Foi lançada em Trancoso há cerca de mês e meio a primeira pedra do Centro de Interpretação da Cultura Judaica Isaac Cardoso. O projecto de Gonçalo Byrne é dedicado ao médico e filósofo que mereceu de Marcelino Menéndez y Pelayo no capítulo II da sua famosa obra «Historia de los heterodoxos españoles»:
«Se excluirmos Bento Espinosa, não há no século XVII judeu de maior conhecimento nem homem de saber mais profundo e alargado que Isaac Cardoso. O seu nome figura lado a lado com os de Gómez Pereyra e Francisco Vallés entre os reformadores da filosofia natural em Espanha».
De facto, o racionalista, por nascimento português (Celorico da Beira, 1615), não agraciou muito tempo solo nacional com a sua presença. Depois de estudar em Salamanca, onde se doutorou em Filosofia e Medicina, ascendeu ao cargo de médico-mor da Corte de Madrid. Como Yosef Hayim Yerushalmi indica no livro «From Spanish Court to Italian Ghetto: Isaac Cardoso», marrano por imposição da coroa portuguesa, sentiu o apelo da religião dos seus antepassados e refugiou-se primeiro em Veneza, a República Sereníssima e livre, e depois em Verona onde professou abertamente o judaísmo.
No frontispício da sua obra mais conhecida, a filosofia tão livre quanto ele considerava a república de Veneza, a cujos governantes dedica o livro Philosophia Libera (1673), encontramos as alegorias da filosofia e da liberdade, sendo a primeira para Cardoso a racionalidade e a segunda condição necessária ao exercício da razão. Quando não há liberdade, para Cardoso, as ciências são servas de seitas (scientias è servitutis iugo liberandas viam operit, ut assensum non Secta, sed ratio promouet), que estrangulam a razão e impedem a inquirição da verdade.
Embora Cardoso seja prudente na condenação do jugo de servidão imposto pelas seitas ao conhecimento e à razão, que refere ter sido útil no passado, a sua obra tem um cariz não só abertamente anti-aristotélico como especialmente anti-escolástico. Os escolásticos, nas palavras do insuspeito José Sebastião da Silva Dias, «Continuaram a subordinar a filosofia à teologia, a razão à autoridade, a criação ao comentário, quando as ciências particulares lutavam pela sua independência e os homens cultos procuravam bases puramente racionais para a filosofia».
Isaac foi igualmente um dos primeiros atomistas explícitos e assumidos após o eclipse do átomo - e o único português desta época que conheço a fazer a apologia do atomismo -, nomeadamente no capítulo «Principiis Rerum Naturalium» onde Cardoso afirma que a existência de átomos é quasi imposta pela razão, Sunt Atomi rerum principia.
De facto, a Idade Média é uma época de eclipse do átomo, e para a continuação da história do atomismo foi fundamental a redescoberta da versão integral do poema de Lucrécio que deu nome a este blog, o que aconteceu, segundo alguns historiadores, em 1417 por Poggio Bracciolini. Alistair Crombie conta-nos no segundo volume do seu livro «Medieval and Early Modern Science» que:
«Certamente as ideias de Lucrécio não eram desconhecidas antes desta data: elas aparecem, por exemplo, nos escritos de Hrabanus Maurus, William de Conches, e Nicholas de Autrecourt. Todavia, o poema de Lucrécio parece ter sido conhecido apenas parcialmente, em citações nos livros dos gramáticos. Ele foi impresso mais tarde no final do século XV e depois disto reimpresso muitas vezes».
O referido Nicholas de Autrecourt protagonizou a primeira (e única durante uns séculos) tentativa de recuperação do atomismo. Como é reconhecido pela Stanford Encyclopedia of Philosophy, Autrecourt figura em praticamente todas as histórias da filosofia medieval pelo facto de ter sido censurado e condenado pela Igreja, evento considerado um dos mais relevantes em Paris no século XIV.
A filosofia natural de Autrecourt mantinha que a matéria, constituida por átomos, é eterna e não se corrompe e que as mudanças no mundo natural se devem ao movimento dos átomos. Embora Autrecourt assegurasse quem o lia ou ouvia de que falava apenas como um filósofo natural e que não pretendia contradizer a fé católica, tal não foi a leitura do papa e demais eclesiásticos que o julgaram e condenaram em 1346. Os ensinamentos de Autrecourt foram declarados falsos, perigosos, presunçosos e heréticos, a sua obra foi queimada e o filósofo foi obrigado a retractatação pública.
