sábado, 14 de março de 2009

PIONEIROS DA GENÉTICA


As leis de Mendel demoraram 35 anos a ser redescobertas. Um trabalho de um geneticista português demorou 30 anos a ser confirmado. Ler na minha crónica de "O Sol" de hoje:

Pouca gente saberá que Armando Cortesão, o grande historiador dos Descobrimentos e especialista em cartografia antiga, é um dos primeiros geneticistas portugueses. Em 1913, defendia no Instituto Superior de Astronomia, em Lisboa, a tese de licenciatura em Agronomia “A teoria da mutação e o desenvolvimento das plantas”. Cinco anos depois, numa época em que as mulheres eram muito raras na ciência, Matilde Bensaúde era a primeira cientista portuguesa a apresentar um trabalho original em genética, ao doutorar-se na Sorbonne com uma tese sobre genética de fungos.

Nos anos 20 e 30, o botânico Aurélio Quintanilha (pai do biólogo Alexandre Quintanilha) fez escola na Universidade de Coimbra nessa mesma área da genética de fungos. Mas, em 1935, foi expulso da função pública pelo Estado Novo, tendo sido obrigado a procurar trabalho lá fora, primeiro na Europa e depois em Moçambique. (um dos trabalhos foi como soldado no exército francês). Em congressos internacionais opôs-se às teses do russo Lysenko contrárias às de Mendel. A Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, foi, nos anos 30, uma outra escola pioneira da genética entre nós, ao procurar o melhoramento das espécies agrícolas, sob o impulso do seu director António de Sousa Câmara.

A escola de Oeiras deu bons frutos. Um deles acaba de ser reconhecido num congresso internacional que teve lugar esta semana no Porto. Com efeito, um engenheiro agrónomo do Departamento de Genética da Estação Agronómica Nacional publicou em 1957, na revista “International Journal of Cytology”, um artigo que continha uma notável hipótese sobre o movimento dos cromossomas na anafase, a etapa da divisão celular que ocorre quando eles se dirigem para pólos opostos da célula. A hipótese era de tal modo revolucionária que só passadas três décadas foi confirmada experimentalmente por uma equipa norte-americana. O autor da hipótese, Miguel Mota, hoje com 83 anos, e o seu verificador, Gary Gorbsky, encontraram-se há dias no Porto, na presença de muitos colegas e amigos. Ser pioneiro não é fácil, mas traz compensações!

3 comentários:

Pedro disse...

ser pioneiro ser solitário

Pedro
(num relance)

L. Felipe Benites disse...

É pelo passado e pelo presente que tinha muita vontade de ir trabalhar nesse campo em Portugal, os estudos recentes do Instituto Gulbenkian trazem luz a muitas questoes antigas...

Anónimo disse...

Pois!

Mas já agora podiam dizer:

1º - qual era a hipótese;

2º - porque é que era revolucionária (para a época);

de preferência em português vulgar.

Obrigado.

ingénuo renitente

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