sexta-feira, 29 de setembro de 2017

AUTÁRQUICAS EM COIMBRA: UM BALANÇO DA CAMPANHA


Não, não vou referir sondagens porque elas são muito frágeis e pouco dizem. O maior especialista português em sondagens, Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, disse isso mesmo de forma muito clara ao jornal Público. Por exemplo, as taxas de rejeição de resposta não são credíveis. De qualquer modo, mesmo que tivessem sido tecnicamente bem realizadas, as sondagens falham, por vezes estrondosamente. Vejam-se quatro anos as sondagens do Porto que davam uma vitória esmagadora a Luís Filipe Meneses, do PSD. Houve uma vitória esmagadora, sim, mas de Rui Moreira, do movimento independente O  Nosso Partido é o Porto. Quem vai decidir serão os eleitores no dia 1 de Outubro e oxalá haja participação maciça contrariando a abstenção de praticamente 50% e os brancos e nulos de 8% de 2013.

Mas, sondagens de lado, houve muitas palavras e acções dos vários candidatos, que importam. Um perdedor é desde já Manuel Machado. Esteve 16 anos à frente da Câmara e pouco conseguiu apresentar a seu favor. Limita-se  agora, exactamente com o mesmo slogan (“Valorizar Coimbra”), a repetir as mesmas promessas de há quatro anos (por vezes, com downgrading do "Metro Mondego, que agora quer que seja feito por autocarros, o “Metrobus”). Teve uma votação muito baixa em 2013 e agora, com grande probabilidade, não a vai conseguir alcançar. E isto apesar de ter tudo a seu favor, como os  meios da Câmara (usou de forma despudorada o Convento de São Francisco, que é da sua gestão directa, para apresentar a sua própria candidatura; e usou ilegalmente o slogan "Valorizar Coimbra tanto na Câmara como na campanha partidária, confundindo Câmara e partido) e como os meios do governo central (António Costa veio cá  elogiar o  governo que dirige, como se isso fosse o tema eleitoral em Coimbra; eu como muita gente também votei nele e, no entanto, acho que isso não justifica de forma nenhuma uma votação em Machado, um grande erro de casting). O cúmulo da campanha de Machado foi a promessa reafirmada várias vezes do Aeroporto Internacional de Coimbra, que causou o riso da nação, lançando Coimbra ridículo. Machado fez isso de propósito: para lançar uma cortina de fumo, uma vez que assim não se falou tanto dos seus clamorosos incrumprimentos, como o do Metro Mondego, nem dos desastres que ele não evitou nem corrigiu como as cheias do Mondego, as ruínas do Parque de Santa Cruz, da Escola Secundária José Falcão, dos Jardins do Mondego e do Iparque. Aliás basta andar pela cidade para ver o estado de degradação: pichagem, lixo, buracos. A herança de Manuel Machado vai ser um enorme peso para quem lhe suceder: a primeira coisa que o novo presidente terá de fazer será limpar a cidade. Há um outro aspecto que o ainda presidente revelou na sua campanha: foi a ausência de espírito democrático, o que contrasta com as tradições  desse grande partido que é o PS. Faltou a três debates, dois deles curiosamente centrados na  educação: um para a Rádio Universidade de Coimbra e outro na Escola José Falcão. Na cidade dos estudantes, Machado ignorou os estudantes. Faltou também ao debate no Observador, feito em colectivo num autocarro, talvez por não gostar de transportes colectivos

O  candidato Jaime Ramos foi uma má escolha do PDD e do CDS. Não é de Coimbra, não vive em Coimbra, não vota em  Coimbra. Vem “requentado"  de Miranda do Corvo onde já exerceu 4 mandatos, o último dos quais interrompido face a uma decisão judicial . Revelou  um estilo truculento e instável: num dos debates  na rádio começou aos gritos, noutro, realizado  noutra rádio, foi-se embora antes de acabar. Ramos tem um grande problema que se chama Pedro Passos Coelho, que é de Coimbra e que veio a  Coimbra (no mesmo dia que foi a Miranda do Corvo) muito a correr e envergonhadamente. Todos estão à espera que caia! mais cedo do que tarde vai cair.Em Lisboa e Porto a votação no PSD  será vergonhosa e em Coimbra, será quase o mesmo. Muitos militantes desse outro grande partido nacional  (por exemplo, o ex presidente da Câmara Carlos Encarnação) estão a tentar arranjar um líder de oposição capaz.  Ramos é um homem de negócios e  prometeu querer voltar aos seus negócios se não for eleito presidente em Coimbra. O eleitorado, incluindo o do PSD, vai-lhe fazer a vontade em nome do interesse maior da nação. 

De Francisco Queirós e João Gouveia Monteiro da CDU e  dos Cidadãos por Coimbra pouco há a dizer. Estão não contra Machado, mas um contra o outro. É o PCP  contra o  Bloco de Esquerda, a ver quem fica melhor  na eventual geringonça coimbrã, esquecendo que Machado não tem a inteligência política de Costa. O melhor será  não lhes dar a possibilidade de serem adjuntos de Machado.

Por último José Manuel Silva, líder do movimento independente Somos Coimbra. Poderá ser a surpresa da noite eleitoral, principalmente se mais gente for votar.  Além de muitos independentes o Somos Coimbra agrega, em nome dos interesses da cidade,  pessoas do PS, do PSD, do CDS e da CDU.  Sem meios (contra muita comunicação social local) fez uma campanha bastante  limpa e muito participada.   Criticou a gestão da cidade e ofereceu alternativa. Quer mudar Coimbra tirando-a do declínio. Não criticou os partidos, mas sim algumas pessoas, que, servindo-se deles não têm defendido o bem  comum. É público que figuro nas listas embora em posição não elegível (sou Coimbra!) pois estou em crer, como muitos conimbricenses, que é possível uma Coimbra melhor quando há um líder isento e competente. Muita gente vai votar no coração, mais do que as ditas sondagens enganadoramente prevêem.

Sem comentários:

50 ANOS DE CIÊNCIA EM PORTUGAL: UM DEPOIMENTO PESSOAL

 Meu artigo no último As Artes entre as Letras (no foto minha no Verão de 1975 quando participei no Youth Science Fortnight em Londres; esto...