sábado, 24 de outubro de 2020

METER FOICE EM SEARA ALHEIA?


“Ensinemos o intelectual a compreender e… a amar o desporto, 
a ver nele obra de ciência e arte; e por sua vez, 
ensinemos o desportista a compreender e a amar a vida mental, 
a ver na ciência e na arte maravilhosos exercícios desportivos, 
já que a ciência e a arte são afinal a alma radiosa do verdadeiro e humano desporto” 
(Sivio Lima professor catedrático de Letras na Universidade de Coimbra, 1904-1993).

Reporto-me à ocasião em que fui convidado pelo presidente do Núcleo de Orientação Escolar e Profissional da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Professor Manuel Viegas Abreu, para aí proferir a Conferência subordinada ao título “A unidade do Homem pelo acto motor" (17/01/1990).

Como simples amador (aquele que ama), pela minha formação académica em outras áreas do saber, ou seja como professor de Educação Física, quiçá por o desporto ser um cadinho do que se passa no sistema educativo, provocatoriamente, comecei por chocar a assistência de académicos trazendo à colação a ocorrência de uma mãe, que preocupada com a educação do seu filho rebelde, ter perguntado angustiada a Sigmund Freud: "Professor, como devo educar meu filho?” A resposta, foi desanimadora para quem procura receitas: "Minha Senhora, faça o que fizer fará sempre mal!"

Comecei desta forma derrotista, para esclarecer os alunos presentes que o mal dos pais/educadores é quererem a educação dos filhos sujeita a receitas ou a determinados padrões igualitários com se os educandos reagissem todos da mesma maneira. Não reagem, muito longe disso!

A educação é uma obra feita entre filhos e pais em colaboração estreita sem comportamentos padronizados colhendo possíveis culpas só do lado dos educandos, fechando ou semicerrando os olhos em ocultação de responsabilidades por parte dos educadores. Em longas conversas havidas com um catedrático da Faculdade da de Ciências do Desporto e Educação da Universidade de Coimbra, Manuel João Coelho e Silva, sobre as muitas dúvidas havidas. sobre a forma de educarmos os nossos filhos, ambos rapazes, eu com uma experiência mais lata ele nem tanto, foi esta temática por nós abordada com muitas dúvidas e poucas certezas, mas nunca padronizadas.

Concordo com esse meu ilustre e estimado Colega quando me advertiu, de forma lapidar, que " a norma social destrói talentos". Apesar de tudo, as nuvens plúmbeas do passado podem tornar-se num horizonte promissor e radioso. Eles que sigam o seu caminho amparados na bengala dos conselhos dos seus progenitores, a maior parte das vezes encarregados da sua educação, nunca de forma impositiva.

Este um diálogo circular em que, quando chegamos ao fim, deparamo-nos com muitas outras dúvidas. Seja-me desculpado, pelos especialistas académicos desta complexa matéria este meu arrazoado de “teorias” que não está livre de dar razão a Sigmund Freud por elas fazerem jus, por “mea culpa”, a orelhas moucas às teorias pedagógicas que têm muito de arte e em que, "ipso facto", a inspiração do educador tem um papel importante.

Mas não é tudo! Reforço, que me perdoem, principalmente, os teóricos da Pedagogia em eu meter foice em seara alheia, mas que é, ainda que em menor escala, de todos os pais, educadores natos! Neste processo, as mães devem ter um papel moderador muito importante sem se tornarem em árbitras que, por instinto maternal,  em que muitas vezes, tomam o partido dos filhos.

Nada mais pernicioso que as mães desautorizarem os pais, ou vice-versa, na presença dos filhos. Já ouvia dizer na tropa do meu tempo de oficial miliciano que ordem e contra-ordem dá desordem! Em prejuízo próprio, evoco Ramalho Ortigão, figura do seu tempo que mais se bateu pela cultura física, esperando não lhe dar razão completa quando escreveu: “Como cultura física indigência igual à cultura mental, se falando metem os pés pelas mãos, calados metem os dedos pelo nariz.” Antes meter os pés pelas mãos, do que calado meter os dedos pelo nariz. Do mal o menos em nome das boas-maneiras!

Leitor, se, por desventura minha, achar que o que escrevi não tem pernas para andar são e escorreito e se, porventura, tiver impresso em papel a minha “escritura”, ”acerque-se do cesto dos papéis faça dos papéis um bola e tente encestar.

Não terá perdido o seu tempo pois melhorará substancialmente, se insistir nesta prática, a sua coordenação óculo-manual tão necessária, por exemplo, a uma condução automóvel eficiente.

1 comentário:

Rui Baptista disse...

Julgo que a minha experiência pedagógica em lidar 18 anos com os alunos da saudosa Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque de Lourenço Marques contribuiu para a alma com que escrevi este "post", ainda que temendo, que ao teorizar essa experiência, ser tido como ceifeiro atrevido por meter foice em seara alheia.

Nunca, por nunca, foi essa minha intenção que desde o princípio salvaguardei com sendo uma espécie de relato de uma vivência em que colhi grandes amizades de discentes que muito me desvanecem, ou comovem mesmo, sempre que dela me lembro em memória que continua a encher-me de júbilo.

A esses alunos muito devo daquilo que sou como cidadão e docente. Bem hajam, portanto!

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