sábado, 24 de julho de 2010

A Democracia das "Gandas Oportunidades"

“Não existe cómico fora do que é propriamente humano”” (Henri Bergson, 1859-1941).

Acabo de ver no “You Tube” um sketch (e porque estamos a falar de Novas Oportunidades, traduzo: paródia em português), com o sugestivo título” Gandas Oportunidades”.

Depois de o ver e de me rir tanto ou mais que nos filmes mexicanos do actor humorístico Cantinflas da minha juventude, em que ele representava várias profissões – mágico, bombeiro, deputado, etc. -, quando deveria ter chorado copiosamente pelo estado inditoso da educação portuguesa, espero que seja cumprida a crítica mordaz de Eça: "O riso é a mais antiga e ainda mais terrível forma de crítica. Passe-se sete vezes uma gargalhada em volta de uma instituição, e a instituição alui-se".

Valter Lemos a jogar em casa, uma casa em que foi professor da Escola Superior de Educação local, fez um discurso mirífico em Castelo Branco em que enalteceu as Novas Oportunidades como sendo “o sonho da vida dos diplomados”, sem se referir ao pesadelo para o país de “mais de 400 mil terem recebido diplomas” que atestam, em meia dúzia de meses, uma espécie de milagre de multiplicação de diplomas, de equivalências ao 12.º ano do ensino secundário. E, desta forma, cometeu a injustiça de não reconhecer o facto do respectivo ensino secundário regular ser um dos poucos baluartes da exigência do nosso decadente sistema de ensino oficial em que no próprio ensino superior “há por aí muitos cursos da treta”, na opinião do ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo ("Revista Sábado", 15 a 21 de Abril de 2010).

Para que o leitor possa apreciar devidamente, transcrevo um descarnado naco de prosa do discurso de Valter Lemos, actual secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional, em que, talvez, por falta de um Secretariado Nacional de Informação do tempo do Estado Novo, aquando da atribuição de diplomas de Novas Oportunidades albicastrenses, se desfez em elogios ao governo, a si próprio e à obra de ambos. Para esta figura de Estado, quiçá por desconhecimento da máxima latina de que “laus in ore proprio vilescit” (e porque continuamos nas Novas Oportunidades, aqui se traduz: “louvor, em boca própria, perde todo o valor”), as Novas Oportunidades são “uma grande aposta do Governo, cuja prioridade tem sido a qualificação dos portugueses”. Ainda, segundo ele, elas “têm sido um grande instrumento nesse sentido” (“Jornal Reconquista”, Castelo Branco, 22 de Julho de2010).

Faço votos de que dos escombros das Novas Oportunidades (aluída pelas gargalhadas das “Gandas Oportunidades”) não ressuscite um novo Valter Lemos que depois de ter passado do Ministério da Educação, onde se desunhou em loas à educação da juventude portuguesa, transitou para o Ministério do Emprego e da Formação Profissional, onde passou a enaltecer com maior vigor, em cerimónias públicas de grande pompa e circunstância que se sucedem pelo país fora, as vantagens das Novas Oportunidades, escamoteando o desemprego que elas possam trazer a competentes operários transformando-os em diplomados com o 12.º ano que perderam “um saber de experiência feito” para adquirirem um saber de ignorância feito atestado por licenciaturas conducentes ao desemprego ou a ganharem num dia o que um operário especializado, que trabalhe por conta própria, ganha em menos de uma hora.

Hoje, sinceramente, não me apetece voltar a abordar com seriedade as Novas Oportunidades. Mas para que o meu silêncio não possa ser tido como cúmplice nesta desastrosa situação de dar a todos os portugueses o diploma do 12-º ano ou uma licenciatura tão bem caracterizada neste sketch, o que seria uma ignomiosa deserção da minha parte, limito-me a transcrever um pequeno extracto de um recente post, que publiquei neste blogue, titulado “A Caixa de Pandora das Novas Oportunidades" (09/07/2010), em que estabeleci o confronto entre um ensino exigente e um outro deslocando-se em carris de facilitismo:

