quinta-feira, 22 de maio de 2008

O PRÉMIO, A PIA DA PÓLVORA E AS INVASÕES FRANCESAS


Aqui está uma foto da distinção dada pelo European Museum Forum ao Museu da Ciência da Universidade de Coimbra em cima da "pia da pólvora", no Laboratório Chimico onde, faz agora 200 anos, o lente de Química Tomé Rodrigues Sobral fabricou pólvora para combater os invasores franceses.

Lembro que em Junho faz 200 anos que se formou o 1º Batalhão Académico, constituído por estudantes da Universidade de Coimbra, sob o comando do sargento de artilharia e também estudante Bernardo António Zagalo, que marchou de Coimbra à Figueira da Foz para tomar essa cidade aos franceses. Foi isso mesmo que conseguiram fazer a 27 de Junho de 1808, ao tomar o Forte de Santa Catarina, então ocupado pelas tropas de Junot (curiosamente o comandante era um tenente de engenharia português colaborador dos franceses). Em 1 de Agosto de 1808 o general inglês Arthur Wellesley, mais tarde Duque de Wellington, desembarcava com as suas tropas na Praia do Cabedelo, na Figueira da Foz...

Aproveito para divulgar a citação do júri do Prémio Europeu do melhor museu do ano em ciência e e tecnologia, que tem o nome de um industrial italiano:

"The Micheletti Award for the most promising technical or industrial museum among the current year’s candidates goes, unusually, to a science museum this year. The Science Museum at the University of Coimbra in Portugal impressed the judges with its sensitively restored and designed neoclassical Laboratorio Chimico. With its theme of ‘secrets of life and matter’ the museum has crossed scientific discipline-lines and the integration of the historic building and objects with thoughtfully chosen computer interactives and experiments has proved very successful. Add to this a very varied programme of activities and a high standard of publications, and the resulting experience for visitors is excellent."

Sumidades académicas

Um comentário imperdível no Ana-Lítica-Mente, sobre um livro da Texto Editores que apresenta as mudanças ortográficas impostas legislativamente.

Grandes ideias perigosas


O livro merece uma recensão, mas fica aqui desde já a informação, recebida da Tinta da China, da publicação de "Grandes Ideias Perigosas", com introdução de Steven Pinker, posfácio de Richard Dawkins, ooordenação de John Brookman e contribuições de cerca de uma centena dos cientistas actualmente mais influentes:

A história da ciência está cheia de descobertas que, na sua época, foram consideradas social, moral ou emocionalmente perigosas: as revoluções concretizadas por Copérnico ou por Darwin são as mais óbvias. Qual é a sua ideia perigosa? Uma ideia em que tem meditado e que acha que é perigosa, não porque se presume que é falsa, mas porque pode ser verdadeira?

Foi este o mote para a compilação de «Grandes Ideias Perigosas». Mais de cem eminentes cientistas de diversas áreas – genética, biologia, matemática, neurologia, informática, cosmologia, física, filosofia, psicologia, antropologia – respondem a esta questão.

De leitura acessível e tão estimulante quanto o seu antecessor – «Grandes Ideias Impossíveis de Provar"– esta nova compilação apresenta uma perspectiva fascinante sobre algumas das inquietações que assolam as mentes mais brilhantes da actualidade:

- «Terão os homens, em geral, um perfil de aptidões e emoções diferente do das mulheres?»;
- «Será que os acontecimentos descritos na Bíblia foram fictícios – não só os milagres, mas também os que envolvem reis e impérios?»;
- «Terá o estado do meio ambiente melhorado nos últimos 50 anos?»;
- «Serão os terroristas suicidas pessoas bem-educadas, mentalmente saudáveis e movidos por razões morais?»;
- «Será a moralidade apenas um produto da evolução do nosso cérebro, sem qualquer realidade inerente?»;
- «Os pais exercem algum efeito no carácter ou na inteligência dos filhos?»;
- «Deveriam as pessoas ter o direito de se clonar a si mesmas, ou de melhorar as características genéticas dos seus filhos?»

