quarta-feira, 25 de novembro de 2020

THORNE E OS BURACOS NEGROS


Meu artigo  no jornal I da semana passada:

Kip Thorne (n. 1940) é um físico teórico norte-americano que, com dois colegas seus experimentalistas, Rainer Weiss e Barry Barish, ganhou o Prémio Nobel da Física de 2017, a somar-se a um conjunto de outras distinções (foi também laureado com a medalha Einstein em 2009 e com o Prémio Princesa das Astúrias de 2017 em Investigação Científica e Técnica). A sua cátedra no mundialmente famoso Instituto de Tecnologia da Califórnia, vulgo Caltech, em Los Angeles, nos Estados Unidos, tem o nome de Richard Feynman, o genial físico (Nobel da Física em 1965) e também grande brincalhão (ver Está a brincar, Sr. Feynman!, Gradiva, 1998) que aí foi professor. A sua especialidade é a gravitação, que é muito bem descrita pela teoria da relatividade geral de Einstein, e o seu objecto de estudo preferido são os buracos negros, esses “abismos” do espaço e do tempo onde um e outro colapsam. O seu prémio Nobel foi ganho por ter realizado, com a sua equipa do Caltech, cálculos computacionais muito sofisticados que provaram que as ondas gravitacionais detectadas pela primeira vez na Terra em 2015 pelo Observatório LIGO eram devidos ao choque de dois gigantescos buracos negros. Os buracos negros continuam na moda: o prémio Nobel da Física deste ano foi atribuído a três físicos que estudam buracos negros, o físico teórico britânico Roger Penrose e os astrofísicos Reinhard Genzel, alemão, e Andrea Ghez, norte-americana (a quarta mulher a receber o prémio Nobel da Física em toda a história!). No ano de 2009, quando tinha 69 anos (oito anos antes de obter o Nobel), Thorne passou a professor emérito, passando a dedicar-se a tempo inteiro à escrita para o público em geral e à produção de filmes de grande audiência. É curioso ver um físico que trabalhava perto de Hollywood passar a trabalhar para Hollywood!

Thorne fez uma extraordinária carreira em Física antes de se jubilar: foi autor do grande “tijolo” com mais de mil páginas que é a referência na sua área e um dos mais célebres livros de ciência de todos os tempos (Gravitation, Princeton, 1973; em coautoria com Charles Misner e John Wheeler, o seu supervisor de doutoramento e o alegado autor da expressão “buraco negro”). Thorne orientou o doutoramento de cerca de 50 estudantes, alguns dos quais famosos por terem sido também escritores (Alan Lightman, o autor de Os Sonhos de Einstein, Edições Asa, 1994; e Clifford Will, o autor de Einstein Tinha Razão?, Gradiva, 2005).

Mas Thorne é mais conhecido do público pelas suas participações em projectos cinematográficos. No cinema ficou lendária a sua sugestão de buracos de minhoca ao seu amigo Carl Sagan que queria tornar plausível uma viagem no tempo no filme Contacto (dirigido por Robert Zemeckis, estreado em 1997, com Jodie Foster no principal papel), que tem por base no romance homónimo (Gradiva, 1997) do astrofísico norte-americano. Em A Teoria de Tudo, a biografia cinematográfica de Stephen Hawking (película dirigida por James Marsh, estreado em 2014, com Eddie Redmayne e Felicity Jones), Thorne surge representado pelo actor Enzo Cilenti. Mas a sua coroa de glória foi o filme Interstellar (dirigido por Christopher Nolan, estreado em 2014, com Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Matt Damon e Michael Caine), um blockbuster de ficção científica, no qual participou como incansável conselheiro científico. O filme foi um grande êxito de bilheteira e obteve um Óscar de Hollywood para o filme com melhores efeitos visuais.

O único livro de Thorne para não especialistas era até 2014 Black Holes and Time Warps: Einstein’s Outrageus Legacy (Norton, 1995), com prefácio de Stephen Hawking, que foi não só colega como amigo do autor,. Esse livro não foi traduzido em português apesar do seu enorme êxito em todo o mundo.

Acaba de sair em português o livro A Ciência de Interstellar, de Kip Thorne, cuja edição original surgiu em 2014 por altura da estreia do filme. O prólogo é do renomado realizador britânico Christopher Nollan, o mesmo de Memento, Batman - O Início, O Cavaleiro das Trevas, O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Dunquerque e, já este ano, Tenet. Com o selo da Relógio d’Água e integrado na colecção de Ciência dessa editora, o livro é impresso em papel de boa qualidade e inclui diversos gráficos e fotografias a cores. A tradução de Rita Carvalho e Guerra não foi bem revista cientificamente: por exemplo, “momento angular” foi traduzido por “impulso angular”. Embora contenha bastantes spoilers sobre o enredo do filme, penso que isso não constitui qualquer obstáculo à leitura do livro pois muita gente já viu o filme e quem não viu pode dispor facilmente do DVD, ou aceder a ele numa plataforma digital, e vê-lo ou revê-lo antes de ler o livro. Os leitores vão, com este, aprender bastante sobre a ciência que está subjacente ao filme.

Thorne conta-nos logo no início a história da sua participação no filme. Tudo começou em 1980 quando, convidado para a estreia da série televisiva Cosmos, de Sagan, conheceu uma produtora nova-iorquina Lynda Obst, recomendada pelo seu amigo. Os dois viveram um romance, que terminou ao fim de uns anos, ficando amigos (entretanto Thorne casou-se com Carolee Winstein, professora de Biocinesiologia e Terapia Física na Universidade da Califórnia – Los Angeles). Em 2005, Lynda, num jantar, propôs a Thorne fazerem um filme de ficção científica, já que ambos tinham participado em Contacto. Lynda tinha sido produtora de Flashdance e de Como Perder um Homem em Dez Dias. Foi o início do projecto de Interstellar, que haveria de conhecer muitas peripécias. A redacção do guião demorou anos, assim como a sua produção. O guião começou por ser escrito por Jonathan Nolan. O realizador esteve para ser Steven Spielberg, o que não aconteceu por incompatibilidades comerciais, ficando a realização a cargo de Christopher Nolan, irmão mais velho do guionista. O filme resultou de uma colaboração inesperada entre a Paramount e a Warner Bros, duas empresas rivais. E o elenco foi de luxo, com os grandes nomes que aparecem no livro em fotografias ao lado de Thorne.

