segunda-feira, 9 de setembro de 2019

"Uma mente brilhante... é mesmo uma mente brilhante!"

"Uma mente brilhante... é mesmo uma mente brilhante!" 
"Ser Ministro da Educação dá um orgulho do caraças!"  
Estas são duas das declarações/perguntas que a apresentadora de um dos programas de televisão de maior audiência em Portugal fez, com o grande entusiasmo que é a sua imagem de marca, ao Ministro da Educação, hoje seu entrevistado durante mais de vinte minutos.

Imagem recolhida aqui
A presença deste ministro num programa que se situa (como direi?) entre o ligeiríssimo e o histriónico seria estranha se a sua estreia não tivesse tido a bênção do Presidente da República e antes não tivessem lá estado o Primeiro Ministro (com a família) e a líder de um partido conservador(com família). Isto tanto quanto sei.

Com tais antecedentes (afinal, os mais altos representantes do Estado e da política), sentar-se um Ministro da Educação no confortável sofá escolhido (diz-se) pela própria apresentadora, passou de "coisa estranha" a "coisa normal". Confirma-se o slogan de Pessoa: "primeiro estranha-se, depois entranha-se".

Pouco disse sobre educação o Ministro da Educação: como parece ser aceitável e (ao que parece) sedutor, partilhou com o público o seu espaço privado, falou sobretudo de si e dos seus. Esse pouco foi o que se segue (ver ao 20.º minuto: aqui):
- "Ter alguém como o Tiago" - é este o nome próprio do Ministro da Educação - "numa área que sabemos estar em permanente evolução e que tem uma série de desafios para o futuro..." 
- "Enormes, enormes... Em termos de avanço e inovação pedagógica temos trabalhado muito... fazer com que as nossas escolas possam dar uma resposta aos desafios do futuro." 
- "Mas esse trabalho não é tão visível por isso é que as pessoas têm dificuldade..." 
- Exactamente, mas as nossas escolas cada vez mais têm ferramentas e nós temos de dar ferramentas às escolas para, dentro da autonomia... nós temos de pensar que combater o insucesso escolar, e as nossas escolas têm de ser sítios de sucesso escolar. Um local de sucesso escolar. Não cabe na cabeça de ninguém ir a um hospital e sair de lá sem estarmos tratados, curados, operados, bem operados, da mesma forma todas as nossas crianças e jovens que vão à escola têm de ter a possibilidade, dentro das diferenças que têm em casa, também de poderem ter sucesso escolar. 
- "Quem fala com essa paixão do desporto, da educação e é filho de professor, só pode ser o melhor!"
Muito bem Senhor Ministro! Usou as expressões-chave da narrativa (pseudo)educativa: "sucesso escolar", futuro", "inovação  pedagógica" "autonomia", "diferenças"! Não se entende o seu alinhamento no discurso que, de resto, não tem qualquer sentido, mas o que é que isso interessa?

9 comentários:

Anónimo disse...

Só estranho que elementos do governo se desloquem a um programa tão básico e distante do que realmente nos deveria preocupar!

Rui Baptista disse...

Tratar um ministro (neste caso da Educação) pelo nome próprio pode dar aso a intimidades de tu-lá-tu-cá nos bastidores da entrevista. Mas cada um sabe as linhas com se cose... Enfim!

Helena Damião disse...

Estimado Professor Rui Baptista
O tu-cá-tu-lá não foi uma possibilidade nos bastidores da entrevista, aconteceu DURANTE a entrevista. "Podemo-nos tratar por tu?" perguntou o Ministro logo ao início. A entrevistadora vacilou, mas entrou na "lógica".
A igualdade ontológica (nesse plano somos, de facto, todos iguais) confunde-se com diferença funcional (nesse plano, somos distintos em função do lugar social que ocupamos, das entidades que representamos e das funções que nelas desempenhamos). O tu-cá-tu-lá é um modo de estar!
Com bem diz: enfim!
Cordialmente,
MHDamião

Rui Baptista disse...