Não há respostas simples e evidentes. Nem todas têm como objectivo uma mudança positiva e construtiva do estado de coisas. Algumas são controversas, inaceitáveis e mesmo perturbadoras. Este livro dirige-se aos leitores que têm um espírito crítico e curioso e que não se deixam intimidar por respostas inquietantes.

tradução: Paulo Salgado Moreira
prefácio: Steven Pinker
posfácio: Richard Dawkins
coordenação: John Brockman
1.ª edição: Maio de 2008

quarta-feira, 21 de maio de 2008

HUMOR - A evolução do assalto

Microesculturas




O facto de ser disléxico não impede o artista britânico Willard Wigan, 51 anos, residente em Birmingham, de fazer das mais pequenas esculturas do mundo, esculturas que só podem ser verdadeiramente apreciadas ao microscópio. Trata-se de microarte e não de nanoarte, o que já não estaria ao alcance de um autodidacta que trabalha altas horas da noite em sua casa, utilizando por exemplo partículas de poeira como matéria prima. Mas mesmo assim é impressionante... Ficam aqui alguns exemplos, como a Branca de Neve e os sete anões no buraco de uma agulha, um pensador em cima de um pequeno prego, ou ainda um combate de box (Clay contra Liston) com o tamanho da cabeça de um fósforo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Professor X e a conspiração da ciência



A publicação do livro «Seduction of the Innocent» de Fredric Wertham em 1954, em pleno McCartismo, um período de forte sentimento anticomunista nos EUA, marcou uma época negra para a banda desenhada norte-americana. A cruzada moralizadora contra a banda desenhada levada a cabo por Wertham, iniciada em 1948 com os artigos «Horror in the Nursery» publicado na revista Collier e «The Psychopathology of Comic Books» no American Journal of Psychotherapy, traduziram-se numa queda das vendas e no encerramento de muitas editoras.

Fredric Wertham, o principal actor nesta cruzada, nasceu em Nuremberga em 20 de Março de 1895. Formado em Medicina pela Universidade de Wurzburg em 1921, depois da pós-graduação, Fredric foi contratado pela Clínica Kraepelin, em Munique, onde as teorias do seu fundador, Emil Kraepelin, exerceram um impacto tremendo na sua carreira.

Em 1922 Wertham mudou-se para os EUA e trabalhou na Clínica Psiquiátrica Phipps, da Universidade Johns Hopkins. Enquanto trabalhava na Hopkins, redigiu seu primeiro livro, «The Brain as an Organ», publicado em 1926. Wertham deixou a Johns Hopkins em 1932 para assumir o cargo de psiquiatra-chefe do Hospital Belleview, em New York, um dos cargos de maior prestígio no campo da psiquiatria da altura.

Wertham estava especialmente interessado na relação entre saúde mental e comportamento criminoso e ajudou o estado de New York a preparar um processo de avaliação psiquiátrica para os detidos nas respectivas cadeias. A partir dessa altura, a explicação de comportamentos criminosos passou a ser o cerne do seu interesse, como exemplificado pelo seu segundo livro, «Dark Legend», que narra a história de um adolescente de 17 anos que matou a mãe.

Como todos os adolescentes da altura, o assassino era um consumidor ávido de banda desenhada mas para Wertham tal não era coincidência mas sim a explicação para o seu comportamento psicopata. Assim, a investigação de Wertham centrou-se neste ponto a partir do início da década de 50 e a sua convicção da culpabilidade da banda desenhada na indução de comportamentos criminosos atingiu o seu zénite no referido livro em que desenvolve a tese de que de que a banda desenhada era uma causa importante da delinquência juvenil. No livro Wertham apresentava casos de delinquência infanto-juvenil em que os criminosos «admitiam» que se tinham inspirado na banda desenhada.

Embora o seu último livro, «The World of Fanzines» publicado em 1973, seja uma espécie de pedido de desculpas pelo mal que as suas críticas anteriores tinham infligido no género, é inegável que a era Wertham marca o fim dos «anos dourados» das HQs e de certa forma despoletou uma reviravolta nestas.

Um dos nomes que se destacam nesta verdadeira revolução é o de Neal Adams, uma das lendas da banda desenhada que não aceitou a morte do género que muitos consideravam inevitável em meados da década de 50 . A trabalhar na área desde finais dos anos 50, o seu trabalho mais marcante foi realizado a partir de 1967. Adams desenvolveu um trabalho notável para a Marvel e a DC Comics nomeadamente sendo o grande responsável pela imagem actual de personagens como Batman, Desafiador, X-Men, Vingadores e Lanterna Verde & Arqueiro Verde. Detentor de vários prémios, estabeleceu um estilo que influenciaria uma legião de novos artistas (entre eles, Bill Sienkiewicz). Após alguns desentendimentos com a Marvel e a DC Comics, Adams abriu a sua própria editora, a Continuity Comics, reunindo vários talentos da área e alargando os horizontes da sua influência na banda desenhada de super-heróis.

