terça-feira, 9 de setembro de 2014

Tomaz De Figueiredo (1902-1970)

Tomaz de Figueiredo é mais conhecido pelos seus romances, sobretudo “A Toca do Lobo”. Todavia, o labor deste escritor não se esgotou na prosa. A poesia que escreveu é de Poeta-Homem, o que no tempo que corre é uma raridade.


O poeta não esconde a sua passagem pelo manicómio, esse «Reino do Silêncio, do Não-Mundo», esse reino em que o homem é «réu»; não esconde o seu coração e a visão fugaz da amada: «E a amar sem amor eu me dedico»; não esconde as consequências da dor de amar: «e para todo o sempre fiquei triste» e «Ó morte vem depressa tardas tanto»; não esconde o ódio ao Estado Novo e ao país abúlico: «Piolhoso país em que nasci!» e «Arre, ladrões, bandidos, salafrários!»; não esconde a sua afeição à monarquia, nem a sua alma inquieta: «Jamais a paz./ Sempre agulhas na vista./ Aqui jaz/ Um artista.».
Apocalipse de São Tomás:


Fig 1: Espectro de emissão e espectro de absorção do sódio



Desagregou-se o núcleo dum cometa,
esfacelou-se em cores, abriu o leque vário

dos ardentes metais e arroja lá do ossário
dos astros findos radiações em seta.

Desagrega-se em dor e arde um núcleo de alma,
expande-se em perfumes coloridos.
O sonho em lume torce-se em gemidos,
em leque de pavão se irradia e espalma.

O sódio do cometa arde amarelo,
duas riscas de luz, frechas desesperadas,
que silvam a gritar no branco das ossadas
como vergões de sádico flagelo.

Na alma perdida, o amor perdido chora,
o amor que quer amar e bate em negro muro.
Embalde pede luz o frio amor escuro
que vê de crepes o luzir da aurora.


Topázio:
















– Pedra da cor de luz das tardes mansas,
da moribunda lividez do Outono,
que à lividez ajuntas do abandono
Tons de âmbar e de mel de flavas tranças

ora me dás a sugestão das esperanças
em nimbos de oiro que ardem no meu sono,
ora cingindo em teu cruel quimono
bailo do tédio as amarelas danças.
Na transparência do teu brilho lendo,
o teu segredo abafa-me em revolta:
quanto mais claro, menos o entendo.
Os meus anseios de Infinito, abrase-os
o fogo de rubis, não lhes dá solta
a bandeira de peste dos topázios.

1 comentário:

Sem nome disse...

É de palavras que me chamo...

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