segunda-feira, 29 de abril de 2013

"As pessoas estão dispostas a trocar a privacidade pela conveniência"

Recupero parte de uma entrevista feita por Joana Amaral Cardoso e publicada há uns anos (talvez uma década... lamentavelmente não identifiquei o recorte de jornal) na Pública (a revista do Público) a Howard Rheingolg, um dos grandes pensadores do impacto das tecnologias digitais no funcionamento das sociedades e nas decisões pessoais.

Poderão estas inovações tecnológicas, estes programas, tornar-se movimentos sociais em vez de produtos comerciais?
Claro! Tal como escrevi em Smatr Mobs, as próximas verdadeiras inovações não estão tanto no "hardware" ou no "software", mas serão nas práticas sociais (...)  Se pensarmos nas coisa que a revolução Gutenberg capacitou as pessoas para fazer - derrubar monarquias e criar democracias constitucionais, para transformar a ciência de uma coisa arriscada que só um punhado de génios fazia num empreendimento colectivo -, quão poderosas serão as mudanças sociais que poderão resultar do uso de tecnologias muito mais poderosas que a imprensa?

Para o bem e para o mal...
As pessoas usam a tecnologia para fazer coisas boas e más, construtivas e destrutivas, por muitos, muito anos. A imprensa permitiu às pessoas imprimir bíblias e o Mein Kampf (...) O mesmo é válido para o telefone, a rádio, a televisão e para a internet. A minha crença é o fundamento do racionalismo esclarecido de que é melhor saber mais do que não saber. Se mais pessoas tiverem mais conhecimento, é possível para elas pelo menos tentar tornar a sua vida melhor, apesar de isso também permitir que as pessoas  façam coisas mais destrutivas ao mesmo tempo. Penso que é muito importante que não percamos de vista o potencial destrutivos das tecnologias (...).

Outra questão que a partilha de dados na internet levanta é a da privacidade. Milhões de pessoas despejam diariamente dados pessoais na "web", o que torna, por um  lado, o sonho dos "marketeers" e, por outro, um problema de segurança. isto é inevitável ou pode prevenir-se?
Penso que é inevitável se se tem tecnologias que são tão poderosas, tão sensíveis que sejam alvo de abuso pelas pessoas no poder. A protecção contra isso tem de ser política. E também tem a ver com a literacia. A maior parte das pessoas não sabe que quando entra na internet, as suas acções estão a ser seguidas. A maior parte das pessoas está disposta a trocar a privacidade pela conveniência.

Qual é o maior perigo?
No último capítulo do Smart Mobs falo do "Panóptico sempre ligado", no qual o Estado terá imenso poder simplesmente porque sabe. Vi no noticiário que o governo britânico vai monitorizar toso os veículos. Eles t~em tantas câmaras e eles conseguem reconhecer as matrículas e cruzá-las com bases de dados que agora são capazes de seguir, literalmente, todos os automóveis e saber onde todos estão a diferentes horas e podem manter esses registo durante anos. É importante que, se as democracias vão continuar a permitir ao povo ter as suas liberdades, haja limites legais na forma como o Estado pode usar essa informação sobre as pessoas (...) A ligação eléctrica do mundo não está completa, mas há câmaras em todas as esquinas. Ainda. Essas câmaras não são todas digitais e não estão todas ligadas entre si. Ainda. O "software" de reconhecimento facial, que permite escolher uma cara num vídeo de uma multidão e identificá-la, não é completamente eficaz. Ainda. Por isso, acho que temos mesmo de pensar, agora, em leis, em restrições. os governos terão de ter mandatos, motivos para poderem espiar indivíduos. está na altura de os cidadãos acordarem e perceberem que se confiam nos seus governos para proteger as suas liberdades, não faz sentido que o façam retirando-lhes as suas liberdades.

2 comentários:

perhaps disse...

Também julgo preferível saber mais do que menos, o homem esclarecido ao ignorante. Mas um saber sem o freio da ética é altamente perigoso. E já ninguém acredita que a sabedoria arraste a virtude.
Perante uma tal possibilidade de futuro que nos controla em todo o lugar, não sei se seremos ainda homens, tão despidos ficamos do que nos faz ser.

A ideia - em parte verdadeira - de que entrar na net significa a perda de privacidade, aterra-me. Mas ligarmo-nos a outras pessoas e lugares por sinais eléctricos traz muitas vantagens. e tem o seu quê de romantismo.

Anónimo disse...

A convergência humano e máquina está no horizonte à vista, até lá o transhumanismo continuará a ser justificado pelo caos, criado pelos manipuladores. A Mente humana dentro de memórias está a ser criadae experimentada no terreno, falsos "aliens" e abduções são evidências disso mesmo, entre outras. A decepção está hoje em níveis tão obscenos que esta palavra não serve mais para descrever a situação:

"Humans are cheaper than robots according to pentagon documents. That is why we still send soldiers into battle. This philosophy is also prevalent in their weapons development. Human costs and misery do not appear in DoD proposals and bottom line figures. We are (cost) free to be slaughtered like cattle for weapons development."

Vale a pena ler: http://www.freedomfchs.com/thematrixdeciph.pdf

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