segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O treino "pedagógico" da felicidade

"E, nos Estados Unidos da América, um estudo longitudinal 
concluiu que uma intervenção ao nível da primeira infância 
foi capaz de reduzir os índices de infelicidade das crianças 
em níveis de ensino mais avançados."
Andreia Lobo, 2018 (aqui)

Uma das orientações internacionais mais recentes e também mais fortes para os sistemas de ensino - na linha da "educação do futuro", da "educação do século XXI" - é que promovam, a curto prazo, medidas para tornarem os alunos felizes, isto a par de os tornarem bons cidadãos, saudáveis, empreendedores, resilientes, compassivos, com elevada auto-estima, etc.

Têm-se feito mudanças no currículo no sentido de promover a felicidade e desenvolvido programas com esse fim para serem aplicados em contexto escolar, a que se segue a medição dos seus efeitos nas crianças e nos jovens, podendo obter-se índices de felicidade.

Através dos Estados e servindo-se da educação formal, organizações como a OCDE, entram cada vez mais fundo na "alma" humana. E fazem-no em idades precoces, como convém para serem bem sucedidas.

De sentimento etéreo, indizível e fugaz, a felicidade passa a ideologia que se treina, segundo critérios de eficácia, num certo número de sessões.

A verdade é que não bem sei o que dizer quanto a isto: o que penso saber e intuir sobre a felicidade, o que considero ser a educação, sobretudo a que acontece na escola pública, foi (mais uma vez) distorcido. Que argumentos posso usar para explicar o que, para mim, é tão óbvio: que a felicidade, por ser um estado íntimo, que só ao próprio diz respeito, não é objecto de instrução?

Guardei um texto de José Tolentino Mendonça, publicado há dois meses (em 22 de Setembro) na revista do jornal Expresso por me parecer que ele decorreu de questão semelhante à minha. Aqui reproduzo o essencial desse texto:
Por irónico que possa parecer, a ideologia da felicidade – que hoje contamina todos os planos da vida e da sua representação – tem disseminado de modo maciço a frustração, a tristeza e a infelicidade. Tornamo-nos mais infelizes a partir do momento em que erguemos a felicidade como idealização que absorve o nosso imaginário e ainda não percebemos até que ponto esse conceito abstrato se tornou uma armadilha que nos aprisiona no seu inverso. Numa sociedade que faz da apologia da felicidade a todo o custo o seu credo, todos nos sentimos culpados e defraudados, incapazes de perceber que estado seja esse e como realmente se obtém. 
Basta olhar para as definições de felicidade: as únicas com sentido são aquelas que escapam sabiamente a todo o esquematismo (...). O que nos faz felizes tem de ser uma experiência infinitamente mais humilde do que o standard fantástico requerido pela ideologia da felicidade. 
Hoje ouve-se muitos pais dizerem acerca dos filhos e do seu futuro: “Não quero influenciar o rumo que o meu filho vai seguir (...) desejo apenas que ele seja feliz" (...). O amor, na verdade, não é desejar que alguém seja feliz, e ainda menos que seja apenas feliz. Como ensina Santo Agostinho, o amor é antes um volo ut sis, “quero que tu sejas”. Mais do que os estados que se atravessam e do que deve prevalecer para lá das horas solares ou noturnas, dos processos de florescimento ou de impasse, da dança descendente da penumbra ou do desenho aéreo do júbilo. Não podemos desejar que alguém seja apenas feliz.
Isso equivale a coartar a vida e a fantasiá-la perigosamente. Cabe-nos estimular os que amamos à corajosa aceitação da vida, no que ela tem de plenitude, mas também de vazio e até de deceção. Pois a quanta sabedoria só acedemos por essa ponte de corda que nos aparece suspensa sobre o abismo e pela qual caminhamos de olhos vendados e trémulos. 
Lembro-me muitas vezes de uma passagem de um poema de Giuseppe Ungaretti que diz: “Jamais, jamais sabereis quanto me ilumina/ a sombra que vem, tímida, colocar-se a meu lado/ quando desisto de esperar.” Nem sempre a sombra é o contrário da luz, como a árdua fadiga de viver não é o contrário da felicidade. São etapas do mesmo rio que corre. Há lágrimas que nos consolam tanto ou mais do que muitos sorrisos. E há dores que nos introduzem numa experiência de gestação e de comunhão, que não julgaríamos possível.

CONVERSAS NO ESPAÇO

[ EUROPEAN SPACE TALKS ]

As European Space Talks são uma série de palestras e eventos a decorrer durante todo o mês de novembro nos Estados Membros da ESA, promovendo o espaço entre o público em geral. Desde escolas locais e câmaras municipais a indústrias espaciais ou universidades, nenhum local é demasiado pequeno. O espaço diz respeito a todos. Contribui para as nossas vidas quotidianas e pode ajudar a resolver alguns dos maiores desafios da humanidade. O sector espacial europeu contribui, significativamente, para a economia da Europa e inspira, de muitas formas, as novas gerações. Portanto quem melhor do que as pessoas que passam os dias a pensar no espaço, a trabalhar em projetos espaciais ou a viver no espaço, para partilhar a sua paixão com o mundo?

 [ CONVERSAS NO ESPAÇO ]

 Organizado pela Secção de Astronomia da Associação Académica de Coimbra, as "Conversas no Espaço" são um evento criado no âmbito das EST que pretende gerar uma discussão em torno do futuro de Coimbra e da Humanidade no espaço. Existirão portanto duas fases nesta EST:

 1ª fase: mesa redonda com convidados que se destacam em Coimbra pela sua ação em empresas/áreas de investigação. "Qual o futuro viável das empresas de Coimbra no espaço?" "E da ciência? O que podemos esperar?" São questões que poderão surgir nesta primeira parte.