Quiçá pelo seu trabalho intenso e louvável em séries que podemos considerar de ficção científica, como os X-Men, Adams começou em simultâneo a confundir realidade e ficção e tornou-se um apóstolo de uma teoria bizarra. Esta advoga que a Terra está a «crescer» (supostamento o seu diâmetro «aumenta» cerca de 25 cm por ano sem ninguém dar por isso) e que a massa necessária ao seu crescimento provém de um processo misterioso que produz elementos químicos no seu interior a partir de uma «nova» (e desconhecida) partícula que dá pelo nome «prime matter particle».

A sua experiência profissional permitiu-lhe produzir uma série de vídeos de defesa desta variante de «ciência» alternativa, de muito boa qualidade gráfica como o que ilustra o post, mas cujo conteúdo não difere muito das histórias de mutantes que tão bem ilustrou. O vídeo poderia ter sido incluído num dos filmes dos X-Men: conta-nos, de forma atraente, que há uma conspiração tenebrosa em jogo, a acção passa-se na Terra, mas, tal como na série de ficção, qualquer correspondência com a realidade é pura coincidência!

UMBERTO ECO E OS MORCEGOS DA JOANINA


Na Internet fazem-se verdadeiros achados como esta notícia de um jornal canadiano que dá conta de uma visita do professor e escritor italiano Umberto Eco à Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra. Posso confirmar que há morcegos, que se tapam as mesas à noite, mas não confirmo que o tecto esteja coberto de morcegos. E também é um exagero o período de 400 anos anos, uma vez que Biblioteca Joanina ainda não fez 300 anos... Quanto à proposta de Eco de usar um despertador em vez dos morcegos falta saber se funciona... A propósito de Eco e de morcegos, não é verdade que a "ecolocalização" seja a localização dos morcegos pelo Eco!

Toronto Globe & Mail (National Edition)-
26/10/1996

ASK UMBERTO, by Stephen Smith:

If you - or your library, for that matter, suffer from the depradations of bookworms, you might take Umberto Eco's advice and get yourself some bats. On a visit to Toronto last week, the Italian novelist, academic, translator and polymath was remembering a recent visit to the aged library at Coimbra in Portugal.

"Spread out on the tables they had green towels, as for billiards", Eco was saying. "I asked why: They said it was to protect the furniture from the shit of the bats. They have bats; the ceiling is full of bats. During the day they sleep; during the night they shit.

"So I asked, why don't you get rid of the bats? But you see, the bats eat the bookworms that would otherwise damage the books. For 400 years the bats have been protecting the books".

Matters of book protection are of more than anecdotal interest to Eco: His personal library, shared out between apartments in Bologna and Milan and a country house, numbers nearly 40,000 volumes. "I have to suspect that somewhere I have worms", he says. So far, though, he hasn't resorted to bats."You know you can also use a big, old-fashioned alarm clock", he says. "You keep it on your shelf: It seems the tick-tock noise disturbs the worms so they will remain safely in the wood."

THE BIG BANG THEORY




A série "The Big Bang Theory", da cadeia de televisão norte-americana CBS, tem nove milhões de espectadores por semana. A acção da "sitcom" gira à volta de dois "pós-docs" de física e de uma vizinha loura. Para o "Washigton Post" trata-de de "the funniest new sitcom of the season". A revista "Science", por seu lado, informa que a maior parte da física está certa graças à supervisão científica de um físico da Universidade de California Los Angeles. Vamos a ver quando é que a divertida série aparece em português...

domingo, 18 de maio de 2008

Bifenol A : a polémica continua

A toxicologia endocrinológica é uma área emergente que se debruça sobre o efeito de compostos designados xenobióticos (substâncias químicas de origem exógena ao homem, quer «naturais», por exemplo originárias de plantas, quer produtos sintéticos ). Entre os xenobióticos incluem-se substâncias químicas que mimetizam estrogénios e anti-androgénios e ainda moléculas que interagem com o sistema endócrino.

A maioria dos estudos nesta área, de certa forma despoletada por problemas como os originados pelo DDT (o,p'-1,1,1-tricloro-2,2-bis-p-clorofeniletano, incide sobre os xenoestrogénios ou compostos não fisiológicos com estrutura similar à dos estrogénios endógenos, fitoestrogénios (alguns ubíquos na nossa dieta) e de origem sintética. Uma substância é considerada um xenoestrogénio quando apresenta afinidade pelos receptores de estrogénio (ER) (ou por receptores designados estrogen-related receptor gamma (ERR gamma), demonstrada tanto in vitro como in vivo, ou se encontram efeitos tróficos no trato reprodutivo feminino.

Em Agosto do ano passado referi as preocupações levantadas por um grupo de cientistas em relação em bifenol A (BPA), um aditivo presente numa série de plásticos, nomeadamente policarbonatos muito utilizados para produzir biberões e garrafas de água. Na altura referi que a controvérsia, que não se sente muito deste lado do Atlântico, continuava acesa e teve recentemente alguns desenvolvimentos.

