que temos”, Gradiva, Lisboa, 2002. Este físico, Professor Catedrático da Universidade de Coimbra, é um divulgador bem humorado da ciência, que há muitos anos oferece belos momentos de prazer, a quem se interessa pelos fundamentos da física.

(13) DAVID MACAULAY, “A Catedral – História da sua Construção”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1979. Este autor, através de um texto simples, mas correcto e de desenhos transmitindo com rigor os processos construtivos, legou-nos obra extraordinária de divulgação. Na contracapa deste livro lê-se: “ Este livro ricamente ilustrado mostra passo a passo o processo intricado de crescimento de uma catedral, desde que o plano é combinado e o projecto traçado, até à escolha do sítio e ao contributo de cada artífice, à descrição de ferramentas e materiais. Os pormenores da construção são graficamente explanados, tanto para se fazerem os caboucos para os alicerces ou levantarem grossas paredes de pedra, como para os seus pilares, a flecha, a abóbada, o telhado, até à conclusão das torres e colocação dos seus sinos de bronze – o que torna o livro único no seu género.” Este autor tem outros textos também muito interessantes: (14) e (15)

(14)DAVID MACAULAY, “A Cidade – Planificação e Construção de uma Cidade Romana”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1978. Baseado na obra escrita do arquitecto, da antiguidade clássica, Vitrúvio (16), com este livro escrito e desenhado por David Macaulay, conseguimos acompanhar toda a construção de uma cidade romana.

(15) DAVID MACAULAY, “A Pirâmide”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1979. Lamentamos que a Dom Quixote não tenha reeditado estas três magníficas obras de David Macaulay.

(16) MARCO LUCIO VITRUVIO, “Los diez libros de Arquitectura”, Editorial IBERIA, S.A., Barcelona, 1997. É uma leitura que deve deliciar qualquer profissional da construção intelectualmente empenhado.

Jorge F. Lourenço

Onde estava há 40 anos?

Depoimento que prestei ao jornal "Correio da Manhã" a propósito dos 40 anos, que se assinalam hoje, dos primeiros passos humanos na Lua:

Onde estava eu há 40 anos no dia da primeira caminhada na Lua? Tinha 13 anos, tinha feito o 4º ano do liceu, e estava na praia da Tocha em férias de Verão. Lembro-me de ter visto na TV a preto e branco as imagens que correram o mundo: a “Eagle” a pousar no solo lunar, com as crateras vada vez mais próximas através da escotilha, e os astronautas aos pulinhos no Mar da Tranquilidade. Também dei pulos! Não, não quis ser astronauta, para ir no foguetão, mas quis ser físico para saber como ia o foguetão.

Google the Moon


O Google tem um sítio para a Lua: o Google Moon. Aqui.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

DOZE LIVROS EM CASTELHANO


De uma viagem recente a Espanha, trouxe uma dúzia de livros sobre temas que podem interessar aos leitores do “De Rerum Natura”, pois têm a ver, de uma maneira ou de outra, com temas que aqui têm sido tratados. De Espanha bons ventos e boas leituras:

- Jorge Alcalde, “Las Mentiras de lo paranormal”, Libros Libres, Madrid, 2009-07-20

Um jornalista científico, director da revista “Quo” (foi redactor-chefe da “Muy Interesante”, e colaborador de várias estações de televisão) e laureado com vários prémios de comunicação e divulgação científicas, desmistifica várias patranhas em que muita gente acredita, desde horóscopos a discos voadores, passando por vidência e levitação. O subtítulo é, traduzindo, “O que se aprende ciência investigado os mistérios da zona escura”. O mesmo autor já nos tinha dado na mesma editora: “Las Mentiras del Cambio Climático. Um livro ‘ecologicamente incorrecto’ “. Serve este exemplo para mostrar que em Espanha há bastantes mais livros de jornalistas sobre temas relacionados com a ciência do que aqui. Será só por o país ser maior?

- Luís Alegre e Victor Moreno (coord.), “Bolonia no existe. Da destrucción de la Universidad Europea”, Editorial Hiru, Hondarribia, 2009.