A condenação pela Igreja do atomismo como uma heresia materialista e anti-cristã explica este eclipse do átomo durante a Idade Média. George Depue, autor de «Lucretius and his Influence», refere no livro que o atomismo foi especialmente repudiado pela Igreja Católica por negar a doutrina da transubstanciação. Isto é, um filósofo cristão que advogasse o atomismo ( ou o nominalismo) estaria a atacar as próprias fundações da fé católica. A condenação do atomismo pela Igreja de Roma agudizou-se após a Reforma protestante já que os protestantes defendiam a consubstanciação e negavam a transubstanciação, isto é, «O pão e o Corpo de Cristo estão realmente, mas não substancialmente nem essencialmente presentes» na eucaristia.
Para reafirmar as doutrinas católicas tradicionais e fazer frente à reforma protestante que se tinha espalhado por todos os países da Europa Ocidental e da Europa Setentrional, com vários reformadores a reinterpretar o cristianismo para além de Lutero, como Ulrico Zuínglio, Guilherme Farel, Filipe Melanchton, João Calvino ou João Knox, foi convocado o Concílio de Trento em Dezembro de 1545. A última sessão do Concílio decorreu no dia 4 de Dezembro de 1563, dia em que foram lidas as decisões tridentinas, formalmente aprovadas pelo Papa Pio IV em 26 de Janeiro de 1564. As decisões tridentinas marcaram a ascendência de Tomás de Aquino, isto é, Aristóteles, no catolicismo e a doutrina católica foi definida não apenas do ponto de vista teológico, mas claramente no domínio científico.
Nomeadamente, ao reafirmar a doutrina da transubstanciação, a Igreja condenou o atomismo que afirmava serem os átomos ou mínima a substância de um objecto e as percepções sensíveis produto dessas partículas. Se durante a eucaristia as percepções sensíveis do pão e do vinho não se alteram após a consagração então não ocorre transubstanciação e esta consequência do atomismo aproximava-se perigosamente das teses de Lutero e dos protestantes. Isto é, «cor», «odor» e «sabor» eram palavras do domínio teológico, designavam antes de mais o milagre eucarístico, e qualquer tentativa de explicação natural destas propriedades constituía uma heresia a ser combatida.
Aliás, Descartes apercebeu-se dessa implicação do seu Traité de la Lumière (Tratado da Luz) e impediu a sua publicação, embora numa carta ao seu amigo padre Mersenne, datada de 25 de Novembro de 1630, tenha referido que, como em quase toda a sua obra, tentava conciliar religião católica e ciência: «querendo aí explicar as cores, em consequência fico obrigado a explicar como a brancura do pão permanece no Santo Sacramento».
Não é assim de espantar que no final do século XVI e início do século XVII a teoria atomista se tenha desenvolvido sobretudo no mundo protestante, nomeadamente em Inglaterra com os círculos de Northumberland e Newcastle, não obstante a tentativa de conciliação do atomismo com a doutrina católica protagonizada pelo padre Pierre Gassendi, contemporâneo de Descartes, Blaise Pascal e François de La Mothe Le Vayer.
A condenação católica do atomismo foi renovada durante o século XVII com muita insistência, especialmente pelos jesuítas, que proibiram pela primeira vez o ensino do atomismo, uma «moda» humanista, no dia 1 de Abril de 1623. Em Portugal, essa proibição mantinha-se em pleno século XVIII, como é ilustrado pelo decreto de 1746 do reitor do Colégio das Artes de Coimbra que proibia «quaisquer conclusões opostas ao sistema de Aristóteles» e, em particular, «opiniões novas, pouco recebidas e inúteis para o estudo das Ciências Maiores, como são as de Renato Descartes, Gassendi, Newton e outros».
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
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35 comentários:
Olá:
Uma coisa é verdadeira, de uma forma lata, quando as nossas crenças se correspondem à realidade.
Ver também aqui: http://plato.stanford.edu/entries/truth/
Cumprimentos,
José Manuel Oliveira.
De acordo com a Bíblia, o povo de Israel é o povo escolhido por Deus.
Deus apresenta-se, na história, como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Deus não é uma abstração, antes se apresenta na história de forma muito concreta, ligado a nomes e locais claramente identificados na história e na geografia.
Na Bíblia, Deus diz que fará de Israel um povo sábio e inteligente, dominador e que emprestará dinheiro às nações. Os milénios posteriores corroboram inteiramente estas afirmações bíblicas sobre os judeus.
O atomismo é uma forma de materialismo e de evolucionismo. O mesmo é tão antigo como Babel, tendo aí a sua origem. Encontramos atomistas no pensamento grego, como é o caso de Epicuro. O naturalismo grego inclui ainda autores como Tales de Mileto ou Protágoras, entre outros.