Estes foram despoletados por um relatório preliminar do National Toxicology Program (Programa Nacional de Toxicologia), que refere que testes com animais realizados em laboratórios revelaram uma possível ligação entre o bifenol A e tumores pré-cancerosos, puberdade feminina precoce e mudanças comportamentais. O NTP divulgou o relatório preliminar para receber comentários públicos e irá publicar a versão final do estudo durante o verão. Como refere Mike Shelby, director do Centro para a Avaliação de Riscos à Reprodução Humana, que supervisionou o estudo.

«O que nós temos é um alerta, um sinal. Nós não podemos descartar a possibilidade de que efeitos semelhantes ou relacionados podem ocorrer em humanos».

Anila Jacob, da organização não-governamental Environmental Working Group afirmou que «Nós esperamos que esse estudo leve o FDA (Food and Drug Administration) a reconhecer o quanto essa substância é tóxica e a forçar os fabricantes a estabelecer novos padrões de segurança».

Contribuiram ainda para a polémica os resultados de um painel de discussão organizado pelas National Institutes of Health (NIEHS, NIDCR) e United States Environmental Protection Agency. Estes resultados foram resumidos num artigo de revisão publicado em finais do ano passado, «An evaluation of evidence for the carcinogenic activity of bisphenol A». O artigo sugere que há um consenso alargado na comunidade científica no que concerne a um possível papel carcinogénico do BPA . Como é indicado nas conclusões do artigo:

«Based on existing evidence, we believe the following to be likely but requiring more evidence:

1. BPA may be associated with increased cancers of the hematopoietic system and significant increases in interstitial-cell tumors of the testes.

2. BPA alters microtubule function and can induce aneuploidy in some cells and tissues.

3. Early life exposure to BPA may induce or predispose to pre-neoplastic lesions of the mammary gland and prostate gland in adult life.

4. Pre-natal exposure to diverse and environmentally relevant doses of BPA alters mammary gland development in mice, increasing endpoints that are considered markers of breast cancer risk in humans.»

Embora o American Chemistry Council, que representa os fabricantes de produtos de plástico, tenha relembrado que o primeiro estudo «afirma que não há preocupações sérias em relação aos efeitos do bifenol A», sucedem-se as pressões sobre a FDA para que seja revisto o «estatuto» do BPA, nomeadamente por parte de alguns membros do congresso norte-americano, os democratas John Dingell e Bart Stupak mais concretamente.

Estados como a Califórnia, Maryland, Minnesota e Michigan, estão a considerar restringir ou mesmo banir a presença de BPA em produtos destinados a crianças. Entretanto no vizinho Canadá, o BPA foi oficialmente declarado uma substância tóxica. O ministro da Saúde, Tony Clement, anunciou ainda um período de consulta pública de 60 dias para decidir se serão banidos neste país os biberões de policarbonato. Mesmo antes do anúncio oficial, muitos revendores neste país já tinham anunciado que iriam retirar não só biberões como garrafas de água contendo bifenol.

Enquanto a polémica continua acesa do outro lado do Atântico, não encontro indícios que se tenha cruzado o Atlântico nem mesmo depois de a UE ter aumentado, há cerca de um ano, os limites de Ingestão Diária Tolerável (TDI) deste xenobiótico.

Os dados existentes sugerem que seria prudente limitar a nossa ingestão de BPA até se determinar com um maior grau de certeza se o BPA é relativamente seguro para humanos. Mas diria que os dados disponíveis indicam claramente que é necessário limitar o máximo possível a libertação de BPA para o ambiente já que animais de menores dimensões parecem ser afectados por quantidades muito diminutas deste composto.

Claro que em relação ao seu efeito em humanos qualquer estudo realizado apresenta o óbice de nós estarmos expostos a uma enorme quantidade de xenoestrogénios, nomeadamente na alimentação (quer em produtos animais quer vegetais) . Sem termos ideia da nossa dose diária destes compostos não podemos afimar com certeza se nos devemos preocupar com os riscos postos por ele ou se faremos melhor em nos preocuparmos com outras fontes de xenobióticos.Os possíveis efeitos sinérgicos de misturas sortidas destas substâncias não são desprezáveis e, como refere Scott Belcher, da Universidade de Cincinnati «A assumpção de que os estrogénios naturais são bons para nós e que os químicos são maus não é muito provavelmente uma boa assumpção a fazer».