Livrinho de vários autores de uma editora basca na colecção “Sedición”, que significa “Levantamento colectivo e violento contra a autoridade, a ordem pública ou a disciplina militar sem chegar à gravidade de uma rebelião”. A publicação vem na linha e ajuda a perceber o movimento que tem havido em várias universidades espanholas contra o acordo de Bolonha.

- Claudi Alsina, “Geometría para Turistas”, Ariel, Barcelona, 2009.

Um guia que combina matemática e turismo de um modo muito original. O autor é catedrático de Mastemática na Escola de Arquitectura de Matemática na Universidade Politécnica da Catalunha. Depois de consultarmos estas páginas, as nossas férias vão ser feitas com outros olhos... Razão tem o subtítulo: “Um guia para desfrutar de 125 maravilhas mundiais e de descobrir muitas mais”.

- Juan Luis Arsuaga, “El Reloj de Mr. Darwin”, Temas de Hoy, Madrid, 2009-07-20

Da autoria de um dos cientistas espanhóis mais conhecidos (catedrático de Paleontologia na Complutense de Madrid e responsável pelos trabalhos da gruta de Atapuerca, Prémio Príncipe de Astúrias de 1997, entre outras distinções, e autor de vários livros). A obra, de capas duras e bela apresentação, integra-se no Ano Darwin e vem muito a propósito, agora que abriu em Madrid uma grande exposição sobre Darwin que esteve antes na Gulbenkian em Lisboa. O subtítulo do livro é “A explicação da beleza e maravilha do mundo natural”.

- Ricardo Moreno Castillo, Panfleto Antipedagógico", Leqtor, Barcelona, 2006, 2ª edição

Um doutorado em História da Matemática, professor associado na Complutense de Madrid e catedrático no Instituo Gregorio Marañon de Madrid. O título é elucidativo, mas o filósofo basco Fernando Savater adverte no prólogo: “é um grito de alerta polémica que nos incomoda advertindo-nos que existem problemas [por resover, na educação].” O blogue do autor, entretanto terminado, é www.antipedagogico.com .

- Antonio J. Durán, “Pasiones, Piojos, Dioses... y Matemáticas”., Destino, Barcelona, 2009.

Um catedrático de Matemática da Universidade de Sevilha, autor do volume colectivo “La Ciencia y el ‘Quixote’ “ (2005) e de outras obras de divulgação científica, para além de obras de ficção, fala sobre a importância da matemática na vida e na história. A matemática cruza-se aqui com a mitologia, a música, a astronomia, a literatura, etc. O subtítulo? “A condição humana à luz da ciência mais antiga”.

- Alberto Granados, “Es eso Cierto?”, Aguilar, Madrid, 2009-07-20

O subtítulo explica, mais uma vez, o título: “Fraudes, erros, experiências inauditas... Todas as respostas sobre o mundo científico”. O autor é jornalista e escritor, colaborando com revistas e programas de TV. É o autor de “Leyendas urbanas. Entre la realidad y la supersticion”, na mesma editora, 2007.

- Juan Guirado, "Infinitum. Citas matemáticas”, Eneida, Madrid, 2007.

Abundante recolha de citações matemáticas feita por um professor do ensino secundário, premiado no Congresso Internacional de Matemática que se realizou em Madrid em 2006.

- Antonio Lafuente, Ana María Cardoso y Tiago Saraiva (editores), “Maquinismo Ibérico”, Doce Calles, Aranjuez – Madrid, 2007.

Belo volume que reúne artigos de autores portugueses e espanhóis sobre tecnologia na Península nos séculos XVIII e XIX. Mostra que a história da ciência em Portugal não se pode fazer sem olhar para o que se passa no vizinho do lado...

- Jesús Mosterín, “La Cultura Humana”, Espasa, Madrid, 2009.

Este livro de capas duras parece conter uma redundância no título, mas o autor explica que há cultura não humana. Mosterín é um dos filósofos mais conhecidos de Espanha, interessando-se pela filosofia da cultura. Catedrático de Lógica e Filosofia da Ciência na Universidade de Barcelona, é também o autor de “La naturaleza humana” (2006) e “La cultura de la liberdad” (2008), os dois na mesma editora.

- Bartolo Luque Serrano, “El mundo es un pañuelo”, Universidad de Valencia, 2009.