O atomismo e o naturalismo são claramente contrários à revelação divina, que ensina que o Universo foi criado por Deus de forma sobrenatural, racional, ordenada e quase instantânea, como um complexo totalmente integrado e sintonizado para a vida.
No entanto, a Bíblia também é incompatível com a sua reinterpretação à luz de Aristóteles ou Platão. O problema da Igreja Católica foi ceder à tentativa do compromisso com a “ciência” do seu tempo.
O resultado foi desastroso, como hoje é desastrosas a tentativa de reinterpretar a Bíblia à luz de Darwin, Dawkins ou da teoria do Big Bang.
Copérnico e Galileu foram hostilizados pelo Papa e pela comunidade científica do seu tempo, não por porem em causa a Bíblia, mas por porem em causa o modelo aristotélico-ptolemaico.
Caro Jónatas Machado:
Poderia pelo menos arranjar comentários novos, em vez de copiar passagens do seu artigo...
Cumprimentos,
José Oliveira.
Caro José Oliveira:
Isso é impossível. O anónimo Jónatas Machado não pode arranjar comentários novos, limita-se a fazer copy&paste da sua apologética e a fazer, às vezes as adaptações necessárias.
Para além da barraca pseudo-científica que sai, sai barraca histórica, como dizer que o papa Urbano VIII, Maffeo Barberini o grande amigo de Galileu o hostilizou :))
Mas é giro ver que além de criacionista o Jónatas é anti-atomismo :)))
A religião faz mesmo mal aos neurónios dos fanáticos!
Renato Descartes??
A mim o que faz impressão é Isaac Cardoso achar que ser obrigado a viver num ghetto é liberdade e estar tão agradecido aos venezianos.
Mais que o rol dos horrores da Igreja católica contra os judeus, considerar ser-se livre por viver num ghetto dá ideia o que era ser-se judeu na altura em que a Igreja tinha poder!
Veneza estava em guerra com o papado que queria anexar a república de Veneza nos estados pontificios se calhar por isso não tinha embarcado na perseguição desenfreada aos judeus doutros estados católicos.
Não consigo perceber como alguém com um mínimo de educação consegue papaguear os disparates patéticos que o Jónatas aqui despeja! Será que desligam os miolos e ligam a k7?
Este “post” cai num erro de informação (por omissão) que não sei a que causas atribuir. Nem me preocupo com isto. Mas preocupo-me com a falta de rigor científico de alguns artigos aqui apresentados, porque o “blog” tem uma credibilidade que deve respeitar. E, quando se encontram falhas naquilo que já sabemos, a tendência é desconfiar do que não conhecemos.
A referência ao atomismo é feita como se se tratasse de um movimento contínuo, como se o átomo dos filósofos gregos fosse o mesmo da Idade Moderna. Onde está a distinção entre o conceito filosófico do átomo e o da física? É que, entre um e outro, há uma distância muito grande, de tal modo que só o nome se mantém. Nem se explica que atomismo negavam os jesuítas, nem se refere os jesuítas que não negaram o atomismo científico, nem os oratorianos que aceitaram este, nem as voltas que a ideia de átomo deu, passando por exemplo pelas mónadas de Leibniz.
Desgraçadamente, embora para o conceito filosófico a palavra estivesse correcta, o átomo não é indivisível, como o seu nome grego faria supor. Oppenheimer demonstrou-o na prática...
Lá continua o Daniel de Sá com contorções e acusações sem sentido para defender a sua dama!
Ou o devoto ex-padre devido à já avançada idade tem problemas de leitura ou então está numa de Jónatas Machado a pensar que está a falar para os membros da congregação!
Não sei se já reparou que os posts anteriores sobre atomismo explicam o que o Daniel de dedo em riste acusa de falta de rigor científico e que tais.
Eu copio do Filosofia da química e atomismo;
Isto é, a química estabeleceu-se depois de as «guerras» do atomismo terem sido travadas e os principais obstáculos – teológicos, experimentais e teóricos – terem sido ultrapassados pela física e pela filosofia. No início do século XVII, o atomismo era uma filosofia proscrita, uma explicação ateísta que ameaçava a visão escolástica do mundo e como tal era devidamente condenada (em França, por exemplo, o atomismo foi proibido em 1624 e a sua defesa era merecedora da pena de morte). No século XVIII a constituição atómica da matéria era já uma hipótese «conservadora»
E eu a pensar que tinha sido JJ Thomsom a demosntrar que o átomo não é indivisível quando descobriu o electrão :)) Os meus professores de Física da FCUL deviam ter umas lições com o Daniel de Sá para perceber o que é rigor científico :))))
PS: Não estará a falar no núcleo???