“Vivemos num país a duas velocidades. Uns viajam em comboios a vapor, com incomodidades pelo caminho e paragens em vários apeadeiros; outros na comodidade do TGV que os transporta, à velocidade de um raio, rumo à obtenção de diplomas dos vários graus de ensino. O TGV é representado pelos exemplos das "Novas Oportunidades" para maiores de 18 anos e do "Acesso ao Ensino Superior para Maiores de 23 anos", com o respectivo e escandaloso facilitismo. Como é óbvio, quem faz o seu percurso escolar regular viaja em comboios do século XIX. Claro que, com isto, não estou contra as “Novas Oportunidades” ou acesso ao ensino superior, dependente da data de nascimento escarrapachada no B.I, de quem, por motivos vários, se viu obrigado a desistir dos respectivos estudos, mas... desde que esta forma de obtenção de diplomas se não torne num bodo aos pobres para quem não quer estudar com os sacrifícios que isso acarreta”.

No século XIX, escreveu Ramalho Ortigão, dirigindo-se ao Ministro do Reino, “ o estado em que se encontra em Portugal a instrução secundária leva-me a dirigir a V. Ex.ª o seguinte aviso: Se a instrução secundária não for imediatamente reformada, este ramo do ensino público acabará dentro de poucos anos”. Para além da diminuição da natalidade, hoje, há o risco acrecentado de muitas escolas do ensino secundário oficial da III República, fecharem os portões por falta de alunos que reconhecem que depois de cumprido um 9.º ano em que é dificílimo reprovar e facílimo passar, há a possibilidade de se arranjar um emprego de faz-de-conta para ter acesso às Novas Oportunidades. “Et voilà!”, passados escassos meses o diploma do 12.º ano cai do céu aos trambolhões. Outra via será esperar pelos 23 anos para fazer um simulacro de prova de acesso ao ensino superior.

Em plena Ditadura de Ignorância, em que se pretende confundir a escolorização de um país com a ilusão de um povo, caminha Portugal, a passos largos, para apresentar estatisticamente a maior percentagem de diplomados com o 12.º ano e de licenciados no espaço da Comunidade Europeia. Ou seja, ao contrário dos genéricos de certos filmes, neste sketch do “You Tube”, qualquer semelhança com a realidade não é pura ficção. É a realidade, ela mesma!

11 comentários:

Anónimo disse...

Excelente texto, bem como o anterior vídeo. Certeiros.
A ditadura da ignorância, o direito ao sucesso e a paixão cega, abusiva pela igualdade serão os mais cristalinos sinais do destino nacional às mãos dos donos socialistas do regime. E há quem acelere!
Saudações,
Luís Vilela.

Anónimo disse...

Boa noite!
Faço só uma pequena ressalva com conhecimento de causa!
O autor refere-se ao acesso maiores de 23 parece-me a mim de forma jucosa, tenho a dizer que tenho um colega de curso em Engenharia Informática num Instituto deste país que entrou com o este tipo de acesso, já não estudava há 10 anos é só um dos melhores alunos, senão o melhor aluno do curso com uma média superior a 18 no fim do 1º ano.
Não vamos generalizar, uma coisa é o acesso, que do que sei não é exactamente facil, até se calhar mais dificil que o exame nacional de 12º ano de Matematica no caso de uma Engenharia.
O que importa dizer é que se calhar, o baixar de nivel e o facilitismo está em algumas intsituições de ensino superior e não no acesso. Estamos a criar uma sociedade de Doutores ignorantes. Com tantos doutores, quero vê-los qualquer dia "doutores" e a trabalhar nas caixas do continente a ganhar o ordenado minimo. Sim, porque fazendo um ensaio à José Saramago, se fossemos todos doutores, alguém tinha que ir no carro do lixo e trabalhar na caixa do continente, ou como é que uns serviam os outros, nesta sociedade extremamente capitalista todos temos de desempenhar uma função, uns doutores a apanhar o lixo, outros doutores a por o lixo no caixote.

Saudações Revolucionárias
Ernesto Assunção

Joaquim disse...

"Em plena Ditadura de Ignorância, em que se pertende confundir"



Pode pretender muita coisa mas pertender duvido.



