sábado, 10 de julho de 2010

Ensinar e aprender Matemática

Liping Ma, investigadora da Carnegie Foundation for Advancement of Teaching, que se encontra em Portugal, tem a seguinte opinião sobre o ensino e a aprendizagem da Matemática, na China e nos Estados Unidos.

"Os professores chineses estão em vantagem apesar de terem em média menos anos de formação académica e turmas com o triplo dos alunos, em comparação com as escolas primárias nos Estados Unidos. Liping Ma entrevistou e testou os conhecimentos dos docentes das duas nacionalidades, concluindo que os chineses estudaram em profundidade tudo sobre a Matemática elementar e não se aventuram noutros capítulos da disciplina:

Nos Estados Unidos, o objectivo é que as crianças aprendam uma Matemática muito avançada e por isso os professores são obrigados a ensinar vários temas e vários níveis de forma superficial e fragmentada. Resultado: os chineses revelaram conhecimentos profundos na Matemática elementar e os americanos, além de não conseguirem corrigir certos erros dos alunos, cometiam eles próprios alguns enganos, desconhecendo também conceitos de aritmética.
A questão não está apenas naquilo que os professores aprenderam ou que ensinam nas aulas mas também no método pedagógico adoptado pelas escolas do ensino básico. Os chineses gostam de fazer tudo em comunidade e isso é mais uma vantagem para as crianças. Preparam as aulas em conjunto, debatem metodologias de trabalho em grupo e é através da discussão de ideias que descobrem as melhores formas de ensinar os conceitos matemáticos. Nos Estados Unidos, os professores têm um método de trabalho mais solitário"

Pode ler mais aqui.

10 comentários:

Luís Ferreira disse...

O título da notícia, no jornal, está errado, e dá ao leitor uma ideia errada:

"Aprender pouco é o segredo das boas notas a Matemática"

Devia estar escrito

"Aprender muito de pouco é o segredo das boas notas a Matemática"


O que se faz em Portugal é aprender pouco de muito, quando segredo deverá ser aprender muito de pouco, para que haja tempo de aprofundar, sem que fique tudo pela rama, como parece acontecer com a matemática. Com as CFQ não tenho dúvidas que é verdade. Quem olhar para o programa de 7º ano fica certamente assustado com a quantidade de matéria que é necessário ensinar (digo, aflorar). Com um bloco de 90 minutos por semana, com uma turma desdobrada em 2 turnos, basta que haja uma simples visita de estudo para que a turma trave duas semanas. Acrescentem os dias de testes mais as revisões e correcção, e vejam um período a escoar-se entre os dedos.

Outra questão que gostaria de conhecer é a carga horária semanal na China, por disciplina, a duração de uma aula e a quantidade de disciplinas que existe para os diferentes anos lectivos. Tenho a convicção que não existe tanta abundância quanto há por cá, que gostamos de dar um ar de ser muito modernos.


Luís Ferreira

Fartinho da Silva disse...

Concordo em absoluto com o Luís Ferreira.

De Rerum Natura disse...

Comentário recebido de Guilherme Valente:

Pertinentíssimo comentário o de Luís Ferreira (e é incrível a «gralha» no jornal!). Impõem que se aprendam muitas coisas, assim se impedindo que se aprofunde ou aprenda o que é essencial. É o sindroma do mau especialista, meter tudo, não perceber o que é em cada caso essencial. Os «especialistas» do ME tratam, aliás, de assegurar trabalho para eles próprios, de gerar a necessidade deles próprios no Ministério.

Quando, alienígena, estive no CNE, propus às Senhoras da comissão para o ensino básico um plano para que todas as crianças concluíssem o primeiro ciclo a saberem ler, escrever e contar. Sabem o que as senhoras «especialistas» do eduquês me responderam? «Só isso? Com franqueza, Senhor Dr., nós queremos muito mais, queremos que aprendam a ser cidadãos».

Sem se saber ler…

Guilherme Valente

Carlos Albuquerque disse...

Quem nas universidades defendia um currículo científico alargado em vez de um currículo mais focado no ensino eram em geral os investigadores, por considerarem que ao estudo de matérias avançadas correspondia um conhecimento mais profundo da disciplina.

Os estudos de Liping Ma sugerem que a ideia não é assim tão boa e que é preferível gastar mais tempo à volta das matérias mais elementares do que avançar para matérias mais sofisticadas e abstractas.

Em contrapartida quem muitas vezes achava mal as cadeiras mais avançadas eram precisamente os departamentos de educação.

Este é um exemplo acabado do absurdo que é achar que tudo o que está mal no ensino se deve a uma imaginada conspiração do eduquês.

Fartinho da Silva disse...

Caro Guilherme Valente,

Esse é o discurso habitual dos representantes do lobby das "ciências" da educação. Afirmam sempre "Só isso?", esquecendo que sem o "só isso" não se consegue fazer rigorosamente mais nada.

Mas este discurso é natural. Eles têm que provar que o seu trabalho é essencial, pena é que os nossos dirigentes políticos não percebam ou finjam não perceber isto.

Enfim...

Carlos Albuquerque disse...

A propósito, já viram a entrevista de Nuno Crato ao DN? Encontra-se em
http://dn.sapo.pt/revistas/nm/interior.aspx?content_id=1615370

Curiosamente, não encontro uma única ocorrência da palavra "eduquês" nesta entrevista.

José Batista da Ascenção disse...

