segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Manuel Acuña (1849-1873)


Estudante de medicina e um dos maiores poetas do méxico, Manuel Acuña deitou por terra a tese de que “é difícil escrever poemas de amor”. Nocturno a Rosario, um dos seus poemas mais conhecidos, é de uma simplicidade arrebatadora.
Rosario de la Peña foi a musa de Acuña (de Manuel María Flores, que lhe escreveu um belo soneto com o título A Rosario, e de José Martí); a violenta paixão conduziu o poeta ao suicídio, com cianureto de potássio. Quando morreu as lágrimas corriam pelo seu rosto cadavérico, segundo reza a lenda.



Elegia a Rosario
Bem, eu preciso dizer que te amo,dizer que te quero com todo o coração;que é muito o que sofro,que é muito o que choro,que não vou demorar muito,
e o teu grito imploro imploro  e falo em nome da minha última ilusão.
À noite, quando deito as minhas têmporas na almofada,e para outro mundo quero voltar o meu espírito,caminho muito, muito,e no fim do dia as formas de minha mãe perdem-se no nada,e tu apareces de novo na minha alma.
Eu entendo que os teus beijos nunca hão de ser meus;eu entendo que em teus olhos não me devo ver mais;e amo-te, e em meus loucos e ardentes desvarios bendigo o teu desprezo,amo os teus desvios,e em vez de te amar menos quero-te muito mais.
Às vezes penso em te dar minha despedida eterna delir-te das minhas memórias e fugir desta paixão;mas se é tudo em vão e minha alma não te esquece,que queres que eu faça grão da minha vida;o que queres que eu faça com este meu coração!;e depois que seria de mim?
Concluído o santuário,a lâmpada acesa vela-te sobre o altar,o sol da manhã atrás do  campanário,espumando as tochas,vaporizando o incensário,e aberta ao horizonte a porta da casa ...
Quero que tu saibas que há muitos dias que estou enfermo e pálido de tão pouco dormir;que já morreram todas as minhas esperanças;que as minhas noites são negras,tão negras e sombrias que já nem sei de onde vinha o futuro.
Que feliz teria sido viver sob o mesmo teto.
Os dois unidos para sempre
e amarmo-nos os dois;tu sempre apaixonada,eu sempre satisfeito,os dois, uma só alma,os dois,  um só coração,e no meio de nós a minha mãe como um Deus!
Imagina que formoso seria o nosso tempo!
Que doce e bela viagem por uma terra assim!
Eu só sonhava com isso,minha santa prometida,e ao delirar com isso com a alma inquieta,pensava em ser bom para ti, não só para ti.
Deus sabe bem que isso era o meu sonho mais belo,o meu anelo e a minha esperança,a minha felicidade  e o meu prazer;Deus sabe bem que não cifrava o meu labor,senão em te amar muito na casa risonha que me cobriu com beijos quando eu nasci!
Essa era a minha esperança...mas desde que os seus fulgores se opõem ao profundo abismo que há entre nós os dois,adeus pela última vez amor da minha vida!;luz das minhas trevas,olor das minhas flores,meu olhar de poeta,minha juventude, adeus!
Nota: a tradução não respeitou a métrica da elegia.

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