segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Para Quando o Reconhecimento Integral das Qualificações Académicas no Ensino Básico e Secundário?



Texto recebido de  Maria Barros:
 
Durante anos, criou-se um hiato entre o Ensino Superior (Universitário/ Politécnico) e o Ensino Secundário (Básico/Secundário) com base no argumento de que o Ensino Superior era para investigadores e/ou professores – investigadores, a quem era requerida a prestação de provas académicas para obtenção de graus, e o Ensino Secundário era para os licenciados ou bacharéis profissionalizados que não tinham outra ambição senão a de lecionar. A estes não era pedido, como hoje ainda não é, qualquer grau académico acima de Licenciado na área disciplinar de docência, embora o Ministério da Educação (ME) coloque à disposição dos seus quadros concursos regulares para Equiparação a Bolseiro para efeitos de Doutoramento. 

O Estado fez, na última década, um considerável investimento na qualificação do pessoal docente integrado nos quadros. Ao abrigo do Estatuto de Equiparação a Bolseiro, o ME dispensou temporariamente alguns dos seus funcionários, a quem pagou regularmente o vencimento, a fim de desenvolver um projeto de investigação para o ensino, adquirir um grau académico de topo na área das Ciências da Educação ou na área disciplinar de docência, tendo previamente considerado a sua relevância para a construção de uma escola pública de sucesso. Ao abrigo do mesmo Estatuto, o ME dispensou igualmente, para formação avançada, embora sem vencimento, funcionários a quem fora atribuída uma bolsa de investigação para Doutoramento e Pós-Doutoramento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), resultado de verbas comunitárias e nacionais. A par do investimento na qualificação dos seus quadros, o ME reconhecia o mérito do funcionário através de uma bonificação na mudança de escalão remuneratório, facto que hoje já não se verifica.

O princípio da mediania (mediocritas), que nivela os professores a partir do grau de Licenciado, a que acresce a sobrevalorização do critério da antiguidade, serviu, nomeadamente, para justificar diferenças de carreiras e salários entre o Superior e o Secundário, mas também, e de forma incompreensível, para alimentar um fosso salarial e uma desproporção de horas de trabalho dentro do próprio Ensino Básico e Secundário: os professores mais velhos auferem de redução letiva e de melhores remunerações (a maioria encontra-se no topo da carreira, ou próximo), independentemente das suas qualificações e do trabalho que desempenham dentro da instituição; por sua vez, os professores mais novos têm horários letivos sem qualquer redução, piores turmas, piores salários e são, em muitos casos, mais qualificados cientificamente, dado que são o produto do investimento do Estado na qualificação e modernização dos quadros da administração pública.

Se é verdade que, ao longo de muitos anos, a dicotomia entre o Superior e o Secundário bem como o fosso geracional no Ensino Básico e Secundário não eram problema, dada a exiguidade de docentes com os graus de Mestre e Doutor nos níveis de ensino não superior, hoje, a diferença tornou-se obsoleta porque não representa com fidedignidade a situação de uma parte substancial dos professores em Portugal. Este facto é tanto mais paradoxal se pensarmos que os quadros dispensados pelo ME para efeitos de qualificação avançada, aqueles justamente que poderiam inovar, argumentar ou liderar numa escola de sucesso, são os que ficam sistematicamente excluídos de qualquer reconhecimento profissional.

Pese embora algumas vozes que, ao longo destes últimos anos, se têm erigido em defesa do reconhecimento integral das qualificações académicas no que diz respeito às habilitações para a docência, foi necessário que o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) descrevesse o sistema de ensino português para que, na opinião pública, se começasse finalmente a ouvir falar de um funcionalismo público anquilosado e pouco produtivo, em grande parte, porque se funda em critérios estritos de antiguidade e não valoriza o mérito, nomeadamente, por aquisição de qualificações académicas de topo dentro da área disciplinar em que o docente leciona, participações em projetos científicos de excelência e congéneres.  

