quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Atenção ou desatenção?


Afinal, em que ficamos? 
Atentos ou desatentos?

Primeiro as tecnologias inundam-nos de informações, tudo nos é requerido à pressa, é um mundo da velocidade, da rapidez em tudo, não há tempo para pensar antes de tomar uma decisão porque “o tempo é dinheiro”. 
 
Os smartfones e toda a parafernália tecnológica, com tudo o que têm de utilidade, mas também de distracção e perda de tempo, convidam à rapidez, ao efémero, à passagem rápida de um conteúdo a outro, de preferência através de imagens, “formatando” os cérebros para a falta de atenção, de reflexão, de observação crítica.

Já não há palestrante que consiga manter a atenção do seu auditório por muito tempo. Nas escolas, os alunos não conseguem estar com atenção...

Por outro lado, no mundo dos negócios, a publicidade esforça-se por captar a atenção dos possíveis compradores, o que irá levar, também, a uma atenção momentânea e passageira...

Depois de tudo isto, vendo as consequências, ou aproveitando-se delas, vêm já outros falar da atenção como um “artigo de luxo”, um “capital”...

Dum artigo, com o sugestivo título “Atenção é motivo de disputa no mercado atual”, assinado por Renato Bernhoeft, um jornalista brasileiro ligado à área da tecnologia e dos negócios, que pode ser lido aqui, respigamos algumas passagens:

“Para o escritor americano Richard Lanham, autor do livro “A economia da atenção: Estilo e substância na era da informação”, “no futuro, as profissões ligadas às artes e às humanidades, serão mais valorizadas que carreiras como as de cientistas, programadores, economistas ou engenheiros. A criação intelectual será preponderante na definição de valor, e as pessoas serão reconhecidas de acordo com seu ‘capital de atenção’”.”

“Para Nicholas Carr, outro autor americano, do livro “A geração superficial: O que a Internet está fazendo com nossos cérebros”, “ao nos inundar de informação, a internet começou a afetar a configuração do cérebro, impedindo raciocínios longos e dificultando o poder de concentração”.”

“Para a professora da PUC/SP, Neide Noffs, “o mais importante é descobrir como cada indivíduo aprende, e oferecer uma diversidade de estímulos, inclusive a leitura”.”

Não podemos deixar de destacar aquele “inclusive a leitura”... 
Quer dizer, o que devia estar em primeiro lugar é agora um acessório, algo que “até pode servir” para aprender!

O tempora, o mores!

2 comentários:

Carlos Ricardo Soares disse...

E lá voltamos ao mercado e à ideia de eficiência, não no sentido da sustentabilidade do planeta e da biodiversidade e da saúde dos vivos, mas da eficiência das armas e da capacidade para enfrentar e derrotar os inimigos, sejam eles o manda-chuva lá do sítio ou o senhor dos anéis...
Acredito que, em menos de um século, será instituído o direito fundamental de não ser arrastado, empurrado, forçado, sacrificado, pressionado, persuadido ou aliciado,a qualquer tipo de doutrinação, educação ou instrução, à semelhança do que já vem sendo reconhecido aos outros animais.
Atualmente, em várias circunstâncias, por ex., os advogados, para sua própria vergonha, aliás, começam a vislumbrar vantagens em invocar os direitos dos animais, como mais favoráveis do que os direitos do homem, para defenderem as pretensões dos seus constituintes perante os tribunais.
É caricato e incrível que o homem comece a dar-se conta de que, afinal, tantos milénios volvidos, ainda aspira a ser reconhecido como um animal, ou melhor, a que lhe seja reconhecido o direito de ser animal.
Mas vamos a caminho de descobrir, imagino eu, que, enquanto não virmos reconhecido este direito, todos os outros são uma espécie de mistificações esotéricas daquilo que não nos deixam ser.
E não está fora de questão a liberdade e a razão pela qual existem as polícias e os exércitos (agora são tecnologias de defesa, não de guerra).
A abordagem económica das questões e dos problemas é sempre muito interessante, porque tudo tende a ter um preço, nem que seja o preço da nossa atenção.
Não confundamos, porém, preço com valor, porque pagam-se preços elevadíssimos por coisas sem valor e vice-versa.

Anónimo disse...

Este interessantíssimo artigo que aborda questões fora do âmbito estrito da educação, dá muito que pensar! Se nos restringirmos ao pequeno país que somos atualmente, a culpa deste mal-estar que se vive nas nossas escolas poderia ser facilmente resolvido com a fórmula "Cherchez la femme" porque a maioria dos nossos doutores especialistas em desenvolvimento curricular e aprendizagem e supervisão educacional e etc. e tal, que, para ser sintético, transformaram os nossos liceus em escolas EB-1,2,3, são mulheres. Mas a amplitude do meu ângulo de visão é muito maior, porque quero ser justo. Os nossos bispos, filósofos e políticos
praticamente já não mandam nada, mesmo quando a maioria do povo vota neles. É certo que formalmente somos uma democracia, mas isso de pouco vale quando outras democracias estrangeiras, com mais dinheiro e bombas nucleares do que a nossa, nos impõem o caminho. Quer dizer, a solução para os problemas da falta de atenção e de hábitos de leitura da nossa juventude só poderá ser encontrada lá fora. Realmente, o futuro à nossa frente não se apresenta risonho e acarreta um dilema: ou emigramos já todos, mas assim Portugal desaparece, ou persistimos na via da escola e universidade com 100 % de sucesso académico para todos, mas assim vamos ter de emigrar todos!

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