 2ª fase: mesa redonda com convidados de variadas áreas do conhecimento que têm um dizer no que toca ao futuro da Humanidade no espaço. "Quais os próximos passos a dar? Quais os maiores objetivos para a Humanidade no espaço?"

 [ onde?]   no Rómulo - Centro de Ciência Viva do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra

 [ quando? ] 27 de novembro 16h - 19h Entrada gratuita. Vem discutir connosco o futuro do espaço!
Secção de Astronomia, Astrofísica e Astronáutica da A.A.C.

domingo, 25 de novembro de 2018

LANÇAMENTO DA REVISTA ATLÂNTIDA


O DIA 24 DE NOVEMBRO E A CIÊNCIA

Informação fornecida por Adriano Simões da Silva, bibliotecário da Biblioteca Público do Porto:

24 de novembro – Dia Nacional da Cultura Cientifica. Se quiser saber o que existe sobre este assunto, pesquise no catálogo online da BPMP, disponível em http://bibliotecas.cm-porto.pt, por assuntos: Ciência -- Periódicos. Porque uma biblioteca sem assuntos é um cemitério de livros (inacessíveis aos leitores) e a «principal função da biblioteca […], é de descobrir livros de cuja existência não se suspeitava e que, todavia, se revelam extremamente importantes para nós» (Umberto Eco, ensaio A Biblioteca). Sobre o mesmo assunto: leia 1831, 1859 e 1906.

24 de novembro de 1831 – O físico experimental Michel Faraday anuncia a descoberta da Lei do Eletromagnetismo que leva o seu nome. Se quiser saber o que existe sobre este assunto, pesquise no catálogo online da BPMP, disponível em http://bibliotecas.cm-porto.pt, por assuntos: Física-- Periódicos.

24 de novembro de 1859 – Charles Darwin publica “A Origem das Espécies”. A Portugal, só chegaria em 1865 pelas mãos de Júlio Henriques, botânico da Universidade de Coimbra. A 1ª tradução foi no Porto, pela Livraria Chardron, em 1913, mas do livro “A Origem do Homem” (artigo de Carlos Fiolhais no blog De Rerum Mundi). Se quiser saber o que existe sobre este assunto, pesquise no catálogo online da BPMP, disponível em http://bibliotecas.cm-porto.pt, por assuntos: Biologia -- Periódicos.

24 de novembro de 1906 – Nascimento de Rómulo de Carvalho/António Gedeão, divulgador da Ciência, de quem existem mais de 130 obras no Catálogo online da BPMP. Por este motivo, em 1996 o ministro José Mariano Gago proclamou este dia o Dia Nacional da Cultura Científica (“SuperInteressante”, nov.2015, p. 16).

LANÇAMENTO DO RÓMULO DIGITAL

http://www.diariocoimbra.pt/noticia/38735

Carlos Fiolhais conta alguns dos destaques para o 10.º aniversário do Ró...


http://noticias.uc.pt/multimedia/videos/celebrar-dez-anos-a-comunicar-ciencia-romulo-quer-continuar-a-crescer/

MÁRMORE


A trágica derrocada na pedreira de Borba trouxe à boca dos portugueses a palavra “mármore”. Será que os nossos decisores políticos, os nossos jornalistas e comentadores de serviço e o cidadão comum sabem o que é o mármore?

Aproveitemos então a triste oportunidade para falar desta rocha ou desta pedra, como preferirem.
Muito antes de existir a ciência que dá pelo nome de Geologia e muito antes dos geólogos compreenderem e descreverem o metamorfismo, a palavra latina “marmor” já figurava entre os romanos.

Ao tempo de Agricola, o médico alemão, de nome Georgius Bauer (1495-1555), que reviu as classificações do romano Plínio, o Velho, (23-79), do persa Avicena (980-1037) e do dominicano alemão Alberto Magno (1193.1280), mármore, era toda a pedra susceptível de ser usada em cantaria. Eram “mármores” o calcário, o alabastro, o basalto (“mármore negro”, como lhe chamou Plínio), o arenito fino do “Buntsandstein” (ou Triásico germânico) e o mármore propriamente dito (o da pedreira de Borba, agora tão falada).

Mesmo hoje, entre nós e em termos comerciais, no sector das pedras ornamentais, ainda se classificam como mármores as rochas que permitem o corte e o polimento

Para falarmos de mármore temos, primeiro, de falar de calcário. Isto porque, na generalidade e em traços muito gerais, o mármore não é mais do que calcário transformado (metamorfizado) por efeito de aquecimento e compressão sofridos no interior de uma cadeia de montanhas em formação.
Para o geólogo, mármore é uma rocha resultante do metamorfismo de um calcário. Para o construtor civil é uma da muitas rochas ornamentais existentes no mercado.

- E o que é e como se forma o calcário? – Pergunta quem não sabe.

A imensa maioria dos calcários, como os que temos aqui no Cretácico de Lisboa e Pero Pinheiro (o conhecido lioz), e no Jurássico das Serras d’Aire e Candeeiros, Arrábida e do Barrocal algarvio, é gerado em mares muito pouco profundos das latitudes intertropicais, de águas límpidas e mornas, como por exemplo os das Caraíbas do Golfo Pérsico e da Grande Barreira de Coral, no nordeste australiano (Queensland). Estes mares são propícios à formação de corais e de uma grande variedade de invertebrados (bivalves, gastrópodes, ouriços e estrelas do mar, crustáceos, briozoários, foraminíferos e outros) construtores de esqueletos de natureza calcária, e se certas algas, ditas coralígenas, igualmente construtoras de esqueletos de natureza calcária.

