quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A PEGADA DE CARBONO DE UM COPO DE LEITE


Artigo publicado na Revista da Associação de Produtores de Leite pelo Prof. Arnaldo Dias da Silva e que transcrevemos com a devida vénia: 

As vacas leiteiras são animais encantadores sobretudo se vistas a ruminar nas pastagens verdes. Passam nessa actividade cerca de oito horas por dia, remastigando o alimento que volta à boca vindo da grande câmara de fermentação que é o rumen.  Chama-se a este fenómeno regurgitação. Ao mesmo tempo expelem baforadas de gases pelas narinas.  Depois de feita a (re)mastigação e bem ensalivado os alimentos, este bolo volta ao rumen – é deglutido – com um tamanho de partícula menor. 

A diminuição do tamanho é imprescindível para o processo de digestão especialmente no rumen por fermentação microbiana. Nos gases expelidos, assume particular relevância o metano pela importante contribuição que pode ter o efeito de estufa.

 Para situarmos correctamente esta questão – isto é, para atribuirmos às vacas apenas o que justamente lhes deve ser atribuído - importa dizer mais qualquer coisa. Nos diferentes processos de produção de bens e serviços que o homem tem ao seu serviço à superfície da Terra, são lançados para a atmosfera milhares de toneladas de gases com igual potencial ou potencial superior de efeito de estufa do que o “arroto” das vacas leiteiras. Para o comprovar, basta consultar os mais recentes Relatórios da FAO sobre o assunto. Vale a pena referir pelo enorme volume que assume o metano produzido nas turfeiras e na cultura do arroz. Os gases ricos em metano podem ficar retidos na atmosfera em quantidade mais elevada do que o habitual, agravando então o tal efeito de estufa. 

Quero lembrar, no entanto, que este efeito sempre existiu. Sem ele a temperatura média à superfície do planeta Terra seria cerca de 33º Celsius e a vida, tal como a conhecemos hoje, seria impossível à superfície do nosso planeta. 

 As vacas leiteiras em 2014 terão maior responsabilidade nos riscos de aquecimento global do planeta Terra do que as vacas de outrora? Podemos hoje tentar responder a esta interessante questão.

Em 1927 o Anuário Agrícola dos EUA era ilustrado na capa com uma bonita vaca Ayrshire pastando calmamente ao lado de um ribeiro, uma imagem verdadeiramente idílica. J. C, McDowell escrevia então – cito, traduzindo Capper e outros (2008):  

“Quando a população deste país aumentar para 200 000 000 habitantes será facilmente possível oferecer-lhe a quantidade adicional de produtos lácteos não aumentando o número de vacas mas tendo melhores vacas... A produção média de leite nos EUA é de cerca de 4000 libras por ano. Se houver um aumento de 150 libras por ano, em 45 anos duplicaremos a produção por vaca. Então o mesmo número de vacas que temos hoje, dará, à mesma taxa de consumo de leite e produtos lácteos, para um número consideravelmente maior  que 200 000 000  pessoas.” 

Na altura em que McDowell escreveu este texto (1927) a produção média de leite por vaca era apenas de 4100 libras; 80 anos depois (2007), a produção média anual foi de 20 044 libras de leite, de acordo com os serviços oficiais norte-americanos. Significa isto que a “profecia” de McDowell pecou por defeito! 

É muito importante perceber se tal sucesso se ficou a dever à aplicação persistente de programas de melhoramento genético dos animais introduzindo variáveis que o tempo ia aconselhando, a programas de controlo sanitário e de resistência às doenças, ou a melhorias na alimentação, nos sistemas alimentares e no controlo ambiental e do bem estar.

 Arnaldo Dias da Silva

2 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

O leite o principal alimento na cadeia alimentar de mamíferos e com tristeza a notícia que no Brasil empresas atuavam com irresponsavel descaso omitindo a riqueza de nutrientes e tem mais, os órgãos públicos fiscais devem repreender atos ilícitos de adulteração sob quaisquer forma de risco a saúde humana.

Anónimo disse...

Também a produção intensiva de soja e outros alimentos agora na moda causam tanto ou mais impacto no ecossistema que a criação de vacas.
A questão mais importante do leite é que ele não é necessário na alimentação humana, refiro-me ao leite de animais depois do desmame materno, isto porque cálcio e magnésio existem em grandes quantidades noutros alimentos.

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