sexta-feira, 8 de julho de 2016

O FIM DE TUDO E MAIS ALGUMA COISA


A revista britânica de divulgação científica "New Scientist" no seu número de de 4 de Junho falava do fim de várias coisas. Faço aqui um sumário para quem possa estar preocupado com o fim:

1- Fim do sistema solar. Será daqui a 6.000.000 milhões de anos e será fatal para a vida na Terra, O Sol transformado em gigante vermelha, chegará à órbita da Terra. O planeta até poderá sobreviver empurrado para uma órbita mais externa pelo vento solar de partículas carregadas. Nessa altura a longínqua cintura de Kuiper será habitável, mas, à medida que o Sol começar a encolher, transformando-se numa anã branca, o frio regressará a essas paragens.

2- Fim do indivíduo. Se os nossos cérebros já hoje comunicam por tecnologia, amanhã poderão comunicar por tecnologia mais sofisticada: implantes telepáticos. A comunidade humana (humana?) poderá formar uma consciência global, com prejuízo evidente para o indivíduo. Há quem esteja a fazer experiências ligando o cérebro de ratos para obter uma espécie de superrato. Suspeito que com humanos não será permitido...

3- Fim da civilização industrial. Todas as observações anteriores à nossa pereceram. A nossa civilização industrial parece eterna, mas o facto é que dispõe de armas nucleares que podem colocar-lhe fim. No fim de um inverno nuclear o recomeço poderá ser impossível. No passado as civilizações desaparecidas foram substituídas por outras, que se sobrepuseram a elas. O problema do colapso global de uma civilização global é que pode ser que não haja humanos que consigam sobreviver, dispondo dos meios adequados para um recomeço. O perigo pode também vir de fora...

4- Fim da vida na Terra. A queda de asteróides e cometas pode significar o fim da vida na Terra. Basta a queda de um cometa com 50 km de diâmetro  como o Hale-Bopp para evaporar a água dos oceanos. Talvez só as bactérias sobrevivessem: elas são muito mais fortes do que nós, são as verdadeiras "donas" do planeta.

5- O fim das doenças. Será o Santo Graal da medicina. Dispomos de poderosos fármacos e fala-se hoje de edição genética com a ajuda da técnica chamada CRISPR, mas facto é que têm aparecido doenças mortíferas como as que são provocadas pelo HIV, o Ebola e o Zika. A longevidade está a aumentar graças aos progressos na alimentação, na higiene e nos cuidados médicos, mas facto é que todos temos de morrer de alguma coisa: mesmo a chamada "morte natural" resulta de uma ou outra enfermidade. As questões do envelhecimento estão na berra e há quem fale no seu retardamento com terapia de células estaminais e engenharia de tecidos. Claro que se as pessoas não morrerem há o problema da sobrepopulação do planeta e da falta de recursos. De resto, a evolução precisa da morte.

6- O fim da ciência. Será que haverá um dia em que tudo esteja conhecido? A maioria dos cientistas acredita que a ciência não terá fim. A história da ciência ensina isso. Quando se julgou que se sabia quase tudo, logo vieram revolucionárias descobertas que mudaram a nossa visão do mundo. Hoje em dia há problemas tão interessantes que não parece estar á vista o fim da ciência.

7- O seu fim. Só há duas coisas certas: os impostos e a morte. Há as mortes prematuras (muitas vezes por causas externas, como acidentes) e as mortes em idade avançada (as doenças neurodegenerativas só costumam aparecer com a idade), Doenças cardíacas, doenças respiratórias e cancro, sob várias formas, são os nossos grandes inimigos.

8- O fim do sexo. Os boatos sobre o fim do sexo são um bocado exagerados. Até agora tem servido muito bem e estamos biologicamente programados para o fazer. Mas cada vez se separa mais o sexo reprodução. Há quem, baseados em informação científica real, aventa a ideia de um indivíduo se reproduzir sozinho, usando células estaminais que dariam óvulos ou espermatozóides. Mesmo pessoas capazes de se reproduzir sexualmente poderão querer escolher um embrião com maior probabilidade de sucesso genético em vez de confiar na lotaria genética proporcionada pela reprodução sexuada. Estas ideias eugénicas serão permitidas? Estou em crer que não! 

9- O fim do crescimento económico. A obsessão pelo crescimento no modelo económico prevalecente é notória. Mas desde há muito que se fala nos limites do crescimento, relacionados com os limites dos recursos disponíveis. De facto, algumas previsões sobre o fim dos recursos falharam. A inovação tem permitido até agora crescer. Mas será que a inovação tem limites? Depois das máquinas a vapor, das máquinas eléctricas, dos computadores e das comunicações digitais virá o quê? O conceito de crescimento é ele próprio discutível. Hoje já se usam índices de bem estar (ou de felicidade) diferentes do PIB e há quem afirme que podemos ser mais felizes com  menos coisas.

10- O fim do gelo. As idades do gelo estão para trás na história. Mas o aquecimento global está inequivocamente relacionado com a fusão de glaciares, e por isso com o recuo do gelo. O problema não é só dos ursos polares: cidades à beira mar como Veneza, Nova Iorque, Shangai e Sidney poderão ficar cobertas de água. O melhor é evitar.

11- O fim da Via Láctea. A Via Láctea parece um sítio tranquilo. Mas a nossa galáxia está a ser puxada por outra muito maior, a Via Láctea, estando a colisão prevista para daqui a quatro mil milhões de anos (Andrómeda está a 2,5 milhões de anos-luz de distância). Essa colisão vai ser demorada, com as forças gravitacionais a agir entre as estrelas dos dois lados. Vemos no céu alguns destes choques galácticos em diferentes fases do processo.

12- O fim do homo sapiens. Parecemos ser uma espécie bem sucedida por dominarmos o planeta. A evolução continua o seu caminho e é muito difícil prever que espécies virão a seguir. Podemos também interferir na evolução. De certo modo já é o que fazemos mudando o ambiente e a educação
e culturas (que moldam o cérebro). Podemos também ser vítimas de nós próprios: desastre nuclear, mudança climática global ou outro cataclismo. Se alguns homo sapiens sobreviverem poderá haver um recomeço. E os que sobreviverem poderem ter vantagens genéticas que levem mais rapidamente a outra espécie. Se algo correr mal na Terra, temos sempre  a hipótese de colonizar o espaço. E aí o novo ambiente também nos vai moldar.

13- O fim do Universo. O Big Crunch, oposto do Big Bang, é muito pouco provável no estado actual dos nossos conhecimentos. O Universo em expansão será eterno, mas a sua temperatura vai baixar: o big freeze. Mas há enigmas cósmicos - energia negra por exemplo - que nos podem trazer surpresas...

Em resumo: podemos saber mais sobre o fim e, se soubermos o suficiente, podemos, pelo menos nalguns casos, evitar o fim.

2 comentários:

Anónimo disse...

Este é o sinal de que está na hora de se reformar.

Aldrin Iglesias disse...

A cada instante morremos e a cada instante renascemos. Fisicamente e espiritualmente. E a imagem da morte em Espinosa e no oriente é bem bonita e feliz: de volta para o grande rio...

Abraços do Brasil,
Aldrin Iglesias

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