Na grande maioria dos casos, é a acumulação dos restos esqueléticos (inteiros, fragmentados e/ou pulverizados) deste organismos, todos eles formados por carbonato de cálcio (aragonite e/ou calcite) que, depois de intensamente compactados e consolidados, dá origem ao calcário.

Foi assim no passado e é o que está a acontecer nos dias de hoje nos citados mares quentes da Terra?

Um parêntesis para dizer que aragonite e calcite são duas formas (ou dois minerais) diferente de carbonato de cálcio, sendo que a segunda é mais estável, razão pela qual, com o passar do tempo, a aragonite se transforma em calcite, o mineral essencial do calcário, dito calcítico, e do mármore que, igualmente, podemos dizer calcítico. Isto porque também há mármores dolomíticos.

Para falarmos do mármore alentejano (grande riqueza nacional no sector da Indústria extractiva), temos de recuar a um oceano antigo, que aqui existiu há mais de três centenas de milhões de anos, e admitir que houve, neste local do território, mas a uma latitude mais baixa (como a dos actuais mares tropicais), um mar litoral propício à proliferação de organismos, bem diferentes dos actuais, mas todos eles construtores de esqueletos de natureza calcária.

Foi durante a formação da grande cadeia de montanhas (orogenia varisca ou hercínica de há 380 a 280 milhões de anos, no final da era paleozóica) que, entre outras rochas, deu origem aos xistos, grauvaques, quartzitos e granitos que formam a ossatura da Península Ibérica, que nasceu este mármore, por transformação do dito calcário.

Numa descrição mais pormenorizada podemos dizer que o mármore calcítico, como o que temos em Estremoz-Borba-Vila Viçosa, os de Viana do Alentejo ou os de Trigaches tem estrutura granoblástica, isto é, apresenta grãos minerais (calcite) aproximadamente todos do mesmo tamanho (equidimensionais) e sem orientação.

Menos importantes, mas contemporâneos e tendo sofrido as mesmas vicissitudes, temos, ainda, no Alentejo, os mármores de Sousel, Elvas, Escoural, Alvito e Ficalho. Merece, ainda, referência o mármore branco de Vimioso (esgotado), em Santo Adrião, no Nordeste transmontano.

Menos comum, o mármore dolomítico resultou do metamorfismo de dolomitos (rochas sedimentares essencialmente formadas pelo mineral dolomite, o carbonato de cálcio e magnésio). Como mármore dolomítico merce destaque a chamada “pedra cascável”, subjacente aos mármores calcíticos de Estremoz-Borba-Vila Viçosa.

Com nomes consagrados na indústria e no comércio nacionais destacam-se os mármores:

  • na região de Vila Viçosa: Branco Estatuária, Branco Anilado, Creme Lagoa, Rosa Aurora e Rosa Venado.
  • na região de Estremoz: Branco Corrente, Branco Rosado e Creme Venado.
  • na região de Borba: Ruivina Escuro, Creme do Mouro, Rosa de Rosal e Rosa Venado:
  • na região de Escoural: Verde Escoural.
  • na região de Viana do Alentejo: Verde Viana.
  • na região de Trigaches (Beja): Cinzento Anegrado, Cinzento Claro
  • na região de Serpa: Verde Ficalho
Notas:
  • Diz-se marmoreado ou marmóreo, o que lembra o mármore, na cor, no frio, na insensibilidade.
  • Marmorite é um produto fabricado, destinado pavimentos e revestimento de paredes. Consiste, geralmente, numa mistura de fragmentos de rochas diversas (mármore, calcário e outras) aglutinados por um cimento. Uma vez seco, é serrado, polido e usado em pavimentos, à semelhança das rochas ornamentais.
A. Galopim de Carvalho
Lisboa, 25 de Novembro de 2018

UMA REFLEXÃO ANTIGA


A tragédia na pedreira de Borba, que muitos anteviram, mas que ninguém acautelou, não deve nem pode ser usada como arma no debate político. Fazê-lo não é sério. Não é sério nem aceitável porque a verdadeira culpa só pode ser imputável a todos os que, ao longo do tempo, tiveram ali e no governo central responsabilidades como decisores.

Podemos ainda dizer convictamente que parte dessa culpa e de muitas outras está no nosso grande e triste atraso civilizacional, todos os dias demonstrado, onde o compadrio, a corrupção, a iliteracia generalizada da população, o baixíssimo nível do sistema educativo, a impreparação da maioria dos políticos e a inoperância do sistema judicial são a regra.

Como escreveu ontem, Pacheco Pereira, no Público “Está toda a gente indignada com o “falhanço do Estado” no caso da estrada que ruiu matando pelo menos cinco pessoas. E devem estar não tanto pelo “falhanço do Estado”, porque, para além de ser um falhanço, o falhanço é a regra. A excepção é as coisas funcionarem bem — ou seja, dito à bruta e sem rodriguinhos, Portugal é um dos países mais atrasados da Europa”.

Na realidade, somos um povo que, “com excepção dos seus imediatos interesses, não quer saber muito disto é até colabora participando na pequena corrupção, na fuga aos impostos, nos pequenos truques quotidianos com o ambiente, a qualidade dos alimentos, as obras na casa, etc., etc. Só se preocupa com a pátria pelo futebol e de resto manifesta uma indiferença cívica total (Pacheco Pereira).

Em repetição do que já aqui escrevi, a propósito da crise dos professores, a nossa classe política, no seu todo, a quem os Militares de Abril, há 44 anos, generosa, honradamente e de “mão beijada” entregaram os nossos destinos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de facultar aos cidadãos cultura civilizacional. Entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com esta abertura à democracia está a educação e a justiça.