Com o subtítulo “Um passeio pluridisciplinar pela ciência”, este livro aparece associado à Cátedra de Divulgação Científica da Universidade de Valência, www.valencia.edu/cdciencia . O autor, professor de Matemática Aplicada na Universidade Politécnica de Madrid, é finalista do prémio europeu de divulgação científica “Estudio General 2007”.

- Vários, Boletin de la Institutión Libre de Ensenãnza, II Época, Octubre 2008, nº 70-71.

Esta obra não é um livro, mas uma revista. Mas pode ser visto como um livro pois, além de ter o aspecto de um livro, é um número temático sobre Darwin, 200 anos após o nascimento. Lendo-o, pode-se saber sobre a recepção de Darwin em Espanha e compará-la com a recepção em Portugal? Adivinhem onde chegou primeiro...

A caminho do futuro. Em Coimbra



Artigo de J. Norberto Pires, responsável pelo iParque e nosso colaborador noutras ocasiões, publicado no jornal "As Beiras" de hoje:

Tenho insistido na ideia de que Coimbra tem um conjunto de valências que devem ser exploradas de forma integrada, para maximizar resultados. A Universidade, os centros de conhecimento, o I&D reconhecido e de excelência, a incubação de ideias e empresas, as empresas de sucesso, o parque de ciência e tecnologia (iParque), os espaços vocacionados para manifestações culturais, a história da cidade, os espaços de lazer, a gastronomia e as pessoas.

É importante perceber que tudo isto tem de ser interligado para que a atractividade da cidade e da região aumentem.

Coimbra está a prestar atenção a essa valência, verdadeiramente central, no século XXI que é o conhecimento. A Universidade percebeu que é fundamental que se ligue ao mundo das empresas, criando valor a partir do conhecimento que gera, apoiando as empresas, transferindo conhecimento, incubando ideias e empresas, colaborando na instalação de áreas de negócio estratégicas e apoiando as iniciativas locais que visam dar corpo ao empreendedorismo e inovação criando valor e emprego. Mas é preciso melhorar e actuar de forma coordenada. Isso faz-se com tempo e aprendendo a trabalhar em conjunto. Sinto falta de estruturas de capital semente e de risco, vocacionadas para apoiar a iniciativa empresarial da região. É importante caminhar de forma célere nesse sentido.

Coimbra precisa de incentivar mais o empreendedorismo de crianças e adolescentes. É necessário que os jovens percebam que muito provavelmente terão de gerar as suas próprias oportunidades, contando com o que aprenderam e com a formação específica que tiveram. Isso significa alertar, divulgar, organizar pequenas sessões e cursos, aproximar as escolas das empresas, da Universidade e centros de I&D. As palavras-chave do futuro são "conhecimento" e "empreendedorismo", seja qual for a área de actividade que escolham no futuro.

É preciso, igualmente, perceber que a economia não é só tecnologia. Existem também as áreas tradicionais da indústria e serviços que precisam igualmente de ser apoiadas com espaços de localização empresarial de qualidade, pois geram emprego, actividade económica e incorporam inovação e empreendedorismo. E a visão deve ser integrada de forma a ter soluções claras para as várias solicitações.

Coimbra tem de ser mais excitante do ponto de vista cultural. Foi feito um esforço muito sério relativamente a espaços culturais e isso deve ser realçado. É necessário perceber que temos condições de excelência para manifestações culturais de qualidade que sejam capazes de atrair a atenção das pessoas. No teatro, na música, nas artes gráficas, na literatura, nas actividades museológicas, nas manifestações de cultura popular, nas feiras e nas exposições podemos ter uma oferta muito interessante em termos nacionais e internacionais que sejam uma mais-valia para visitar e viver em Coimbra. Coimbra precisa de conjugar isso com a actividade empresarial. A cultura é uma actividade económica por si só, mas para além disso é um excelente argumento para atrair empreendedores e investimentos estruturantes. Sinto falta de teatro, música, do foco nos livros, e de uma grande feira do livro. Sinto falta de exposições e coisas a serem lançadas e apresentadas em Coimbra. Sinto falta desse fervilhar de actividade cultural.

A história da cidade, os espaços históricos, a gastronomia e as pessoas são também factores a explorar para dar mais visibilidade a Coimbra.

