sábado, 10 de setembro de 2016

Sobre a posição das universidades nacionais nos rankings internacionais

Recebi o seguinte comentário do colega F. Pacheco Torgal, que divulgo por ser um bom tema ara discussão:

O ranking Shangai, um ranking credível e rigoroso ao contrário de outros pseudo rankings como o ranking QS (vide anexo) tornou hoje pública, a ordenação de mais de 1200 instituições de ensino superior, por cinco grandes áreas científicas, abaixo. 

  • Natural Sciences and Mathematics (SCI)
  • Engineering/Technology and Computer Sciences (ENG)
  • Life and Agriculture Sciences (LIFE)
  • Clinical Medicine and Pharmacy (MED)
  • Social Sciences (SOC)

A metodologia de ordenação, abaixo resumida, está acessível com detalhe no link:  http://www.shanghairanking.com/ARWU-FIELD-Methodology-2016.html
Ranking indicators include alumni and staff winning Nobel Prizes and Fields Medals, Highly Cited Researchers, articles indexed in Science Citation Index-Expanded (SCIE) and Social Science Citation Index (SSCI). Two new indicators were introduced, one is the percentage of articles published in the top 20% journals of each field, and the other is the engineering research expenditure.

A presente ordenação de instituições por grandes áreas científicas é muito relevante e para alguns é até mesmo mais relevante do que a tradicional ordenação global que compara o que não é comparável, desde logo e por exemplo instituições com uma forte especialização na área das ciências sociais como a Universidade de Oxford (10º lugar SOC mas apenas 51-75ºENG) ou a Universidade de Erasmus (30º lugar SOC mas sem classificação SCI, ENG ou LIFE) com instituições ditas técnicas como o MIT ou o Imperial College (7º lugar ENG mas apenas 101-150º lugar SOC). A universidade Chinesa Tsinghua que ocupa o 4º lugar a nível mundial na área Engenharia/Tecnologia e Ciências da Computação-ENG também têm uma escola de ciências sociais mas como na nessa área não consta sequer neste ranking é muito provável que haja poucos alunos que ambicionem fazer um doutoramento em Sociologia na mesma. O mesmo se pode dizer da Universidade Tecnológica de Nanyang de Singapura, que ocupa o 2º lugar a nível mundial na área ENG mas apenas o lugar 101-150 na área das ciências sociais-SOC.

Os resultados da ordenação referida são pouco lisongeiros para o nosso país e revelam que infelizmente nenhuma universidade Portuguesa consegue destacar-se nas áreas SCI, LIFE, MED ou SOC.
Apenas duas universidades Portuguesas (U.Lisboa e U.Porto) conseguem destacar-se em termos mundiais e segundo este ranking, na área "Engenharia/Tecnologia e Ciências da Computação".

Destaque para o resumo estatístico acessível no link http://www.shanghairanking.com/ARWU-FIELD-Statistics-2016.html#2

o qual comprova que Portugal aparece no grupo Top 100  com o mesmo desempenho do Irão e que no grupo Top 200 Portugal apresenta pior desempenho que a Grécia. Note-se que a China (que a muitos lembra somente o país que abastece as lojas dos 300) ocupa já o segundo lugar do Top 200 (4º lugar no Top 100 e 6º lugar no Top 20).  

Também merece destaque o elevado desempenho das Universidades da Suiça, aquele país com 8 milhões de habitantes, que aparece em 3º lugar no grupo Top 20 e 7º lugar no Top 100.  Não seria má ideia que em Portugal se tentasse aprender algo com a estratégia científica daquele país, que convém lembrar têm 10 Highly Cited Researchers-HCR por milhão de habitantes enquanto Portugal têm agora 1.7 embora durante muitos anos tivesse apenas um rácio de 0.1 HCR por milhão de habitantes. Uma das preocupações da agência Suiça responsável pelo financiamento de projectos de I&D é promover colaborações entre os investigadores e as empresas, para dessa forma se poder potenciar a inovação e bem assim a multiplicação dos seus benefícios (vide artigo em anexo). 

Convém no entanto ter presente que o tecido empresarial Suiço não é constituído por empresas, como aquelas que por cá despudoradamente colocam anúncios para contratar engenheiros por 500 euros http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2016-07-25-CGTP-denuncia-proposta-do-IEFP-para-engenheiros-com-salarios-a-rondar-os-530ou que engendram esquemas para terem estagiários a custo zero, mesmo com violação da Lei http://p3.publico.pt/actualidade/economia/21450/empresas-obrigam-estagiarios-do-iefp-devolver-parte-do-salarioe esse estado de coisas, já anteriormente referido no email abaixo, não é obviamente culpa directa das Universidades Portuguesas, embora não seja mentira que as mesmas sempre terão alguma responsabilidade ainda que indirecta por só muito recentemente terem despertado para o fenómeno do empreededorismo enquanto factor crucial para "criar emprego e gerar riqueza" (vide programa do XXI Governo Constitucional). Também é verdade que uma larga maioria daquelas muitas empresas que foram criadas por jovens empresários nos últimos anos têm em média apenas 2-3 empregados, segundo estudo da Informa D&B com o título Empreendedorismo 2007-2015 e metade delas apenas com um capital social inferior a 5.000 euros (o valor minimo baixou de 5000 euros para apenas 1 euro/sócio) pelo que dificilmente podem ser essas firmas ser encaradas como os parceiros empresariais mais adequados para o estabelecimento de colaborações com as unidades do sistema científico e tecnológico Português. Quer isto dizer que não basta às Universidades Portuguesas tentarem replicar a "receita" Suiça pois é preciso também que o tecido empresarial Português consiga estar à altura da qualidade e ambição do tecido empresarial Suiço onde pontificam empresas como a Néstle, Novartis, Roche, ABB ou a Rolex cujas receitas anuais totalizam quase o valor do PIB Português. 

F. Pacheco Torgal

1 comentário:

Ricardo Lima disse...

Relativamente a rankings, podemos sempre questionar a metodologia e os resultados. Por exemplo, faz sentido os indicadores não terem em consideração a dimensão da universidade? Ou noutro capítulo, como é que o insólito descrito em:
https://liorpachter.wordpress.com/2014/10/31/to-some-a-citation-is-worth-3-per-year/
pode credibilizar um ranking? (e a universidade!!)

Eu só dou valor a rankings se a minha universidade for a primeira!

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