Mais de quatro décadas, de liberdade em democracia, completamente desperdiçadas.

Este triste acontecimento leva-me a trazer ao presente uma reflexão que conheci estar na mente de um dos meus antecessores e mestres, o professor Carlos Romariz Monteiro, reflexão que subscrevo e que tem a ver com a absoluta necessidade de incluir um geólogo ao serviço das Câmaras Municipais.

Se, por lei, os nossos municípios fossem obrigados a ter, pelo menos, um geólogo nos seus quadros de pessoal, arranjava-se emprego a mais de trezentos profissionais. Profissionais que procuram no estrangeiro um lugar onde possam desenvolver uma actividade científica e/ou económica de grande qualidade, pois, de grande qualidade é a sua preparação.

Acontece, porém, que a cultura geológica da imensa maioria dos nossos políticos, dos Presidentes da República aos das Juntas de Freguesia mais esquecidas, passando por Primeiros Ministros, Ministros, Deputados e Presidentes de Câmaras, é praticamente nula, ou seja, permita-se-me o exagero, zero!

Restringindo-me agora especificamente, à generalidade dos nossos autarcas municipais, quase todos homens e mulheres acomodados aos aparelhos partidários, sabemos que não dispensam, e bem, o trabalho de juristas e economistas. Muitos têm, e bem, arquitectos e arquitectos paisagistas, ao serviço da autarquia, pois são eles que sabem de urbanismo e dos sempre necessários jardins e outros espaços verdes. Vão conhecendo, e bem, o valor da Arqueologia, porque os respectivos profissionais souberam afirmar-se como detentores de um importante saber que rende. Mas desconhecem, e mal, a importância da geologia, mostrando uma desoladora insensibilidade para os problemas ligados a esta disciplina científica.

Planos Municipais de Ordenamento do Território, em toda a diversidade dos conhecimentos que exigem, sismicidade e risco sísmico local e regional, vulcanismo e suas manifestações secundárias (nos Açores), construção civil, sempre problemática em vertentes instáveis e em leitos de cheia, rodovias municipais, pontes e pequenas barragens, captação de águas subterrâneas, aterros sanitários e lixeiras, pedreiras, minas, escombreiras associadas e contaminação de solos e de aquíferos são alguns dos problemas que só a geologia sabe resolver com competência fiável.

Como remate desta reflexão, repito o que, há décadas, ando a dizer: «o nosso sistema educativo nunca deu e continua a não dar a devida importância ao ensino da Geologia». Rapazes e raparigas marcados pela consequente impreparação, são hoje homens e mulheres desconhecedores das suas reais importância e beleza.
A.Galopim de Carvalho
Lisboa, 25 de Novembro de 2018

sábado, 24 de novembro de 2018

A VASSOURADA QUE TARDA

Tenho vindo a “encher”, como dizia a minha Mãe, quando as asneiras, que eu repetidamente fazia, passavam das marcas. As nossas televisões entram-nos em casa e enchem-nos com horas e horas de alienação. Os incêndios florestais, as ilegalidades no Benfica, os mistérios de Tancos, o terrorismo de Alcochete e as prisões do ex-presidente do Sporting e do líder da claque Juve Leo e, agora, o IVA das touradas e a “crise” nas fileiras socialistas.

Percebo toda esta estratégia das televisões privadas ao serviço, que estão, de interesses e ideologias contrárias às do PS e dos seus aliados no Parlamento. Mas já não entendo uma actuação muito semelhante por parte da televisão pública. «Com amigos destes, não precisamos de inimigos» diz o povo.

Quem me lê em todos fóruns em que escrevi e escrevo e quem me ouve sabe do meu apoio à actual solução governativa e a António Costa, político que conheço há muitos anos, que estimo e que contou com o meu voto, quer na Câmara Municipal de Lisboa, quer no Governo da Nação. Também conhece a minha absoluta independência dos aparelhos partidários, estruturas fundamentais de democracia, onde a política tem sido adaptada ao sabor de interesses, nem sempre confessados.

Posta esta ressalva

Ocorre-me trazer hoje aqui estas palavras do nosso Primeiro Ministro, em finais de 2016, na cerimónia de entrega do Prémio Manuel António da Mota, no Palácio da Bolsa, no Porto. Disse, preto no branco:
“De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”.
Uma afirmação que vem ao encontro do que, há muito, ando a dizer e que, para infelicidade de todos nós, não passou de palavras e a verdade é que não vejo qualquer propósito de alteração (eu gosto de dizer “vassourada”) no ministério da tutela.

Por todo o lado, oiço dizer que, à semelhança de outras tutelas, a educação está sujeita à “ditadura das finanças” (leia-se Centeno), mas eu gostava de acreditar que o Primeiro Ministro tem uma explicação credível para esta nódoa da nossa democracia.
A. Galopim de Carvalho
Lisboa, 18 de Novembro de 2018

UMA TRISTEZA E UMA VERGONHA

Que infelicidade caiu sobre uma significativa parcela do nosso povo, que rejeita, com o sorriso da ingenuidade ou da iliteracia, tudo o que convide a pensar, a reflectir, com verdadeiro conhecimento de causa, sobre o mundo que o rodeia. Um mundo, tantas vezes, nas mãos de políticos incompetentes e oportunistas de que a nossa sociedade está cheia, onde, de há muito, impera o vírus do futebol profissional e, agora, o dos admiráveis, tentadores e universalíssimos smartphones.

Uma parcela que bebe toda a alienação que lhe é servida de bandeja por uma comunicação social, em grande parte, prisioneira de interesses ligados ao grande capital?

