sábado, 18 de janeiro de 2014

O barulhito é o único problema!

Carlos Fiolhais enviou-me uma notícia cujo título poderia ser, por exemplo, o de uma cena dos Gato Fedorento ou o de uma cena ficcionada num livro negro. Escola investe em drones para vigiar alunos durante exames
"Uma escola na Bélgica divulgou online um vídeo onde dá conta da utilidade da tecnologia dos drones no âmbito da sala de aula. Os alunos que aproveitam os momentos de distração dos professores para copiar nos testes vão ter a sua vida dificultada, graças ao «vigilante voador» que patrulha os exames (...). O sistema implica a coordenação de duas pessoas: enquanto um pilota o engenho por via de controlo remoto, o outro assiste às imagens em directo para ver se algum aluno está a usar cábulas." 
Não percebendo uma palavra de flamengo, pedi a uma amiga residente na Bélgica para traduzir o que professores e alunos opinavam a respeito, num filme que a escola divulgou.


O que ela me disse foi o que eu havia adivinhado: coordenados, professores e alunos sublinharam a inovação tecnológica, a possibilidade real de controlar a fraude em exames, a possibilidade de o professor ser substituído por um funcionário, pois tudo ficar registado. E isto sem crítica que se notasse... Bem, apontaram um problema(zito): o barulho que o aparelhómetro faz.

Não podemos saber pelas notícias se há professores e alunos com opiniões diferentes destas, mas o facto de um professor (um só que seja) e de uma escola (uma só que seja) admitirem esta prática, é algo, pura e simplesmente, aterrador.

De facto, as escolas, através dos seus professores, em grande medida responsáveis pela formação do carácter, deveriam ser os primeiros a denunciar, a recusar a panóplia de estratégias e instrumentos (em que este tipo de drone se inclui), que quer consolidar, como nunca antes aconteceu, a lógica persecutória e de controlo social.

5 comentários:

PriSSão disse...

A lógica do controlo social existe em todos os aparelhómetros informáticos e seus incontornáveis vírus, facebook, escutas telefónicas, blogues fotográficos, mass media e o diabo a 4... A própria filosofia do Selfie e seus 5 minutos de fama, facilita o controlo que tanto se quer evitar...

Qual é o problema de ter mais um "caça"? Quem não vende gato por lebre...
Mas reitero que não tem qualquer importância o aluno cabular, fintar a vigilância dos professores e enganar o sistema. Conheço alguns que foram assim até ao mestrado cuja tese também... O que é preciso é ser esperto. Como diz o Ginlherme Valental, o estrangeiro contrata todos os cucucurrus de carta no bico e agradece. Claro que não generalizo.

Preciosismos disse...

A vírgula de fama não existe por causa do sujeito.

Anónimo disse...

Estamos a trilhar caminhos muito tristes! Sabemos muito de matemática, de ciências , de línguas... mas pouco de direitos e reflectimos menos aonde nos levam as novas tecnologias.

Ivone Melo

Helena Damião disse...

Cara Ivone Melo
Concordo consigo quando diz que "estamos a trilhar caminhos muito tristes", sobretudo porque não vemos qualquer reacção por parte de algumas entidades e pessoas que deveriam recusar trilhá-los. As tecnologias levam-nos aonde decidirmos que nos levem, pois é a nós, pessoas, e não a elas, máquinas, que cabe orientar a acção por valores fundamentais.
Cumprimentos,
Maria Helena Damião

Carlos Ricardo Soares disse...

Os seres vivos (o homem de modo especial) não podem cingir-se a "conhecer", a "saber". A ciência não tem "responsabilidade" sobre aquilo que o homem faz ou deixa de fazer. Quando passa à acção, o homem não se contenta com o seu conhecimento da realidade, porque o homem não aceita, nem pode aceitar, uma realidade material estática, tendo a cada momento de agir sobre ela e, nessa ação a que não pode furtar-se inteiramente, o homem é um agente, mais ou menos engenhoso, mais ou menos engenheiro, mais ou menos artista que ultrapassa os estritos limites das suas necessidades económicas primárias imediatas e submete tudo às leis da economia, incluindo a economia, quer enquanto ciência (teorias), quer enquanto políticas, quer enquanto doutrina e arte de domínio. Mas é porque as coisas não têm de ser como são que as ciências sociais desempenham um papel fundamental no equacionamento dos problemas e na busca de soluções. É possível viver num mundo em que se elimine a filosofia, a religião, a história, a música, as artes... e se aposte tudo na química, na física, na mecânica, na informática, nas armas, nas energias e nas drogas? Quando vejo imagens dos campos de concentração nazis, vêm-me logo à mente questões como estas.

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