Então, se se analisasse a sério o programa de biologia e geologia, ano I, o modo como se elaboram os exames e os respectivos critérios de correcção a que fazem obedecer as respostas, havia matéria para escandalizar as múmias mais insensíveis...
Mas ninguém o faz, ninguém o quer fazer, nem mesmo os professores da disciplina, sobre os quais os seus próprios representantes (em que me não revejo, e admito que estejam a pensar em lacunas próprias) consideram que têm "lacunas na formação" (ver "Publico de 09 de Julho, página 11), exactamente os mesmos professores que antes das "criminosas" alterações curriculares de 2003-04, ensinavam biologia sem problemas, a alunos que deram bons médicos, enfermeiros, bioquímicos, analistas, veterinários, investigadores, etc.
Qmem são e onde estão os responsáveis? É o que pergunto em artigo publicado na passada sexta-feira no "Diário do Minho". Mas o silêncio é mortal.
Baixem-se baixem-se, professores, deitem-se no chão e supliquem que lhes passem por cima. Depois das tareias que levam(os) em plena sala de aula ou na escola, isso já pouco acresce aos sacrifícios.
Pelo menos, assim parece..., embora eu, pela minha parte, não consinta.
A cada um a sua responsabilidade.

Fartinho da Silva disse...

Caro José Batista da Ascenção,

Consegui entrar numa reunião sobre a aplicação do Plano de Acção para a Matemática (ou algo parecido) graças a um grande amigo.

Foi delirante. O coordenador, estava muito mais interessado em fazer uma lavagem ao cérebro a dois ou três professores que ainda resistem ao eduquês do que em explicar os objectivos concretos.

O senhor parecia um vendedor da antiga cura para todos os males nos USA (vulgo coca cola)...

O senhor falava em pedagogias activas, na educação centrada no interesse dos alunos, na aprendizagem pela descoberta, no mundo fantástico nas novas tecnologias da informação e da comunicação, que a designação matemática era incorrecta e que deveria ser alterada para educação matemática, etc., etc..!

Não resisti e levantei questões como:
1. defina pedagogia activa e diferencie essa pedagogia das aplicadas actualmente nas escolas;
2. como pode um miúdo de 14 anos descobrir a massa de um electrão em 90 minutos, quando os adultos demoraram gerações?;
3. o que entende por "educação centrada nos interesses dos alunos"? Estará a falar em matemática centrada na playstation? Ou no cálculo da distância entre a cintura e as calças? Ou será na vida privada do Cristiano Ronaldo?
4. sabe por acaso que eu tenho um espaço web onde coloco todas as informações, exercícios, documentos, etc., etc. deste 2002 e que este espaço é destinado aos alunos? Sabe por acaso que enquanto leccionei na escola pública apenas os melhores alunos, ou seja aqueles que trabalham e estudam costumavam frequentar o sítio web que descrevi? Sabe por acaso que a grande maioria dos docentes utiliza, há muito anos, aquilo que senhor foi incapaz de colocar nesta lição (powerpoint ou equivalente)?

O senhor depois de corar, tentou responder. Mas, julgo que percebeu a mensagem e pena tenho eu de o eduquês já ter conquistado bem mais professores do que eu imaginava. Quando entrei na sala acreditava que "apenas" cerca de 40% dos professores professavam esta fé (basta fazer uns pequenos cálculos tendo por base a formação inicial e contínua), no entanto percebi que na sala apenas dois ou três professores ainda resistiam à venda da banha da cobra de entre 25!!

As conclusões que tirei é que a situação é ainda mais grave do que supunha. Provavelmente já não há solução para isto a curto/médio prazo. Desejo imenso estar enganado, mas...

Carlos Albuquerque disse...

"a designação matemática era incorrecta e que deveria ser alterada para educação matemática"

Caro Fartinho

Esta é a frase chave.

O que se deve ensinar é matemática, pois é a matemática que é necessária no futuro. E quem define o que é ou não matemática são os matemáticos. Se isto for assegurado, as ciências da educação poderão sempre ser avaliadas, na medida em que contribuem ou não para os conhecimentos/capacidades/competências dos alunos em matemática.

Deixar que fossem as ciências da educação a definir uma nova área chamada educação matemática, que substituiria a matemática no ensino, seria uma história completamente diferente e inaceitável.

José Batista da Ascenção disse...

Caro Fartinho da Silva:

É como diz. Para os especialistas em eduquês, a realidade está errada quando não bate com as patranhas que, com falinhas mansas ou violenta e insensivelmente hão-de impingir(-nos), para defenderem a sua coutada de interesses. E o país está hipotecado.
É certo que eu penso que o eduquês um dia será varrido. Mas esse dia surgirá apenas quando os ignorantes descobrirem que não há vantagem em sê-lo. E essa descoberta só será possível depois de muito sofrimento, que eu admito seja a mola para aprendizagens efectivas (mais um torcer de orelha, no dizer antigo da minha aldeia...). Por isso, digo consigo: "provavelmente já não há solução para isto a curto/médio prazo". E também gostaria de "estar enganado".
Embora reconheça que, assemelhando-se à astrologia em rigor científico, o eduquês perde grandemente no confronto em simplicidade de enunciação e sobretudo no número das pessoas que convictamente nele acreditam. E isso é um bem. Porque em verdade lhe digo que conheço pessoas do eduquês que reconhecem que aquilo não passa de treta. E que até têm uma certa vergonha da coisa...
Ora, é aqui que reside a minha esperança.
E eu esperarei, por mim, pelos meus filhos, pelos meus alunos e pelo meu país. Até à hora da morte e para lá da morte.
Nada matará em mim a convicção de que um dia se há-de fazer ensino a sério nas escolas públicas do rectângulo português.
Isto é (apenas) uma esperança? É!
E a esperança é a última a morrer? É!
Especialmente quando já há, para além de professores, pais e até alunos, de tenra idade, a responsabilizarem o eduquês.
Esperança, pois, e coragem, sempre.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...