No que respeita o nível e exigência de ensino nas nossas escolas, não aprendemos nada com o ideal da Instrução Pública posto em prática na primeira República. No preâmbulo do Decreto de 29 de Março de 1911, lê-se
“Portugal precisa de fazer cidadãos, essa matéria-prima de todas as pátrias”. 
Cidadãos, diga-se, no verdadeiro sentido da palavra, tal como os gregos antigos a criaram nas suas “polis” (as cidade-estado, como Antenas, Tebas, Esparta e outras) para referir os “polítikoi”, ou seja, os homens livres e iguais, verdadeiros protagonistas da “demokratia” (palavra construída a partir dos elementos “demós”, povo, e “kratós”, poder) que ali se viveu e onde a fomos buscar.

Foi, ainda, na Grécia que, por volta do século VI a.C., nasceu “philosophia”, outra palavra que anda na boca de toda a gente, mas que nem todos sabem que quer dizer “gosto ou amor pelo saber”, e que foi criada com base nos elementos “philo“ (amor, gosto, interesse) e “sophia” (saber, conhecimento).
Não são, pois, “polítikoi”, isto é, cidadãos no verdadeiro sentido da palavra, os mais de 50% de portugueses que se abstém de exercer o dever cívico votar, um acto elementar em “demokratia”.

Não aproveitámos nada da verdadeira liberdade, em democracia, que nos foi oferecida, de mão beijada, pelos capitães de Abril. Mais de quatro décadas, em que o “gosto pelo saber” foi institucionalmente substituído pela preocupação das estatísticas, visando o “sucesso escolar”. Recuámos, mesmo, em relação ao tempo de Salazar e Caetano.

Neste quadro decepcionante todos perdemos. Perdem os professores, maltratados e amarrados que estão a ditames que não controlam, perdem os alunos e, em consequência, perdemos todos e perde Portugal.

Uma tristeza e uma vergonha
“De uma vez por todas, o país tem de compreender que o maior défice que temos não é o das finanças. O maior défice que temos é o défice que acumulámos de ignorância, de desconhecimento, de ausência de educação, de ausência de formação e de ausência de preparação”. 
Palavras ditas de improviso, em finais de 2016, pelo Primeiro Ministro António Costa. vêm ao encontro do que ando a dizer há muitos anos.
A. Galopim de Carvalho
Lisboa, 18 de Novembro de 2018

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Prefácio ao livro "Contos fantásticos e outros textos" de Albano Estrela

Meu prefácio ao livro "Contos fantásticos e outros textos", de Albano Estrela, edição recente da Colibri (aqui).

"Como é sabido no meio académico, Albano Estrela é um dos nomes mais sólidos e influentes na consolidação científica e institucional das Ciências da Educação em Portugal.

Mas não é desse Albano Estrela - investigador, professor, orientador e dinamizador de equipas em projetos de investigação, e com uma vastíssima obra publicada nessa área - que aqui  se fala, mas do Albano Estrela escritor.

A antologia que agora se apresenta é constituída por uma recolha de textos de cariz literário, que Albano Estrela foi escrevendo e publicando nos últimos vinte e cinco anos. São textos de temática muito variada: histórias pessoais e familiares, contos fantásticos, de desassossego e de morte, histórias insólitas, dramatizações de epifanias vividas por algumas personagens reais (Aristides de Sousa Mendes, Winston Churchill, Marcel Proust, Stefan Zweig, Friedrich Nietzsche, Mário de Sá Carneiro) crónicas de reformados, e ainda textos sobre educação e literatura.

São oito capítulos temáticos na base dos quais se organiza esta antologia, sendo certo que, por uma questão de extensão, se publicam agora, de cada tema, só alguns textos, procurando uma representação significativa do escritor Albano Estrela e da sua obra.

Como a simples enunciação dos temas dá a entender, a personalidade de Albano Estrela é muito rica, imaginosa, complexa e muito crítica, embora sempre cheia de humanidade. Homem culto, diletante, sem nunca deixar de sentir a dinâmica da vida e sua complexidade, a sua escrita atende a todos os sinais e a todas as situações que a vida lhe vai proporcionando.

A sua produção literária capta, por um lado, essa complexidade, frequentemente já em domínios do inconsciente e do irracional. E, por outro, amando a vida, o seu inesperado e picaresco, e para a apreciação e usufruição dos quais está sempre disponível, a sua literatura faz, de uma maneira muito pessoal, essa síntese bastante rara entre o sério, o misterioso e o jocoso.

odemos dizer até que algo desequilibrada, essa síntese, porque o que parece ser predominante nele é o lado lúdico e solar das vidas e das situações, sem deixar de traduzir muito da riqueza e do inesperado da condição humana, tanto no seu aspeto dramático com cómico.

Nestes termos, dir-se-ia que a obra de Albano Estrela balança entre a razão e a irracionalidade, entre o pensamento e a cultura, por um lado, e uma imaginação descontextualizada, inesperada e freudiana, por outro. A fileira pensamento – cultura - formação filosófica, está sempre subjacente e condicionando, não tanto a imaginação criadora mas sobretudo a escrita, que se mantém sempre na esfera da racionalidade lógica e sintática.

E até da necessidade de explicar e de fazer compreender, porventura influência da sua atividade profissional. Compreender, contudo, não só o outro mas talvez, e até prioritariamente, ele próprio, e suas divagações, que parece pretender inserir nas suas personagens, para vê-las atuar e poder receber delas um certo reflexo de si mesmo.

As novelas de Albano Estrela, sobretudo as de cariz fantástico e insólito, são, em geral, perturbantes: pelas ideias ponto de partida, pela trama, pela inversão de ideias e sentimentos a que frequentemente nos obrigam, e pela inverosimilhança que se vai tornando verosímil mediante a clareza da escrita e o desenrolar dos factos relatados.

