terça-feira, 26 de março de 2013
Depois de tanta esperança e de tanto esforço
A cidadania tornou-se um tema de tratamento obrigatório em todas as escolas, por todos os educadores e professores, desde o jardim-de-infância até ao ensino secundário e também no ensino superior.
As áreas disciplinares e disciplinas foram reconvertidas para abordar na perspectiva da educação para a cidadania os temas que lhes são específicos, ou pelo menos alguns deles. Além disso, a cidadania foi estabelecendo os seus próprios temas, que não param de se desdobrar: educação para a saúde, rodoviária, para a paz, para a convivência, para a multiculturalidade, para a diferença, etc, etc, etc,
A educação para a cidadania tornou-se o centro do currículo escolar.
Isto no pressuposto de que seria a (única) solução para acabar com os males da humanidade: poluição, racismo, obesidade, violência, desigualdade, comportamentos de risco e tudo o mais que impedisse a harmonia e a felicidade na terra...
Depois de tanta esperança e de tanto esforço, eis que um sujeito ainda jovem, com pelo menos doze anos de aprendizagem da cidadania, saiu-se, em público, com uma expressão simples de entender e, seguramente, representativa do modo de pensar vigente. A expressão foi "peste grisalha". O sujeito ainda jovem integra o governo da nação. A nação, deixou breves apontamentos, mas não estremeceu. E tudo já foi esquecido.
Mas não devia. Porque este tristíssimo caso é (mais) uma evidência do falhanço do caminho que trilhamos na educação para a cidadania.
sábado, 23 de março de 2013
Ainda o deputado Carlos Peixoto e um comentário ao meu post "Os filhos da praga cinzenta"
sexta-feira, 22 de março de 2013
50 lições de filosofia
Está já disponível o blog de apoio do novo manual escolar de filosofia intitulado 50 Lições de Filosofia, da autoria de Aires Almeida, Célia Teixeira e Desidério Murcho. Trata-se de um manual para o 10.º ano de escolaridade português. No blog iremos dar apoio a professores e alunos que usarem o nosso manual, e disponibilizaremos também materiais complementares. Todas as críticas e sugestões são bem-vindas!
A FÍSICA DO KLIMT
É a economia!
E os interesses é o que mais ordena. Um prémio chorudo agora, um bom lugar como consultor no futuro. E tudo isso acaba por ficar demasiado caro porque para ser obtido podem provocar-se, se necessário, embora muitas vezes de forma involuntária, colapsos e crises económicas. Assim, há que falsificar os resultados dos modelos para servirem os objectivos e as agendas ocultas. Ora isso não é ciência nem economia. E, se é para nos aborrecerem todos os dias com a economia, ao menos que sejam honestos e não se desculpem a dizer que é mais complicada do que a física, química ou mecânica: digam antes que certos economistas têm menos escrúpulos em fazer batota, têm ideologias ou seguem agendas ocultas.
Does Spelling Matter?
Reviewed: Does Spelling Matter? by Simon Horobin
http://www.newstatesman.com/culture/2013/03/reviewed-does-spelling-matter-simon-horobin
It is a nice idea that spelling should be more phonetic and should represent better the sound of the words, until you realise that not everybody chooses to pronounce the words in the same way.
(via Instapaper)
quinta-feira, 21 de março de 2013
Nunca Mais
«As grandes calamidades sempre geram lições e, sem dúvida o drama mais terrível que a Nação sofreu em toda a sua história servirá para compreendermos que só a democracia é capaz de preservar o povo de tal iniquidade; que somente ela pode manter e salvar os sagrados e essenciais direitos da criatura humana. Só assim poderemos ter certeza de que NUNCA MAIS em nossa pátria acontecerão os factos que nos fizeram tragicamente famosos no mundo civilizado.»
Em um país, que até há pouco tempo entre nós era considerado um país do terceiro mundo, houve coragem para se elaborar um relatório desta natureza. No meu país, todavia, faltou denodo à democracia para investigar os crimes cometidos durante as várias décadas de fascismo. É hábito latino passar uma esponja pelo passado, e deixar que caudilhos, com rosto de democrata, envolvidos em escândalos, em corrupção e até em assassínios, regressem à cena política e mediática. A eleição de S. Berlusconi para o governo italiano e a impunidade, em Portugal, de eminentes historiadores e escritores envolvidos na ditadura do estado novo, são dois exemplos flagrantes; depois do 25 de Abril, estes historiadores e escritores, continuaram alegremente nas suas funções, e perpetuaram-se pelos jornais diários como cronistas. Esta leviandade permitiu que Sá – Carneiro fosse primeiro-ministro, apesar das suas ligações ao fascismo, e que espalhasse pelo país um mundo onírico, mundo no qual que estamos prestes a entrar: o regresso ao fascismo.