Coimbra é criativa e empreendedora. Pode e deve coordenar as suas valências para atrair e fixar investimentos, pessoas que geram actividade e valor, atrair visitantes, os melhores estudantes, os melhores investigadores e cientistas, escritores e poetas, pintores, actores e outros agentes culturais. Isso faz-se criando condições físicas e dinamizando acções imateriais que, em conjunto, criam o ambiente excitante propício à actividade criativa.

É este o desafio que temos pela frente. Em Coimbra.

J. Norberto Pires

O ASTRONAUTA DE VINICIUS E POWELL 2

"O astronauta" de Vinicius de Moraes


Composição: Vinicius de Moraes (1913-1980)/ Baden Powell, gravada em 1964

"Quando me pergunto
Se você existe mesmo, amor
Entro logo em órbita
No espaço de mim mesmo, amor

Será que por acaso
A flor sabe que é flor
E a estrela Vênus
Sabe ao menos
Porque brilha mais bonita, amor

O astronauta ao menos
Viu que a Terra é toda azul, amor
Isso é bom saber
Porque é bom morar no azul, amor

Mas você, sei lá
Você é uma mulher, sim
Você é linda porque é"

UM PEQUENO-GRANDE PASSO HÁ 40 ANOS

Para Marte!


Há dez anos, por ocasião da passagem das três décadas após a missão Apollo 11, publiquei no suplemento "Das Artes e Letras" do jornal "O Primeiro de Janeiro" este texto sobre o futuro da descoberta do espaço. Devido a várias hesitações e atrasos no programa espacial, uma viagem tripulada a Marte por volta de 2020, como escrevi na altura, é hoje uma possibilidade remota, embora ela seja possível a partir de 2030. Mas pode ser que o texto ainda tenha alguma actualidade (na imagem, paisagem marciana):

Fez agora 30 anos que o homem foi à Lua pela primeira vez. Numa noite quente de Julho, parecidíssima com uma das noites de Julho último, chegaram aos nossos televisores imagens a preto e branco da Lua em directo. Houve logo quem se apercebesse da importância do momento (foi, talvez, o acontecimento do século XX). Houve também quem duvidasse, pensando que na televisão tudo pode ser montado. Como disse um comerciante português de carnes, numa linguagem bem terra-a-terra e que ilustra o nosso atraso da época: "A Lua? Que me interessa a mim a Lua se eu não posso vender carne fora do meu concelho?"

Mas há uma geração - a dos jovens actuais, entendendo-se por jovens as pessoas com menos de 35 anos - que perdeu a ida à Lua. Estavam a dormir ou nem sequer tinham nascido. Apanharam a história da Lua, já algo requentada e sem a emoção do directo, servida nos "enlatados" da NASA na televisão ou, numa hipótese algo optimista, em textos nos livros, escolares ou de divulgação, que convidavam à aventura da ciência. Esta é a geração do intervalo na exploração espacial. Mas não houve a bem dizer "buraco". Os jovens e os menos jovens viram a estação espacial russa "Mir", agora a cair. Viram recentemente a estação espacial "Freedom" começar a erguer-se nos céus. Viram o telescópio espacial "Hubble" ser reparado e tirar fotografias espantosas de tudo quanto é sítio. Viram os vaivéns espaciais a ir e a vir do Centro Espacial Kennedy. Viram as sondas enviadas a planetas longínquos, como as "Voyager" e a "Galileo", ou a planetas próximos, como a recente "Mars Pathfinder", que pousou em Marte com o pequeno carro-robô. Viram tudo isso e não foi pouco, mas perderam a Lua... Alegrem-se, porém: a geração mais nova perdeu a Lua mas vai ganhar Marte. Marte é, será das crianças e dos jovens de hoje.

