domingo, 19 de janeiro de 2014

Nos 30 anos da morte de Ary dos Santos

Foi preciso que a data de uma morte, a data da morte de Ary dos Santos, se impusesse, para que, durante dois ou três dias, neste país desalmado, se voltasse a falar publicamente de poesia. E com a necessidade, a força que ela requer.

Ary dos Santos tinha o sentido da necessidade da poesia e também a força de espírito e a força física para ir dizê-la para a rua e para outros lugares onde andam as pessoas que verdadeiramente precisam dela.


Um extracto de um dos poemas mais sonoros de Ary dos Santos

Estrela da tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
...
José Carlos Ary dos Santos

3 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Belíssima homenagem a lembranca.

Agostinho disse...

As palavras valem mais do que as pedras.

Cantando... disse...

Já sem tarde, sem noite, sem sonho, sozinha,
a manhã renascia
Ampulheta virada no sopro do tempo
que desvanecia
Areal de onírico oásis escorrendo
na pena vazia
Linha fina, dourada, esvaindo o momento
de luz e magia
E a manhã sem mistério, sombrio fantasma
de mim se perdia
Pelos dedos do vento no ventre das dunas
o céu se escondia
Que silêncio de ti, que sem ti no silêncio
cumpro a nostalgia
Por de mais eu errei… no errante deserto
duma fantasia

FC

;)

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