O princípio de precaução e as evidências existentes são suficientes para ter decidido já há uns tempos evitar a utilização de policarbonatos. Quem tiver dúvidas sobre se um determinado plástico é ou não policarbonato pode procurar o triângulo no fundo de biberões e garrafas de plástico pouco flexível e verificar se nele está inscrito o número 7 (e por vezes as letras PC).


Página com estruturas interactivas de estrogénios, xenoestrogénios e receptores de estrogénios.

PARABÉNS


Quero dar publicamente os parabéns ao Paulo Gama Mota, da equipa deste blogue, pelo prémio europeu atribuído ontem ao Museu da Ciência que ele dirige em Coimbra (não lhos posso dar pessoalmente porque ele está em Dublin a receber o prémio). Este reconhecimento é uma espécie de "estrelas Michelin" dos museus europeus, pelo que, se não estava já, aquele novo Museu fica agora nos roteiros internacionais da cultura e da ciência.

Dou também os parabéns ao arquitecto João Mendes Ribeiro, um dos autores do projecto de recuperação do edifício do Museu, que recebeu recentemente o Prémio da Associação Internacional de Críticos de Artes (AICA) para artes plásticas e arquitectura. O júri escreveu: "É de destacar a sua intervenção na reabilitação do Laboratório Chimico em Coimbra, exemplar na capacidade de recuperar e mostrar o edifício antigo e os seus vários tempos, não deixando de adequá-lo a um actual museu de Ciência".

O museu que está aberto ao público é só a prefiguração do futuro grande Museu da Ciência, que vai ocupar o edifício do Colégio de Jesus, o colégio de jesuítas mais antigo do mundo (ligado à Sé Nova). Espero bem que estes prémios ajudem a concretizar esse projecto, reunindo os apoios necessários, nomeadamente do governo.

Prémio europeu para o Museu de Ciência de Coimbra



Trancrevemos notícia do Público On-Line:

18.05.2008 - 10h24 Lusa

O Museu de Ciência da Universidade de Coimbra foi galardoado ontem em Dublin, Irlanda, com o Prémio Micheletti de melhor museu europeu do ano na categoria de ciência e tecnologia, pelo Fórum Europeu dos Museus, divulgou fonte da Associação Portuguesa de Museologia.

O presidente da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), João Neto, revelou que o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra foi galardoado com o Prémio Micheletti entre cerca de 50 museus europeus. "Isto significa que, apesar de todas as dificuldades e do desinvestimento nos museus, as instituições europeias reconheceram o mérito da museologia e o melhor do que se faz em Portugal".

O presidente da APOM sublinhou a importância do prémio e afirmou que "as pessoas ficaram surpreendidas com a apresentação dos vários conceitos científicos" pelo museu.

Já em Novembro, o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra foi galardoado com o Prémio de Melhor Museu Português pela APOM.

Segundo o sítio da Universidade de Coimbra, o Museu da Ciência desenvolve um projecto museológico de características ímpares no nosso país, que visa reunir o acervo científico disperso por vários museus universitários e faculdades, além dos acervos do Observatório Astronómico e do Instituto Geofísico, criando "um Museu da Ciência moderno e integrador, ao nível dos melhores existentes no mundo".

De acordo com vários especialistas internacionais, acrescenta, a Universidade de Coimbra detém um espólio na área da museologia sem comparação no nosso país, que configura um museu de capacidade internacional.

A generalidade destes museus é uma consequência da Reforma Pombalina, que deu origem a uma profunda reestruturação da área científica e à construção e adaptação de novos estabelecimentos ligados à investigação experimental.

sábado, 17 de maio de 2008

As críticas de José Mattoso

Não é nosso hábito transcrever artigos da imprensa escrita nacional, mas vale a pena reflectir sobre um artigo publicado na página 11 do Público de hoje.

O artigo incide sobre as observações de José Mattoso na homenagem que lhe prestou o Centro de Estudos Islâmicos e do Mediterrâneo e durante a qual o historiador anunciou a sua retirada da investigação histórica. Mattoso aproveitou a ocasião (e a presença de Mariano Gago) para endereçar algumas críticas:

«Mattoso não compreende porque razão se estão "a abandonar as ciências sociais e humanas ao seu destino, mantendo-as ou empurrando-as para uma situação de inferioridade, agravada pelo facto de os alunos que entram actualmente na universidade serem os piores classificados".

A sua análise critica é extensiva à investigação histórica que hoje se faz em Portugal, por se sustentar em "investigações vagas, superficiais", onde se realçam por vezes "generalidades e aspectos anedóticos". Uma investigação neste moldes é "medíocre e inútil" observou.