Marte é a próxima fronteira. Como disse o pioneiro russo da exploração espacial Tsiokolvsky: "A Terra é o berço da humanidade, mas ninguém fica eternamente no berço”. Havemos de ir a Marte no próximo século, provavelmente lá para o ano 2020, passados 50 anos depois da primeira viagem humana à Lua. Não é tecnologicamente impossível, sendo só questão de concretizar para isso um grande projecto internacional. A humanidade, para sair do berço, só tem de querer, organizar um plano e, claro, pagar a grande viagem. A paisagem de Marte está lá, virgem como estava o Everest antes de Edmund Hillary, e alguém quererá ser o primeiro. Faz parte da natureza humana, quase se pode dizer está no património genético, não se contentar com o conhecido e não se saciar do desconhecido. Porque é que se foi à Lua? Porque John Kennedy, decerto impulsionado pela guerra-fria mas levado também pela ideia de ultrapassagem das fronteiras, lançou o desafio e disse que para lá se tinha de ir rapidamente e em força. Por que é que não se vai a Marte amanhã? Porque ainda ninguém, com o mesmo discernimento, vontade e poder, disse que lá se devia ir. Por que é que se irá depois de amanhã a Marte? Porque o que é possível e desejável se faz, ou, melhor, acaba inexoravelmente por se fazer.

Conhece-se, porém, quem não só não queira ir (está no seu direito) como também não queira que se vá (aqui, vale a pena contra-argumentar). O nosso comerciante, certamente, não quererá saber. Esperamos, pelo menos, que tenha obtido entretanto autorização para vender carnes na União Europeia. Mas, por estranho que pareça, o nosso prémio Nobel da literatura, José Saramago, achou por bem, desprezar a viagem marciana, afirmando - a citação é de cor - que era infelizmente mais fácil enviar um engenho a Marte do que chegar ao homem na Terra. A pergunta até parece, à primeira vista, boa: Se há tantos problemas na Terra, porque há-de o homem meter-se em sarilhos em Marte? A visão de Saramago, embora descontando a metáfora a que têm direito todos os artistas, é tão sustentável ou insustentável como a do comerciante. Competem as duas em tacanhez. Primeiro: não é garantido que os problemas na Terra se resolvam mais facilmente ignorando o espaço, afinal aqui tão perto de nós. Segundo: É precisamente por haver problemas na Terra que a ciência e a sua filha legítima, a tecnologia, devem prosseguir, ultrapassando sucessivas fronteiras. A falta de ciência nunca resolveu problema nenhum. Pelo contrário, a ciência pode - e os exemplos abundam - ajudar a resolver muitos problemas da humanidade, incluindo questões como a fome, a doença e a miséria. Não é obrigatório que os resolva, pois a actividade humana não se esgota na ciência. Há a política, a economia, as artes e as letras, a religião, etc., mas nenhuma destas se podem dar ao luxo de querer passar sem a ciência, sem o saber construído pela curiosidade humana.

Lembremo-nos que a ida à Lua foi um enorme empreendimento humano: Para que Armstrong e Aldrin alunassem, trabalharam directamente no projecto mais de 200 000 pessoas; mostrou-se que se podia concretizar um grande sonho. De resto, resolveu-se uma miríade de problemas específicos: foi um feito com consequências fantásticas na engenharia e na medicina. Mas resolveu-se, sobretudo, um problema central: ir "lá", sair pela primeira vez do nosso berço planetário. Também se avançou na economia e na política, na arte e na religião. A humanidade não é a mesma desde que dois dos seus representantes foram à Lua. A humanidade não voltará a ser a mesma quando os seus representantes pisarem as areias de Marte (a ida a Marte será, talvez, o maior acontecimento do século XXI).

Claro que na ida a Marte há questões ideológicas. Por exemplo, provavelmente o primeiro explorador será norte-americano. Curioso é que não conste que Saramago se tenha pronunciado sobre o empreendimento espacial quando os russos disputavam com os norte-americanos a primazia no espaço e até a ganhavam. Nem sequer quando o primeiro engenho, um artefacto soviético, feio e forte (com a foice e o martelo), caiu em 1971 desamparado no solo marciano, jazendo hoje debaixo de um monte de areia, onde poderá um dia vir a ser desenterrado por arqueólogos. Sim, foram os soviéticos os primeiros a chegar, ainda que com um objecto, ao planeta vermelho.

Daqui até ao ano 2020 vários voos dos EUA, da Rússia, da Europa e do Japão terão Marte por meta. Todos os dois anos, há uma “janela de oportunidade", onde se pode fazer o “tiro" astronómico correcto. Logo que o programa principal da estação espacial internacional se esgote, missões robotizadas explorarão Marte, antes do homem, trazendo até à Terra a terra de Marte (as imagens das sondas “Viking” mostraram-nos que a superfície de Marte não é assim tão diferente de um deserto terrestre). Depois de resolvidos problemas de reciclagem de recursos, de produção de combustível e de resistência do organismo (a viagem, para Marte, com a tecnologia actual, durará mais de um ano, para lá, e outro tanto para cá, mas a tecnologia está sempre a evoluir), será finalmente a vez de uma expedição tripulada.