Ditadura de ignorância de facto.

Rui Baptista disse...

Caro Ernesto Assunção:

Eu reconheço o perigo da generalização, daí haver excepções como a que relata. Mas, por outro lado, também sei que a excepção não faz a regra, embora não haja regra sem excepção.

Aliás, o mesmo sucede com os autodidactas, que os há de grande valor(e presumo que seja esse o caso do seu Colega de curso), mas, por outro lado, tenho sempre presente a jocosa definição de autodidacta de Mário Quintela: “Ignorante por conta própria”.

Repare que o antigo” Exame Ad-Hoc” era, quanto a mim, uma prova oficial de acesso ao ensino superior para quem não possuía a habilitação legal exigida em condições normais, de muita seriedade e exigência, que incidia sobre conhecimentos de Cultura Geral e Específicos do curso a frequentar.

Hoje em dia, em que as propinas do ensino superior se tornaram numa fonte de sobrevivência das universidades estatais e de “negócio” rendoso de certos estabelecimentos de ensino superior privado de duvidosa qualidade (de muita duvidosa qualidade, aliás!) esse acesso é facilitado a ponto dos candidatos a esses cursos ouvirem uma prelecção de um determinado professor de que terão que fazer posteriormente um relatório , presumo, em que os próprios erros de ortografia não contam.

Como escrevi no meu post, vivemos na Ditadura da Ignorância em que uns tantos alunos universitários são a prova disso mesmo. Dou-lhe um mero exemplo, colhido de uma entrevista televisiva:

"Alunos da Faculdade de Letras de Lisboa entrevistados para responderem a perguntas comezinhas relacionadas com a Literatura, por exemplo, o autor de “Os Maias” ou ainda, a grafia da palavra “assessoria” , demonstraram uma ignorância confrangedora. Um deles atribuiu a autoria de “Os Maias” a Egas Moniz, deixando a pairar adúvida da referência: Egas Moniz, fidalgo do século XII, exemplo de honradez, ou Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina (1949)? Um outro, disse escrever-se a palavra assessoria com dois esses, no início, e um cê cedilhado depois! (“Jornal Nacional da TVI”, 29/01/2003).

O facto destes alunos trazerem na bagagem vários diplomas anteriores que os habilitaram à respectiva frequência, sem serem sujeitos a uma necessária triagem como a do antigo Exame de Aptidão à Universidade, justifica o remoque impiedoso, mas justíssimo, do falecido Francisco Sousa Tavares quando escreveu (e que eu tenho como uma das citações a reter na memória): “Estamos não a formar um País de analfabetos, como até aqui, mas um país de burros diplomados”.

Em contrapartida, José Saramago tinha como habilitação académica o curso das antigas escolas industriais (que tantos e tão prestimosos serviços prestaram ao ensino nacional, e à própria sociedade, quando mais importante era o “know how” do que os títulos académicos ) e Ferreira de Castro, o festejado autor de “A Selva”, apenas o exame da 4.ª classe da antiga instrução primária.

Trata-se de dois exemplos de valiosos autodidactas e não de ignorantes por conta própria ou de um ensino que não ensina.Com escreveu Sá de Miranda, em inícios do século XVI, “tudo seus avessos tem”. O meu avesso está, por exemplo, em não lhe retribuir, meu caro Ernesto Assunção, “Saudações Revolucionárias”, mas saudações cordiais.

MRL disse...

M. Rosário Luís

Retrato fiel das Novas Oportunidades! O importante é o Diploma! O que conta é o parecer! Chegámos ao cúmulo do rídiculo!

Rui Baptista disse...

Caro Joaquim (25 de Julho, 11:54):

Grato pela cuidada atenção que, pelos vistos, lhe mereceu o meu post.

No meio de 6.183 caracteres de texto descobrir uma única palavra de oito letras – a palavra “pertende”, em vez de pretende - é prova que testemunha, apenas, como julgo, um “lapsus calami” da minha parte.

Poderia eu, até, servir-me da desculpa esfarrapada do professor que, não querendo dar o braço a torcer, diz para o aluno vivaço que lhe chama atenção para um determinado erro: - “Era para ver se estavas com atenção na aula!”.