A mim o que me faz confusão é a ignorância total de ciência dos fundamentalistas de qualquer religião, católicos e evangélicos!
Todos eles pensam que a ciência é estática como a religião deles pretende ser (o catolicismo abandonou a doutrina da transubstanciação, a condenação dos direitos humanos, da democracia, abandonou o anti-judaísmo, et., et., etc., etc.,)
Esta do Daniel de Sá "A referência ao atomismo é feita como se se tratasse de um movimento contínuo, como se o átomo dos filósofos gregos fosse o mesmo da Idade Moderna. Onde está a distinção entre o conceito filosófico do átomo e o da física?"
é de um ignorante total de ciência! ignora completamente que ainda hoje se fala da física/filosofia de Newton, embora a mecânica actual esteja a milhas da mecânicaa de Newton! Não brada aos céus por se omitir a distinção entre os conceitos filosóficos de Newton e a Física actual?
Há uma coisa que se chama progresso, evolução da ciência. Entre a evolução de Darwin e a evolução actual só o nome se mantém e há muita gente que continua a chamar-nos darwinistas :)
Se o Daniel acha que a Igreja tinha montes de razão em mandar para a fogueira quem defendia as filosofias ou ciências "erradas" esteja à vontade. Não nos mande poeira para os olhos que não está a falar com miúdos da catequese!
Mesmo a propósito das manobras dos "cruzados" contra a ciência:
Wells on Moths: A Case Study In Misrepresentation
Michael Majerus has spent countless hours conducting research on the Peppered Moth (Biston betularia). He's observed them in the field, bred them in the lab, watched them get eaten by things, kept careful count of the things that he's seen, and, recently, given a talk about his findings. Jonathan Wells has spent, to the best of my knowledge, absolutely no time doing any actual research on natural selection or moths, but that certainly didn't stop him from launching a full-throated attack on Majerus.
In this attack, Wells manages to misrepresent a lot of things. This should come as no surprise to those of you who have followed his work in the past, of course. Wells vendetta against all things evolutionary might be a mission from God, but his tactics are hardly heavenly. A Jonathan Wells essay that lies about something is hardly news, and it wouldn't ordinarily be something that I'd write about. In this case, though, I'm going to make an exception. I simply can't abide seeing good science and good scientists maligned by a two-bit hack with a defective moral compass.
two-bit hack with a defective moral compass lembrou-me alguém :)
Se há aqui alguém que não sabe ler, penso que não sou eu. O que escvrevi foi isto:
"Desgraçadamente, embora para o conceito filosófico a palavra estivesse correcta, o átomo não é indivisível, como o seu nome grego faria supor. Oppenheimer demonstrou-o na prática... "
Daniel de Sá:
Prontos, já vi que é uma de Jónatas Machado: fique lá na sua que J. Robert Oppenheimer, o director do Manhattan Project e o pai da bomba atómica foi quem demonstrou na prática que o átomo é divisível :)))))
Eu continua na minha que se calhar em vez de átomo queria dizer núcleo...
Joana
Tem todo o direito de tentar ridicularizar-me, mas não abuse, por favor. Ou pensa que me passou despercebida até hoje a designação do processo que conduziu à bomba atómica, a de fissão nuclear? Ou do que acontece nas estrelas, a de fusão nuclear? Não percebeu, ou não quis perceber, que se tratou de uma referência à mais dramática das negações do conceito de átomo de Demócrito e de outros filósofos gregos? Será que aqui não se pode falar em linguagem menos directa? O caso ridículo da interpretação dada ao comentário do António Parente acerca do Pai Natal foi um exemplo da vontade de não entender de alguns frequentadores do "blog". Ou será que só posso contar, para ser entendido quando houver segundos sentidos no que escrevo, com o Antóno Parente, o Rui Baptista e poucos mais? Estou convencido de que foram estas posições de inflexibilidade mental que levaram ao desaparecimento do Alef e à raridade das visitas do Zalmoxis, dois comentadores que valia a pena ler. (Note que estou a falar de dois espíritos de ideias completamente opostas.) Mas já sei que tudo o que escreva aqui será sempre visto como uma defesa obscurantista da Igreja Católica. A tentativa constante de ridicularização dos meus comentários já cansa. E depois, se eu digo que não tenho paciência para isto, sou acusado de impositor de ideias. Vocês querem é vítimas pacientes para o seu sadismo de indelicadezas constantes. Saciem-se, se tal lhes dá gozo. Chamem ignorantes a quem lhes apetecer. O vosso juízo não aumenta nem diminui o grau da minha ignorância. Mas que me acusem de ser ignorante ao menos quando tiverem a certeza de que têm razão. Não foi este o caso.