Mariano Gago aceitou comentar a questão que Mattoso levantara: "Existe de facto uma vulgata tecnicista suportada nos indicadores, no número de citações." Associado a este problema, que está a afectar a credibilidade das instituições científicas, emerge um outro que Gago classifica como "dos mais críticos que temos em Portugal": muitas das instituições científicas são ainda dirigidas pelos seus fundadores e a transição está a ser "muito difícil" de consumar.

Por causa desta relutância em assumir a mudança geracional, "vi instituições soçobrar porque transferiram a liderança não para os melhores mas para aqueles que estavam mais próximos ou que eram mais amigos" dos fundadores, disse Gago.»

PORQUE AMAMOS?


Minha crónica no "Sol" de hoje:

A pergunta do título não é original. Tem sido levantada desde que a humanidade existe. A pergunta foi, por exemplo, colocada por Shakespeare, o autor dos versos: O amor não vê com os olhos, vê com a mente; por isso é alado, cego e tão potente. Mas, ultimamente, tem tido respostas científicas.

Helen Fisher, professora de Antropologia da Universidade de Rutgers, nos EUA, dá algumas respostas científicas, no livro que acaba de sair Porque amamos? A Natureza e a química do amor romântico (Relógio de Água, 2008). É o terceiro livro da autora em português pois já tinham saído Anatomia do amor: a história natural da monogamia, do adultério e do divórcio (Dom Quixote, 1994) e O primeiro sexo: como as mulheres estão a mudar o mundo (Presença, 2001). As palavras "Natureza" e "química" do subtítulo fornecem pistas. O amor é um fenómeno natural (já Charles Darwin disse que o homem partilhava com os animais muitos tipos de emoções) e tem muito a ver com os níveis de certas substâncias químicas no cérebro (como já alguém disse, “o amor é uma droga”). Os avanços realizados recentemente na teoria evolucionista e nas neurociências, em particular na imagiologia cerebral, permitem quer apurar uma história natural do amor quer fazer o seu retrato neuroquímico.

Fisher partiu do estudo de imagens do cérebro de pessoas apaixonadas. A pesquisa exigia mostrar uma foto da pessoa amada, para conhecer as alterações provocadas no funcionamento neurológico. O facto é que o cérebro se altera quando está enamorado. A autora distingue amor romântico, o seu tema principal, de atracção sexual e de ligação. Há relações entre esses estados, mas eles correspondem a substâncias químicas e a situações cerebrais diferentes.

Quem pensar que a ciência desse tipo não tem aplicações saiba que a antropóloga é consultora do sítio www.chemistry.com, destinado a facilitar o emparceiramento humano. O seu próximo livro baseia-se num estudo sobre as ligações estabelecidas por esse meio. A questão analisada é: "Como encontrar a pessoa certa?" Ora aqui está investigação que interessa a muita gente...

O Culto do Amadorismo

Informação recebida da editora Guerra e Paz:

"O Culto do Amadorismo", Andrew Keen, Guerra e Paz, 2008

Os mais prestigiados jornais e revistas da actualidade, a indústria musical e cinematográfica são postos em causa por uma avalanche de conteúdos amadores criados pelos utilizadores das redes digitais. As receitas publicitárias tradicionais caem de forma acentuada com a oferta de anúncios grátis on-line; as cadeias de televisão são ameaçadas por canais de programação criados gratuitamente pelos utilizadores, de que o YouTube é o maior exemplo; a partilha de ficheiros e a pirataria digital devastam o negócio da música e atemorizam o cinema. Pior do que tudo isto, a cultura on-line do copy-paste – na qual a propriedade intelectual é facilmente trocada, descarregada e alterada – está a destruir os direitos de autor, espoliando artistas, autores, jornalistas, músicos, editores e produtores do fruto do seu trabalho criativo.

Num tempo de celebração do amadorismo, em que todas as pessoas, por pior informadas que estejam, podem publicar um blogue, disponibilizar um vídeo no YouTube ou mudar um artigo da Wikipedia, a distinção entre o profissional e o amador é perigosamente esbatida. Quando bloggers, podcasters ou videógrafos anónimos podem publicar sem os constrangimentos de padrões profissionais ou filtros editoriais, esbatem-se as fronteiras entre o verdadeiro e o imaginário.

Confrontado com uma cultura que enaltece o plágio e a pirataria e enfraquece os media e criadores, Andrew Keen tem a coragem de apontar soluções concretas para enfrentar a onda de arbitrariedade e narcisismo que atravessa a Internet actual. Elogiado por uns, criticado por outros, este livro não deixa indiferente quem estiver interessado em reflectir sobre a diferença entre a inevitável democratização da tecnologia e uma democracia melhor, e constitui um sério aviso para cada um de nós.