Não vou revelar muito sobre o filme: ou os leitores já sabem o enredo ou gostarão de o descobrir por si próprios. Vejam-no se ainda não o viram e desfrutem depois da física explicada no livro. Revelo apenas que a história envolve uma viagem a um grande buraco negro, chamado Gargântua (em homenagem a Rabelais), no qual os astronautas conseguem penetrar. Chegam a Gargântua atravessando um buraco de minhoca (o livro fala em wormholes, não traduzindo o termo) cuja boca se situa perto de Saturno. A tripulação da nave, a Endurance, é formada por Joseph Cooper (Matthew McConaughey), ex-piloto da NASA; pela bióloga Amelia (Anne Hathaway), filha do professor John Brand (Michael Caine), que trabalha para a NASA; dois físicos; e dois robôs.

Thorne, que dividiu o livro em oito capítulos (Fundamentos, Gargântua, Desastre na Terra, O Wormhole, Explorando as Redondezas da Gargântua, Física Extrema, e Clímax) deixou nele marcas assinalando aquilo que é verdade, alicerçada cientificamente, daquilo que é especulação fundamentada e daquilo que não passa de simples especulação. Embora em poucas ocasiões, aceitou a introdução de alguns elementos necessários à trama que não eram verdadeiros: por exemplo, um personagem diz a certa altura que o buraco negro engole tudo à sua volta. Mas não, ele pode ter astros a gravitar em seu redor, tal como existem planetas a gravitar em torno de uma estrela. Alguns buracos negros resultam precisamente da explosão de uma estrela. Mas, assegura-nos Thorne, o filme é o mais realista possível!

A motivação para a colaboração no filme e para a escrita deste seu livro está logo no  prefácio do autor: “Quando era criança, e mais tarde enquanto adolescente, fui motivado a tornar-me cientista ao ler a ficção científica de Isaac Asimov, Robert Heinlein, e outros, e os livros de divulgação científica de Asimov e do físico George Gamow. Devo-lhes tanto. Há muito queria pagar a dívida transmitindo a sua mensagem à geração seguinte; aliciando tanto os jovens quanto os adultos para o mundo da ciência a sério; explicando aos não-cientistas como funciona a ciência, e que grande poder traz a cada um de nós enquanto indivíduo, à nossa civilização, e à raça humana. O filme de Christopher Nolan, Interstellar, é o mensageiro ideal. Eu tive a sorte (e foi sorte) de estar envolvido em Interstellar desde o início. Ajudei Nolan e os outros a incluírem ciência a sério no tecido do filme”.

Se ficarem entusiasmados pelo tema, os leitores ganharão sempre em ler outros livros sobre buracos negros. Entre os mais recentes em português saliento O Pequeno Livro dos Buracos Negros, de Steven Gubser e Frans Pretorius (Gradiva, 2020), e Buracos Negros. As Palestras Reith da BBC, de Stephen Hawking (Bertrand, 2020). Para quem quiser ver como os buracos negros podem ser metáforas na ficção, recomendo o conto que dá o título á colectânea Buracos Negros, do argentino Lázaro Covadlo (90º Editora, 2009), em que há atracções físicas fatais. Os buracos negros são lugares reais no Cosmos e são também, na literatura, aliciantes metáforas…

 

 

 

Marcelo Gleiser - Teoria vs Prática

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O DAVID MARÇAL ESTÁ NUM NOVO LINK (VER ABAIXO). PEDIMOS DESCULPA


12º Aniversário do Rómulo (online)

[Pedimos desculpa pelo incómodo (derivado a questões técnicas) e enviamos novo link da sessão ]


Às 18h realiza-se a apresentação do mais recente livro de divulgação científica publicado pela Gradiva em Novembro de 2020 "Apanhados pelo vírus: factos e mitos acerca da COVID-19" com os autores da obra, o bioquímico David Marçal e o físico Carlos Fiolhais.




Sinopse do livro:
Fomos todos apanhados pelo vírus. Não apenas os infectados com o SARS-CoV-2, mas também a multidão que viu o seu quotidiano virado do aves­so de um dia para o outro. Muito se disse e desdisse.
As próprias autoridades de saúde, que inicialmen­te desaconselharam o uso de máscaras, pouco depois tornaram-nas obrigatórias. Os teóricos da conspiração fizeram prova de vida, espalhando os mais incríveis disparates, como a associação do vírus às radiações 5G. À pandemia da COVID-19 juntou-se uma infode­mia: ficámos inundados de desinformação.
A primeira parte deste livro expõe resumidamente não só o que realmente já se sabe, à luz da ciência, mas também as dúvidas que ainda persistem. Na segun­da contradizem-se ideias erradas que têm circulado acerca do novo coronavírus – algumas mais absurdas do que outras. Na última encontra-se um «guia» para acompanhar a ciência em directo, pois as dúvidas e o debate dos cientistas no espaço público poderão cau­sar alguma confusão ao público.
O livro termina com a palavra esperança.


Participe! Junte-se a nós!

RÓMULO - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra
Divulgação de Eventos
Departamento de Física da FCTUC 
Rua Larga
3004-516 Coimbra
Telefone: 239 410 699

AINDA O CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA


Em relação ao meu "post", aqui publicado ontem, o "Congresso do Partido Comunista”, agendado para este fim de semana, deparei-me com uma declaração de António Costa, avocando a Constituição Portuguesa para afirmar que o Governo não  o pode proibir .

Sem nos dizer quais os constitucionalistas  consultados que, por vezes, são ouvidos por dá cá aquela palha, evoca uma legislação com 34 anos, isto é,  sem ter em conta que essa determinação não poderia prever o assassinato em massa de nacionais nas garras impiedosas de uma maldita  pandemia: o corona vírus.

Opinião contrária tem Rui Rio, presidente do Partido Social Democrático,  que é formado em Economia,  mas que  terá  no seu gabinete quem o aconselhe em circunstâncias que não abrigam na sua formação académica. Por seu lado,  António Costa, embora formado em  Direito, tem feito a sua vida profissional em corredores da política e da vida autárquica.

Perante este impasse criado pelo PCP, que não brinca em serviço, não seria conveniente fazer uma reunião, de elevada urgência, com constitucionalista de renome que não estejam ligados ao PS e ao PCP? É o mínimo que os cidadãos podem exigir por se tratar de um gravíssimo caso de Saúde Pública, como tal,   de emergência nacional! 

Aqui julgo ser necessário, sensato e de senso comum o Presidente da República arbitrar este contencioso, ainda que mesmo sem poder decisório! Na voz popular, "para grande males, grandes remédios"!