Assim, por exemplo, imaginemos o caso de um professor Doutorado em Literatura Portuguesa, com uma Tese sobre Fernando Pessoa, eventualmente publicada, e tida como essencial para a compreensão do autor no âmbito dos Estudos Pessoanos. Imaginemos ainda que o titular da obra é docente numa Escola Básica e/ou Secundária e, por contingência, é o professor mais jovem do seu grupo disciplinar. Recordo, a este propósito, que a seriação dos docentes nos grupos e para efeitos de concurso é calculada com base numa média profissional (média de Licenciatura + média de Profissionalização), a que acresce um ponto por cada ano completo de serviço prestado após o estágio, e meio ponto se tiver sido antes da profissionalização. Admitamos que o nosso pessoano tem uma média profissional de 17 valores (17 de Licenciatura + 17 de Estágio), vinte anos de serviço pós-profissionalização, e até nos vamos esquecer de que o ME nunca solicitou, para efeitos de ingresso na Função Pública e concurso, que as universidades usassem um critério universal para o cálculo das médias (com ou sem arredondamento final). A sua média será, portanto, de 37 valores, e com ela concorrerá, ficando deste modo sujeito à obtenção ou não de vaga. Por outro lado, imaginemos que, no cume da pirâmide etária do grupo disciplinar em que o nosso pessoano se insere, está um professor Licenciado e Profissionalizado, que não é Mestre nem Doutor, e possui uma média de 12 valores (12 de Licenciatura + 12 de Estágio), a que acrescem 29 anos de serviço. O sénior terá, portanto, uma média de 41 valores e ficará à frente do pessoano para a obtenção de vaga no concurso. Na pior das hipóteses, imaginemos que, por razões de vária índole, deixa de haver horários disponíveis para todos os professores da escola a quem ambos pertencem. Nesto contexto, será fácil prever qual dos dois cairá na posição de horário-zero que, segundo dizem, é a antecâmara do quadro de excedentários. 

A ser verdade, deverá o Ministério da Educação e Ciência (MEC) dispensar o mais qualificado? A ser verdade, deverá o MEC dispensar aquele em cuja qualificação apostou, subsidiando-lhe a investigação com fundos públicos e com o argumento da absoluta relevância do seu estudo para o ensino?

Imaginemos agora que o nosso Professor Doutor está numa escola em que, como é prática comum, os professores se reúnem por hierarquia etária, qual consílio de deuses, a fim de escolher os níveis a lecionar para o ano seguinte. Configuremos agora a seguinte hipótese: ambos aspiram a uma turma de 12º ano. O sénior, porque gosta do programa e prefere alunos de uma faixa etária mais avançada; o pessoano, porque vê neste nível de ensino uma extraordinária oportunidade de ensinar Fernando Pessoa, tópico do programa em vigor, prosseguindo a sua investigação e dando a conhecer aos discentes o estado dos Estudos Pessoanos. Embora paradoxal do ponto de vista das qualificações, percebe-se facilmente que, à luz da sobrevalorização do critério da antiguidade no ensino público, a turma do 12º ano fique para o professor mais velho. E se imaginarmos que o critério da escolha da faixa etária mais avançada se expande a todos os professores do grupo, vemos o nosso Professor Doutor lecionar turmas de 5º ano, enquanto outros, não pessoanos, são designados para ensinar o que de melhor se pensa e faz nos Estudos Pessoanos.

Podemos em bom rigor afirmar que se trata do melhor serviço público? Estará o MEC a otimizar os recursos humanos de que dispõe em benefício de professores, alunos e famílias? Estará o MEC a reconhecer profissionalmente os recursos em que o Estado investiu com bolsas de investigação pagas pelo erário público e fundos comunitários em prol de uma escola de sucesso?

Imagino um eco de vozes a insurgirem-se, clamando: “Também há excelentes professores no Ensino Básico / Secundário que são apenas Licenciados, e não é demérito lecionar o 5º ano”. Estou absolutamente de acordo, mas o ponto da minha argumentação é outro: precisamos de valorizar os recursos humanos na integralidade das suas qualificações, abdicando definitivamente de nivelar todos os professores com base numa qualificação mínima, a Licenciatura, acrescida de pontuação por antiguidade
.
 Num tempo em que se premeia a excelência e o desempenho, tendo sido, alias, criada uma rigorosa legislação para o efeito, continuamos a sentir a supremacia do critério da antiguidade neste campo: Por que razão ficaram excluídos da bolsa de avaliadores externos os Professores Doutorados na área disciplinar em que lecionam? Será que, uma vez mais, o critério etário justificou a sua exclusão? Teremos de novo, paradoxalmente, Licenciados a avaliar Doutores, só porque os primeiros servem o Estado há mais anos? Seria isto possível no Ensino Superior?

Presume-se, talvez, que a investigação pertença a um domínio totalmente extrínseco ao Ensino Secundário e, ante um trabalhador sobrequalificado, ouve-se comummente este gemido plangente: “Coitado! Estuda tanto, mas de nada lhe serve, não há vagas nas Universidades!”. Este argumento, de cariz estritamente utilitário e totalmente desgarrado do mundo contemporâneo, repetido ad nauseam nas escolas do Estado, mostra quão exíguo é o valor profissional concedido às qualificações académicas e científicas, ao mesmo tempo que perpetua, e aprofunda, o hiato entre o Superior e o Secundário.

