terça-feira, 18 de agosto de 2020

ESTUDO AUTÓNOMO

 

Novo post de Nuno Pereira (psiquiatra):

    Em tempo de pandemia, o ensino a distância (EAD), baseado sobretudo em aulas expositivas virtuais e nos clássicos trabalhos para casa (TPC), pôs a descoberto a falta de autonomia no estudo de muitos alunos, com a consequente desmotivação destes, apesar do empenhamento redobrado dos pais. As tecnologias da informação e da comunicação (TIC), ferramentas muito úteis de ensino e aprendizagem, não determinam o modelo pedagógico. A capacidade de autoaprendizagem constitui um pré-requisito do ensino com intermediação tecnológica e, independentemente de o sistema educativo ser presencial, digital ou híbrido, assume importância decisiva no êxito escolar e na atualização contínua. Ora, o etéreo “Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória” aprovado pelo Ministério da Educação parece não contribuir para a criação de estratégias concretas de desenvolvimento do estudo autónomo.

    A falsa dicotomia, há muitos anos ultrapassada, entre a escola antiga centrada no professor e a escola nova centrada no aluno pode fazer desfocar o objetivo primordial que é tornar o estudante capaz de transformar a informação em conhecimento e de o colocar em prática. Sendo a pessoa objeto e sujeito, aspetos polares inabordáveis em simultâneo, justifica-se uma metodologia aberta, em que o professor oscila entre transmissor e facilitador e o aluno, entre recetor e construtor. Perante a massa avassaladora de informações no mundo atual, o aluno que não sabe estudar com autonomia fica com fraca preparação académica e seriamente limitado para continuar a aprender de forma consistente. Claro que a formação integral da pessoa se realiza aprendendo a conhecer, a fazer, a conviver e a ser, em diferentes ambientes não só formais, como não formais e informais.

    Para melhorar os resultados escolares, quer o Ministério da Educação quer os professores e os encarregados de Educação adotam estratégias distintas. O primeiro tende a condicionar a escola para baixar a fasquia da exigência. Os segundos encorajam o aumento do esforço dos alunos e do número de aulas, sem contar com as explicações privadas, o que pode explicar que Portugal tenha uma das maiores cargas de aulas e de trabalhos para casa (TPC) da Europa. Nem abdicar da excelência nem investir na quantidade de esforço e de aulas representam boas soluções. Só uma prática pedagógica que envolva o ensino do conteúdo curricular e do modo de o aprender.

    Potenciar as capacidades naturais dos alunos para estudarem eficientemente, isto é, com eficácia e menor despêndio de energia, eleva a autoestima e a motivação e garante mais tempo para dedicarem a outras atividades extracurriculares e estarem com a família e os amigos. Assim, integrar, no âmbito de cada disciplina, a partir do 2º Ciclo de escolaridade, o método de estudo autónomo não só promove o sucesso escolar, como otimiza a aprendizagem ao longo da vida.

 

                                                                               Nuno Pereira (psiquiatra)

1 comentário:

Anónimo disse...

"Perante a massa avassaladora de informações no mundo atual, o aluno que não sabe estudar com autonomia fica com fraca preparação académica e seriamente limitado para continuar a aprender de forma consistente"
Nuno Pereira

Contrariamente ao que possa pensar o Doutor Nuno Pereira, apesar da "massa avassaladora de informação no mundo atual", nas escolas secundárias, pelo menos no que se refere às disciplinas "clássicas", as estratégias de ensino vão cada vez mais no sentido de reduzir ao mínimo dos mínimos as matérias abordadas, de tal maneira que certas áreas do conhecimento estão em sério risco de desaparecerem dos programas e das salas de aula. As matérias perigosas, que para o ministério da educação são todas as matérias que alguns alunos acham difíceis, devem ser rapidamente banidas dos recintos escolares. Eu, por exemplo, ainda sou do tempo em que, na disciplina de física, se estudava o movimento relativo de Galileu e Einstein! Hoje, tudo é diferente e pequenino: já não é preciso estudar o momento angular, fundamental para entender o movimento de rotação, nem a estática, onde se aprendia o equilíbrio dos corpos, ou a conservação do momento linear em sistemas físicos que não sejam unidimensionais... Parece que, no mundo físico, só ocorrem colisões e explosões em linha reta!
O que interessa é que os alunos se preparem bem para os exames, que só têm um peso de 30 % na nota final, repetindo, ad nauseam, os exercícios que saíram nos anos anteriores.
Com estes tristes pressupostos, resta-nos a esperança de que a boa qualidade do ensino em Portugal possa vir a ser resgatada por umas consistentes “recuperações das aprendizagens”, a aplicar aos alunos dos primeiros anos dos cursos universitários, duplicando assim o procedimento de “recuperação das aprendizagens” previsto para os próximos meses de aulas dos alunos, do básico e secundário, que tão prejudicados foram, no seu percurso normal de “melhoria das aprendizagens”, quando os mandaram para o ensino a distância, devido à pandemia da covid-19.

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