"DA CHINA À VACINA": MANUEL CARMO GOMES NO RÓMULO NA NOITE EUROPEIA DOS INVESTIGADORES


No âmbito da Noite Europeia dos Investigadores 2020,  na próxima sexta-feira, dia 27 de Novembro, pelas 21:30 horas, Manuel Carmo Gomes, epidemiologista na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, realizará uma palestra intitulada "Da China à Vacina", com a coordenação de Carlos Fiolhais. O evento on line destina-se ao público em geral, que poderá colocar questões ou comentar. Para participar na palestra basta clicar em https://videoconf-colibri.zoom.us/j/85906101351 ID da reunião: 859 0610 1351

Carlos Fiolhais, Director do RÓMULO, será o anfitrião e moderador do diálogo entre a audiência e o convido.

RESUMO:

Sabemos que a actual pandemia foi causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 teve origem na China. A doença espalhou-se rapidamente a todo o mundo, tendo sido amortecida por confinamentos mais ou menos drásticos. Os epidemiologistas estudaram e estudam a propagação viral e fizeram algumas previsões, embora com certo grau de incerteza. Vivemos hoje uma segunda vaga da pandemia e muita gente pergunta quando se atingirá o máximo. A vacina é, neste momento, a melhor esperança que a ciência nos oferece, mas várias questões sobre ela ainda estão pendentes.


BIOGRAFIA:


Manuel Carmo Gomes, licenciado em Biologia, é professor de Epidemiologia e Doenças Infecciosas na  Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Faz parte da equipe encarregue de estabelecer a chamada Reserva Nacional de Medicamentos e a Comissão Técnica de Vacinação que presta assessoria à Direção-Geral da Saúde (DGS) e, nesse âmbito, tem vindo a acompanhar várias crises epidemiológicas com os profissionais da DGS e do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).  Foi graças ao seu estudo rigoroso e fundamentado sobre o que se estava a passar na China, para  poder transmitir aos seus alunos, que  foi convidado a ingressar no grupo que auxilia o governo sobre a pandemia. Tem sido um dos mais eficazes comunicadores de ciência nesta crise sanitária.

 

Para mais informações:

RÓMULO – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra

Maria Manuela Serra e Silva

Telefone – 239 410 699

E-Mail – ccvromulocarvalho@gmail.com

Facebook: https://www.facebook.com/pg/Romuloccvuc/posts/?ref=page_internal

 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020


 

O CONGRESSO DO PARTIDO COMUNISTA

Desde que vi no circo um urso a andar de bicicleta já nada me devia espantar. Mas espanta-me!

Espanta-me, por exemplo, no circo da vida política nacional as cedências que o Partido Socialista faz ao Partido Comunista para ver o Orçamento de Estado/2021 aprovado na Assembleia da República?

O tempo que falta para os dois dias da realização deste congresso urge (ou “ruge”, como dizia um frequentador do café do meu bairro de grandes cabedais e pouca instrução). E neste interim, o PCP, com grande e inaudito descaro diz que o Congresso terá, APENAS, 600 delegados tendo sido tomadas todas as medidas para garantir a segurança dos seus participantes, mas não do contágio à população de Loures, coincidência ou não, flagelada por uma grande percentagem de mortes por corona vírus desde o tempo da “Festa do Avante”.

Surge, agora,  a promessa formal , como se “o inferno não estivesse cheio de promessas”, de segurança à prova de bala, num tempo em que o corona vírus nada garante a não ser, a exemplo do “sheltox” , matar que se farta, como anunciava um  anúncio da televisão de há anos. Será a voz de Stalin a dizer das profundezas de onde quer esteja, que “a morte de um homem é uma tragédia,  de um milhão uma estatística?”

Como pontificou Teilhard de Chardin. “O barbarismo da nossa época é ainda mais estarrecedor pelo facto de tanta gente não ficar realmente estarrecida”!” Aguarda-se, portanto,  a última palavra de um Governo tíbio que deve estar a estudar o assunto para tomar decisões depois da tragédia acontecer morrendo, como costume, a culpa solteira.

Será que à socapa estarão já os congressistas a serem vacinados? Todas as suposições  são possíveis num tempo de muitas  incertezas e nenhumas certezas!

DEBATE UNIVERSIDADE - INDÚSTRIA NO RÓMULO

 


Convite para debate

Dia 25 de Novembro, às 18h, realiza-se no Rómulo de Carvalho, via Plataforma Zoom, o debate "Universidade e Indústria: Financiamento da cooperação em Portugal" com as participações de:

Luísa Matos | Virtual Power Solutions

Gonçalo Quadros | Critical

Paulo Barradas | Bluepharma

Peter Villax | Hovione Technology

J. Norberto Pires | FCTUC

Isabel Damasceno | CCDRC - Presidente

A moderação do debate estará a cargo de Carlos Fiolhais, director do Rómulo.

Destinada ao público em geral, a sessão é de participação livre e não necessita de inscrição. No fim da apresentação dos oradores, os participantes poderão colocar questões, fazer comentários, etc.

Entrar na reunião Zoom
https://videoconf-colibri.zoom.us/j/88592275054
ID da reunião: 885 9227 5054

GALOPIM E MARÇAL NOS 12 ANOS DO RÓMULO – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra


No próximo dia 24 de Novembro, terça-feira, Dia Nacional da Cultura Científica e Tecnológica e aniversário de Rómulo de Carvalho, comemora-se o 12º aniversário do RÓMULO – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra. Este ano, sem o tradicional magusto, o RÓMULO – vai festejar em modo digital: esperamos a “presença” de quantos o têm seguido desde o início desta aventura na divulgação de ciência que queremos continuar e de todo o restante público se queira juntar. Destacamos as seguintes actividades, que decorrerão todas on line:

10:30h – “Ciência e ética no mundo global” – por Carlos Fiolhais, em directo para os alunos do Agrupamento de Escolas do Restelo, Lisboa.

 

16:00h – “Do muito frio ao muito quente: apontamentos de geodinâmica externa” - por A. Galopim de Carvalho, professor jubilado de Ciências da Terra da Universi


dade de Lisboa e um dos maiores divulgadores de ciência portugueses, inserida no programa do ciclo de palestras "Ciência às Seis! – temporada 5"

 


Acesso à sessão no Zoomhttps://videoconf-colibri.zoom.us/j/85681823915

ID da reunião: 856 8182 3915

 

18:00h – “Apanhados pelo vírus – factos e mitos acerca da Covid-19” – apresentação do mais recente livro da Gradiva (Novembro 2020), com a apresentação a cargo de David Marçal e a presença de Carlos Fiolhais, os dois autores. Esta conversa está inserida no programa do ciclo de palestras "Ciência às Seis! – temporada 5" e destina-se ao público em geral.

