quinta-feira, 20 de junho de 2013

DIABOLIZAR PARA GOVERNAR?

Reproduzo aqui um pequeno artigo de opinião publicado no Diário Económico, da autoria de João Cardoso Rosas:

Perante a luta sem tréguas entre os professores e o Ministério da Educação, uns apressam-se a condenar a arrogância do ministro, enquanto outros atribuem toda a culpa ao radicalismo dos sindicatos.

Seria preferível que colocassem as seguintes questões: por que razão o discurso radical da FENPROF, de Mário Nogueira, conseguiu ter consigo a maioria dos professores quando esse mesmo discurso, em termos eleitorais, chega apenas aos 20% (PCP + BE)? E por que razão o ministro da Educação não tomou a decisão, simples e fácil, de adiar o exame de Língua Portuguesa para todos os alunos quando até o próprio Mário Nogueira tinha afirmado em público que, se o Governo mudasse a data do exame, a greve não iria atrás dela?

Existe uma resposta clara para estas questões. Há muitos anos que o sector da Educação conhece uma tensão crescente. Tanto os Governos do PS como os do PSD tenderam a considerar que a forma mais expedita para reformar o sector consistiria em colocar a sociedade (pais, alunos, etc.) contra os professores para assim os fragilizar e eliminar a oposição às reformas. Quem acompanha a política portuguesa sabe que este modelo de "diabolizar para governar" nasceu no sector da Saúde e com Leonor Beleza em relação aos médicos. Mas foi na Educação e com os professores que ele se generalizou. Neste aspecto, existe uma linha de continuidade entre Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato (algo que eles negariam, claro, porque se detestam mutuamente).

Assim, a atitude afrontosa do ministério da Educação em relação aos professores, sempre com mais exigências avulsas e mal justificadas, mais trabalho burocrático e inútil, maior desvalorização da função docente, agora também com ameaças de despedimento sumário e sem indemnização, conjuga-se perfeitamente com um discurso sindical radicalizado e em oposição a qualquer mudança, por mais razoável que seja. O radicalismo de uns alimentou o radicalismo de outros, chegando a um ponto no qual a Educação é hoje um sector mais bloqueado do que outros sectores da Função Pública. Por isso o discurso de Mário Nogueira tem êxito e o ministro não foi capaz de resolver um problema simples.

A única forma de impedir o triunfo de um discurso sindical radicalizado consistiria em começar por evitar a radicalização da parte do ministério da educação. Ou seja, passaria por uma estratégia reformista diferente, aberta aos sindicatos e à sociedade, com propostas conhecidas e amplamente debatidas, acompanhadas pelo elogio continuado da função docente. Reformas noutros países demonstram que esta é a melhor estratégia. Mas o ministro Nuno Crato não o compreendeu e quis prosseguir num caminho que não tem já saída.

João Cardoso Rosas, Professor universitário

9 comentários:

Just me disse...

É uma perspectiva a ter em conta, a de João Cardoso Rosas. A grandes males, grandes remédios. E, como já disse em algum lugar, as atitudes sindicais são consequência. Avaliem-se as causas; dores de cabeça continuadas não se tratam com melhoral.
Que o senhor ministro se não engane. Ou a sua diferença (ainda é alguma; ao menos de atitude) com Lurdes Rodrigues esvai-se, esboroa como papelão em chuva torrencial.

Os professores são uma torrente. Creio neles. Sejam de que quadrante forem, de que nível de ensino. Com ou sem sindicato. O que os une é a profissão. E é bastante.

Anónimo disse...

A solução apresentada é paradoxal: identifica - e bem - que os sindicatos representam 20% dos professores (e ainda menos do que isso do eleitorado!) mas é o ministério da educação (governado em teoria por uma equipa que resulta de um sufrágio universal e directo!) que deve começar por deixar de ser radical?!...
Só para relembrar a influência - dum brilhantismo catastrófico - dos camaradas do camarada Mário Nogueira no ensino em Portugal, na destruição do ensino técnico:
http://portadaloja.blogspot.pt/2013/06/como-o-secretariado-do-pcp-liquidou-o.html
O Mário para além de não dar aulas, chamar ordinários aos jotinhas (mas só aos do PSD, porque os do PC são bons jotinhas!), se recusar obstinadamente em revelar que dinheiro recebe (ou esfola!) dos contribuintes, tem do ensino a visão teórica do Rui Grácio. O resultado está à vista, e ainda há quem vá nestas grândolas vilas morenas...
Só faz chafurdice para chatear o governo que não é da cor. Nunca fez, e não faz, metade do chinfrim para defender a integridade física dos professores quando são barbaramente agredidos, intimidados, e insultados diariamente, pela total e irresponsável falta de disciplina nas escolas.
O azar deste senhor - e próceres que por cá temos - é haver uma coisa chamada internet... está à distância de um «enter» estar informado, e é suposto os professores saberem ler e fazer umas pesquisas...
Haja pachorra!...
AM

Unknown disse...

