quarta-feira, 7 de setembro de 2016

(IN)SUCESSO ESCOLAR

Novo texto do psiquiatra Nuno Álvares Pereira:

    As denominadas «medidas de promoção do sucesso escolar», habitualmente propostas nos 2º e 3º ciclos do ensino básico, continuam a ser identificadas sobretudo com a remediação do insucesso já instalado. De facto, o apoio ao estudo, a discriminação de grupos de homogeneidade relativa (no máximo em três disciplinas), o acompanhamento extraordinário de alunos, a coadjuvação em sala de aula ou a implementação de tutorias, excluído o desenvolvimento da excelência em turmas de elite, não passam de medidas específicas de recuperação de alunos com dificuldades. Diferenciar com base na separação temporária por níveis de competência e no atendimento mais personalizado, com professores motivados, pode ser eficaz no combate ao insucesso, mas pouco eficiente pela maior mobilização de recursos humanos e financeiros. Só uma verdadeira mudança na metodologia de ensino/aprendizagem poderá, significativamente e com economia de meios, promover o êxito dos discentes e prevenir ou remediar o seu fracasso.

    A promoção do sucesso educativo consiste em acrescentar valor positivo à formação geral dos alunos, tanto na dimensão académica, como na socializadora. Por um lado, clubes de matemática, de ciências ou de artes e bibliotecas transformadas em centros de saber contribuem decisivamente para a melhoria da aprendizagem, e, por outro lado, clubes cívicos favorecem o cultivo de atitudes e valores, que induzem um comportamento social responsável, fator de integração na vida coletiva.

    Como mais vale prevenir que remediar, o relevante é evitar a emergência do insucesso escolar. Cabe a cada professor na sua própria disciplina transmitir o conteúdo curricular associado ao método que capacite os alunos para estudar, após a aula, de modo autónomo e proficiente, com sentido crítico e criativo. Significa o ensino integrado do objeto e do processo do estudo, extensível ao desenvolvimento da excelência. Pertence aos pais (com o conselho do diretor da turma) a supervisão do espaço e do tempo de estudo. Competem aos serviços especializados os problemas psicológicos e sociais. Previne-se o insucesso sem esperar que ocorra para o combater.

    No entanto, há sempre casos residuais de insucesso, não só transitados do ano letivo anterior, como revelados ao longo do corrente. O professor é o agente privilegiado para identificar as causas do baixo desempenho dos seus alunos e prescrever as medidas de remediação adequadas. Assim, para reduzir esse estado negativo, além de adotar programas aceleradores da aprendizagem, poderá ter de solicitar quer a intervenção do diretor da turma para obter o envolvimento parental, quer a colaboração da psicologia ou do serviço social intra ou extramuros. Como especialista na sua área capaz de controlar todo o processo de ensino/aprendizagem, deve  assumir a responsabilidade de recuperar os seus alunos, no seio da própria turma, sem recurso a outros agentes educativos, nem sobrecarga horária. As turmas incluem, claro, alunos com diferentes características, ritmos de aprendizagem e níveis de desempenho. Importa que os professores facultem, a qualquer momento e de modo diferenciado, aos alunos mais atrasados blocos concisos de informações sistematizadas (dos anos anteriores) necessárias para compreender a matéria, isto é, sem as quais eles não conseguem progredir. Trata-se de construir conhecimentos consistentes, de forma rápida, com o reforço de prática intensiva. Também com função reparadora do insucesso a uma língua estrangeira pode utilizar-se, ao ritmo individual, um programa complementar de aprendizagem por «impregnação» com tecnologias de apoio.

    Nunca é de mais insistir na importância da formação num modelo pedagógico integrado, que responda às necessidades dos alunos sem o risco de estigmatizar e envolva os professores de todas as disciplinas.


                                                              Nuno Pereira (psiquiatra)

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