Adenda, no meu comentário anterior, onde escrevi "as linhas com se cose", rectifico: "as linhas com que se cose".

Rui Baptista disse...

Estimada Professora Helena Damião: Obrigado pelo esclarecimento.
Cumprimentos cordiais,
Rui Baptista

Anónimo disse...

Tudo depende do que se entende por "sucesso escolar". Nas Novas Oportunidades, por exemplo, sucesso escolar era obter um diploma de nível 3 da União Europeia, com equivalência ao 12º ano, através da demonstração presencial de que se sabia tirar bem um cafezinho, curto ou longo, à vontade do freguês, entre outras habilidades de igual quilate - as chamadas skills democráticas!
Ao contrário do que poderá pensar o ministro Tiago, as diferenças físicas e intelectuais, facilmente observáveis entre os alunos de uma escola, não são todas consequência direta da divisão da sociedade em classes; senão, teríamos de concluir, atendendo somente ao sucesso escolar e à brilhante carreira científica, profissional e política, que o ministro da educação provém da alta burguesia capitalista e exploradora da classe operária.
Ao senhor ministro, foge-lhe a boca para verdade quando reconhece que frequentou um ensino ainda com um mínimo de qualidade - em que até havia Qimicotecnia! -, muito longe da flexibilidade curricular facilitista, que agora defende cheio de entusiasmo, para mal dos alunos inteligentes de todas as classes que ficam sem a possibilidade de progredir na escala social através da escola porque agora o Estado impõe que os alunos são todos iguais à saída da escolaridade obrigatória, tenham aprendido pouco, ou nada!...

Ildefonso Dias disse...

Caríssima Professora Helena Damião, eu já pus em causa aqui no blogue, num ou noutro comentário, o pouco currículo cientifico (certamente que o que fez foi uns trabalhinhos irrelevantes da sua parte, copiou daqui, copiou dalí, apoiado nos colegas, ...) e consequentemente o valor deste homem enquanto responsável pela Educação e, infelizmente, confirma-se… há até num ditado popular muito adequado ao caso que é "Pela aragem se vê quem vai na carruagem."
O que o Sr. Ministro fez neste “programa” foi aproveitar-se da espessa manta de ignorância que existe na sociedade portuguesa, e que vê este tipo de programas… aquela condenação da ignorância que o Professor Galopim de Carvalho habitualmente transcreve das palavras de António Costa é agora útil para o aproveitamento politico?

Vale tudo, confundem-se as pessoas por todos os lados (admira-me, é o Professor Galopim de Carvalho, pessoa esclarecida, andar a fazer "eco" às palavras de António Costa) como se elas fossem sentidas e sinceras.

Miséria de país, é o que é.


Cumprimentos Cordiais,

Nota: António Costa há 4 anos num debate televisivo, disse que era preciso e importante formar os professores, em excesso no ensino, e torná-los programadores de informática... que aí havia procura... quantos programadores surgiram?

Rui Baptista disse...

O seu comentário acerta na mouche. Às antigas Novas Oportunidades sucederam-se, sem pinga de descoro, as Antigas Novas Oportunidades.
Não seria menos dispendioso para o erário público passar a vender diplomas pela Net? Vamos a isso Senhor Ministro?
Não me atrevo a tratá-lo pelo vosso nome de baptismo. Ainda sou do tempo em que um ministro, pelo estatuto do cargo, era tratado por Vossa Excelência, mesmo que não tivesse qualquer excelência. Era o cargo que se respeitava sem concessões de popularidade em ser, por exemplo, entrevistado no programa matutino de maior audiência televisivo de Cristina Ferreira.

Rui Baptista disse...

Com as minhas desculpas, no meu comentário anterior onde escrevi: "sem pinga de descoro", corrijo para sem pingo de decoro.

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