segunda-feira, 13 de julho de 2015

AS LUZ ENTRE AS ARTES E AS LETRAS

Meu depoimento ao jornal "As Artes entre as Letras" do Porto no n.º do 6.º aniversário: 

Seis anos é um tempo longo e um tempo curto. É longo pois foi o tempo que demorou a produzir 150 edições do jornal “As Artes entre as Letras”, 25 edições por ano com uma regularidade espantosa. E é pouco porque parece que foi ontem: lembro-me bem quando surgiu o número um. Tal como uma criança que depressa passa de nasciturno a infante da escola primária, também a publicação cultural do Porto cresceu e apareceu num piscar de olhos.

Tendo tido o privilégio de acompanhar o “As Artes entre as Letras” desde o seu início até à actualidade vi-o crescer. Espero tê-lo ajudado a ganhar algum corpo, com as crónicas à volta da ciência e da cultura científica que a mãe da criança, Nassalete Miranda, me solicitou de forma irrecusável logo por altura do parto e que lá lhe fui dando com um ritmo que nem sempre conseguiu acompanhar a do jornal.

Ultimamente, e porque estamos no Ano Internacional da Luz, tenho falado de aspectos científicos e culturais da luz. A luz é, decerto, um fenómeno físico, o fenómeno que nos deslumbra no arco-íris, mas é também uma metáfora, uma poderosa metáfora que significa  razão, entendimento, verdade. Se  Newton desvendou no século XVII o mistério do arco-íris, fazendo-o no seu quarto e explicando-o fisicamente, o século seguinte foi justamente denominado o século das Luzes, por se ter pensado que a racionalidade das ciências podia ser aplicada num âmbito mais vasto, porventura às questões da política  e do Estado. Mas, logo no início do século XIX, a reacção romântica se ergueu, não impedindo a grande vaga da ciência, que aliás prossegue nos dias de hoje, mas chamando a atenção para as suas limitações e para os seus perigos. Goethe recusou a teoria das cores de Newton e tentou, embora debalde, uma teoria alternativa. Mas o mesmo Goethe escreveu o “Fausto”, uma peça que simboliza como poucas obras literárias as tentações em que um cientista pode cair. Goethe, nos últimos momento da sua vida, ao pedir “mais luz!”, não queria tanto solicitar uma nova teoria física da luz, mas mais, de um modo mais amplo, o prosseguimento do caminho, provavelmente interminável, que a humanidade sempre percorreu em direcção à verdade. Newton e Goethe simbolizam, cada um a seu modo, as ciências exactas e naturais e a cultura humanista, os dois sempre em busca de mais luz. Newton, se estudou a luz e a gravidade, entrou também nas vias da alquimia, do misticismo e da teologia. E Goethe, se escreveu principalmente poesia, romance e drama, também se interessou pela multifacetada Natureza: as cores, as flores e as nuvens. Ciência e cultura, como mostraram os dois, são inextrincáveis.      


Assim tem sido, desde o início, nas páginas de “As Artes entre as Letras”. A ciência tem convivido intimamente com outras formas de cultura. A ciência sente-se bem entre as Artes e as Letras. Muitos parabéns a “As Artes entre as Letras”, muito obrigado Nassalete e a todos os que têm feito o jornal crescer. Vai continuar a crescer, tenho a certeza, sempre procurando a luz..

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