Portugal entrará para a ESA, a agência espacial europeia, em 2000 e poderá participar na aventura. Não se percebe por que é que o Ministério da Ciência e Tecnologia esperou quatro longos anos para concretizar o óbvio: que devíamos também ser europeus no espaço. Assim, não será o filho, mas tão só o neto do magarefe que poderá ser astronauta.

Marte é um planeta mítico. Não sendo o mais próximo de nós, é o mais parecido com o nosso. É o sítio onde pode ter existido vida no passado (as notícias recentes sobre organismos vivos num meteorito oriundo de Marte e caído na Antárctica eram um pouco exageradas), é o sítio onde astrónomos pouco sofisticados julgaram ver um sistema de canais fruto de uma civilização planetária, é o sítio que Orson Welles imaginou como origem dos invasores. Mas é também o planeta do futuro: aquele onde haverá vida, quanto mais não seja levada da Terra, aquele cuja paisagem pode ser “terraformada”, isto é, tomada semelhante à nossa, possibilitando as primeiras colónias humanas no espaço. Marte é o único planeta do sistema solar, além do nosso, que poderá ser habitado.

É bom que os jovens saibam que é possível ir a Marte, que os muito jovens poderão mesmo um dia lá ir. Os manuais escolares de ciência podem não ser suficientemente apelativos. Os programas televisivos sobre ciência podem não ser frequentes. Mas podem-se organizar mini-projectos para acompanhar as idas de sondas a Marte, usando nomeadamente os “media” e as hodiernas redes de comunicações. Se a chamada Secretaria de Estado da Educação e Inovação se lembrasse algum dia de inovar alguma coisa, acarinharia projectos sobre Marte, os planetas, as estrelas, etc., alimentando a imaginação ávida dos jovens. Bastante pior que não ter meios para fazer é não ter ideias sobre o que fazer nas escolas. Falar do espaço, seguir e projectar viagens espaciais é pôr em agitação os jovens neurónios. Não compreender isso é ter os neurónios envelhecidos.

A longo, muito longo prazo, a presença humana em Marte terá uma utilidade evidente. Poderá resolver, pelo menos em parte, o problema da sobrepopulação do nosso planeta-berço, o problema da escassez de recursos naturais e o problema da degradação do meio ambiente. Talvez até, se houver (lagarto, lagarto!) uma catástrofe na Terra, Marte seja o sítio onde o património da vida vai continuar a sua prodigiosa história evolucionária. Os descendentes remotos do nosso comerciante de carnes irão um dia vender costeletas, ou o equivalente sintético delas, em solo marciano.

E, quanto a Saramago, esperamos que continue a diatribar contra a exploração do espaço pois são precisos "velhos do Restelo" para que haja epopeia. Mas esperemos também que reconheça uma utilidade bem prosaica de Marte: Marte, ao fim e ao cabo, tem sido uma fonte inspiradora de agradáveis páginas de literatura, de Edgar Rice Burroughs a Arthur C. Clarke. Por exemplo, Ray Bradbury é o autor de "Crónicas Marcianas". A prosa de Bradbury termina, eloquentemente: "Os marcianos somos nós". Quando lá chegarmos, claro.

domingo, 19 de julho de 2009

“Quer isto dizer que não há diferenças?"

“… soluções que poderiam realmente mudar o desolador sistema educativo que temos, os dois grandes partidos nada dizem, fogem dos riscos como da pólvora.”
António Barreto, 2005.

Mais fundamentada do que a minha opinião acerca daquilo que entendo ser um acordo tácito entre a sociedade e os partidos políticos no que respeita às opções e funcionamento do sistema de ensino é a opiniãode António Barreto.

Em 13 de Fevereiro de 2005, saía no jornal Público um artigo deste sociólogo, fruto duma acutilante análise comparativa que fez das intenções governativas para a educação constantes nos programas eleitorais dos diversos partidos.

