"Chamavam-me Bispo Vermelho porque ocupava espaços de onde a igreja nunca devia ter saído".
A frase acima foi dita no ano passado, em entrevista da TSF, por D. Manuel Martins, o Bispo de Setúbal, o Bispo Vermelho. Tinha, na altura, oitenta e nove anos de idade.
Não nasceu em Setúbal, mas "nasceu bispo em Setúbal", nem era filiado no partido comunista, mas defendeu princípios que são alocados à esquerda.
Foi naquela cidade, quando percebeu a "fome do povo" e as razões dela, que ganhou a consciência de cidadania ("foi Setúbal que me fez") que se lhe reconhece e que manteve firme até hoje, dia da sua morte.
Quem assume a responsabilidade pela educação de alguém - independentemente de ser religioso, ateu ou agnóstico; de direita, centro ou esquerda - não pode ser indiferente a exemplos como os de D. Manuel Martins. São eles que, afinal, na desorientação em que essa consciência se encontra envolvida, podem indicar o rumo do bem-comum, o rumo verdadeiramente educativo, ou o rumo da liberdade.
Deixo o leitor com breves palavras de alguém que temos por dever moral manter na nossa memória colectiva.
Com a Constituinte, a situação melhorou. Mas, na minha pobre opinião, ainda não nos garantiu nem democracia, nem cidadania. E não por culpa sua. O Bem Comum não faz parte nem das preocupações dos nossos Políticos (honra a tantos que constituem a exceção), nem das Instituições legais criadas para o promoverem. Dói-me muito o mau curso da nossa Governação que (quase) só se preocupa com interesses pessoais, amiguistas ou de Partido. O nosso Parlamento, por vezes, mais me parece um campo de jogo de futebol, ainda por cima mal jogado, do que espaço sério e válido e de confiança onde se procuram as garantias mínimas para que a ninguém falte o pão de cada dia. Sente-se cada um em reflexão diante de um a um dos Direitos Humanos consignados na nossa Constituição (24-79) e ouse depois dizer alto o que pensa. Com humildade o confesso: nem a Igreja o tem feito. Em tempo de tanta injustiça que exige tanta pergunta, vamos, com dor, encontrando uma Igreja calada. Igreja que tem o seu altar no mundo e, como o seu Fundador, deve ser a mais provocadora da História.
5 comentários:
Excelente texto, como todos os que escreve.
Este,sim, era um verdadeiro HUMANISTA. UM VERDADEIRO CRISTÃO.
Maria Dulce R. Marques da Silva
Bispo comuna é bem verdade. Passou mais tempo a defender as ideias do PC do que a falar de boa nova de Cristo.
Se as ideias do PC são as que ele defendeu, então curvo-me perante o PC.
A mensagem de Cristo não é mais do que a apologia do amor da solidariedade da partilha, da defesa dos pobres.
O bispo D. Manuel Martins foi grande porque escolheu ajudar com bondade os que mais sofrem neste mundo mal governado.
Para se alcançar a felicidade na Terra não chegam as grandes declarações de princípios, feitas demagogicamente por políticos que depois se recusam a admitir que há cancros económicos e morais que estão a corroer a sociedade portuguesa.
João Silva
Honra a este grande português D Manuel Martins 1º Bispo de Setúbal. Descanse em paz.
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