Andrew Kenn (o autor estará em Portugal entre 13 e 17 de Junho para promover o livro)

Andrew Keen nasceu em Inglaterra nos anos 60 e tornou-se um empreendedor de Silicon Valley, nos Estados Unidos. Em 1995, fundou o Audiocafe.com, um dos websites mais visitados dos finais dos anos 90. Os seus textos sobre cultura, media e tecnologia foram publicados em diversos jornais e revistas, tais como o Weekly Standard, Fast Company, The San Francisco Chronicle, Esquire, Forbes e ZDNet. Para além de ser o fundador e dinamizador do site AfterTV – popular fórum sobre a cultura digital –, aparece com frequência na rádio e na televisão americanas. É actualmente um dos mais destacados denunciadores dos perigos sociais, económicos e éticos da Internet. Vive em Berkeley, na Califórnia, com a mulher e dois filhos. Consulte o blogue do autor em: andrewkeen.typepad.com

Livros novos na Gradiva


Informação recebida da Gradiva:

João José Fraústo da Silva e José Armando Luísa da Silva

A Química Inorgânica do Cérebro

Um autor que faltava na «Ciência Aberta». Uma obra original na organização e no âmbito. Para especialistas, mas acessível e indispensável para pré-universitários.

«Ciência Aberta», nº 171,



George G. Szpiro
A Conjectura de Poincaré

Um matemático e divulgador premiado conta como Perelman (Medalha Fields 2006) solucionou um dos mais desafiadores problemas da história da matemática.

Szpiro fará em Junho uma conferência em Lisboa.

Mais Tardes de Matemática


Informação recebida da Sociedade Portuguesa de Matemática:

Neste sábado, dia 17 de Maio, as Tardes de Matemática regressam a Èvora. Pedro Freitas (FCUL) falará sobre Alice no país das Maravilhas, os Simpsons e outras histórias em "A Matemática nas Histórias Infantis e Juvenis", no Palácio D. Manuel, pelas 15h.

No mesmo dia e hora a Fábrica do Ciência Viva, em Aveiro, recebe a última sessão do ano das Tardes de Matemática na cidade. "Mozart, Números e Simetria" é a palestra na qual Carlota Simões (FCTUC), acompanhada por duas alunas do Conservatório de Coimbra, falará sobre a matemática na obra de um dos maiores compositores de sempre.

No Funchal, pelas 15h30, Henrique Leitão falará sobre "Aventuras marítimas e problemas matemáticos: a navegação e os seus fundamentos científicos, nos séculos XV e XVI". A Tarde integra o calendário de comemorações dos 500 anos do Funchal, e terá lugar na Escola Secundária de Francisco Franco.

A Barra e os Portos da Ria de Aveiro


Informação recebida da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (clique para ver cartaz):

A Barra e os Portos da Ria de Aveiro em exposição na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra

Na próxima quarta-feira, pelas 18 horas, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), vai proceder-se à inauguração da exposição “A Barra e os Portos da Ria de Aveiro 1808 – 1932, no Arquivo Histórico da Administração do Porto de Aveiro”.

Patente na Sala de S. Pedro até 14 de Junho, a exposição comissariada por João Carlos Garcia e Inês Amorim (ambos professores da Faculdade de Letras do Porto), cumpre em Coimbra a primeira etapa de um circuito de itinerância pela Península Ibérica. Etapa que resulta de parceria entre a BGUC, a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), a Administração do Porto de Aveiro e a Câmara Municipal de Aveiro.

Integrada no programa comemorativo do Bicentenário da abertura da Barra de Aveiro (3.04.1808), é composta por documentos do Arquivo Histórico do Porto de Aveiro, empresa que, segundo José Luís Cacho, Presidente do Conselho de Administração, “decidiu libertar o seu património histórico-documental da clausura que o agrilhoava em inútil penumbra, fomentando-se, a partir de agora, o seu usufruto pela comunidade”.

O programa da inauguração abre com palavras de boas vindas do Director da BGUC. Segue-se a intervenção de Fernando Rebelo, subordinada à epígrafe “O Instituto de Estudos Geográficos da FLUC e as investigações sobre a Ria de Aveiro”. Quinze minutos mais tarde, Inês Amorim falará do livro de sua autoria, “PORTO DE AVEIRO: Entre a Terra e o Mar”. O acto inaugural encerra com a apresentação da exposição por parte de João Carlos Garcia, seguida de visita aos cinco núcleos do espólio patente na majestosa Sala de S. Pedro.