Sinopse do livro:

Fomos todos apanhados pelo vírus. Não apenas os infectados com o SARS-CoV-2, mas também a multidão que viu o seu quotidiano virado do aves­so de um dia para o outro. Muito se disse e desdisse. As próprias autoridades de saúde, que inicialmen­te desaconselharam o uso de máscaras, pouco depois tornaram-nas obrigatórias. Os teóricos da conspiração fizeram prova de vida, espalhando os mais incríveis disparates, como a associação do vírus às radiações 5G. À pandemia da COVID-19 juntou-se uma infode­mia: ficámos inundados de desinformação.

A primeira parte deste livro expõe resumidamente não só o que realmente já se sabe, à luz da ciência, mas também as dúvidas que ainda persistem. Na segun­da contradizem-se ideias erradas que têm circulado acerca do novo coronavírus – algumas mais absurdas do que outras. Na última encontra-se um «guia» para acompanhar a ciência em directo, pois as dúvidas e o debate dos cientistas no espaço público poderão cau­sar alguma confusão ao público. O livro termina com a palavra esperança.

Acesso à sessão no Zoomhttps://videoconf-colibri.zoom.us/j/81526259537
ID da reunião: 815 2625 9537

As sessões são de participação livre e não é necessária qualquer inscrição. No fim da apresentação dos oradores, os participantes poderão colocar questões e fazer comentários.

 

Para mais informações:

RÓMULO – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra

Maria Manuela Serra e Silva

Telefone – 239 410 699

E-Mail – ccvromulocarvalho@gmail.com

Facebook: https://www.facebook.com/pg/Romuloccvuc/posts/?ref=page_internal

domingo, 22 de novembro de 2020

O ODOR FÉTIDO DA CORRUPÇÃO


"Acabar com a corrupção é o objectivo supremo de quem ainda não chegou ao poder”
(Millôr Fernandes, humorista e jornalista brasileiro, 1923-2012).

Vivemos num Portugal pobre que arma em rico por numeroso e descarado numero de deputados, mais que permite a decência em época de grave crise económica, que, como diria Eça, na Assembleia da República se “sentam de cócoras"!

Tribunos aos magotes, quais meninos obedientes e bem comportados, que não discutem, as ordens do "boss" da respectiva bancada, vestidos de fato e gravata ou em mangas de camisa, sem a toga branca da inocência roçagante em lajes de honestidade, que sobrecarregam o erário publico.

Permanecem eles mudos e quedos, distraídos ou dizendo ou discutindo banalidades sobre o passado, presente e futuro de um país que se chama Portugal e em que os seus elegíveis e democráticos representantes nem sempre habitam em almas bem formadas ao serviço da Grei.

Bem pelo contrário, queixando-se que ganham pouco para o sacrifício de estarem sentados muitas horas em cadeirões de cabedal que lhes causam calos no rabiosque. E tanto sacrifício humano, meu Deus!, para viverem no reino de falta de ideias pensadas pela própria cabeça por ser menos cansativo, como diria Mestre Aquilino, “trazer às costas a mochila do regimento”.

Com ironia, reagia eu aos argumentos dos alunos ignorantes, sob o chapéu de abas largas do “eu pensei”, dizendo-lhes: “O senhor não tem nada que pensar, para pensar cá estou que para isso é que sou pago!"

No caso de políticos habituados a partilhar o pensamento do “boss” da bancada, é uma solução cara pelo dinheiro que eles consomem ao erário publico em vencimentos e extras principescos pagos "à latere"!

Tudo, ou quase tudo, que eles peroram não passa de histórias da carochinha para tentar adormecer os portuguese que sofrem de insónia por terem “o soberaníssimo bom senso” (Antero) em se preocuparem com o destino de seus filhos e netos, gerações de um futuro inglório defraudado por políticos que enriquecem à tripa fora passando de remediados a ricos num abrir e fechar de olhos à custa de um povo sacrificado até ao tutano da decência em que se pretende tornar ignorante a voz sábia do povo por não ter feito carreira na jurisprudência nacional a evocação de um magistrado judicial: “Quem cabritos tem e cabras não tem, de algum lado lhe vêm”!

Vivemos tempos, por outro lado, de alienação desportiva em que as vitórias de fanáticos de um clubismo exacerbado fazem esquecer as agruras da vida dando aso a princípios com este: “Pode-se mudar de mulher, de partido, de clube nunca jamais em tempo algum! E em que um dos seus destacados intérpretes, Jorge Jesus, antes da partida para Terras de Santa cruz para treinar uma sua equipa de futebol se sentiu digno de uma epopeia marítima por “mares nunca dantes navegados” declarando no portaló da sua incontida vaidade: “O meu grande objectivo é deixar marca portuguesa como Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e por aí fora (CMTV, 17/07/2018).

Estaria Jesus, porventura, a referir-se a um Portugal de antanho em que hoje navegam oportunistas em charcos de podridão e se atolam em lamaçais de desonra? Não será boa altura de ser criado um dia anticorrupção para descanso dos bolsos dos portugueses? Aliás,”nihil novi sub sole”! Em gabanço tão ao gosto popular, a que nem gente lustrada consegue fugir, contavam, em idos de 50 do século passado, os alunos de um professor catedrático que ele teria dito numa das suas aulas sobre um determinado congresso em que tinha participado: “Sábios eramos só três: um sabia muito de Química, outro de Física e um terceiro muito de ambas estas matérias mas que a minha modéstia me inibe de dizer o nome"!

E assim caminha este pobre país e a sua pobre gente que se vê obrigada a curvar a cerviz à democracia do quero, posso e mando em que nas páginas dos jornais e écrans televisivos se vai habituando a ver os corruptos e corruptores serem tratados com a mezinha inócua de quem bebe um copo de água em jejum para melhorar o tracto intestinal, mas sem qualquer efeito por a porcaria continuar a acumular-se nas vilosidades intestinais deixando no ar o odor fétido da corrupção. 

Aliás, para além da corrupção há cedências partidárias deveras estranhas como, por exemplo, a cedência do Partido Socialista à realização da Convenção Anual do Partido Comunista Português nos dois próximos últimos dias deste mês, tendo como moeda de troca o “agreement” dos comunistas para que vá avante o Orçamento de Estado/2021!

A realização deste evento terá lugar em Loures, zona de contágio pelo corona vírus, assinalada no recente mapa a cores de altíssimo risco de propagação, podendo encontrar aí hospedeiro nos seus participantes oriundos de várias localidades com o perigo contagioso de lés a lés do país do letal vírus. 