A igreja católica foi também um dos pilares do estado novo, e alguns senhores ainda hoje se recusam a ver o evidente, e até negam o seu envolvimento com a ditadura. O perdão em mim tem limites, e não posso conceder indulto a senhores que de forma consciente permitiram que milhares de pessoas neste país morressem tuberculosas. Quando reverenciamos criminosos, é porque os aceitamos, quando nos entregamos ao mutismo, é porque aceitamos. A união europeia está a caminhar a passo estugado para o fascismo, e a igreja, estultamente, adiantou-se e resolveu eleger para o pontificado um senhor com um passado nebuloso e de complacência com o regime de J. Videla (isto para muitos argentinos). Para que não restem dúvidas sobre a posição pendular da igreja temos que ler o relatório de Sábato:
«1-Sobre atitudes de alguns membros da Igreja
É neste último parágrafo que muitos argentinos e a senhora presidente Kirchner incluem o Papa Francisco. E não é o subterfúgio da igreja, dita universal, de que a suspeita e a calúnia vêm de grupos de extrema-esquerda que apaga o passado de Bergoglio. Tem que ser o próprio, em nome da verdade, a explicar a sua posição.
No relatório estão vários depoimentos contra padres que rezam factos impensáveis:
«…Também ouvi-o defender e justificar as torturas …» (Depoimento de Luis Velasco)
Os depoimentos e as denúncias, não deixam margem para conjecturas hipotéticas. A igreja católica argentina, para além de compactuar com a ditadura, foi cínica e hipócrita.
A felicidade de aprender
Podendo parecer que não, a felicidade é um assunto central na Pedagogia. O seu debate foi convocado logo nos primeiros textos que se reportam à educação formal e nunca mais desapareceu do horizonte dos filósofos que se interessaram e interessam por esta área. As orientações desse debate têm, naturalmente, sido diversas, como é compreensível em assunto tão subjectivo, mas a sua extensão e inflexões daria, no presente, um tratado do maior interesse.
Num registo leve, que não deixa de ser profundo, várias têm sido as obras a tocar no tema. Aqui deixo uma breve passagem duma que considero particularmente bem conseguida: A felicidade de aprender e como ela é destruída, da autoria de François de Closets
"Não entendo como a felicidade de aprender é partilhada por tão poucos - essa felicidade que iluminou toda a minha vida, e fez dela uma existência sem rotina e sem tédio. Gostaria de perceber como é possível que o prazer da descoberta não desempenhe na vida da maior parte das pessoas o mesmo papel que nelas desempenha o prazer de amar ou de possuir (...)Referência completa: Closets, F. de (2002. Edição original: 1996). A felicidade de aprender e como ela é destruída. Lisboa: Terramar, 9 a 13.
Nenhuma sociedade havia dado, antes da nossa, instrução a todas as crianças e liberdade a todos os adultos. Esta dupla oportunidade, a crer no sonho social de muitos utopistas, deveria ter despertado o gosto pela iniciativa, o desejo pela investigação, uma curiosidade insaciável. Aconteceu, apenas, que esse sonho não se concretizou. O que vemos à nossa volta é uma passividade generalizada, um conformismo moldado pela pressão mediatico-publicitária. Todas as atitudes se tornam previsíveis, todas as reacções esperadas - os sinais de um condicionamento tristemente eficaz estão por toda a parte visíveis.
(...)
As sensações que experimentara no contacto com o mundo da ciência - a vertigem da ignorância, a angústia do erro, o esforço de aprender, o prazer da descoberta, o jogo da simplificação -, voltei a encontrá-las na abordagem de outros domínios, quando a ciência deixou de me interessar. À beira dos sessenta anos, continuo a sentir-me como sobre uma linha de partida, pronto para novas expedições. No dia em que a minha curiosidade esmorecer, nesse dia saberei que o meu tempo terá passado.
