sexta-feira, 24 de novembro de 2017

MINHA ENTREVISTA AO JORNAL DE LETRAS


JL- Qual o objectivo fundamental deste seu livro, livro "A Ciência e os seus Inimigos", que escreveu com David Marçal?

CF- Mais do que fazer uma apologia da ciência (a ciência está por todo o lado e defende-se muito bem  uma vez que é um dos maiores empreendimentos humanos) trata de desmontar as posições de alguns que procuram diminuir ou ignorar o valor da ciência.  O título inspira-se, evidentemente, em Karl Popper: "A Sociedade Aberta e os seus Inimigos". Popper criticava Platão, Hegel, Marx, por o seu pensamento conduzir a sociedades sem futuro.

P- A democracia, que Popper advoga, precisa da ciência para assegurar prosperidade...

CF-  E a  ciência, por seu lado, precisa da democracia para assegurar liberdade de pensamento, criticamos um conjunto de adversários da ciência, que categorizamos. São eles, por exemplo, os ditadores, que querem impor à força o pensamento único, os ignorantes, como o actual Presidente dos Estados Unidos, que recusam a ciência só porque ela não serve os seus propósitos, os fundamentalistas religiosos, como aqueles que continuam a ver na Bíblia verdades científicas, os vendilhões, que comerciantes querem ganhar dinheiro vendendo qualquer banha da cobra,  os obscurantistas, que e qualquer maneira tentam confundir tudo e todos, e, inclusivamente, alguns cientistas que abdicam de o ser ao continuarem no erro.  Neste mundo de "factos alternativos" e de "pós verdade" a ciência está ameaçada. E, com ela, está também ameaçado o nosso futuro. A ciência esta longe de ser tudo na vida, mas sem ela não teremos vida na Terra.

JL- Qu significou para si este Grande Prémio Ciência Viva que agora lhe vai ser atribuído?

CF_ Fiquei muito feliz pelo Grande Prémio Ciência Viva. É um estímulo para prosseguir a vida que escolhi de ensino, investigação e espalhamento da cultura científica. A ciência cedo me seduziu no percurso escolar e tudo tenho feito e tudo continuarei a fazer para mostrar como a ciência é extraordinariamente sedutora. A ciência baseia-se na curiosidade, que todos temos, e no espírito crítico, que todos devíamos ter. São estas atitudes que o Ciência Viva, obra desse grande cientista e político português que foi José Mariano Gago, tem procurado fomentar. Na Universidade de Coimbra dirijo um Centro Ciência Viva, intitulado Rómulo em homenagem a Rómulo de Carvalho, que procura disseminar ciência, derrubando as falsas barreiras entre a cultura científica e a cultura literária. O Prémio dá-me ânimo para continuar nessa tarefa, que será sempre inacabada, com muitos amigos da ciência. A ciência é de todos e, por isso, deve ser dada a todos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se estamos todos de acordo que a a Ciência para crescer precisa de liberdade de pensamento, então, neste blog aberto a todos, não parecerá mal que eu lance uma pergunta capciosa ao senhor Professor Fiolhais:
Não foi a maneira científica de pensar do físico Galileu Galilei, do século XVII, o primeiro elo de uma uma longa cadeia de pensamentos livres que, no século XX, levou à conceção das bombas atómicas que explodiram em Hiroxima e Nagasáqui?

Cisfranco disse...

"Neste mundo de "factos alternativos" e de "pós verdade" a ciência está ameaçada. E, com ela, está também ameaçado o nosso futuro."

Mas a ciência é sempre ciência e o futuro é dela. Quem está com a ciência está bem embora ela não seja tudo na vida. Há mais realidade para além do mundo científico.

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