segunda-feira, 19 de abril de 2010

Não ao acordo ortográfico

De uma professora de Língua Portuguesa, de muito mérito e uma lutadora incansável por causas em que acredita, a Dr.ª Maria do Carmo Vieira, transcrevo uma carta publicada hoje no Público, com o título em epígrafe.

A satisfação do pedido que nela faz, é o mínimo que todos nós, aqueles que com ela concordamos, podemos fazer em prol de uma das causas pelas quais se tem batido com a fibra de “antes quebrar do que torcer”: a qualidade do ensino. Reza a carta:

“Parece quase uma fatalidade comportamental não acreditarmos que a persistência em qualquer luta deve manter-se, enquanto os seus objectivos não forem atingidos. Nunca supusemos, por exemplo, que o que suavemente se preparava em matéria de pedagogia, na década de 80, raiando o ridículo e o absurdo, acabaria por se impor no ensino. Quando quisemos reagir de modo mais consistente, já era tarde demais. Felizmente, e como é natural no ser humano, a vontade de agir sobreveio e a luta pela qualidade do ensino recomeçou. Situação semelhante vivemos com o Acordo Ortográfico de 1990, urdido por um grupo de linguistas portugueses e brasileiros, indiferentes às críticas dos seus pares e à opinião dos falantes. Ainda que tenha surgido uma petição muito participada e entregue na AR, subscrita por 32.000 cidadãos, e que a Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, no relatório emitido (08.04.09), lembrasse que ‘as preocupações e os alertas dos peticionários devem ser tidos em de conta, do ponto de vista técnico e político, a curto e médio prazo’, a recomendação não obteve qualquer resultado prático.

É certo que podemos insurgir-nos contra este paternalismo democrático, que a todo o momento reclama por cidadania, mas encara os cidadãos como crianças a quem se deve dar a oportunidade de ‘brincar ao faz de conta’, mas convenhamos que fomos nós próprios os culpados porquanto desistimos de uma luta convicta. Felizmente, reacendeu-se através de publicações (o linguista António Emiliano, ou Francisco Miguel Valada), e da Iniciativa Legislativa de Cidadãos, com força de projecto de lei, uma ideia que se deve a um dos assinantes da petição, João Pedro Graça. Sendo a ILC já uma realidade, cujo texto e documentação para recolha de assinaturas pode ser consultado em ‘http://ilcao.cedilha.net’, apelamos a quem não concorda com este Acordo Ortográfico que assine e recolha assinaturas, pois serão necessárias 35.000 em papel, de acordo com a lei. Simultaneamente, haverá sessões de debate, a primeira das quais a 24 de Abril, na Voz do Operário, pelas 21h30.”

3 comentários:

joão boaventura disse...

Pela minha parte já o fiz e segue amanhã pelo correio.

Cláudia S. Tomazi disse...

Escrever é semelhante a vir ao mundo, nascer, pertencer ao ser: enfim colocar alma nas palavras! O sentimento a verdade e de minha vez o amanhã fora ontem e hojae língua portuguesa é dessas dádivas em acordada ortographia fez-se história a libertar na pena letras e nem concordaria aos lingüistas desavisados.

Jorge Teixeira disse...

Subscrevi a ILC e apelo a todos que o façam. Apelo também aos autores deste blog, que são pessoas com grande capacidade de influência nos círculos em que se movem, que promovam a ILC, os vossos esforços seriam um grande contributo para a cultura e para o país que urge construir.

As consecutivas reformas ortográficas da língua Portuguesa, quase ininterruptas desde a implantação da República, quase nunca trouxeram benefícios - as transformações que operaram na grafia nunca foram implementadas em línguas como o Francês e o Inglês e estas línguas e os seus falantes e escreventes nunca sofreram por causa disso. Pelo contrário, trouxeram a Portugal efeitos perversos muito notórios, como o quase completo esquecimento de todas as obras literárias e científicas escritas segunda as normas pré-reforma de 1945, com pouquíssimas excepções. A ignorância sobre o nosso passado e a perda intelectual, cultural e científica que daí advieram é notória e contribui acentuadamente para o nosso contínuo processo de decadência e empobrecimento. A comunidade que gravita à volta das universidades e politécnicos não deveria ser indiferente a esta realidade nem deveria aceitar a aplicar medidas que terão os mesmos efeitos uma vez mais e deitarão desta vez para o caixote do lixo o conhecimento escrito em português das décadas mais produtivas do século XX e XXI. É este o futuro a que nos queremos condenar?
Por favor, juntem os vossos esforços aos nossos para debelar da nossa realidade este AO90, começando pelas instituições que têm como missão e razão de ser o conhecimento: as universidades, os politécnicos, as escolas.

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