Essa felicidade que busco através da curiosidade não é, no entanto, uma extravagância nem, aliás, uma esquisitice da minha natureza. Há mais gente assim. Gente com pude partilhar uma espécie de cumplicidade gustativa e um pouco glutona. Há mais gente do que se pensa a cultivar o seu jardim secreto. Diferem todos uns dos outros, é certo; cada jardim tem as suas flores e os seus arbustos próprios, mas o que une todos os jardineiros é o amor com que se entregam à tarefa, unicamente interessados no prazer que ela lhes dá."
quarta-feira, 20 de março de 2013
Sugar, not fat, exposed as deadly villain in obesity epidemic
"Passou-me ao lado"
O primeiro diz tratar-se de uma história autobiográfica com vinte anos, quando se encontrava ainda em a formação, mas que “iria assombrá-lo ao longo de toda a sua vida.
"Um jovem médico está de banco no hospital, à espera de conseguir dormir umas horas nessa noite, quando recebe um telefonema a dizer que tem de ir examinar um doente que acabou de dar entrada na urgência. Ao longo da noite, o doente, que sofre aparentemente de um problema pulmonar, piora apesar dos tratamentos que lhe vão sendo administrados. E acaba por morrer. A seguir, quando o médico recebe o resultado da autópsia, percebe que não soube ver um sintoma-chave do doente (um sopro cardíaco), apesar de ter estado, literalmente, à frente do seu nariz. Fez um diagnóstico errado – um erro fatal."Falar do erro, analisar o erro, com saber e ponderação, seja em medicina seja noutra área profissional que requeira grande responsabilidade pelas pessoas, constitui um passo fundamental para a sua desocultação e, em sequência, para a sua transformação em conhecimento, para a sua superação e para a sua prevenção.
Nota: Tive conhecimento desta história através do artigo de Ana Gerschenfeld, saído no Público (em papel) de hoje, dia 20 Março, página 29.
A EVIDÊNCIA DA EVOLUÇÃO
Carlos Fiolhais apresenta o livro "Evidência da Evolução" de Jerry Coyne recentemente saído na Tinta da China: http://nautilus.fis.uc.pt/rc/?p=950
German researchers publish full Neanderthal genome
The Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, in Leipzig, Germany, hascompleted the genome sequence of a Neandertal and makes the entire sequence available to the scientific community today.
(via Instapaper)
terça-feira, 19 de março de 2013
PEN Clube contra a nova ortografia
1. Defendem a necessidade de suspensão imediata da aplicação do AO, a fim de que possa ser retomada uma discussão pública séria sobre um assunto que não pertence ao foro político nem económico mas linguístico e cultural;
2. Consideram que, tal como os autores dos pareceres qualificados sobre o Acordo, que em 2008 foram completamente ignorados e cuja opinião deve ser tomada em consideração, também os escritores, que trabalham com a matéria-prima da língua e que na sua grande maioria sofrem com os resultados da amputação das raízes em muitas palavras, tornando estas irreconhecíveis, têm que ser ouvidos, quer individualmente, quer através das organizações que integram, como a Associação Portuguesa de Escritores (APE), o PEN Clube Português e a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
http://ilcao.cedilha.net/?p=10222
A importância das humanidades
It's not to say that technological innovation is not a creative enterprise. Google changed the world, absolutely. But it didn't make the world. It organized it. And that's great, but if you're not creating things, and all you do is organize other people's stuff, then you're Wikipedia. And Wikipedia is awesome, but who is going to write the stuff that goes into Wikipedia?
http://news.stanford.edu/news/2013/march/rachel-maddow-speech-031913.html
DESCOBERTO MECANISMO CHAVE NA FORMAÇÃO DOS GLÓBULOS VERMELHOS
A cada segundo são produzidos cerca de 2,4 milhões de glóbulos vermelhos numa pessoa saudável. Mais de cem mil milhões todos os dias! Este número pode parecer muito grande mas é a realidade que permite a renovação regular e normal dos cerca de cinco milhões de glóbulos vermelhos, ou eritrócitos, que existem num mililitro de sangue, conferindo a este a sua característica cor vermelha. Cerca de um quarto de todas as células que compõem o nosso corpo são eritrócitos!