Há nestes textos um misto de comicidade e de inesperado que lhe dão um cunho particular. Como já assinalámos, o seu espírito é simultaneamente crítico e divertido, às vezes quase verrinoso, mas nunca cruel e sempre profundamente humanista. As suas personagens, umas a partir de pessoas conhecidas, outras a partir de relatos, ou textos lidos, outras ainda inventadas, manifestam-se por um frémito de aventura, de heroísmo, ou de loucura, que lhes permite uma afirmação individualmente superadora. Mas que acaba frequentemente por não se concretizar, ou melhor, por serem dominadas e integradas pelo tom crítico e a claridade da sintaxe de que o autor se serve.

Daqui resulta uma espécie de non-sense coerente, porque a estrutura narrativa e a forma estilística utilizada os enquadra, e, de algum modo, os redime aos olhos do escritor. E aos nossos. Tipos com manias, tiques, atitudes insólitas, obsessões, são inseridos em esquemas organizados de discurso e ação, de que o narrador é testemunha, seduzido por esse estranho mundo mas não entrando nele, narrando-o com a objetividade possível. Albano Estrela diverte-se sem dúvida com muitas das suas personagens, mas encontrando sempre nelas uma profunda dimensão humana.

Por outro lado, a morte e o que estará para além dela, a relação alma – corpo, de tão grandes e antigas angústias religiosas e filosóficas, é passada para novelas onde o mais corrente dos cidadãos se assuma cúmplice vivencial dessa problemática eterna e, na sua simplicidade, pretende vivê-la para a compreender. Albano Estrela aborda estas angústias perenes e trata-as ao rés-da-terra, em personagens correntes, mas, por vezes, com algo de megalómano, em todo o caso de mitómano, através de seres que andam nas ruas e por quem passamos sem darmos por nada, mesmo que, através deles nos vejamos frequentemente ao espelho.

Não é a razão a analisar essas problemáticas, mas pessoas correntes em quem certo grão de loucura se manifesta vivenciando esses mistérios, como se encarnassem velhíssimas tradições e práticas, de que o racionalismo moderno anda afastado, e a pós modernidade esquece e até ridiculariza, mas que continuam a viver no mais fundo da nossa alma e afloram no dia-a-dia de quase todos, ou, pelo menos, em situações limite, quando as vivemos.

Mas Albano Estrela trata isto de fora, faltando-lhe eventualmente em dramaticidade o que sobra em descrição factual e relativização quotidiana. No fundo, passa para as personagens o assumir - nas atitudes, nas ideias e nas decisões - dum insólito que o homem atual reprime desesperadamente até à negação, mas de que a literatura precisa de continuar a dar conta. Nesta perspetiva, as suas novelas e contos, por muito insólitos que sejam, adquirem uma frontalidade e uma normalidade desarmante, que talvez o não fosse noutras épocas, mas que o será na nossa, daí grande parte do seu interesse.

Poderá talvez dizer-se que o sentido crítico e a formação racional de Albano Estrela não lhe permitem ir mais longe, o que não apaga, antes realça, o desejo de conhecer essas paragens, a atenção aos seus sinais, e ainda uma sensibilidade ao mistério, ao obscuro, que enforma toda a nossa cultura e muita da sua espiritualidade. Uma tendência recorrente para o espiritual e o misterioso, uma sensibilidade a esses temas como quem retoma uma transcendência que recebeu com a religião e que Deus, ao afastar-se por via do racionalismo, deixou para trás como poças de água turva esquecidas pelas cheias. Em suma, um mistério que nos envolve, que passa para dentro da pessoa e parece transformá-la, projetando para o exterior uma realidade transfigurada e trespassada de um eu que se reproblematiza, ganhando uma calma e uma espécie de clarividência não longe da fundamentação filosófica.

Neste sentido, estes textos são, sobretudo, abertura ao mistério e esperança de o desvendar. Como alguém que tenta conciliar duas pessoas numa, ou os dois lados da mesma pessoa. Não resolve o problema mas não o consegue evitar; não se reconhece numa dupla personalidade, mas sente-a rodeando-o, tentando-o.

É, no fundo e talvez mais simplesmente, a imaginação do artista a trabalhar: a imaginação transplanta para a ficção a preocupação metafísica de um ser que se confronta com a duplicidade de um eu uno e duplo. Essa confrontação de eus é feita de deslocações exteriorizadas da pessoa, de almas que se encontram e dispersam, mas que o autor domina pela simples descrição objetiva dos episódios.

Talvez se possa falar num clássico desassossegado pela psicanálise, a psicologia das profundidades, e a desconstrução pós moderna. Mas na ideia, na temática, e não na forma, como se disse, que revela sempre uma coloquialidade e um gosto pela narração que nunca deixa de o apoiar, digamos assim, e ajudando, obviamente, os leitores.

Mas a obra de Albano Estrela tem outras dimensões. Nas histórias pessoais e de família, e em certas crónicas, aparece frequentemente o Porto da infância e juventude do autor, e uma época – o Portugal da primeira metade do século XX – de que nos dá verdadeiros quadros psicológicos, sociais e morais.
As epifanias sobre certos momentos dramáticos de algumas personalidades célebres constituem um curioso e original processo de entrar nessas personalidades, tentando apanhá-las em momentos muito dramáticos da sua vida. E dos quais resultaram consequências importantes para o futuro.

