Soubemos, através do Semanário Expresso de hoje, que uma “aplicação” instalada no “Magalhães” está repleta de erros de Português a que se somam instruções absurdas. Vale a pena ver a sua sistematização aqui.
O facto de se tratar duma “aplicação” para os primeiros anos de escolaridade, torna a circunstância especialmente gravosa, porquanto se sabe que as crianças não devem ser expostas a erros de ortografia e de gramática quando se iniciam na leitura e na escrita, dado que tais erros perturbam a aquisição e consolidação das regras que estão subjacentes a essas aprendizagens.
Ouvido o secretário de Estado Jorge Pedreira a propósito do assunto, afirmou: “Uma coisa é certa: não é pelo facto de um programa de jogo didáctico ter erros, que isso diminui, em alguma coisa, a utilidade e a importância do projecto do computador Magalhães”.
O senhor secretário de Estado está profundamente enganado: um equipamento e/ou suporte educativo (computador, manual, quadro preto, quadro interactivo…) não valem por si. A sua utilidade e importância advêm das aplicações, dos conteúdos que nele se incluírem, os quais devem ser intocáveis do ponto de vista científico e pedagógico-didáctico.
A esta nota acrescento outra ainda mais preocupante: os erros anunciados pelo Expresso e de que toda a gente fala, apesar da sua seriedade, são, infelizmente, os poucos que poderemos detectar no “Magalhães”, pois em tudo o resto que ele contiver não conseguiremos perceber correcções ou incorrecções. E isto porque:
1. Não se fundamentou o uso do computador em causa em qualquer teoria de aprendizagem. E, devia ter-se fundamentado;
2. Em sequência, não foi delineado qualquer modelo e estratégia de ensino para orientação dos professores. E, devia ter sido;
3. Assim sendo, os “conteúdos” já disponibilizados ou a disponibilizar decorrem do puro acaso. E, não deviam decorrer.
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11 comentários:
No contexto actual das políticas educativas, é correcto o que diz o Secretário Pedreira. Vem tudo na mesma linha: fim dos "chumbos", pressão sobre os professores para darem notas altas, meninos na escola durante 12 horas, Novas Oportunidades... Do ponto de vista do ensino, a escola tende a tornar-se irrelevante, porque a sua função ideal (na cabeça destes políticos) é a guarda das crianças. Animação e ocupação de tempos livres é a pedra basilar da escola que este ministério idealizou. E para isso, basta que os computadores tenham jogos, a sua qualidade é irrelevante. Talvez depois disso deixem também de exigir licenciaturas aos professores e acabem com o controlo de qualidade dos manuais. Bastarão uns quadros interactivos e muita internet para consolidar a escola ideal.
Afinal onde está a verdade nesta história:
"O Magalhães, os erros e a Caixa Mágica"
"Em relação às notícias saídas no Expresso e SIC vai ser disponibilizado um press-release pela Caixa Mágica mas aqui fica um comentário pessoal e que não representa a Caixa Mágica Software.
Há imprecisões e omissões graves na notícia do Expresso. Alguns pontos importantes:"
Continua aqui:
http://pinguinsmagicos.blogs.sapo.pt/38808.html
Deixando de lado outras considerações sobre a implementação do computador Magalhães na escola e focando a atenção apenas na notícia publicada, e republicada, pelos meios de comunicação social é lamentável o que se passa.
Em primeiro é necessário relativizar a situação, ou seja, os erros foram encontrados num programa (entre muitos) presente num sistema operativo (linux). Não possuo dados concretos mas pelo que sei o computador possui também o sistema operativo Windows.
A empresa responsável, Caixa Mágica, apresentou ontem um comunicado (http://www.caixamagica.pt/pag/f_notc00.php?id=219) onde esclarece vários aspectos, entre eles o facto de já existirem duas actualizações disponíveis pela Internet que resolvem (segundo dizem) o problema. O comunicado desmente também a escolaridade da pessoa responsável pela tradução inicial.
Estes esclarecimentos parece que nunca existiram pois as noticias continuam a ser as mesmas...
Quem tem mais alguns conhecimentos sobre informática percebe mais claramente o aproveitamento politico de uma situação destas. É natural que é uma situação a lamentar, mas o aproveitamento que ela tem é muito mais lamentável...
Neste caso, pois possuo alguns conhecimento na área e dediquei-me a ver comunicados oficiais da empresa e não interpretações jornalísticas do mesmo, percebo que há uma distância muito grande entre aquilo que aconteceu e que aquilo que aparece na comunicação social. E nos outros casos? Devo continuar a aceitar o que me apresentam?
Podiam ter incluído o aplicativo no idioma original (guess which one). Quando menos, seria uma boa iniciação ao inglês.
Cara Helena Damião,
Não podia concordar mais com as suas palavras. Haja gente atenta denuncia estes casos em público e haverá, pelo menos, a esperança de se irem corrigindo estas brutalidades. O essencial é isso: ou estamos acordados e com a voz afinada, ou eles comem-nos por parvos.