Boa noite.
Daniel
ò Daniel de Sá:
Não me diga que amuou outra vez? Então um ex-padre vem para aqui armar-se ao pingarelho a ulular contra falta de precisão científica, dá calinadas científicas dessas e depois amua porque lhe explicam que são calinadas? É como o gajo do calhau criacionista que pode insultar os cientistas à vontade mas é um crime de lesa majestade dizer que as tretas dele são tretas?
Foi só por acaso, para variar, que o Daniel de Sá insulta os postantes num artigo que ele vê como um ataque à sua ICAR. Que por acaso explica timtim por timtim porque é que a Igreja católica era contra o atomismo, e quem saiba ler vê que não eram objecções "filosóficas"
António Parente
Terei muito gosto em que conversemos em correio particular, porque sei que terei em si um interlocutor inteligente, capaz de entender a ironia. Que, como diz o meu amigo Fernando Venâncio, não é o forte dos portugueses. E, pelos vistos, das portuguesas também.
Pode usar, se tiver a paciência de me escrever, o seguinte endereço:
daniel.de.sa@oninet.pt
Joana
Para acabar de uma vez por todas. Se eu tivesse escrito que Oppenheimer usou pela primeira vez com sentido prático a possibilidade de divisão do átomo, teria sido entendido? Ou você, Joana, continua mesmo convencida de que eu sou parvo? E que nunca percebi o que quer dizer "energia nuclear"? Não amuei, não gosto é de ser voluntariamente mal interpretado. E, para sua informação, não sou ex-padre. Mas, se o fosse, não teria nenhuma vergonha de o ser.
Daniel
Daniel de Sá:
Veja lá se entende por uma vez por todas: tem todo o direito para defender a ICAR, a transubstanciação, as fogueiras de hereges e o que lhe apetecer. A forma como faz essa defesa dita a forma como lhe respondem.
Como é que o Daniel de Sá faz essa defesa: treslê os outros, insulta veladamente, faz insinuações maliciosas, acusa os outros de desonestidade, mentiras, falta de rigor e que tais sem apresentar justificações. Se não sabe jogar limpo tem de aprender a aguentar-se às broncas!
Acusar os outros de mentirosos (como foi com aquela da pedofilia e do catequismo e depois quando viu que não tinha razão, amuou e meteu a viola no saco), desconversar, amuar ou produzir lençóis de cristianovitimização e patéticos argumentos de autoridade - que é escritor com não sei quantos livros, que esteve no governo que conhece não sei quanta gente importante e o resto da converseta da treta não é aguentar-se à bronca :)))
Bem me parecia que a Joana estava a confundir-me com outro. É que eu nunca neguei aqui que houvesse padres pedófilos, penso mesmo que nunca referi sequer o assunto. Mas Portugal vai no bom caminho com gente culta como a Joana. E tolerante. Eu sei que só eu é que insultei. Veladamente, claro. A interpretação é sua, do género desta da cisão do núcleo do átomo. Que, a julgar pelo que a Joana diz, parece que pode ser feita sem cindir o próprio átomo.
Deixo-lhe um soneto satírico, que é coisa que escrevo quando estou aborrecido, sobretudo quando o Sporting perde. Este é em louvor do progresso em Portugal.
Progresso
(A propósito de uma crónica de António Barreto,
que ironizou com o facto de faltar tudo à escola
de Medrões, menos a banda larga.)
Somos de pura raça lusitana,
De indómita firmeza e dócil trato,
Herdeiros de um incerto Viriato
Que nunca andou aquém do Guadiana.
Damos a lã, para comprarmos “lana”,
Vendemos a cortiça ao desbarato,
E até produz mais fogo o nosso mato
Do que oxigénio o arvoredo emana.
Mas se nos incomoda, acaso, a vida,
E se nos pesa muito qualquer carga,
Basta alijá-la logo na subida.
Já ninguém usa lança nem adarga,
Os burros são espécie protegida,
E a escola de Medrões tem banda larga.
Comentário 16 de Agosto de 2007 21:39 no post Será razoável acreditar em deuses sem provas?
Daniel de Sá disse...
Joana, o catecismo é o mesmo mas foi revisto. Quanto a isso de excomungar quem denuncie os padres pedófilos é falso.
