segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

José Pires Ferreira da Silva, meu professor

Faz hoje, dia 23 de Janeiro, um mês que faleceu o Doutor José Pires Ferreira da Silva, professor catedrático da Universidade de Coimbra, um dos fundadores da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e também um dos seus primeiros e mais marcantes docentes.

Tive a honra de ser sua aluna na Licenciatura em Psicologia em mais do que uma disciplina, mas foi em Introdução à Psicologia, logo no primeiro ano, que me fez perceber a exigência do pensamento académico. Continuo a esforçar-me para conseguir corresponder a essa exigência.

Não escreveu muito o Professor Ferreira da Silva mas o que escreveu não parece ressentir-se com o passar do tempo. Relendo artigos que publicou há quarenta, trinta, vinte, dez anos vislumbro neles uma frescura que não os fixa no passado, antes os impele para o futuro. As múltiplas leituras que lhes estão subjacentes, a síntese rigorosa, a acutilante crítica, a honestidade irrepreensível e a fina ironia, numa escrita depurada, claríssima, onde não há uma palavra a mais nem a menos, significando exactamente o que pretende significar, tornam esses artigos e outros textos, bases de trabalho na Psicologia, na Pedagogia, na Epistemologia.

Sendo um homem discreto, pouco deu a conhecer a sua obra: ela ia saindo nas revistas e nos livros, tornando-se independente do autor.

Deixo ao leitor a possibilidade de perceber isso mesmo num dos seus últimos artigos intitulado Freud e os seus doentes: notas marginais, cujo resumo ilustra exemplarmente o texto.
"Depois de algumas considerações críticas sobre a experiência clínica de Freud, procura-se, na base sobretudo da sua correspondência, confidências e outros testemunhos, lançar uma luz, nem sempre lisonjeira, sobre a sua real atitude para com os seus doentes. Palavras-chave: psicanálise; tratamento psicanalítico, relação analista/ analisado."

3 comentários:

marina disse...

fascinante. retive , sobretudo : 1- ( Freud) “Entretanto as coisas melhoraram. As questões sexuais atraem as pessoas”
2-“[Freud] dizia que os pacientes são apenas ralé. A única coisa para que servem
é para dar ao analista um modo de vida e fornecer material para a teoria.
É claro que não podemos ajudá-los”.

Freud tinha um negócio bem montado , o que não admira , sabendo que era judeu. :) engraçado , sempre achei Freud um cromo obcecado , afinal era uma espécie de vendedor de banha da cobra.
as notas de rodapé são para ler todas , também :)

João Boavida disse...

O pequeno retrato que a Doutora Helena Damião traçou do Professor José Pires Ferreira da Silva é perfeito. Afável e polido no trato, embora muito crítico, o Professor Ferreira da Silva era um espírito independente, de grande honestidade moral, intelectual e científica. Tinha de facto a grande qualidade (hoje pouco apreciada) de ser uma pessoa modesta, mas todos sabemos como isso é, quase sempre, sinal de inteligência e de bom senso. Concordo também que muitos dos seus trabalhos continuam atuais, e sem dúvida que revelam, em muitos casos, coragem - como no artigo em anexo - e sempre uma clareza e uma limpidez nada vulgares. Exigente e de grande rigor, era dum tempo em que os currículos ainda não se mediam ao quilómetro, o que é hoje, penso eu, um louvor, sobretudo se tivermos em conta a sua perfeição.

Unknown disse...

Muito Bem , Era o Professor J. Pires Ferreira da Silva Um professor muito dedicado, cordial e envolvido nos seus trabalhos, mostrando-nos, com galante ironia os nossos pecadilhos, para assim nos estimular. Foi um exemplo a seguir.

A panaceia da educação ou uma jornada em loop?

Novo texto de Cátia Delgado, na continuação de dois anteriores ( aqui e aqui ), O grafismo e os tons da imagem ao lado, a que facilmente at...