terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O NOVO MINISTRO DA EDUCAÇÃO É NOVO

Meu artigo de opinião no DN de hoje:


Por que é que Portugal não é um país mais rico? Entre as razões para o nosso inferior  desenvolvimento a mais decisiva é talvez a falta de qualificações dos portugueses. Numa sociedade dita do conhecimento, os trabalhadores portugueses deixam muito a desejar se adoptarmos uma bitola internacional. Basta olhar na PORDATA para as qualificações dos portugueses activos (população entre os 15 e os 64 anos) para nos apercebermos que cerca de metade (51%) não tem mais do que a escolaridade básica. Dos outros, 25% completaram o ensino secundário e só 24% o superior. Para a Irlanda, só para dar um exemplo, esses números são: 15% (básico), 39% (secundário) e 43% (superior).  Claro que houve entre nós um enorme progresso nas últimas décadas, mas estamos longe, muito longe, dos padrões da União Europeia. Precisamos de mais e melhor escola.

Acontece que o ambiente nas nossas escolas não é hoje o melhor. Os professores portugueses do básico e secundário sentem-se, ao fim de quatro anos de desinvestimento na área educativa, desamparados. A braços com turmas cada vez maiores, em agrupamentos cada vez mais amplos, os docentes sentem que o seu trabalho não tem sido devidamente apreciado nem pelo governo nem pela sociedade. Não é apenas a redução dos salários, que afectou sobremaneira a classe média de que eles fazem parte, é também e sobretudo o facto de não verem justiça nem na entrada na carreira (a famigerada prova de avaliação de professores criou problemas em vez de resolver os existentes) nem na progressão nela (a formação contínua não tem quaisquer efeitos práticos). Não é apenas a amplitude da mudança curricular que caiu repentinamente sobre o sistema de ensino, é também e principalmente o facto de eles não terem sido devidamente envolvidos nessa mudança. Não é apenas a circunstância de a autonomia das escolas ser mais um chavão do discurso político do que uma realidade, é também e essencialmente o facto de eles verificarem não existir nas escolas, sob o continuado comando da 5 de Outubro, um ambiente favorável para aproveitar a autonomia disponível. Acima de tudo sentem que as suas expectativas relativamente ao ministro Nuno Crato saíram defraudadas: levaram-no em ombros a ministro e concluíram, passado pouco tempo, que se tinham enganado. Ou que tinham sido enganados. O ministério da Educação não foi implodido, o que foi implodida foi a esperança depositada no ministro.

O novo ministro, Tiago Brandão Rodrigues, é novo, tem 38 anos. Tem a seu favor a frescura de uma relativa juventude (é uma nova geração, nascida após o 25 de Abril de 1974, que chega ao poder) e uma certa inocência de quem acaba de chegar lá de fora. Tem também a seu favor o facto de saber, como cientista aqui formado e bem sucedido no estrangeiro, que a escola tem um papel insubstituível na qualificação dos cidadãos. E, filho de uma professora primária, tem ainda a seu favor a sua consciência do valor dos professores. É novo? Sim, é. Mas isso é algo que, inevitavelmente, vai passar. É inexperiente? Sim, é. Tem contra si a falta de experiência em assuntos de política educativa, mas o certo é que, no passado, pessoas com experiência não corresponderam ao esperado.

Na educação precisamos de confiança. Precisamos de depositar confiança nos professores, nos numerosos professores que, de forma devotada, se dedicam a preparar os seus alunos para a vida. Do novo ministro espera-se que contribua para que eles façam melhor, num ambiente que deve ser de trabalho e de normalidade e não de exacerbado confronto político. Consegui-lo-á? Não sei, não é nada fácil, mas quero acreditar que sim.

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