sexta-feira, 26 de setembro de 2014

“MAIS LUZ!”: 2015, ANO INTERNACIONAL DA LUZ


Meu artigo no último As Artes entre as Letras (na imagem Goethe):

 A 25 de Novembro de 2013, a Assembleia Geral das Nações Unidas, no decurso da sua 68.ª sessão, proclamou 2015 como o Ano Internacional da Luz  (AIL2015). O Ano Internacional da Luz é uma iniciativa à escala global que pretende destacar aos cidadãos de todos os países a relevância da luz, em particular das tecnologias baseadas na luz, nas suas vidas e no seu futuro, que é como quem diz, no desenvolvimento humano e social. Trata-se de uma oportunidade única para inspirar, educar e ligar pessoas de um modo global em torno de um tema unificador.

De facto, a luz tem aspectos científicos descritos pela matemática, pela física, pela química, pela biologia, pela geologia e por várias engenharias. Mas a luz está presente nas nossas vidas graças a óculos e aparelhos que usam raios infravermelhos, microondas, raios X, etc. (estas formas de radiação não são mais do que diferentes formas de luz, que usamos no quotidiano, em tudo semelhantes à luz visível excepto no diferente comprimento de onda). Por outro lado, a luz encontra também acolhimento em muitas áreas da cultura, como as artes visuais, a fotografia e o cinema (as duas últimas artes estão inteiramente baseadas em tecnologias da luz).

Porquê 2015? Normalmente os anos internacionais, como foi em 2005 o Ano Internacional da Física, assinalando os cem anos da publicação dos principais trabalhos de Einstein)  coincidem com alguns aniversários muito significativos na história da ciência e das técnicas. As Nações Unidas destacaram cinco datas históricas com particular pertinência para o estudo da luz, que deverão ser celebradas no próximo ano:
§                   1015 – Ano em que o árabe Ibn Al Haytham (conhecido também pela forma latina Alhazen) escreveu o primeiro “Livro de Óptica”.
§                   1815 – Ano em que o francês Augustin-Jean Fresnel apresentou a sua teoria sobre a natureza ondulatória da luz, que desfez na altura uma controvérsia a respeito da luz.
§                   1865 – Ano em que o britânico James Clerk Maxwell publicou a sua teoria de electromagnetismo, afirmando que a luz eram ondas electromagnéticas (essas celabradas equações de Maxwell explicam todos os fenómenos eléctricos, magnéticos e ópticos).
§                   1915 – Ano em que o suíço nascido na Alemanha Albert Einstein publicou a teoria da Relatividade Geral, apresentando a luz no espaço e no tempo: a luz era encurvada nas proximidades de um corpo com massa rlevada, que deformava o espaço-tempo á sua volta.
§                   1965 – Ano em que os norte-americanos Arno Penzias e Robert Wilson descobriram a chamada radiação cósmica de fundo, a luz mais antiga do cosmos que corresponde ao nascimento dos átomos, quando o Universo tinha cerca de 380.000 anos; e também o ano em que o norte-americano Charles Kao apresentou a tecnologia da fibra óptica, que hoje está generalizada para a difusão dos sinais de televisão e Internet.

Para além das referências históricas, a escolha do tema da luz justifica-se em diversas dimensões. A ciência da luz deu origem a aplicações com impacto directo na qualidade de vida em todo o mundo. Essas aplicações são dos maiores motores económicos da actualidade: basta pensar nos telemóveis, na televisão, na Internet, nos lasers, etc.  São usadas nas comunicações, na saúde, no ambiente e no sociedade. O tema da luz, ao ligar várias ciências e ao ligar as ciências à vida, oferece um potencial pedagógico extraordinário: não se trata de celebrar o ano de uma disciplina isolada, como a física, ou a astronomia, mas sim, de uma faceta transversal de várias delas, de praticamente todas elas.

O ano de 2015 constitui uma oportunidade extraordinária para a coordenação internacional de actividades educativas e para a promoção de novas iniciativas que demonstrem o nosso conhecimento da luz e as tecnologias revolucionárias que nele assentam, que ajudam ao desenvolvimento sustentável. Perspectiva-se uma fértil colaboração entre instituições científicas, entidades educativas, organizações sem fins lucrativos, empresas privadas, organizações culturais, etc.

Ao contrário do que aconteceu no Ano Internacional da Física em 2005, Portugal não esteve entre os países que apresentaram e defenderam a proposta junto das Nações Unidas. Mas Portugal, que tão boa figura na cena internacional tem feito noutros anos internacionais, terá um programa nacional de actividades à volta da luz e das suas aplicações. Uma comissão nacional está já constituída, que integra representantes da Sociedade Portuguesa de Física (a Sociedade Europeia de Física cujo Presidente esteve há pouco entre nós, foi o grande promotor mundial da iniciativa), da Ciência Viva – Agência Nacional para Cultura Científica e Tecnológica, da representação nacional da UNESCO,  da Sociedade Portuguesa de Química, da Sociedade Portuguesa de Óptica, etc. A Comissão, que já abriu uma página na Internet    ( http://ail2015.org/ ), esboçou um programa nacional em quinze pontos, para cuja concretização busca apoios públicos e privados, e enquadrará quaisquer iniciativas à volta do tema da luz que mostrem suficiente qualidade. A Comissão assegurará as ligações internacionais (ver http://www.light2015.org/Home.html~ )

As últimas palavras do poeta, romancista e dramaturgo alemão Johann Wolfgang von Goethe foram “Mehr Licht!”, em português “Mais Luz!”. No mundo e em Portugal este pode bem ser um lema a usar para 2015 – Ano Internacional da Luz.



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