Antigamente, nos cinemas corria em rodapé no final dos filmes que “qualquer semelhança com a realidade é pura ficção”. Hoje, na vida real, infelizmente, muitos casos de corrupção nem sempre são pura ficção. São dolorosa realidade da vida nacional!

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

CORONA VÍRUS E DÚVIDAS SOBRE PRIORIDADES!


Surgem as primeiras notícias sobre a vacinação da população portuguesa à pandemia do corona vírus. E logo surge um mar de dúvidas sobre a forma como ela será ministrada e outros problemas inerentes quando chegar a altura de agir.

As dúvidas antecipadas num “mare magnum” de indefinições incidem, entre outras, sobre três questões, a saber: 1) A vacinação será obrigatória ou não? 2) Quais as prioridades para a vacinação?; 3) A vacina será distribuída a título gracioso, caso contrário qual o seu preço previsto, ainda que por alto, por pessoa?

Em notícias que se perfilam no horizonte vai sendo sabido nos bastidores que serão os velhos a serem contemplados em primeiro lugar. À primeira vista poderá obedecer este possível critério a que, finalmente, os velhos merecem o reconhecimento da Nação pelo contributo que deram a este país abrindo-lhe rotas de desenvolvimento, mas uma análise sem ser em romantismos serôdios, que o momento que se vive permite, somente desconfiança.

Quanto a vacinar depois de verificar a sua eficácia, em atitude de reconhecimento de serviços prestados à Pátria, serão os nossos governantes e seus familiares? E os que apresentarem como salvo conduto o cartão do PS? É que “gato escaldado de água fria tem medo".

Não terá esta medida "altruísta", a intenção de fazer diminuir o contágio por ser voz corrente serem eles uma fonte de grande contágio? E as crianças senhores do Governo que lugar ocupam no critério de prioridades? Está-se mesmo a ver que num país de procrastinação com as calças na mão (perdoe-se-me o plebeísmo) os cérebros que nos governam decidirão só depois da vacina demonstrar a sua eficácia recaindo a prioridade sobre os governantes e seus correligionários que apresentem como salvo conduto o cartão do partido.

Ou seja, são prioridades elásticas que encurtam e esticam conforme as conveniências da altura! Depois destas dúvidas desfeitas deixará de ter lugar a expressão popular sarcástica: “A ver vamos como dizia o ceguinho”!“ Mas planificar num país tradicionalmente de desenrascanço, seria um verdadeiro milagre num tempo em que, para mais, os milagreiros da política se preparam para gozar as férias natalícias!

Corona vírus, Partido Socialista e Donald Trump


 Desta vez serei breve que a hora que passa não está para haver orquestras de baile  enquanto a Nau Portugal se afunda em vagas sucessivas de corona vírus.

Segundo notícia hoje publicada na Net, o meu post, “Errare humanum est”, persistir no erro é estupidez ou mesmo malvadez” (19/11/2020), e muitos outros que sobre esta temática têm sido publicados por mim, estou, finalmente, estou  acompanhado nas minhas críticas  por todas as bancadas da AR quanto à actuação do Governo no seu combate ao corona vírus, sob a tutela directa da ministra e a directora-geral da Saúde que se mantêm de pedra e cal, quais lapas agarradas ao rochedo do poder. Quantas mais pessoas terão ainda que morrer para que sejam demitidas pelo Governo ou se obriguem a pedir a demissão dos respectivos cargos de "motu proprio"?

Entretanto as bancadas parlamentares da direita estão visceralmente contra o Partido Comunista na sua teimosia em realizar o seu Congresso Anual nos últimos dias deste mês, havendo o risco, se tal acontecer,  de serem ouvidos acordes de uma qualquer marcha fúnebre!

Curiosamente, salvaguardas as devidas diferenças, Donald Trump foi atacado, com razão, por partidos da esquerda e da direita portuguesa  pela sua actuação irresponsável na pandemia que assola o mundo. Irresponsabilidade que lhe custou a perda da presidência dos Estados-Unidos. Que bem se aplica aqui o ditado: "Ver o arqueiro no olho do outro e não ver a tranca no seu"! Abram os olhos portugueses!

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

"ERRARE HUMANUM EST", PERSISTIR NO ERRO É ESTUPIDEZ OU MESMO MALVADEZ!

 

A velhice denuncia o fracasso da nossa civilização” (Simone Beauvoir).

Acabo de ver na televisão dados estatísticos de corona vírus a nível mundial com números mais ou menos estabilizados e em Portugal com esse número em crescendo altamente preocupante.

Passou na televisão um casamento com cerca de 200 convidados interrompido no Algarve, por uma força da GNR, com convidados vindos do Reino Unido que viajaram de avião, entrando em Portugal com o facilitismo de “cão em vinha vindimada”

Ou seja, estamos num país escoador de outros países em que o desenrascanço nacional encontra trono no "laissez faire laissez passer" e cabeça coroada no anexim: “Depois de casa roubada trancas na porta”. Entretanto, é um corrupio de reuniões de políticos atarantados na tentativa de sacudir a água do capote que deveria ter sido prevenida com o resguardo de guarda-chuvas em tempo seco.

Agora, são reuniões e mais reuniões de políticos em que muitos falam sem nada dizer de válido para solucionar, ou, pelo menos minorar, uma situação altamente gravosa. Isto é, apenas, para ouvirem o eco das suas palavras reflectido num muro de choradinho e lamentações de carpideiras  da praia da Nazaré.

Já chega de chorar lágrimas de crocodilo depois das suas mandíbulas ferozes terem devorado número elevado de pessoas, por vezes, falseado em dados estatísticos em que, segundo Leite Pinto, antigo ministro de Salazar, “há duas maneiras de mentir: uma não dizer a verdade, outra fazer estatística.

Estou pronto a dar a mão palmatória, ainda que só por algum erro involuntário cometido nesta minha análise, porque, com respaldo em Alexandre Herculano, “eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar as opiniões, porque não me envergonho de raciocinar e aprender”. Que me atire a primeira pedra  quem nunca errou num tempo herdeiro da Roma Antiga em que errar era tido como condição humana!

Mas já nada me devia espantar, mas espanta!,  num país em  que ocupa o trono do desleixo e a coroa da desfaçatez o anexim: “Depois de casa roubada, trancas na porta”! No início desta pandemia, rapidamente assumindo proporções de pandemónio, situações favorecedoras do corona vírus surgiram em catadupa ceifando vidas sem conta , tendo  paralelo em Joseph Satalin que, para além  de genocídios a seu mando executados,  entrou na galeria da fraseologia que ficou na história por ausência pudor: “A morte de um homem é uma tragédia, de milhões  uma estatística”!.