Não o farei, nem tampouco puxarei da arma para matar uma pobre gralha que pousou, inadvertidamente, no meu texto. Procederei , isso sim, arcando com a responsabilidade do meu horrendo crime de lesa Língua pátria, à devida e necessária correcção no local do crime.

Peço-lhe, apenas, o favor de , no caso de cometer eu, novamente e inadvertidamente, o mesmo erro , me chamar a atenção comprometendo-me a escrever a palavra certa cem vezes num comentário com um destino que me envergonha, mas imperioso na expiaçãopública da minha ignorância ou, bem pior do que isso, da minha teimosia.

Um bom resto de fim-de-semana.

P.S.: Este texto foi escrito segundo normas do antigo Acordo Ortográfico.

Joaquim disse...

"P.S.: Este texto foi escrito segundo normas do antigo Acordo Ortográfico."



Só por esta frase está perdoado. Fartei-me de rir e acho que a vou utilizar. :)



Estou um bocado farto da última frase das notícias da Lusa.



Não tenha dúvidas, o novo acordo vai vingar e quando fizerem um outro muita gente vai escrever o mesmo que escreveu agora sobre o antigo mas sobre o actual.

"É a viding".

Rui Baptista disse...

Caro Joaquim:

Julgo que percebeu o meu "post scriptum", mas pode haver alguém que possa julgar ter eu escrito este meu comentário obedecendo às regras do novo Acordo Ortográfico correndo o risco de me dizerem que caracteres (1.ª linha do 2.º §) se escreve carateres. Ele há gente para tudo!

Anónimo disse...

A qualidade que transpira do nosso sistema de ensino tem diminuído de ano para ano. Nunca acreditei nos que ciclicamente agitam a politica educativa impondo ou clamando por revoluções educativas, como que ensaiando uma viagem vestal e pretendendo começar para "um de novo" perfeito (mas a vida é movimento e logo um acto contínuo).

Nos últimos 35 A assistimos a constantes revoluções educativas que, tal como as revoluções politicas, ao contrário de melhorar, apenas têm vindo a produzir um maior número de mentes incapazes de aplicar o que supostamente aprenderam, e agora dotadas duma incapacidade de avaliação crítica que fuja ao politicamente correcto mesmo se moralmente errado.

Em paralelo com esta instabilidade da politica educativa (final dos cursos comerciais e industriais, serviço cívico, propedêutico,12ºA, alterações programáticas, guerra das propinas, profusão de cursos superiores, encerramento cego e acéfalo de escolas condenando o interior à desertificação plena de 2/3 do país, guerras na avaliação, professores que esquecem que têm de ser guias … manuais de história revisionada …) a sociedade mudou muito também. Hoje é mais difícil começar uma vida, ser capaz de manter um rumo minimamente seguro e resistir às tentações do mundo.

São evidentes as dificuldades no uso da matemática, do português ou da física nos jovens em tarefas do dia-a-dia. O sim ao aborto foi intrincado de forma fácil e paradoxal (como é possível a sociedade ostracizar mais uma mãe solteira do que uma mulher que abortou), a aceitação do casamento gay numa sociedade que olha de lado a mulher divorciada, a aplicação leviana e acrítica dum PC na educação das crianças (como o chapéu de coco do chefe da tribo perdido nas “Minas de Salomão”)…Talvez haja nestes paradoxos portugueses uma faceta da nossa curva evolutiva: o que parece modernidade é estimulado pelos agentes variadas e aceite passivamente quiçá porque esconda a nossa crescente decadência sócio-cultural e económica.

Como aqueles filmes “pós-fim do mundo não consumado” em que os personagens maltrapilhos e ignorantes, mas com um corte de cabelo fantástico, vivendo num cenário de caos social, “teclam” em computadores brilhantes que para nada mais servem que alhear da mediocridade envolvente, tornado assim mais brilhante a total ausência de expectativas para lá da satisfação do imediato e da garantia da sobrevivência. Sem capacidade de planear, prever e de Sonhar.