Enquadra deste modo o assunto:

“É impossível saber quantos eleitores terão lido um programa eleitoral por inteiro. Não creio que tenham sido mil. Muito menos quantos os tenham lido todos ou em grande parte, a fim de comparar. Umas dezenas, talvez. Esses livrinhos, cujo volume oscila entre 130 e 185 páginas de escrita compacta, têm tiragens de poucos milhares de exemplares, talvez apenas umas largas centenas. Áridos, os textos servem mais para garantir que existe um programa do que para comprometer. Neles se promete tudo e nada e o seu contrário, mundos e fundos, a felicidade e a fortuna. Nunca, que se saiba, um partido fez as contas e verificou, no fim da sua elaboração, quanto custaria fazer "aquilo". Nem sabem onde ir buscar os meios financeiros, materiais, técnicos e humanos para dar conta do recado. De qualquer maneira, não é isso que interessa. O partido que ganhar as eleições faz depois um programa de governo assaz diferente do eleitoral: com realismo, baixará os decibéis das suas disparatadas proclamações. Quando chegar a vez do orçamento de Estado, então sim, o partido do governo descerá sobre terra. Todos conhecemos o resto da história.”

No que respeita, em concreto, aos programas para a educação, que “constituem desenvolvido capítulo desta literatura”, encontrou as seguintes semelhanças:

“Tudo somado (educação, desporto escolar, ciência, acção social, juventude e cultura), variam entre 25 e 45 páginas. Todos estão preocupados, garantem que a educação é essencial e prioritária e prometem obras mirabolantes. Deixo de lado o mau português, a linguagem de pedra e o tom redentor. Têm de comum e sem excepção os grandes objectivos: combater o insucesso e o abandono, formar a juventude, aumentar a população do secundário e do superior, aumentar o número de professores, expandir a rede escolar, aumentar as bolsas e os subsídios, desenvolver a formação profissional, multiplicar os laboratórios dedicados à ciência, investir nas novas tecnologias, alargar o pré-escolar, apoiar os deficientes, integrar os imigrados, retomar a educação e a alfabetização de adultos, abrir as escolas e as universidades à noite, estabelecer a escolaridade obrigatória de 12 anos, manter todos os jovens até aos dezoito anos na escola, prestar atenção ao português e à matemática, introduzir o inglês no primeiro ou no terceiro do básico, aumentar a carga horária dos alunos, aperfeiçoar o sistema de colocação de professores e estabilizar o corpo docente das escolas. Para a totalidade destes objectivos, não dizem quanto custa, quanto tempo demora, com que metas, com quem nem como (…).”

Mas, pergunta o investigador: “Quer isto dizer que não há diferenças? Que são todos iguais?”. E responde:

“Não. Essa foi, devo confessar, a minha surpresa. Explícita ou disfarçadamente, os partidos mostram as suas convicções políticas, ideológicas e doutrinárias. Esta é a melhor parte dos programas. Ao menos, aí, estão a falar a sério. Os programas dos três pequenos são os mais conseguidos, isto é, mais claramente comprometidos com um modelo e uma filosofia política. O do Bloco de Esquerda é caro, radical, subversivo, com pulsão totalitária, uniformizador, politicamente correcto, virtuoso, moderno, fracturante e multicultural. O do PCP é caro, nacionalista, burocrático, de inspiração soviética, obsoleto, conservador, demagógico, unificado e dirigista. Ambos pretendem descaradamente liquidar os sectores privados, prometendo ao mesmo tempo doze a catorze anos de escolaridade universal e gratuita, além de todo o ensino superior igualmente gratuito. O do CDS é caro, reaccionário, vago, repressivo, socialmente desigual e de prioridade absoluta ao sector privado. Promete que a intervenção pública deva ser apenas subsidiária e confia sobretudo no aumento das cargas horárias, na certeza de que deve haver exames nacionais quatro vezes em doze anos, além de provas nacionais de aferição todos os anos.”

Mas é no passo que se segue que nos devemos deter se queremos compreender o estado da nossa educação:

“Os programas dos dois grandes são menos interessantes, mas merecem mais atenção. São mais parecidos. Mais próximos do que existe actualmente, isto é, mais imobilistas e menos propensos a correr riscos de ruptura. Mais caros, muito mais caros ainda. Mais confusos na doutrina, dado que querem tudo e não parecem capazes de escolher. Finalmente, é de um destes que sairá o futuro governo e respectivo ministro (…).