Neste rectângulo de país, com a costa ocidental  banhada pelo Atlântico, vários factores contribuíram  para o número insidioso de vítimas pelo corona vírus, de entre eles, a idade avançada dos utentes de lares de idosos,  a leviandade de garotelhos inconscientes em festas de formatura ou de aniversário e, essencialmente, ajuntamento de multidões em corridas de automóveis fórmula 1, manifestações sindicais ou de desagrado social de “motu proprio” e, essencialmente, a última “Festa do Avante”, com a promiscuidade de três dias de acampamento  na Quinta da Atalaia.

Qual cereja em cima do bolo, insiste teimosamente, correndo risco de tiro no próprio pé, o Partido Comunista Português, , em época de elevadíssimo  perigo de contágio, em realizar o seu Congresso anual nos últimos dias deste mês como se fosse um Estado dentro do próprio  Estado obedecendo   a leis próprias por si estabelecidas e decretadas por ignorância à beira de um vulcão com do tamanho do mundo  em perigo de vomitar fogo que pode pôr em risco a sobrevivência do planeta terra. Um planeta que em previsão catastrófica de Henry Poincaré que, em inícios do século passado, profetizou: “ O Homem perdeu a capacidade de prever e prevenir; acabará por destruir o mundo”! Todas as civilizações têm principio, meio e fim. A esse destino não escapou a Civilização Romana  perante as  invasões  dos bárbaros, porta aberta para a escuridão da Idade Média.

Não será a  lassidão de costumes educacionais, morais e éticos  o prenúncio de um  fim de uma Europa Unificada, mas cada vez mais fraccionada em blocos? Ou seja, a Europa que hoje conhecemos e em que vivemos não será o estertor da Cultura Ocidental, embora seja dito que a História se não repete, não mudará ela de roupagens democráticas para vestimentas ditatoriais, em revoluções e golpes de estado? Não sei!

Aliás, nesta minha ignorância  estou em boa companhia com Mark Twain que ponderou: “ A profecia é algo muito difícil, especialmente em relação futuro”! 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

À morte ninguém escapa, ou daqui a tempo suficiente estaremos todos mortos


Este é um ensaio que muitas pessoas podem considerar deprimente. Fala da morte prematura e de uma contabilidade que alguns consideram insuportável, e refere assuntos de que normalmente não queremos ouvir falar. Mas, por outro lado, mostra-nos que vivemos num mundo muito mais seguro e, assim, pode ser encarado com serenidade quer sejamos religiosos ou não. Foi sendo escrito desde há uns anos para um livro e foi depois modificado para um jornal, mas continuava inédito.


No início do livro "A Riqueza e a Pobreza das Nações", David Landes apresenta como exemplo da tragédia que representava a falta do conhecimento que temos hoje em dia, a morte, em 1836, devida a uma infeção, que atualmente seria facilmente curada, de Nathan Rothschild, na altura com 58 anos, o homem mais rico do mundo. Nathan teria ainda que esperar quase cem anos pelos primeiros medicamento ativos contra as infeções, as sulfamidas e mais de cem anos pelo primeiro antibiótico, a penicilina. Teria também de esperar mais de trinta anos pela descoberta e generalização da assépsia, assim como mais umas décadas pela descoberta e uso da salicina e do ácido salicílico como antipiréticos e analgésicos e ainda mais algumas décadas pela descoberta de outros antipiréticos e analgésicos, como ácido acetilsalicílico, mais conhecido pelo seu primeiro nome comercial, aspirina. Também a anestesia demoraria mais de uma década a ser descoberta e a tornar-se comum. A história de Natham é especialmente relevante por ser o homem mais rico do mundo. Vamos encontrar várias outras pessoas que morreram de infeções semelhantes e que também não puderam ser curados, reis e presidentes, não por falta de dinheiro, mas sim por faltarem os medicamentos e os meios que não tinham ainda sido descobertos. Mas a vida não é eterna. Outros morrerão de combinações de idade avançada, azar e doenças ainda sem cura, como a actual doença do coronavírus (as vacinas estão quase prontas, diz-se). Desta doença morreu um banqueiro, Vieira Monteiro, uma cientista, Maria de Sousa, vários escritores, Luís Sepulveda, Rúben Fonseca, Maria Alberta Menéres, Maria Velho da Costa, entre muitos outros.

O veneno é a hipótese mais comum sugerida para as mortes prematuras e vamos encontrar ao longo da história várias supostas e garantidas vítimas. O rei D. Pedro V, o esperançoso, que morreu com apenas vinte e cinco anos, a sua esposa, D. Estefânia, que morreu ainda mais nova, e outros membros da família real, que morreram de doenças hoje evitáveis, como a febre tifóide e a difteria. Um príncipe da altura foi autopsiados pelos maiores e mais respeitados médicos e químicos portugueses da época, e os resultados publicados no jornal oficial do tempo, pois havia a suspeita e alarme público de que tivessem sido envenenados. Mas o envenenamento é residual nas  estatísticas. A maior causa de morte continua a ser as doenças cardiovasculares silenciosas e o sítio mais perigoso continua a ser a cama como referiu Mark Twain! Mas a morte trágica é relevante para a literatura e para a vida. Infelizmente, nem é sempre valorizamos o mais importante. Os dois caminheiros que morreram em 2017 não ingeriram pesticidas nem venenos artificiais, mas raiz de embude, uma planta comum em Portugal e, obviamente, natural.
 
Hoje começamos a ter mais problemas com bactérias resistentes (algo que não é novo - na verdade, sempre os microrganismos resistiram), descobrimos atónitos que ainda temos medo de vírus, discutimos efeitos secundários e o mau uso dos antibióticos, mas houve tempos em que uma simples infeção ou um abcesso poderia ser uma tragédia. Para além disso, as epidemias de difteria, peste bubónica, cólera, febre tifoide e febre amarela eram comuns no século XIX e princípio do século XX. Tal como a Nathan, a muitos personagens trágicos involuntários faltaram as condições sanitárias, os medicamentos e o conhecimento. Aos sifilíticos que tinham uma noite com Vénus (a qual muitas vezes nem era sua) e ficavam toda a vida com mercúrio, faltou a penicilina. Aos tuberculosos faltou, primeiro um maior entendimento sobre a doença que só chegou no final do século XIX, mas apenas para ficarem tanto mais sabedores como desamparados antes da descoberta da estreptomicina, que só ficou disponível em 1956. A muitos outros faltaram as condições de higiene e alimentação, as vacinas da difteria e poliomielite e muitas outras coisas que temos hoje como garantidas, mas que não existiam no tempo em que viveram.

