domingo, 23 de fevereiro de 2020



RACISMO

“Liberdade não é poder escolher entre preto  e branco, mas sim abominar este tipo de propostas de escolha” (Theodor Adorno).

Ontem, em simples acaso, vi uma foto de uma escola feminina de Moçambique em que o número de alunas  brancas era diminuto relativamente ao número de alunas de cor.

Refiro este facto,  desafiando os que acusam os portuguese de horrendo racismo de publicarem uma foto do género em tempos do apartheid sul-africano em que havia bancos nos jardins em que só era permitido sentarem-se brancos. E ai dos negros que infligissem esta regra: era prisão certa precedida de sevícias! 

Aliás Moçambique, ressalve-se excepções de gente ignorante e boçal, era um exemplo de tolerância  que me orgulha de ter sido professor da Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque (Lourenço Marques)  em que o Desporto promovia o respeito e principalmente, a amizade, entre uma verdadeira babilónia de  alunos de várias cores de epiderme, de estratos sociais,  culturais e religiosos. Hoje, o ataque verrinoso ao racismo lusitano é centelha para promover incêndios irreparáveis que mais não pretendem do que acicatá-lo acordando a besta que existe na condição dita humana.

Conto a propósito de um caso passado com meu irmão nascido em Angola e que tinha sido antes da independência colega liceal de Diógenes Boavida, que jogou futebol em Portugal na Académica e no Belenenses. Depois de 25 de Abril, tendo ele permanecido meses em Luanda, estando numa cerimónia oficial diz-lhe Diógenes, ministro do MPLA: "Vê lá tu que me roubaram o automóvel !"Respondeu-lhe, meu irmão na brincadeira: "Não foi um branco de certeza, somos tão poucos que era logo apanhado"! Riram-se ambos com amizade.

Em Luanda (década de 40, do século passado), era enfermeiro o pai de Diógenes, de epiderme negra,  que quando ia a minha casa para dar uma injecção era tratado por Senhor Boavida. Com isto, não estou a tentar branquear com "OMO" o racismo branco, ele existe como existe o racismo negro. Mas o pior que se pode fazer é ateá-lo ao ponto a que chegou em Moçambique quando uma horda ululante de negros avançou  sobre Lourenço Marques e que pelo caminho degolava galinhas só porque as sua penas eram brancas. 

Bem eu se, que Nelson Mandela há só um, essa a tragédia de uma humanidade que parece estar a regredir à Idade Média"!

2 comentários:

Branca de Neve disse...

A História formatou o racismo quase como um arquétipo, uma forma-cristal vazia, mas de núcleo persistente que atravessa as gerações como indutora consciente de ação. Porque a pele é escura, e este é o núcleo invariável de significação - a lógica da forma, da matéria (sobrepondo-se ao racional), quem dela biologicamente se reveste é acusado de todas as imperfeições culturalmente associadas e esta conclusão especulativa, incrustada no inconsciente coletivo, assume formas individuais de exclusão. As representações simbólicas do “negro” condensaram-se em estruturas quase intransponíveis de irrazoabilidade, o que se manifesta em atitudes desprovidas de lógica, tais como as que aconteceram no passado e acontecem no presente. Logo, o racismo não é aceitável porque não tem sentido social, nem lógica científica. É água tóxica subterrânea que apodrece as dinâmicas sociais, pondo em questão direitos humanos e a paz que todos merecemos.
Compreenderia se todo esse ódio fosse direcionado para quem prevarica e prejudica seriamente os outros (homicidas, pedófilos, violadores, traidores, ladrões e “coisas” afins). Não se entende uma justiça subserviente à compreensão do mal, por intermédio do anjo de luz da psicologia, permitindo a multiplicação de comportamentos grotescos. Ainda não estamos num patamar civilizacional que nos permita o afrouxamento da punição.

Jorge Olímpio Bento disse...

A estranheza do diferente ou Outro é uma 'natureza' dos indivíduos e dos povos, independentemente da etnia ou tonalidade da pele. Ela é modificável através da educação e das circunstâncias da vida. Creio que os portugueses não pertencem ao número dos povos que mais estranham o Outro. Porquê? Porque, no decurso da sua história de quase 900 anos, interagiram e aprenderam intensamente com uma ampla panóplia de povos; deste jeito adquiriram a condição de universalidade.

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