domingo, 1 de março de 2015

Falando de solos (4):
A matéria orgânica na formação do solo

Cooksonia, género de planta vascular surgida no Silúrico médio
Com as variações próprias das diversas latitudes e altitudes, os solos estão presentes em grande parte (cerca de 80%) da superfície terrestre emersa, constituindo o que foi convencionalmente considerado a pedosfera. Desertos de areia, como o Saara e muitos outros, desertos pedregosos como o Neguev, em Israel, ou as cumeadas rochosas das altas montanhas não têm solos, mas apenas uma camada de natureza mineral, solta, sem capacidade para suportar vida.

Evoluindo em condições grandemente determinadas pelo clima, a pedogénese, depende também, em grande parte, do mundo biológico. É um facto sabido e aceite que todos os processos envolvidos na génese e evolução do solo são assegurados pela energia solar e pelos organismos vivos que dele fazem parte. São esses organismos que controlam a mobilidade das substâncias químicas e da energia necessária a essa mobilidade. “Na ausência de organismos, a meteorização das rochas não dá origem a qualquer solo”, afirmou, em 1949, o geoquímico russo Constantin Nikiforoff (1887-1979).

Deduz-se desta realidade que, anteriormente ao Silúrico médio (420 milhões de anos), a capa superficial resultante da alteração das rochas não continha quaisquer vestígios de matéria orgânica, dado que o essencial da vida ainda não tinha saído das águas. Foi só a partir de então que as primeiras plantas começaram a colonizar as terras emersas, em ambientes alagadiços próximos do tipo sapal, abrindo caminho à ocupação animal, com particular relevo para alguns artrópodes. Só a partir de então essa capa superficial passou a integrar uma componente orgânica e a poder ser aceite como solo.

Anteriormente a este período houve, sem dúvida, meteorização, e disso são provas os milhares de metros de espessura de sedimentos argilosos resultantes da remoção de material rochoso alterado e transportado para os oceanos desde os mais remotos tempos do Pré-câmbrico, posteriormente transformados em xistos argilosos e seus derivados metamórficos (filádios, micaxistos, gnaisses, migmatitos e, até, granitos[1]). A aparição do solo, no sentido pedológico da palavra, isto é, com uma componente orgânica activa, “constitui um marco importante na história da Terra”, escreveu, em 1980, o saudoso Prof. Bastos de Macedo, do Instituto Superior de Agronomia.

[1] - A profundidades na ordem das dezenas de quilómetros, no interior das cadeias de montanhas em formação, as rochas argilosas como os xistos e os seus derivados metamórficos ficam sujeitas a pressões e temperaturas elevadas que conduzem à sua fusão, gerando um magma que, uma vez arrefecido, gera o granito.

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