Aproveito, com todo o despudor, para apontar a sua atenção e de quem visita o De Rerum para a minha análise da questão.
http://medireavaliar.blogspot.com/2009/03/do-magalhaes-e-da-fe.html
Melhores cumprimentos,
Tiago Caliço
Segundo o Eduquês, o professor (ou «facilitador de aprendizagens») deve descer sempre ao nível dos alunos, em vez de tentar alçar os alunos ao seu nível; desta forma, a comunicação e a «motivação» estarão garantidas.
O "Magalhães" simplesmente aplica este princípio: vendo bem as coisas, ele escreve como os nossos petizes*: parabéns, a comunicação está garantida!
* e, infelizmente, não só os petizes...
É sintomático o conjunto de mensagens que desvalorizam a situação dos 80 erros de ortografia do Magalhães, porque até já há actualizações disponíveis e que isto e que aquilo, que logo se resolve e até nem é grande coisa, porque no essencial a coisa é boa... É o típico deste país desenhado em cima do joelho, onde se remendam os buracos à medida que são descobertos, onde o culto da exigência e da qualidade não significam nada, o país das pretensas "campanhas negras", onde quem aponta algum erro é considerado um obstáculo, onde o improviso é regra.
Caro Tiago Caliço
Agradeço-lhe ter-me proporcionado a leitura da análise que fez sobre o assunto “Magalhães”, pois ela alertou-me para dimensões em que eu ainda não havia pensado, como é o caso dos sistemas operativos instalados.
Sublinho a sua chamada de atenção para a necessidade de se avaliar com rigor o resultado das aprendizagens dos nossos alunos que vão usar, ou já estão a usar o “Magalhães”. Que conhecimentos e que competências cognitivas são devidas ao uso deste recurso? São conhecimentos e competências que não adquiririam se o não usassem? Qual é a vantagem de o usar desta e não daquela maneira?...
Pois é… mas tal avaliação será (quase) impossível, pois, por um lado, faltam neste projecto (será mesmo um projecto!?) orientações pedagógicas válidas cientificamente e programas de qualidade comprovada (lembro que os alunos não são cobaias que se devam sujeitar a ensaios de amadores, e não é no melhor sentido que uso esta palavra) e, por outro lado, temos de contar com o empenhamento político que nele está posto. Destas duas considerações tiro, desde já, uma conclusão óbvia: o projecto “Magalhães” será anunciado daqui uns tempos como um sucesso inquestionável. Aliás, já é apregoado como tal.
Quanto às explicações, que também li, do responsável pelo Caixa Mágica e de algumas pessoas que as aceitaram, relativizando o sucedido, só tenho um comentário: intolerável. Mais condenável ainda do que os erros, é a sua desvalorização, fazendo-os passar por não-erroz, por simples enganos, coisitas de nada que só quem tem má vontade faz notar. Não interessa se quem fez a tradução tem a 4.ª classe ou um pós-doutoramento; não interessa se só um programa, em não sei quantos, tem erros (duvido que assim seja); não interessa que haja uma validação no horizonte… O que interessa é que os erros em causa são graves e quem os cometeu deveria ter a modéstica de, depois de pedir desculpa, se remeter ao silêncio.
Generalizando... Seria bom ter um programa sem erros, mas a que preço? Seria bom ter um carro completamente seguro, mas a que preço?
Bem, qualquer produto tem de ser analisado à luz de tudo o que o rodeia, por isso penso que só podem falar assim as pessoas que não conhecem a realidade e que idealizam o produto...
Seria melhor não haver acidentes de viação, mas será que alguém renuncia a andar de carro porque pode morrer num acidente?
Recordo para quem não sabe que estamos a falar de software open-source, ou seja, que se vai desenvolvendo pela boa-vontade dos que participam, sem qualquer lucro comercial.
Quando se refere "Quanto às explicações, que também li, do responsável pelo Caixa Mágica e de algumas pessoas que as aceitaram, relativizando o sucedido, só tenho um comentário: intolerável." está-se também a ignorar toda esta realidade. Ou seja, se não temos um computador prefeito não temos computador.
Caro RF, pela sua lógica, quando, na nossa boa-vontade, desempenhamos uma tarefa de carácter profissional sem qualquer pagamento podemos desempenhá-la, digamos, menos bem, ainda que a nossa actuação possa causar mal a pessoas a quem a nossa tarefa é dirigida.
Neste caso, ao que diz, os erros patentes no programa em causa justificam-se pelo facto de os tradutores não terem recebido qualquer pagamento. Pois é, mas daí não decorre que eles não existam: existem; nem se não sejam graves: são particularmente graves no nível de escolaridade em causa.
Quanto à perfeição dos recursos educativos, todos sabemos que ela não existe. Mas também é verdade que a perfectibilidade deve constituir um ideal. Ainda que saibamos que os erros não se podem eliminar completamente da acção humana, devemos fazer tudo para que aqueles que se podem prevenir não ocorram.
Estes erros podiam ter sido prevenidos, independentemente de terem sido cometidos por pessoas que ganhem bem ou mal ou não ganhem pelo trabalho que fizeram.
Por outro lado, neste caso não parece ter havido qualquer controle de qualidade, de que tanto se fala, por parte de outras entidades, nomeadamente do Ministério da Educação. E esse foi outro erro.
Em suma, devemos pensar educação é uma tarefa demasiadamente séria para ser deixada ao critério de qualquer pessoa, mesmo com boa-vontade.
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