Justificações: nicles. Quando viu que tinha metido a pata na poça, que o que eu disse é verdade, viola no saco seguida de amuo, acusações, insinuações, argumentos patéticos de autoridade, the lot :)))
Esta parte então é um mimo :)))))) Além disso, Medeiros Ferreira teve uma expressão verdadeiramente inspirada que não esquecerei. Disse que o padre Manuel Antunes não usava o saber como opressão. Temo que essa tenha sido a minha postura, embora inconscientemente e com resultados nulos, felizmente. Mas temo igualmente que seja isso que pretendem, talvez sem intenção, muitos dos outros comentadores e, com frequência, os autores do blog.
A Joana disse:
"Acusar os outros de mentirosos (como foi com aquela da pedofilia e do catequismo e depois quando viu que não tinha razão, amuou e meteu a viola no saco), desconversar, amuar ou produzir lençóis de cristianovitimização"
Eu respondi:
"É que eu nunca neguei aqui que houvesse padres pedófilos, penso mesmo que nunca referi sequer o assunto."
A Joana citou-me com isto para provar que tinha razão:
"Joana, o catecismo é o mesmo mas foi revisto. Quanto a isso de excomungar quem denuncie os padres pedófilos é falso."
E eu mantenho que é falso. Digo mais, trata-se de uma acusação ridícula, a roçar a demência.
Pode chamar mil vezes "amuo" à minha retirada deste diálogo de surdos, que não me comove. A sua teimosia em fingir que não entendia o que eu queria dizer com o exemplo da bomba atómica deu-me cabo do resto da paciência. Uma análise psicológica à sequência dos seus comentarios decerto não lhe seria muito favorável. Concluiria tratar-se, sem dúvida, de uma pessoa mal intencionada. Não estou disposto a manter o espectáculo.
Aquela da "cristianovitimização" é uma conclusão sua. Não quer ou não consegue ver as coisas de outra maneira. Tenho quase a certeza de que se a Joana vivesse no século XVI estaria na primeira fila da assistência aos autos-de-fé, que tanto gosta de lembrar. Convencida de que procedia bem. O seu ódio às ideias dos outros, que se confunde com ódio aos próprios, justifica esta minha afirmação.
Só respeito uma espécie de pessoas: todas. E a prova é que nunca lhe devolvi o insulto mais grave que me atirou, nem nenhum dos outros. Continue a falar como quiser. Eu é que não estou disposto a satisfazer os seus caprichos capciosos.
Passe bem. Fale sozinha, se gosta disso. Mas note que cada vez mais vai perdendo gente com paciência para a aturar.
Um bom dia para si.
Daniel
Mais um comentário para a estatística do blog. Apenas para dizer que "comentários" me ficou sem o acento. E talvez haja mais alguma gralha. E isso aborrece-me mais do que toda a veemência niilista da Joana.
Factor UAU:
Adoro, adoro, adoro esta:
Tenho quase a certeza de que se a Joana vivesse no século XVI estaria na primeira fila da assistência aos autos-de-fé, que tanto gosta de lembrar. Convencida de que procedia bem. O seu ódio às ideias dos outros, que se confunde com ódio aos próprios,
Dá-me ideia que o Daniel de Sá, que nunca insulta ninguém e respeita sempre os outros fez uma excelente auto-análise :)))
Eu só lhe pedi para me explicar um seu comentário mas a alusão à excomunhão pressupõe o dogma. explicando qual é o dogma quebrado para uma igreja que não condena a pena de morte (parágrafo 2267 do Novo Catecismo da Igreja Católica, em vigor desde 8 de Dezembro de 1992, que continua na revisão de 1997, data em que saiu a versão em latim, que serve de modelo para todas as traduções do catecismo),nem a legítima defesa excomungue automaticamente todos os envolvidos em aborto, mesmo em legítima defesa - caso de perigo de vida da mulher.
Ou qual o dogma quebrado pelos padres ou outros exclesiásticos que denunciem às autoridades civis crimes de pedofilia cometidos por colegas. Que são ameaçados de excomunhão. Eu e o João Paulo deixámos kilos de provas disso.
O documento de Ratzinger que ordena que todos os casos de abuso sexual de menores por padres são:
'Cases of this kind are subject to the pontifical secret,' Ratzinger's letter concludes. Breaching the pontifical secret at any time while the 10-year jurisdiction order is operating carries penalties, including the threat of excommunication."
O João Paulo deixou um link para o documentário da BBC «Sex Crimes and the Vatican» acrescentou
«O Crimen Sollicitationis foi escrito em 1962 e distribuído aos bispos que foram instruídos a guardá-lo em completo segredo nos cofres da cúria. (aqui pdf em inglês).