Todos os momentos da nossa vida podem ser determinantes, é certo, mas nem sempre damos conta disso. É perturbante perceber que, em certos casos e com certas pessoas, esses momentos foram de grande angústia e tiveram consequências na vida de inúmeras pessoas. E, em certos casos, bem dramáticas.

Nas histórias de reformados voltam a aparecer muitos dos problemas anteriores, mas distribuídos por vários tipos e histórias, como se cada uma representasse um problema, real ou possível, da terceira idade. Aqui, as personagens e as situações oscilam entre o caricato, a glória perdida, as ilusões desfeitas, a usufruição da vida sem ter de dar contas a ninguém, e até a própria indecisão que não se consegue ultrapassar, porque decidir implica perder a liberdade; e como a liberdade é o bem mais precioso e pela qual tanto se ansiou, mais vale não decidir, e ter a liberdade como possibilidade, do que concretizá-la numa decisão e perdê-la. Haverá melhor maneira que esta para sintetizar o grande problema dos reformados?

Os textos sobre educação e literatura são mais situações ou leituras onde o humano simplesmente humano, e o seu inesperado, se revela, que propriamente textos doutrinários sobre educação e literatura, que têm um outro e vasto campo na obra de Albano Estrela. Mas, também aqui, a personalidade do autor – perspicaz, divertida e bondosa – se manifesta, pois que ele humaniza tudo em que toca."
João Boavida
Coimbra, Maio de 2018

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Ciência e tecnologia / Humanidades



Criatividade parece ser, nos últimos tempos, a palavra mágica para a reestruturação do curriculum escolar. Ao mesmo tempo, assiste-se, nas últimas décadas, a um quase desprezo pelas humanidades, área dedicada a estudos que são considerados inúteis porque não oferecem aptidões imediatas para o mundo empresarial, esse mesmo mundo que tanto precisa de criatividade.

Edward O. Wilson, biólogo, professor emérito da Universidade de Harvard, apresenta-nos, em Homo Creator, uma interessantíssima e acessível análise sobre a espécie humana, sobre os inícios da criatividade e daquilo que o Homem pode fazer com ela, para o bem e para o mal. 

Aí fala também da relação entre as Humanidades e as Ciências e Tecnologias, defendendo uma relação mais estreita entre elas, pois só assim poderemos contribuir para um melhor conhecimento do homem na sua relação com o os outros e com a natureza.

Um extracto da sua análise:


A humanidade é uma espécie quimérica. A base fisiológica dos nossos sentidos e emoções permanece a mesma dos nossos antepassados símios. A nossa capacidade para as artes criativas — linguagem narrativa, dança, música, imagens — data de antes da rutura africana há mais de sessenta mil anos. Tudo o resto mudou. A ciência e a tecnologia estão a duplicar a cada dez ou vinte anos. Abordam tudo o que existe no Universo, todo o espaço e tempo e tudo na Terra, e em todos os sistemas de estrelas e exoplanetas imagináveis. As humanidades, por outro lado, dedicam-se apenas às pessoas.

Aí reside o dilema das humanidades. Espera-se que elas, e com elas uma grande parte da educação liberal, descrevam e expliquem a essência de um mundo social de emoções paleolíticas, instituições medievais e tecnologia divina, sem nenhuma ideia clara de significado ou propósito. Na busca de um significado, a ciência e a tecnologia têm papéis distintos das humanidades. A ciência (com a tecnologia) diz-nos aquilo que é necessário para irmos onde quisermos, e as humanidades dizem-nos onde ir com o que quer que a ciência produza. Onde a ciência criou novas formas de intelecto e um grande poder material, as humanidades abordaram as questões da estética e do valor ou da ausência de valor, levantadas sobretudo pelas implacáveis energias stakhanovitas da ciência.

O empreendimento humano tem sido dominar a Terra e tudo o que nela existe, permanecendo limitado por um enxame de nações concorrentes, religiões organizadas e outras coletividades egoístas, a maioria das quais é cega ao bem comum da espécie e do planeta. As humanidades podem por si mesmas corrigir essa imperfeição. Estando centradas na estética e no valor, têm o poder de desviar a trajetória moral para um novo modo de raciocínio, que englobe o conhecimento científico e tecnológico.

Para cumprir este papel, as humanidades irão precisar de se misturar com a ciência, porque o novo modo depende acima de tudo de uma autocompreensão da nossa espécie, que não pode ser obtida sem investigação científica objetiva. Tal como a luz do Sol e a luz do fogo que orientaram o nosso nascimento, precisamos que as humanidades e a ciência se unam para elaborar uma imagem completa e honesta daquilo que realmente somos e daquilo em que nos podemos transformar. Essa conjugação é o alicerce potencial do intelecto humano.



Isaltina Martins

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Book Club 4 (2ª sessão) - FÍSICA E PSICOFÍSICA DA MÚSICA

Conferência «Darwin na Madeira» (parte I) - MÊS DA EDUCAÇÃO E DA CIÊNCIA DA FFMS

NOVOS CLASSICA DIGITALIA: LIVROS ON_LINE SOBRE ESTUDOS CLÁSSICOS


Os Classica Digitalia têm o gosto de anunciar 2 novas publicações, com chancela editorial da Imprensa da Universidade de Coimbra. Todos os volumes dos Classica Digitalia são editados em formato tradicional de papel e também na biblioteca digital, em acesso aberto.

Além do usual circuito de distribuição da IUC, a versão impressa das novas publicações encontra-se disponível em todas as lojas Amazon.

NOVIDADES EDITORIAIS

Série “Autores Gregos e Latinos " [textos]

Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epigramas de autores cristãos (livros I e VIII). Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra, IUC, 2018). 154 p.