Se por um lado os vários passos celulares da eritropoiese são conhecidos há muito tempo, por outro lado os mecanismos bioquímicos, a base molecular subjacente à transformação de uma célula estaminal nas sucessivas células precursoras ainda não é totalmente compreendida.
segunda-feira, 18 de março de 2013
MOOC: revolução ou fantasia?
Do meu ponto de vista, estes cursos são mais uma tolice pedagógica, limitando-se a continuar a tolice do ensino medieval em que ainda estamos mergulhados. Inventámos a ideia engenhosa de um professor a falar para várias dezenas de estudantes num tempo em que quase não havia livros, estes eram caros e difíceis de obter. Neste contexto, e dado não haver na altura meios de gravação de áudio, fazia sentido pagar a um professor para recitar um livro para dezenas de alunos, que diligentemente tentavam anotar o máximo que conseguiam. Porque as escolas e universidades se caracterizam por um conservadorismo que as faz continuar a ensinar que a Terra está no centro do universo cem anos depois de se saber o contrário, continuamos a usar aproximadamente o mesmo método de ensino, que era razoável há trezentos anos.
Mas hoje esse método de ensino não faz sentido porque temos livros e textos baratos, tanto em papel como electrónicos, que quase qualquer pessoa pode comprar (e quem não pode comprar, o estado pode pagar em seu lugar, tal como paga aos professores para dar aulas). Quem quiser aprender história da pintura, física quântica ou seja o que for só precisa de se deitar a estudar: a bibliografia de qualidade está aí para quem a quiser estudar. O único papel relevante de um professor é discutir ideias com os alunos e avaliar os seus trabalhos e exercícios; a exposição oral (quase sempre desorganizada e sem rigor) do que os estudantes podem ler num livro ou texto bem organizado e rigoroso é pura tolice.
A maior parte dos estudantes nada aprendem com os professores, em qualquer caso, excepto coisas artificiais para pôr nos exames e que são felizmente esquecidas duas semanas depois. O único estudo que conta realmente é o estudo individual de livros e artigos, a redacção de trabalhos, a resolução de exercícios inteligentes e a discussão do que desse modo se aprendeu com colegas e professores. A exposição oral de matérias, que é tudo o que as pessoas associam ao ensino, é a parte irrelevante e até perniciosa do ensino, pois consiste demasiadas vezes em caricaturas da realidade das coisas.
Assim, os MOOC já existem há muito tempo. Basta que quem quiser estudar X se junte num fórum da Internet para discutir os livros e textos que há muito estão disponíveis, e basta que nesse grupo algumas pessoas tenham mais conhecimento do que outras. Não é preciso dar-lhe um nome chique e ainda menos fingir que é uma novidade, sobretudo se, como se viu no inquérito divulgado no Chronicle of Higher Education, a maior parte dos professores gravou vídeos com eles mesmos falando (!) para dar aos alunos. Duh? Qual é a metafísica pedagógica assim tão extraordinária de um passarão a falar coisas vagas quando pode escrever coisas rigorosas?
In the Digital Era, Our Dictionaries Read Us
In the Digital Era, Our Dictionaries Read Us - The Chronicle Review - The Chronicle of Higher Education
http://chronicle.com/article/In-the-Digital-Era-Our/137719/
The days of displaying a thick Webster's in the parlor may be past, but dictionaries inhabit our daily lives more than we realize. "There are many more times during a day that you are interacting with a dictionary" now than ever before, says Katherine Connor Martin, head of U.S. dictionaries for Oxford University Press. Whenever you send a text or an e-mail, or read an e-book on your Nook, Kindle, or iPad, a dictionary is at your fingertips, whether or not you're aware of it.
(via Instapaper)
EM QUE ACREDITA O SENHOR MINISTRO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E INOVAÇÃO E A SUA EQUIPA?
No passado Ano Darwin, numa conferência que fez no Museu da Ciência, em Coimbra, o Professor Alexandre Quintanilha, começou por declarar o s...
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Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
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Não Entres Docilmente Nessa Noite Escura de Dylan Thomas (tradução de Fernando Guimarães) Não entres docilmente nessa noite seren...
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Outro post convidado de Rui Baptista: Transformou-se num lugar-comum atribuir às gerações posteriores a responsabilidade pela perdição do mu...