domingo, 22 de março de 2020

EM HORAS DE ÓCIO FORÇADO

 “Na regra de aprender as lições importantes na vida, 
devemos todos os dias superar o medo”.
Ralph Emerson (filósofo e poeta, 1803-1882)


A obrigatoriedade de permanecermos prisioneiros dentro das paredes de nossa casa, porque desocupados com as tarefas do nosso múnus profissional em que andamos em rodopio, quais baratas tontas, de casa para a rua e da rua para casa, impedem-nos de fazer uma retrospecção sobre a verdadeira finalidade das escolhas que faremos neste tempo de clausura, sem o recurso dos cábulas, aprisionados pelos progenitores nos quartos para estudarem mas, que entediados, em vez de o fazer se entretinham a matar, com pequenos elásticos, pobres e inocentes moscas pousadas em tudo que era sítio.

Por esse facto, agradeço, vezes sem conta, ainda que com o risco de me repetir, com as mãos da gratidão levantadas à memória de  minha falecida mãe, de nome Sofia (como é sabido, sabedoria em grego), senhora  de uma grande cultura literária devota queirosiana, camiliana, etc. Reside aqui a gratidão filial por me ter sido transmitida em herança o hábito de ler (e reler) grandes autores da nossa riquíssima literatura como forma de combater o hábito da preguiça, em voga nos escolares de outros tempos e hoje ampliada por sinopses de meia centena de folhas da grandes obras literárias.

Como escreveu Eça, referindo-se ao seu tempo, bem pior hoje pelas distracções advindas das novas tecnologias (audiovisuais), não se lê folheando apenas os livros de alguns grandes autores portugueses. Hoje, exceptua-se, quiçá, com a morbidez curiosa de uma paixão incestuosa, “Os Maias”, presente habitual nos programas escolares, meu escritor de mesinha de cabeceira, com o seu fino recorte literário e humor requintado em que que uma risada crítica sua sobre a estupidez humana fazia ruir instituições levando-o, como tal, a farpear, de parceria com a Ramalhal figura, a velha tolice humana que, para eles, tinha cabeça de touro!

Contrariamente, tempos atrás, foi expurgado, do ensino escolar português, o escritor de São Miguel de Seide, como escrevi no meu post, aqui publicado com o título provocatório de “O Ódio de Perdição” (09/08/2018), autor deste livro editado também em França com o título (“Amour de Perdition”) mas difícil de encontrar nas livrarias gaulesas pela sua grande procura. Daqui se colhe o aforismo de que “santos ao pé da porta não fazem milagres”, mas daí a cometer este crime de lesa cultura vai um percurso, criticado por Maria Amélia Vaz de Carvalho para quem a prosa camiliana constitui a “personificação do génio português”.

Hoje, por vezes, as próprias instituições empregadoras nacionais (incluso universidades) dão guarida a indivíduos desacreditados sob o ponto de vista cultural-científico excluindo aqueles que têm a verticalidade e a coragem excepcionais para reagir contra este “status quo” pagando com os juros elevados de serem preteridos nas suas carreiras profissionais por “Francis, o macho que fala”, personagem de um filme, com este nome, da minha juventude, que servia de chacota para referenciarmos pessoas de micro cérebro e macro ego do tamanho do Universo!

5 comentários:

Micro cérebro disse...

Palavrear é deitar a alma fora.

Rui Baptista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui Baptista disse...

"Micro cérebro": Gostaria que me explicasse a intenção da sua frase! Antecipadamente grato.

Micro cérebro disse...

O resumo é mais grandioso do que a análise.

Rui Baptista disse...

Charadas nesta altura, não, obrigado!

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