Por todas estas razões, parece-me razoável concluir que Ensino Universitário / Politécnico é francamente mais justo do que o Ensino Básico e Secundário: funda-se numa lógica de mérito por aquisição de graus académicos, participação em projetos de excelência, publicações em revistas científicas conceituadas e afins. A Universidade percebeu há muito a sua função.

Para quando o reconhecimento integral das qualificações académicas no Ensino Básico e Secundário?

Lisboa, 25 de Janeiro de 2013
Maria Barros

28 comentários:

Anónimo disse...

Sobre esta questão entre novos e velhos e mais ou menos graus, muito haveria a dizer. Porém,tomo apenas a liberdade de aconselhar a esse pessoano que tenha um pouco de paciência e continue a estudar e a qualificar-se. Até porque, para leccionar o 12º ano, vai precisar de se especializar noutros autores, de Camões a Saramago,além de uma especialização em matéria linguística.Verá, então, que os mais velhos em breve lhe deixarão o caminho livre(é a lei da vida) para mostrar aos seus discentes o estado dos estudos pessoanos e não só.E verá também, porque os anos vão passando, que chegam uns mais novos a reclamar que a têm uma formação mais actualizada e que por isso ... e coisa e tal.Só receio que, quando lá chegar, já Fernando Pessoa tenha voado dos programas.Neste caso,terá sempre a possibilidade de criar um curso de Literatura, no âmbito das ofertas da escola, a exemplo do que começou a fazer-se com o Latim e que considero uma óptima ideia.
Quanto ao Ensino Superior Univ., só se entra na carreira académica com o doutoramento, não há mais nenhum grau, e só se chega a Catedrático após provas perante os mais graduados e se houver vaga. Mesmo que um Doutor seja muito bom, com muita investigação, etc., e o Catedrático seja assim-assim e não investigue muito, a verdade é que o simplesmente Doutor, por muito mérito tem tenha,não chega a Catedrático sem fazer a carreirinha( com provas, claro): auxiliar, associado e, chegado aqui, esperar que o outro saia. Isto, se não houver outros grãos na engrenagem.

Maria Neves, prof.ª aposentada

Jorge Teixeira disse...

Em primeiro lugar, o que é "lecionar" e "letivo"? Eu não faço ideia do que seja, e para conversa científica, já começamos mal ao não utilizar os termos adequados.

Em segundo lugar, o artigo levanta uma questão puramente formal. É quase impossível, dentro do sistema Científico actual, um aluno de Doutoramento concluir o seu grau com um trabalho de tal forma importante que seja "essencial para a compreensão" de uma disciplina. Actualmente, o grau de Doutor é apenas uma primeira (muito pequena) contribuição para o avanço da Arte.

Em terceiro lugar, mesmo que do ponto de vista apenas hipotético, acolhamos a situação de um candidato com um Doutoramento "essencial para a compreensão" de Fernando Pessoa (ou de qualquer outra área das Letras ou Ciências), esse facto seria de todo irrelevante para leccionar no ensino básico ou secundário, uma vez que esse ensino é geral e não especializado, não sendo por isso relevante uma especialização em Estudos Pessoanos (ou de outro género qualquer). Não deveria por isso tal candidato ser privilegiado sobre nenhum outro por deter tal especialização. Essa especialização não oferece qualquer mais valia para o sistema de ensino onde se propõe ensinar.

José Batista disse...

Concordo com o reconhecimento das qualificações académicas no ensino básico e secundário. A não ser assim não se percebe o fundamento para que alguém as obtenha ou tenha obtido...

Mas é preciso alguns cuidados. Eu, por exemplo, fico de pé atrás, quando oiço falar na participação em "projetos de excelência". Quem confere a excelência de tais projetos? "Cadê" a excelência dos projetos de ou para o ensino básico e secundário nos últimos trinta anos?

A Jorge Teixeira peço desculpa por, também eu, enquanto professor, estar obrigado ao cumprimento do "aborto" ortográfico.

Mário Rodrigues disse...


José Baptista:

O Aborto Ortográfico não está juridicamente em vigor. Quando muito, na sala de aula, talvez exista uma obrigação não jurídica, meramente administrativa de o usar. Mas o docente tem a possibilidade - e deveria fazê-lo - de usar em simultâneo as duas normas, salvaguardando a sua e a dignidade da língua portuguesa, sem privar os alunos de usufruírem da norma oborto. Fora da sala de aula, nenhuma obrigação impende sobre ninguém de escrever conforme o crioulo amazónico do sr. Malaca Casteleiro "and friends".