O documento impõe um voto de segredo à criança violada, ao padre pedófilo, aos padres ou bispos que tratem do caso e a todas as testemunhas. Quebrar o voto de silêncio dá direito a excomunhão.»
O Daniel de Sá acha que eu estou a mentir, que estou a roçar a demência (sem nunca me insultar, but of course), que tenho caprichos capciosos com veemência nihilista porque sim :))))
Porque o Daniel de Sá ignora as verdades incómodas sobre a sua Igreja, por isso ficou tão incomodado com este post, e prefere viver num mundo de faz de conta.
Quanto a isso dos nicks o António Parente é o expert. Ninguém se esquece das dezenas de nicks que usava para insultar tudo e todos e auto-elogiar-se.
Só não sei se o tal dirigente que B16 é suposto ter afastado é o padre Maciel Degollado.
Porque B16 não o afastou: passou uma esponja por cima de décadas de abusos sexuais e «a Congregação para a Doutrina da Fé, sob a orientação do novo Prefeito, Cardeal William Levada, decidiu - tendo em conta a idade avançada do Pe. Maciel, bem como a sua precária saúde - renunciar a um processo canónico e convidar o Padre a uma vida reservada de oração e penitência, renunciando a qualquer ministério público».Acrescentando que «O Santo Padre aprovou estas decisões».
O padre pedófilo, uma «máquina» de angariação de fundos para a Igreja de Roma, e as organizações que fundou, a Congregação dos Legionários de Cristo e o Movimento Regnum Christi, agradeceram o favor!
Mais informações sobre Maciel Degollado:
Dossier no RegainNet
Church Sex Abuse Scandal Heats Up in Mexico, Too
Carta abierta enviada al papa Juan Pablo II, en noviembre de 1997, por ocho ex miembros de los Legionarios de Cristo que acusan a su fundador, Marcial Maciel, de haber abusado sexualmente de ellos cuando eran adolescentes.
Sex-related case blocked in Vatican
Priest facing sex abuse charges greets pope
Acusadores de Maciel denuncian provocación de Legionarios de Cristo
National Catholic Reporter recensão do livro VOWS OF SILENCE:
THE ABUSE OF POWER IN THE PAPACY OF JOHN PAUL II
Ó António Parente:
Não nos faça rir :)))) Usei apenas um nick em toda a minha vida. então o João Dias, o três pontinhos e não sei mais quantas carradas de nicks eram o quê? Você mesmo o admitiu nas caixas de comentários do DA e nestas, dizendo que tinha sido uma fase que já ultrapassara.
Quanto ao tornar a caixa de comentários num inferno toda a gente que o conheça doutras caixas de comentários sabe que o António Parente é mais que competente para isso :))) O seu domínio da arte de bem insultar todos os ateus com tantos nicks quantos forem necessários é sobejamente conhecido. Para além das promessas que não comenta mais e reincide sempre. Aqui já prometeu não comentar que me lembre duas vezes. No blog do Ludwig e no DA houve fases em que o fazia todos os dias :)
Parece-me é que alguns dos termos favoritos do António Parente não serão permitidos neste blog. Os "donos" do blog apagam todos os insultos favoritos do AP :)
E não se esqueça que a Palmira o conhece bem :) Lembro-me de fases em que ela tinha de apagar insultos seus a tudo e todos à velocidade de muitas dezenas por dia :)
Caros Joana e António Parente:
Peço a ambos para não transformarem este espaço que se quer de debate num espaço de combate. Assim, peço respectivamente a ambos:
Joana, por favor não entres em diálogo com o António Parente. Já devias saber o que resulta.
António Parente: Peço-lhe, por favor, que se lembre das inúmeras promessas que me fez de não reincidir em comportamentos do passado. Peço-lhe igualmente por favor que não tente boicotar este espaço supostamente de debate. Sabe igualmente o que quero dizer com isto assim como sabe qual será a minha reacção se o tentar.
Meu caro António Parente:
Para terminar o assunto que agradecia não fosse retomado: o carissimo pode comentar os posts que quiser como lhe apetecer. Como sabe perfeitamente, nunca lhe apagámos um comentário. O caro é que apagou vários dos seus próprios comentários. Não pode boicotar este espaço nem transformá-lo num «inferno». Ponto.
Volto a relembrá-lo que sabe perfeitamente o que estou a dizer, esta é uma «conversa» que já mantivémos mais vezes do que gostaria.
Pode continuar com as acusações de que fazemos «um ataque profundamente fanático e extremista em relação ao Cristianismo, em geral, e à Igreja Católica em particular» nos posts sobre história da ciência, seja química, biologia, medicina ou física. Se considera que há factos que não devem ser mencionados, é a sua opinião, tem todo o direito de a exprimir.