E depois temos os acidentes e o azar. Sempre tivemos. As estatísticas dizem-nos que a quinta de causa de morte são os acidentes. Há relativamente pouco tempo, de entre os meus conhecidos e familiares dois jovens morreram de forma trágica e absurda. Vários outros, que não conhecia, morreram afogados e em acidentes de automóvel e mota. Já não temos notícia de jovens que morrem devido aos esquentadores mal instalados. Os equipamento estão cada vez mais seguros e a nossa tolerância menor, mas continuam a acontecer desastres na estrada, por exemplo. Quando eu era pequeno, as pessoas morriam muito nas motorizadas. Um primo meu morreu num cruzamento, ainda era muito novo, a mulher, mais nova ainda, com uma filha pela mão e outra ainda na barriga. Um jovem morreu numa placa de trânsito, numa motorizada que o pai não lhe queria dar. Outro matou um amigo por acidente com uma espingarda improvisada. Mais recentemente, um dos meus conhecidos parou num semáforo e foi atropelado por um carro que não parou. Um casal parou para ir virar e foi morto por um carro. Um jovem despistou-se na sua motorizada e morreu. Poderíamos encher páginas e páginas com acidentes imprevisíveis, ou não, com azares absurdos, ou resultados tristemente esperados.  

É obviamente um truísmo dizer que ninguém escapa à morte. Alguns atingem a imortalidade possível, mas todos morrem. As pestes, a tuberculose e a sífilis, as guerra e os acidentes são as causas mais famosas pelos comportamentos e literatura que lhes estão associados. O suicídio vem de seguida. Mas o suicídio sempre foi sobrevalorizado. Embora hoje em dia quase não haja notícias (há um código de conduta dos meios de comunicação quando noticiam suicídios para evitar fenómenos de imitação - o “efeito Werher”, dizem os números, é real). Por um lado devido aos seus aspectros trágicos, mas também pelo fascínio que este nos causa, o suicídio acaba por ser sobrevalorizado, mas é “só” a nona causa de morte. Albert Camus refere em "O Mito de Sísifo", de 1942, que o problema do suicídio é o mais fundamental em termos filosóficos. E Portugal seria o país de suicidas referido por Miguel de Unamuno? Talvez não, Itália e outros países também o foram...

A tuberculose e a sífilis contribuíram para muita literatura não só pela fatalidade, mas também pelos ambientes sociais e estados de alma e físicos que se lhes ligaram. Sendo doenças, em geral, de evolução lenta ou crónica, os doentes seguiam os ritmos das doenças ou, em muitos caso, tinham a ilusão de lhe escapar. Os sanatórios para a tuberculose, a brancura e o cansaço, a sífilis e as suas marcas e primeiros remédios, o sublimado, a tabes, a neurastenia e a e a loucura sifilítica são referências culturais incontornáveis. Devemos-lhes "A Montanha Mágica", que é a referência mais conhecida e emblemática aos sanatórios e aos tratamentos clássicos da tuberculose, o "Doutor Fausto", que romanceia em parte a sífilis, numa altura em que esta era já tratável, ambos de Thomas Mann, entre um número incontável de obras. Tanto os romances que envolvem personagens românticas, vítimas de tuberculose e sífilis, como os que evocam personagens assustadoras vítimas dessas doenças. Em "A Nossa Senhora de Paris", na personagem Quasimodo, Victor Hugo descreve, diz-se, uma vítima de sífilis congénita, hoje uma doença quase desconhecida.

Mas não é só a presença direta da doença e dos seus reflexos que é preciso lembrar. Também a sombra que essas doenças projetaram nos autores é importante. A sífilis e a tuberculose em Manuel Laranjeira contribuíram, com certeza, para as sua forma de ver o mundo desencantada e desiludida. O mesmo aconteceu com a tuberculose de António Nobre, Cesário Verde e de muitos outros. E mesmo o aparente otimismo e saudade da vida simples e saudável do campo de Júlio Dinis - que parece querer fazer esquecer a tuberculose que o matou novo - tem provavelmente muito de amargura e desilusão.
 
No Portugal do início do século XX a sífilis era um flagelo como se pode verificar pelos capítulos dedicados a esta doença no volume de 2011 organizado por Cristiana Bastos, "Clínica, arte e sociedade: a sífilis no Hospital do Desterro e na saúde pública". Thomaz de Melo Breyner registou cuidadosamente todos as histórias clínicas e pode verificar-se que a doença se transmitia de todas as formas possíveis, desde as mais clássicas relacionadas com a prostituição em que o marido contaminava a mulher e esta os filhos até às amas de leite que contaminavam os bebés e estes as mães que contaminavam os maridos. Neste Hospital foram atendidas no período de 1903 a 1906 mais de mil e quatrocentas prostitutas com idades entre os 15 e aos 36 anos, idade média de cerca de 22 anos, sendo que a maioria tinha 19 anos! Os tratamentos possíveis eram baseados em sais de mercúrio, mas a partir de 1910 há grande entusiasmo com arsenamina, um composto orgânico de arsénio, também conhecido por salvarsan ou «606», desenvolvido por Paul Erhlich em 1906, mas esse entusiasmo rapidamente se modera dado que este medicamento que tinha de ser injetado também tem efeitos secundários. Nas décadas seguintes os tratamentos vão alternando entre os as sais de mercúrio, a arsenamina e sais de bismuto. Paralelamente, surgem campanhas de informação, profilaxia e higiene que irão contribuir para a diminuição do número de afetados. Mas só a partir de 1943, com a penicilina, é que a doença passa a ser curável e é quase irradicada. Para trás ficaram as mortes prematuras devidas a esta doença, a loucura sifilítica, as marcas da sífilis nos sobreviventes e muitas outras coisas que hoje temos dificuldade em compreender.  

Como já referi noutro trabalho, a gripe pneumónica matou depressa e as suas vítimas no começo da idade adulta e quase nem tiveram tempo de transformar a doença em obras. Era uma vergonha morrer de tal doença. E, no entanto, talvez tenha matado mais pessoas que as duas grandes guerras. DE facto, a guerra é também uma grande fonte de mortes prematuras. Hoje em dia assiste-se a uma generalização da longevidade (embora o coronavírus possa ter implicações nas estatísticas). A vida humana poder não ter limites teóricos era já discutido em algumas revistas cientificas prestigiadas desde há alguns anos! No século vinte e vinte um podemos encontrar com relativa facilidade pessoas centenárias. A pediatra americana que com mais de noventa anos que ainda dava consultas e escrevia artigos, o cineasta Manuel de Oliveira, o arquiteto Oscar Niemaeyer e muitos outros. Mas a longevidade não é uma coisa nova. Matusalém é a personagem bíblica que mais viveu, mas não se consegue encontrar-lhe mais feitos do que o de ter tido filhos.