O PSD quer fazer coexistir o público e o privado, com preferência para o privado, sem atentar contra o público. O PS quer fazer coexistir o privado e o público, com preferência para o público, sem atentar contra o privado. Ambos desejam mais participação das autarquias, dos interesses e das famílias na gestão das escolas, sem no entanto prever as respectivas responsabilidades. Mas enquanto o PS se deixa encantar pela desastrada "gestão democrática" actual, no que se junta ao PCP e ao Bloco, já o PSD abre as portas aos gestores profissionais para as escolas, sem, todavia, dizer como e quando o fará. Quanto à colocação de professores, surpresa das surpresas, o PS declara-se disponível a fazer experiências de descentralização. No que toca ao recrutamento de professores, nenhum dos dois retira as devidas lições das crises recentes e não abdicam da colocação feita nacionalmente. O PSD pretende manter alguma diferença entre universidades e politécnicos, deixando que uma espécie de colaboração avance e, a prazo, destrua as diferenças; mas o PS é mais desastrado e defende a aproximação entre umas e outros (…). O PSD é vago no governo das universidades, mas diz procurar novas vias de gestão e responsabilidade. Pelo seu lado, o PS defende, no essencial, o actual sistema dito de gestão democrática, com órgãos eleitos, participação intensa de estudantes e demagogia a jorros. Onde o do PSD é vago e equívoco, o do PS é oportunista e tenta agradar a toda a gente: professores, pais, alunos, autarquias, interesses económicos, sector privado e sector público.”

Nesta última frase sintetiza António Barreto o nosso drama: dispensarmos a razão quando tomamos decisões para a educação, menosprezarmos a investigação científica sobre a aprendizagem e o ensino (ou só usarmos a que serve os nossos propósitos), relativizarmos as reflexões filosóficas credíveis acerca do sentido do educar. Isto tudo em favor de vacuidades e, sobretudo, do contento imediato.

THE AGE OF WONDER


O "New York Times" publica uma recensão de um grande livro, onde como vem no texto "as energias gémeas da curiosidade científica e da invenção poética pulsam em cada página". Ler aqui.

THE AGE OF WONDER

How the Romantic Generation Discovered the Beauty and Terror of Science

By Richard Holmes

Illustrated. 552 pp. Pantheon Books. $40

NOVOS LIVROS DA GRADIVA



Informação recebida da Gradiva:

OS LIVROS DE JULHO 2009 (livros disponíveis a 22 de Julho)

- Kazuo Ishiguro, Nocturnos

Kazuo Ishiguro explora nesta obra os temas do amor, da música e da passagem do tempo. Um livro para quem se recusa a perder a esperança e insiste em ver o lado positivo de tudo o que sucede. Lições de vida e a vida em lições de mestria narrativa, de um autor já descrito pelo New York Times como «um génio extraordinário e original».

EM CIMA ESTÁ O BOOKTRAILER DO LIVRO

«Gradiva», nº 127, 236 pp., € 14,00

- Luísa Pereira e Filipa M. Ribeiro, O Património Genético Português - A história humana preservada nos genes

Quem somos, afinal? Combinando contributos de áreas tão diferentes como a genética, a arqueologia, a antropologia, a história e até a climatologia, este livro analisa as origens e migrações humanas no passado, focando uma temática inédita: o património genético português.

«Ciência Aberta», nº 179, € 15,00

- Eduardo Lourenço, Esquerda na Encruzilhada ou Fora da História? - Ensaios políticos

Num livro oportuníssimo, um dos nossos maiores pensadores dá-nos a conhecer a sua visão sobre a Esquerda e a democracia no contexto histórico, social e cultural do Ocidente, e de Portugal em particular.

«Obras de Eduardo Lourenço», nº 18, 168 pp., € 13,50

- Fernando Ramôa Ribeiro (coord.), A Energia da Razão - Por uma sociedade com menos CO2

Livro que reúne contribuições dos mais prestigiados especialistas na área das energias renováveis e sustentáveis e suas implicações em termos individuais e sociais.

«Fora de Colecção», nº 316, € 24,50

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...