Aos núcleos originais - “I – A RIA DE AVEIRO”; “II – A BARRA DE AVEIRO”; “III – A NAVEGABILIDADE DA RIA DE AVEIRO”; “IV – AS MARINHAS DE SAL DA RIA DE AVEIRO” -, acrescentou-se, em Coimbra, um quinto núcleo, composto por mapas da colecção particular de Nabais Conde, professor da FCTUC.

“Aproveitando a belíssima colecção do Professor Doutor Carlos Alberto Nabais Conde, seleccionámos alguns mapas dos séculos XVII e XVIII que podem ajudar na compreensão do que ia acontecendo com o evoluir desta grande forma litoral”, afirma o ex-Reitor e catedrático da FLUC Fernando Rebelo, que elaborou texto disponível em desdobrável, recordando o “grande geógrafo português Amorim Girão, Doutor pela Universidade de Coimbra, após a elaboração, apresentação e defesa de uma tese sobre a Bacia do Vouga”.

“A documentação do Arquivo do Porto de Aveiro concentra as diferentes valências deste porto flúvio-marítimo” – adianta Inês Amorim, detalhando: “Por um lado, registos como mapas, cartas, projectos, desenhos e respectivas memórias, a escalas diferenciadas, numa quantidade e variedade imensurável, resultam das opções e procedimentos técnicos e interventivos no porto, na cidade e na Ria. Por outro, a documentação de carácter administrativo, que inclui as actas das sucessivas administrações, livros de receitas (fiscais) e de despesas, e os relatórios de actividades, cuja natureza evoluiu à medida que a legislação e os regulamentos o exigiam. Depois, a fotografia, pelo menos desde a década de 30, documenta obras e recursos, sítios de embarque e desembarque de materiais e mercadorias, ou, ainda, imagens aéreas da barra e porto. Finalmente, os objectos atestam técnicas empregues, quer no conhecimento das marés na Ria e na embocadura da barra, quer nas obras portuárias”.

É este conjunto, diversificado, que compõe o Arquivo da Administração do Porto de Aveiro”, acrescenta a reputada investigadora. “Se, a complementar Biblioteca, contém um acervo de obras impressas relativas a obras portuárias, nacionais e estrangeiras, justificadas pelos interesses das equipas técnicas e de engenharia, acrescentam-se muitas outras, sobre as actividades económicas e ambientais, gerais e locais, geradas e geradoras, das dinâmicas sócio-económicas”.

O livro de Inês Amorim e o catálogo da exposição encontram-se disponíveis para venda. O Porto de Aveiro disponibiliza visita virtual à exposição (imagens panorâmicas e cilíndricas, com rotação a 360º, da autoria de Romeu Bio, em http://www.op.com.pt/apa1/).

Leonardo: A Curiosidade Infinita


Informação recebida da Fundação Gulbenkian:

Leonardo: A Curiosidade Infinita

Conferência de João Caraça

Fundação Calouste Gulbenkian / Auditório 2

20 de Maio / 18h00

Nascido entre o aparecimento da imprensa na Europa e a queda de Constantinopla, Leonardo foi a individualidade que melhor interpretou o espírito dos novos tempos que nessa época dealbavam. Na sequência de Arquimedes e dos grandes engenheiros e arquitectos da renascença cultivou como ninguém o método geométrico e mecânico de investigação da realidade. Leonardo ultrapassou os antigos em todos os domínios em que exprimiu o seu génio: da pintura ao desenho, da hidráulica à anatomia, a mecânica ao voo, da óptica à astronomia, tendo inclusivamente deixado nos seus cadernos as primeiras instruções conhecidas de construção de telescópios – cem anos antes de Galileu. Com Leonardo a arte afasta-se definitivamente da descoberta ou do reflexo de um outro mundo (divino) para passar a representar a profundidade e a riqueza da criação humana. O culto do rigor da observação e do registo da experimentação fazem de Leonardo um precursor da ciência moderna. A procura da perfeição e o estudo da mudança são as duas faces de uma mesma moeda que Leonardo fez rodar incansavelmente durante toda a sua vida. Ficou-nos, felizmente, o segredo desse motor: uma curiosidade infinita.

João Caraça

Transmissão directa através do site: http://live.fccn.pt/fcg/

Questões e comentários: leonardodavinci@gulbenkian.pt

NOITE DOS MUSEUS


Informação recebida do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (clique na imagem para ver melhor o cartaz):

Hoje, dia 17 de Maio, o Museu da Ciência está aberto das 18 h às 24 horas.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Acordo Ortográfico aprovado no parlamento

O Parlamento aprovou hoje, com os votos favoráveis do PS, PSD, Bloco de Esquerda e sete deputados do CDS o Segundo Protocolo do Acordo Ortográfico. Notícia aqui. (Obrigado, Rita.)

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...