 [Neste volume reúnem-se os dois livros de epigramas compostos exclusivamente por autores cristãos sobre temas, episódios e figuras daquela que, a partir do século IV, foi oficialmente reconhecida como a nova religião do Império. A encabeçar a Antologia, o livro I inclui 123 peças ditas “piedosas e divinas”, maioritariamente de poetas anónimos: dedicatórias de monumentos, invocações a Cristo ou à Virgem, epigramas ecfrásticos e peças de géneros diversos. Por sua vez, o livro VIII oferece uma recolha de 254 epigramas fúnebres de Gregório de Nazianzo, um dos Padres da Igreja (Capadócia, 329-389), dos quais apenas 158 são formalmente epitáfios. As restantes composições, subordinadas ao tema unitário da morte, têm a forma de orações de defuntos pelos parentes vivos, autorreflexões breves do autor e, a fechar o livro, a extensa série dos epigramas (mais de 40) contra os profanadores de tumbas.]

Carlos A. Martins de Jesus: Antologia grega. Epigramas votivos e morais (livros VI e X). Tradução do grego, introdução e comentário (Coimbra, IUC, 2018). 196 p.

[O livro VI da Antologia Grega inclui 358 epigramas votivos, peças pouco extensas que, destinadas a ser gravadas ou exercícios poéticos sobre um modelo mais antigo, expressam as razões da oferenda a uma divindade de objetos do dia-a-dia do indivíduo que os dedica. Simplicidade e sinceridade são os termos que melhor resumem a maioria destes textos. Quanto ao livro X, já apelidado livro de Páladas pelo elevado número de composições desse poeta nele incluídas, contempla 126 epigramas que devem ler-se como ponto de chegada de uma tradição antiquíssima de poesia gnómica e moralizante. Oscilam estas composições entre o mais luminoso dos otimismos e o mais extremo pessimismo, pesando o prato da balança, com distinção, para o último.]

Visite o catálogo completo dos Classica Digitalia.  

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Debate - Conferência «Escolas inovadoras, crianças criativas» na Torre do Tombo

Pensar o Universo (com os olhos da Química): Conferência de Peter Atkins no Oceanário

Conferência «Humanos do Futuro» da Fundação Francisco Manuel dos Santos

Pareceres da Comissão de Ética da Ordem dos Psicólogos Portugueses a um programa de televisão

Certos canais de comunicação social, entre os quais se contam os de televisão, têm vindo, de modo consciente e deliberado, a atentar contra os Direitos Humanos e, naturalmente, contra os valores éticos que os sustentam. Valores que, como se sabe, constituem a base da convivência, ou seja da relação eu-outro no espaço público.

A dignidade, que encabeça esses valores e lhes dá sentido, de nada vale quando se trata de obter audiências. E assim as obtêm!

Isto diz muito sobre o modo como encaramos a nossa própria dignidade (a verdade é que facilmente nos vendemos e não interessa se é por muito ou se é por pouco) e como encaramos a dignidade do outro (quanto mais ela estiver em causa, mais nos divertimos).

Esses canais de televisão têm, pois, tanto mais espectadores/seguidores quanto mais atentarem contra a dignidade. E não é a escolaridade que muda alguma coisa: países com elevados índices de escolaridade parecem andar à frente nesse atentado, que é organizado e operacionalizado por gente com formação superior, altamente especializada.

Não foi, por certo, a escolaridade que a isso conduziu mas também não o conseguiu impedir, nem vejo como o poderá fazer. Também não vejo como poderão as instituições sociais responsáveis pela mencionada convivência proceder contra programas em que pessoas adultas decidem abastardar a sua própria dignidade e a dignidade de outras pessoas, crianças e adultos.

Questões como a censura não podem ser alheadas da discussão e, nesta matéria, não sabemos bem como nos situar, confundido frequentemente tudo o que pode ser confundido, incluindo o que é do domínio da ética.
Imagem recolhida aqui

Neste cenário não será fácil o trabalho de entidades cuja vocação se situa nesse domínio, mas isso não significa que ele seja irrelevante. Em Portugal um esforço muito convergente de entidades dedicada à protecção de menores fez com que o tribunal suspendesse o programa Super Nanny  Isso foi sem dúvida uma vitória contra a exposição da privacidade e intimidade a que as crianças têm direito,

Talvez esta decisão tenha feito com que a produtora de conteúdos para a mesma estação de televisão solicitasse parecer à Comissão de Ética da Ordem dos Psicólogos Portugueses para se pronunciar sobre a intervenção profissional no programa Casados à Primeira Vista, o qual, como o leitor deve saber, consiste no casamento (!?) de pessoas que não se conhecem, aconselhado por especialistas.

O resultado consta aqui e aqui e, apesar de serem apresentados princípios genéricos, não se pode dizer que sejam propriamente favoráveis à participação dos psicólogos no tipo de programas em causa. Esta é a ideia com que fiquei depois de ler os pareceres da Ordem, bem como declarações de representante da Ordem e de psicólogo da equipa de especialistas.
__________________

Sobre o assunto vale a pena ler o artigo de Ana Bela Ferreira intitulado "Casados à Primeira Vista": psicólogos abrem polémica com Ordem, publicado no Diário de Notícias, de 17 de Novembro: aqui).

Hubert Reeves Explica a Biodiversidade

Hubert Reeves, autor de livros de divulgação científica sobre astrofísica, que li na adolescência, é autor de uma banda desenhada recente sobre biodiversidade, publicada pela Gradiva.

"Hubert Reeves Explica a Biodiversidade" é um livro que sugiro na rubrica "Dá-me livros" da rádio Zig Zag (dirigida a crianças):

http://www.rtp.pt/play/zigzag/p2722/e373694/da-me-livros

EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?

No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...