Não estou a ver como o post sobre o Miguel Bombarda ou este possa ser assim catalogado mas essa é a minha opinião, que espero conceda tenho o direito de ter.
Irei continuar com a história e evolução do atomismo, como referi central na química, e se o António Parente achar que falar em Gassendi ou afins é um ataque à religião comente como quiser.
Em relação à Rita e Joana (nunca vi o João Paulo entrar em diálogo consigo, se o fez endereço-lhe também o pedido) peço de novo a ambas, como já o fiz inúmeras vezes, para ignorarem os comentários do António Parente.
A mim continua a fazer-me impressão várias coisas:
1- A habilidade camaleónica de muitos em alternar os modos deísta e católico quando dá jeito. Parece que mudam de religião totalmente. No modo deísta não concordam com a posição da Igreja em relação à pena de morte, divórcio, contraceptivos, etc.. Quando ligam o modo católico, a apresentação de factos históricos ou outros é mandar lama para cima de milhões de católicos.
Embora seja divertido de observar faz-me imensa impressão.
2- Retornando ao post e às críticas duras do Daniel de Sá e à falta de rigor científico. A Palmira só se enganou numa coisa: a transubstanciação não é uma doutrina: é um dogma!
Faz-me confusão alguém dizer que é um erro não distinguir o atomismo filosófico e científico do século XVI e XVII. Ciência e filosofia eram a mesma coisa, a ciência era a filosofia natural depois é que se separou.
Depois, o problema da transubstanciação, a principal objecção da ICAR ao atomismo. A Igreja Católica diz que na missa o padre faz um milagre e transforma a essência e substância do pão e do vinho. O atomismo, científico e filosófico, diz que isso é impossível.
A Joana também se enganou: a ICAR não deixou cair a transubstanciação, que continua central à religião católica. A ICAR agora diz que a transubstanciação é um mistério da fé (Mysterium Fidei, encíclica de paulo VI de 3 de Setembro de 1965).
Acho excelente que agora passe a mistério; antes isso que a posição dos criacionistas e a negação do atomismo. Só acho mal o Daniel negar que antes de passar a mistério tenha tido uma explicação oficial "científica" que a ICAR tentou manter perseguindo os cientistas que mostraram por A+B que a explicação da ICAR era cientificamente impossível!
PS: Não era preciso o pedido da Palmira sobre o Parente. Ateus nos valham se mais alguma vez entrava em diálogo com ele!
Estou agradecida aos promotores deste blogue por nos permitirem ver até que ponto a intolerância fundamentalista ainda reina em Portugal. Simplesmente, deixam que se fale de mais nada, além de religião! Pecando por na minha língua, neste momento, só me ocorrer também uma fraseologia religiosa (e «peco» apenas relativamente à língua que é minha, e que deveria permitir aos seus falantes - criativamente! - muito mais possibilidades..., deixem-me, por um momento, desabafar: isto é, realmente, de bradar aos céus!
Adelaide Chichorro Ferreira
Divisibilidade do átomo
1897 - Sir Joseph John Thomson
descobre o electrão, Nobel em 1906
1911 - Rutherford descobre o núcleo
1920 - protão baptizado
1932 - James Chadwick descobre o neutrão (Nobel em 1935)
1933 - Carl David Anderson descobre o positrão (Nobel em 1936)
1939 - Descoberta da fissão nuclear por Otto Hahn e Fritz Strassmann.
1942 - Primeira reacção nuclear em cadeia controlada conseguida por Enrico Fermi (Nobel em 1938 - for his demonstrations of the existence of new radioactive elements produced by neutron irradiation, and for his related discovery of nuclear reactions brought about by slow neutrons).
1945 - Bomba atómica
Já se sabia desde o século XIX que o átomo era divisível! Já se sabia antes de Oppenheimer que o núcleo era divisível!
Corrijo-me: é que faltava um «não» e um parêntese, obviamente, no que escrevi acima! Retomo-o, já corrigido (mas tinha a minha malta a chamar-me para sair...):
«Estou agradecida aos promotores deste blogue por nos permitirem ver até que ponto a intolerância fundamentalista ainda reina em Portugal. Simplesmente, não deixam que se fale de mais nada, além de religião! Pecando por na minha língua, neste momento, só me ocorrer também uma fraseologia religiosa (e «peco» apenas relativamente à língua que é minha, e que deveria permitir aos seus falantes - criativamente! - muito mais possibilidades...), deixem-me, por um momento, desabafar: isto é, realmente, de bradar aos céus!»
Adelaide Chichorro Ferreira
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