domingo, 2 de fevereiro de 2014

CIÊNCIA, CULTURA E INOVAÇÃO EM DEBATE NA UNIVERSIDADE LISBOA


Declarações que fiz ao DN e aproveitadas no artigo sobre ciência de Filomena Naves no DN (suplemento QI) de ontem sobre a recente Conferência sobre Ciência, Cultura e Inovação na Universidade de Lisboa: 

A Fundação Francisco Manuel dos Santos, interessada em estudar a realidade portuguesa e como hoje hoje a ciência é parte essencial das nossa vidas, quis e quer colocar a ciência em debate na nossa praça pública.. Queremos por isso mostrar e discutir o que é, como funciona e para que serve a ciência no mundo e, em particular, entre nós. À luz das melhores práticas internacionais, como as que têm existido no Reino Unido com a colaboração da Royal Society, pretendemos estudar o que tem sido feito e, portanto, ajudar a preparar o que falta. A Conferência sobre Ciência, Cultura e Inovação de Lisboa revelou não só a natureza e os mecanismos do empreendimento científico mas também os fortes elos que ele tem com a cultura humana e com as transformações tecnológicas que nos dão uma vida mais cómoda.

O Presidente da Royal Society Paul Nurse chamou a atenção para os benefícios da ciência e para o modo como a ciência passa dos institutos e laboratórios para a sociedade. O investimento na ciência dá frutos, embora eles raramente sejam imediatos. É necessário regar e cuidar para só mais tarde colher e comer. Insistiu em particular que os melhores projectos de ciência devem ser escolhidos pelos próprios cientistas, indo muito além de indicadores de produção bibliográfica. Há que encontrar as mentes mais criativas e proporcionar-lhes condições de criação. O médico João Lobo Antunes analisou as teias que ligam ciência e cultura: nas duas há criatividade, há imaginação, embora na ciência a imaginação esteja orientada pela “imaginação” da Natureza. Não serve a ninguém separar as ciências exactas e naturais, por um lado, e ciências sociais e humanas, por outro. O economista Brandão de Brito falou da emergência da economia e cultura económica em Portugal no pós-guerra, quando a sociedade em todo o mundo se reconstruiu em boa parte com base na ciência e tecnologia: a economia passou pelas mãos dos engenheiros. O engenheiro Carlos Salema exemplificou a ligação entre ciência e engenharia, mostrando como um conjunto aparentemente disperso de descobertas científicas, demoradas no tempo, colapsaram numa síntese que  mudou completamente o mundo, possibilitando através das telecomunicações a globalização. Finalmente, outra engenheira, Maria da Graça Carvalho, falou da Europa da ciência e das perspectivas que o programa  Horizonte 2020 abre para Portugal. 

Indo além da espuma dos dias, a Fundação tentou que o público, presencial e on-line, ampliasse a sua visão da ciência. Não se dirigindo em primeira linha aos políticos, mas sim a todos os cidadãos interessados na coisa pública, a Fundação espera que os políticos estejam atentos e tomem a ciência como uma prioridade continuada. Ficou claro que, se não continuar a recente aposta na ciência, dificilmente poderemos ganhar o futuro.

A presença na condução de trabalhos de cientistas brilhantes como Elvira Fortunato e Maria Mota simboliza os êxitos recentes da ciência portuguesa. Mas também simboliza a união dos cientistas portugueses. Embora em Portugal não exista, na prática, o equivalente da Royal Society no Reino Unido, é muito mais o que une os investigadores portugueses do que o que os divide. Se houvesse uma Royal Society em Portugal, elas e os conferencistas de Lisboa pertencer-lhe-iam.

A Fundação realizou esta Conferência em colaboração com a Universidade de Lisboa, agora ampliada através de uma grande fusão, tal como em 2013 tinha organizado a primeira conferência com a Universidade do Porto. Queremos prosseguir as nossas conferências anuais, em 2015 provavelmente na Universidade de Coimbra. O tema será definido com a ajuda do Conselho de Ciência e Inovação da Fundação, ao qual pertencem Elvira Fortunato e Maria Mota, com outros cientistas como Maria de Sousa, Irene Fonseca, Nuno Ferrand e Onésimo Almeida. Entretanto a Fundação tem alimentado estudos sobre a ciência em Portugal que virão a público (saiu há pouco o livro Inovação em Portugal de Manuel Mira Godinho). Estamos também a trabalhar na criação de uma rede de cientistas portugueses no mundo: chamar-se-á GPS (Global Portuguese Scientists). Queremos ampliar a voz dos cientistas portugueses hoje espalhados pelo mundo. O GPS ajudará a encontrar um rumo.


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