segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O GRANDE ASIMOV


Tenho uma enorme admiração por Isaac Asimov, bioquímico norte-americano de origem russa  e escritor de ficção científica e de divulgação científica. Ele escreveu mais de 500 livros ao longo da sua vida, sendo por isso um dos escritores mais prolíficos de sempre. Eu sei que Corin Tellado e Enid Blyton estão nessa lista, mas Asimov é, na minha opinião, muito melhor. Asimov aliava quantidade e qualidade: nos seus textos de ficção científico, é um mestre do género, a par de Robert Heinlein e Arthur C. Clarke. E, nos seus escritos de divulgação científica, a sua claridade e simplicidade são difíceis de ultrapassar. Consta que, numa "corrida" de táxi em Nova Iorque, Asimov e Clarke fizeram um pacto: Asimov concordava que Clarke era o maior na ficção científica, ficando para si o segundo lugar, ao passo que que Clarke concordava que Asimov era o maior na escrita de ciência, ficando para si o segundo lugar. Este acordo de cavalheiros, que ficou conhecido por "Acordo de Park Avenue", foi sempre respeitado.

O que existe traduzido em português é uma pálida sombra do que ele escreveu em inglês. Encontrei na Wook cerca de 20 livros dele e no catálogo da Biblioteca Nacional há cerca de 60. Portanto, uma insignificância comparada com o total...

Quando vejo livros de Asimov, por vezes em saldos, não resisto, apesar de já ter bastantes. Acontece-me comprar livros que já tinha e dou-os com todo o gosto ao Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra. Foi o que aconteceu agora com De todo o lado, publicado em 2004 na colecção "Vida e Cultura" da Livros do Brasil, que encontrei na Feira do Livro da Figueira da Foz. Reli alguns capítulos desta compilação de sábias crónicas de ciência publicadas numa revista de ficção científica.

Nem todas as crónicas são de ciência, pois Asimov conseguia escrever sobre qualquer assunto. Ou quase: consta que terá escrito sobre todas as categorias da classificação decimal universal das bibliotecas, excepto filosofia (apesar de ser ateu, escreveu sobre religião, incluindo um guia para leitura da Bíblia, um livro que ele conhecia muito bem).

Na última parte do livro, intitulada modestamente Algo extra, Asimov inclui a crónica  "Um poeta sagrado", na qual discorre sobre o efeito social da poesia, um tema também caro a Rómulo de Carvalho. Na introdução, o autor confessa a sua incerteza quanto à sua abordagem do assunto, até por causa da sua dificuldade perante alguma poesia moderna, mas a crónica revelou-se um êxito, tendo gerado mais comentários do que qualquer outra da série (e foram muitas). Asimov chama, no seu texto, a atenção para o facto de por vezes poemas que literariamente não são conseguidos terem conseguido um efeito social extraordinário ao deixarem uma memória indelével. Parte de uma citação de Horácio:
"Muitos homens corajosos viveram antes de Agamémnon, mas todos estão soterrados na noite eterna, sem lágrimas derramadas por eles, desconhecidos, porque lhes falta um poeta sagrado." 
Pois houve depois de Agamémnon muitos heróis a quem não faltaram poetas. Asimov dá vários exemplos da historia americana, incluindo a origem do hino nacional, que temos ouvido muito durante os Jogos Olímpicos do Rio. Uma agradável leitura de Verão. Se virem, o Asimov não o deixem escapar.

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