Hoje (tirando os mais brilhantes) os adolescentes e adultos jovens saem do secundário e superior mais fracos e impreparados para a vida do que há anos atrás. Embora culpados, eles são os menos culpados porque senão não haveria necessidade dum sistema educativo. Falo em impreparados cientificamente, culturalmente, mas também socialmente, também porque cada vez aparentam menor noção da existência do “outro” social.

Depois, claro, há o progressivo defraudar das expectativas daqueles que, por brio individual ou por pressão familiar, conseguiram sair dessa fraca média, concluindo cursos superiores ou até médios (dos bons…) com a pretensão de utilizar de forma dirigida a sua formação para os seus objectivos sejam estes o dinheiro, a carreira, a auto-estima, o sonho ou apenas a segurança. Todos eles dignos.

Mas a realidade portuguesa faz depará-los com a crua verdade sócio-económica que não está preparada para os acolher. Este destino dos bons não pode deixar de estimular a a mediocridade que grassa no ensino em geral cuja o programa “novas oportunidades” tão bem traduz. Como se tudo fosse a mesma coisa. Mas não é, porque a sociedade humana não pode ser entendida como uma massa única e sem formas.

O aconteceria na história da cigarra e da formiga se a cigarra ao entrar na casa da amiga encontrasse um mesa vazia, uma lareira sem chama, umas janelas sem vidro e amizade que não queria ajudar. Pois, é esta a história que estamos a ensinar à geração seguinte.

O que será de Portugal?


Blim

Rui Baptista disse...

Caro Blim:

Perguntou: O que será de Portugal? Atrevo-me, agora, a fazer a pergunta: O que foi e o que é de Portugal?

O passado e o presente poder-nos-ão dar uma possível resposta. Mesmo que só aproximada.Talvez que Eça nos ajude, num regresso ao século XIX, que só difere dos dias de hoje por não se andar em caleches, mas a pé, de autocarro ou automóveis de alta cilindrada.

Escreveu ele:

“(numa época tão intelectual, tão crítica, tão científica como a nossa, não se ganha a admiração universal, ou seja nação ou indivíduo, só com ter propósito nas ruas, pagar lealmente ao padeiro, e obedecer, de fronte curva, aos editais do Governo Civil. São qualidade excelentes mas insuficientes. Requer-se mais: requer-se a forte cultura, a fecunda elevação do espírito, a fina educação do gosto, a base científica e a ponta do ideal que em França, na Inglaterra, na Alemanha, inspiram na ordem intelectual a triunfante marcha para a frente; e nas nações de faculdades menos criadoras, na pequena Holanda ou na pequena Suécia, produzem esse conjunto eminente de sábias instituições que são, na ordem social, a realização das formas superiores do pensamento.

Dir-me-ão que eu sou absurdo ao ponto de querer que haja um Dante em cada paróquia, e de exigir que os Voltaires nasçam com a profusão dos tortulhos. Bom Deus, não! Eu não reclamo que o país escreva livros, ou que faça artes: contentar-me-ia que lesse os livros que já estão escritos, e que se interessasse pelas artes que já estão criadas, A sua esterilidade assusta-me menos que o seu indeferentismo. O doloroso espectáculo é vê-lo jazer no marasmo, sem vida intelectual, alheio a toda a ideia nova, hostil a toda a originalidade, crasso e mazorro, amuado ao seu canto, com os pés ao sol, o cigarro nos dedos, e a boca às moscas…É isto o que punge” (“Cartas de Inglaterra”).

Pois é, meu caro Blim. Numa coisa nos actualizámos: passámos do padeiro que nos entregava o pão em casa (com o perigo dos calotes, para ele, claro está!) para “boutiques” de pão. Tornámo-nos parisienses.

Quanto ao fumo, vêem-se menos cigarros nos dedos (o maço de cigarro, nos avisa: o fumo mata!). Quanto a Cultura estamos conversados: piorámos, as Novas Oportunidades deram uma mãozinha (ou uma mauzão) para isso! Um ensino que não ensina se encarregou do resto!

Rui Baptista disse...

Penúltima linha do último parágrafo do meu último comentário: Retirar "(ou uma mauzão)".

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