O Sr. João Rosas tem uma noção curiosa da realidade (quiçá um pouco retorcida):

Começa por constatar um conflito (entre um sindicato e um ministério)
Depois diz que as posições do sindicato eram claramente apoiadas pela classe, questionando a razão pela qual o ministério não procura ter uma posição conciliadora no conflito.
Para responder descreve a posição adoptada pelos representantes governamentais ao longo do tempo, que aparentemente terão adoptado uma estratégia de “diabolizar para governar” (presumivelmente engendrada por Leonor Beleza).
Seguindo para bingo, diz então (como fosse uma conclusão lógica) a atitude afrontosa (implacável e com absurdas exigências sucessivas e intimidação) estão ao nível do radicalismo sindical.
Por fim apresenta uma solução, na qual a finalidade parece ser o impedimento de um discurso sindical radical (por um postura do ministério que evitasse esse radicalismo). Sendo que aparentemente esse Desidério passaria por uma “estratégia reformista diferente, aberta aos sindicatos e à sociedade, com propostas conhecidas e amplamente debatidas, acompanhadas pelo elogio continuado da função docente”.
João Rosas diz ainda que isto funcionou muito bem noutros países (lamentando a incompreensão do ministro).

A ver se nos entendemos, num conflito as partes que estão em confronto são os professores (representados pelos sindicato) e os cidadãos de Portugal (representados pelo ministério). Neste caso aparentemente os professores têm algumas reivindicações que apresentaram ao ministério e que este considerou que não eram razoáveis. E é isto que está em questão.

O problema não são nem o radicalismo do sindicato (ou bigode do seu presidente) nem os cheliques do ministro.

José Fontes disse...

Senhor AM:
Põe-se a falar do que não sabe, a partir de qualquer baboseira, alarvidade ou mentira posta na Net com fins inconfessáveis, depois dá nisto.
O que sabe o senhor do ensino técnico?
Foi lá professor?
Frequentou-o?
Estudou-o?
E sobre Rui Grácio?
Leu a obra dele?
Sabe que proposta tinha para o ensino em geral: aquilo que chamava Educação Politécnica, com cursos diversificados, técnicos e liceal?
Ou fala mais uma vez de cor, pela boca de outros?
E sobre a fim do Ensino Técnico depois do 25 de Abril, outra falácia.
O Ensino Técnico (que o senhor invoca) terminou antes do 25 de Abril.
Sabia?
Não sabia, fala pelo que ouve os outros dizerem, como pode saber.
.

Anónimo disse...

A única linguagem que o sr jfontes percebe é a da estrebaria, como se conclui do seu tom rasca perante um comentário feito com cortesia. Assim sendo respondo-lhe à letra: não passa dum aldrabão fontes! e as fontes (mas as outras) aí estão, incluindo páginas inteiras de jornais, para deixar cristalino que você além de aldrabão não passa de uma besta como diria o Eça.
am

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Um dia! O professor Desiderio Murcho quisera ser filósofo à moda antiga.

Anónimo disse...

Aqui em casa somos dois que nos lembramos daquilo que o camarada Vasco fez.

Just me disse...

Permito-me lembrar-lhe, anónimo das 10:42, que de nada vale lutar pela integridade física dos professores se eles nem sequer puderem exercer a profissão. Além disso, e ainda que desconheça grande parte e pormenores
da luta sindical - da FENPROF e dos outros sindicatos de professores(todos os sindicatos aderiram a esta greve), ela tem sido, sim, também pela salvaguarda da integridade dos profissionais que, neste caso, são professores.Seja física ou psicológica. Todos os sindicalistas zelam por ela.

Quanto aos jotinhas...confesso que a juventude do PSD me parece velha. Mas pronto, é uma opinião. Que o nosso 1º ministro saiu de lá e é um exemplo extraordinário. Bem como António José Seguro que foi um jotinha de outro lado. Por morrer uma andorinha não acaba a primavera. Portanto, se os jotinhas forem bons, o que MN diga, não conta. Ou desconta para ele. Qual é a pressa? Sobre os jotinhas do PCP não me pronuncio que só conheço um ou dois. Como deve calcular têm um abismo de permeio. E julgo que no permeio está uma capacidade de sonho muito saudável e actuante. Mas pronto, eles também são só uma andorinha, não contam. Veremos o que fazem uns e outros. Que todos pertencem ao futuro. Se o país não acabe antes.


Mas afinal como é? querem um sindicato ou uma ocupação de tempos livres? quem coordene um sindicato com tal dimensão não pode dar aulas. Sob pena de exercer mal a função. Ponto.
Não acredito que julgue que os professores não sabem aceder à net!
Mas creia, nem todas as fontes são de água potável.

Just me disse...

Tenho imensas dúvidas acerca de uma das partes: que o governo, através do ministério, represente os cidadãos portugueses.

Embora possa estar destratando a importância do bigode de MN, afirmo que não pesa o mesmo que o seu radicalismo. O primeiro é uma imagem de marca - goste-se ou não - e não tem quaisquer efeitos nas decisões negociais(julgo); o segundo pode interferir nelas, ainda que também sirva uma imagem de discurso.
Os sindicatos não deviam estar partidarizados. Há uns para quem o governo fala e outros com quem corta relações. Prefiro, neste caso, os últimos. Vá-se lá saber porquê.

O que está em questão é a defesa de uma profissão. E o senhor ministro não tem cheliques. Tem poder.

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