Não é só na ciência e na filosofia que pessoas informadas se deixam levar por encenações (veja-se, respectivamente, o "caso Sokal" e o "caso Botul", sobre os quais já se escreveu neste blogue). Na arte isso também acontece... Nesta área, em particular, um canal de televisão resolveu fazer uma "experiência" no estilo ensaiado por Alan Sokal, que pode ser vista aqui e que se descreve em breves linhas.
Pediu-se a crianças de 2 e 3 anos, que frequentavam uma creche, que pintassem um quadro como quisessem, com pincéis ou com as mãos.. Num instante, os pequenos artistas produziram uma "obra" colorida, que foi levada à sorrelfa para a ARCO, a conhecida feira de arte internacional, que é também a mais importante de Espanha. Uma entrevistadora recolheu a opinião de especialistas e pessoas comuns que se detiveram a apreciar o quadro. Eis algumas das suas apreciações:
- revela angústia, tristeza...
- há uma mensagem que se transmite através das flores, da paisagem...
- tem muitas subtilezas, correntes estéticas ...
- é quadro complexo, tem muita meditação subjacente... é de um pintor com muita experiência...
- reflecte um pouco o desespero... alguém que foi buscar um caminho novo... parece-me que é uma pessoa que procurou muito... possivelmente é de um homem com uma carga erótica muito grande, mas também com uma repressão muito grande...
- 15.000 euros não me parece caro... é arte, e a arte não tem preço...
- gosto, tem muito trabalho... é um preço razoável. ...
Curioso não é? A entrevistadora assinalou que nenhuma dos visitantes com quem falou, pareceu duvidar da origem do quadro, deixando no ar a pergunta: será porque a ARCO só expõe quadros de artistas reputados?
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6 comentários:
É ridículo o valor que se dá à chamada "arte". Ser artista já não significa ter um talento inato e muito esforço e dedicação. Hoje em dia para ser artista basta ter uma ocupação de alguma forma ligada à criatividade. Ah, e os padrinhos certos.
Cada vez me enoja mais o valor que se dá a este tipo de profissões em detrimento do valor intelectual de muitas outras. E quem alimenta isso são os imbecis que dão respostas como essas, que gostam de usar palavras excêntricas e construir frases rebuscadas sem sentido, para ver se dão ar de intelectual.
Esse evento já ocorreu a algum tempo, soube disso!
Grande paródia, isso deve-se à arte pós contemporanea que é uma fantochada, arranja-se 1 tela, dá-se umas pinceladas de várias cores, cola-se uns pedaços de cartolina e já está!
Gostava de ver era daqui a 100 anos quando for dada essa des-corrente artística em história de arte se depois vão dizer dogmaticamente que siginifica isto ou aquilo como manda a cartilha do ministério da educação para a lingua portuguesa, actualmente em que se dá significados a poesias que nem os autores se lembraram de tal!
Concluindo, os críticos de arte actual são uma fraude, aliás são como as agências de rating que levaram a Grécia à falência, como podem dizer artisticamente que quadros ou outras peças valem mais quando não passaram anos suficientes para as obras se tornarem maduras por si mesmas! É como na literatura, best sellers, alguns portugueses que são aplaudidos pelos críticos cujos escritores lançam 1 livro e ele é logo elogiado, a arte precisa de maturidade, por isso eu me recuso a literaturas publicadas depois de 2000 e a arte pós contemporânea! Haja pensar pelas nossas cabeças, deixemos esses pseudo críticos qualquer coisa com as suas palermices!
Anónimo,
O acordo, neste caso não é ortográfico, é antes total.
A literatura sofre do mesmo problema.
Se "Os Maias" tivesse sido escrito por um plebeu sem ligações sociais seria literatura sem qualidade sobre um amor entre irmãos. Uma obra completamente banal. Como foi pelo Eça é uma obra prima para muitos inigualável.
A analogia é quase perfeita.
A literatura sofre do mesmo problema.
Se "Os Maias" tivesse sido escrito por um plebeu sem ligações sociais seria literatura sem qualidade sobre um amor entre irmãos. Uma obra completamente banal. Como foi pelo Eça é uma obra prima para muitos inigualável.
A analogia é quase perfeita.
Há obviamente uma desonestidade intrínseca na peça televisiva. Se deixassem as crianças a pintar o que quisessem, não teria saído o quadro que saiu. A reportagem não mostrou - saltou - mas a peça só foi dada por concluída quando estava tudo cheio de tinta. De certeza que os que orientaram a feitura do quadro deram indicações para que assim fosse e só tiraram o quadro da frente dos petizes quando já não havia um cm2 de tela. Estou mais de acordo com os que comentaram o quadro do que com acha piada à brincadeira.
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