Como já referi noutro lado, a mitologia e a literatura mostram-nos exemplos dos efeitos inesperados da imortalidade. Jonathan Swift leva-nos a uma ilha onde por vezes nascem pessoas imortais, mas isso não é uma bênção. Infelizmente estes não param de envelhecer e o espetáculo não poderia ser mais deprimente: velhos surdos, dementes, vaidosos e caquéticos entregam-se às mais tolas e fúteis atividades. O narrador do livro conclui que a morte é necessária e a imortalidade uma maldição. Também José Saramago nas "Intermitências da Morte" nos faz antever os problemas que a imortalidade causaria. Já antes, no mito de Sisífo este problema será abordado. Sísifo, o mais esperto dos homens, segundo Homero, mas também o mais absurdo segundo Camus, enganou a morte duas vezes. Numa aprisionou a morte e, ninguém morrendo, despovoou-se o Inferno. Noutra conseguiu sair do Inferno. Acabou condenado a empurrar uma pedra que sempre rolava e voltava a empurrar, como é bem conhecido. Mas como referiu Swift e Saramago a imortalidade traria muitos problemas. Alguns destes problemas são resolvidos nos livros de vampiros - em "O Império do Medo" de Brian Stableford estes não se reproduzem ou reproduzem-se muito pouco - mas  criam outros. A criança que nunca cresce de a Entrevista com o Vampiro, por exemplo. A imortalidade origina problemas insolúveis e paradoxos. “Oh tempo, suspende o teu voo! De acordo, disse o tempo. Mas por quanto tempo?" escreveu o antropólogo francês Marc Augé.
 
A conhecida lengalenga À morte ninguém escapa lembra-nos o óbvio, mas apresenta-nos uma forma inglória de escapar à morte – fechar-se numa panela - e, no fundo não viver, não sentir o passar do mundo, ser esquecido (o problema de Peter Gynt), ou nem sequer ser encontrado pela morte,

    À morte ninguém escapa,
    Nem o rei, nem o papa,
    Mas escapo eu.
    Compro uma panela,
    Custa-me um vintém,
    Meto-me dentro dela
    E tapo-me muito bem,
    Então a morte passa e diz:
    -Truz, truz! Quem está ali?
    -Aqui, aqui não está ninguém.
    -Adeus meus senhores,
    Passem muito bem.


Mais do que um tempo que pára, como um relógio quebrado, é o absurdo de tudo se repetir, e tudo ter já sido feito, que angustia alguns. Mas isso é uma ilusão, o mundo avança e não volta ao mesmo lugar. Sisífo não empurra a pedra nem transpira da mesma forma. Camus diz-nos que devemos pensar que Sisífo é, apesar de tudo, feliz. 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Movimentos estudantis em Coimbra: entre 1969 e 1974


Realiza-se na quarta-feira, dia 18 de Novembro, pelas 18 horas, a palestra intitulada "Movimentos estudantis em Coimbra: entre 1969 e 1974", inserida no ciclo “Ciência às Seis! (temporada 5)”, com a coordenação de Carlos Fiolhais e colaboração de António Piedade. O evento on line destina-se ao público em geral. Para participar na palestra basta clicar
 em https://videoconf-colibri.zoom.us/j/84091583400?pwd=R1crNGRwWEJPbmtHa0NlWndKU0o3dz09 (ID 840 9158 3400. Senha: 094124).

Serão palestrantes João Gouveia Monteiro, Professor da Faculdade de Letras e Director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra e Rui Bebiano, historiador, Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais. A palestra será moderada por Carlos Fiolhais, director do Rómulo.

RESUMO:

Entre 1969  e 1974 agudizaram-se as tensões dentro da Universidade de Coimbra. Em 1970, no ano seguinte ao das grandes lutas estudantis que eclodiram a 17 de Abril de 1969, tomou posse o novo reitor, o professor da Faculdade de Medicina José Gouveia Monteiro, nomeado por José Veiga Simão, o professor de Física de Coimbra que ocupava a pasta da Educação Nacional. Vinha ocupar o lugar de um professor de Química, da Faculdade de Ciências, António de Andrade Gouveia. JMonteiro aceitou o cargo pensando ser possível ser o representante da Universidade no governo e não o representante do governo na Universidade. O primeiro-ministro Marcello Caetano logo lembrou o novo reitor que quem mandava era o governo.  Na sequência de um processo que o governo levantou relativo às relações entre o reitor e a Associação Académica, levou à demissão do reitor em 1971, substituído por João Cotelo Neiva, professor de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências, Gouveia.  João Gouveia Monteiro falará sobre um livro de memórias do seu pai, que está no prelo, que descreve o que se passou naqueles anos. Por seu lado, Rui Bebiano descreverá as lutas estudantis, que ele tem estudado.

 

BIOGRAFIAS SUMÁRIAS:

João Gouveia Monteiro é professor de história antiga e medieval na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde ensina História da Antiguidade e da Idade Média, História Militar e História das Religiões e Director da Biblioteca da mesma universidade. Doutorou-se em 1997, com a obra “A Guerra em Portugal nos finais da Idade Média”. Os seus estudos mais recentes incidem sobre as Cruzadas na Terra Santa, a tratadística militar romana, a história militar da Península Ibérica e da Europa medievais, o Império Bizantino e a figura do Condestável D. Nuno Álvares Pereira. É o actual Presidente da Associação Ibérica de História Militar (séculos IV-XVI) e director da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.

Rui Bebiano é historiador, professor de história contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Estudos Sociais e Diretor do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra. Tem dirigido cadeiras, cursos e seminários no domínio da história político e cultural moderna e contemporânea. Trabalha em temas de história cultural e política desde os anos 50 à atualidade, em particular no campo das construções utópicas, das práticas de “exclusão” e das representações contemporâneas do passado. Publicou em 2003 “O Poder da Imaginação. Juventude, Rebeldia e Resistência nos Anos 60, Anos Inquietos. Vozes do Movimento Estudantil em Coimbra (1961-1974)”, em co-autoria com Manuela Cruzeiro.

Para mais informações:

RÓMULO – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra

Maria Manuela Serra e Silva

Telefone – 239 410 699

E-Mail – ccvromulocarvalho@gmail.com

Facebook: https://www.facebook.com/pg/Romuloccvuc/posts/?ref=page_internal

 

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...