ASMO LUNDGREN disse...

ora muy bueño

Assim, por exemplo, imaginemos o caso de um professor Não Doutorado, nem Mestrado em Literatura Quântica ou mesmo Literatura Metafísica Microfísica, com uma Tese sobre Fernando Mendes Pinto depois de evoluir de Fernão Mentes Minto, eventualmente publicada por um Observatório de Risco perto de si, e tida como essencial e palavra única para a compreensão do au bon marché thor no âmbito dos Estudos do Choque Anafilático

Se Fernando Pessoa fosse reencarnado perceberia o tal estudo ou seria chumbado pela professora no teste do 12º ano

provavelmente se eu cá fosse o Pessoa não tentava tirar o 12º hoje....a verdade é que o simplesmente Doutor, por muito mérito tem tenha,não chega a fat Cat sem ter loja aberta à curiosidade de profanos e muito amigo para lhe bater nas costas ó antónio se ficar engasgado

Quanto ao Ensino Superior Univ., só se entra com conhecimentos só se progride com mestrado e doutoramento
agora um especialista no ensino básico ou secundário não faz sentido

pronto especializou-se em wenceslau de moraes e o filho duma ninja nem sequer faz parte do programa

eu cá sou douto irradiado en Aquilino Ribeiro & Buiça vulgo os literatos explosivos

ou diz-se escritores-bomba? leva hífen ? en fim....

Mário Domingues era escurinho disse...

O Baptista dá vulcões explosivos e efusivos ou vulconas reprodutivas abortivas

acho que ninguém liga se Homo bobonis se escreve in ithalicus or in thalio cus ó crux

filoctetes disse...

E CABUUUUUM! Lá se foi o argumentário pacóvio e atoleimado da autora do «post».

De que forma o doutoramento na poesia pessoana contribui para ensinar às crianças o que é um regulamento? Ou um contrato? Ou o tratado linguístico a que agora se chama Conhecimento Explícito da Língua?

E se for um pós-doutoramento na «Crónica do Imperador Clarimundo»? Isso dá para quê?

Eu conheço uma mestrada que, ao longo de dois anos, elaborou duas meras fichas de trabalho para os alunos: por mero (passe a repetição vocabular) acaso, coincidiram com as aulas observadas que teve no contexto da famosíssima Avaliação do Desempenho Docente. Ah, o mestrado dela foi em Eugénio de Andrade.

No verão (ou Verão) passado, estava a pensar inscrever-se para o doutoramento.

E, «prontos», era só isto.

P.S. Por este critério, o Relvas ainda merece estar no (des)governo?

Anónimo disse...

Que raio é isso de mais valia? É o que vem no Capital (Das Kapital) ou é um novo conceito?
Acha que saber demais não adianta?

Anónimo disse...

Concordo absolutamente com o argumento do reconhecimento integral das qualificações defendido pela autora. É um texto crítico, polémico e, decerto, não agradará a todos: põe em causa privilégios adquiridos ao longo de anos. Parecem-me absolutamente fora de contexto os comentários sobre o acordo ortográfico e, ao contrário de alguns dos comentaristas anteriores, não vejo qualquer vantagem para o ensino em nivelar todos os professores a partir de um grau mínimo de conhecimento. Esta ideia parte do princípio (erróneo, a meu ver) de que para dar aulas no secundário, bastam algumas ideias gerais sobre as coisas. É falso. Podemos ser pouco ou muito exigentes, e uma qualificação avançada não prejudica o processo de ensino-aprendizagem, muito pelo contrário. O exemplo de Pessoa é, como se percebe, apenas um exemplo,não creio que deva ser retirado desse contexto. Além disso, o caso da análise do texto Pessoano, além de dar conhecimentos sobre Pessoa, desenvolve competências críticas de interpretação análise que podem reverter para a leitura de qualquer texto, independentemente de se chamar Pessoa ou outro. O conhecimento explícito da língua é um domínio independente que, todavia, pode igualmente beneficiar de um aprofundamento da interpretação crítica. Não percebo a maioria dos argumentos apresentados e parecem-me ser bastante corporativos. Por outro lado, imaginar que os adolescentes são um público que não beneficia da experiência de especialistas revela um entendimento muito exíguo da questão: o que distingue um aluno do 12ºano de um aluno do 1º ano de uma licenciatura? Por outro lado, não me parece que a autora exclua o critério da antiguidade, diz apenas que ele não deve, nos dias de hoje, ser o único critério a determinar tudo o que acontece no ensino básico e secundário. Por mais que pense, encontro mais pontos a favor da qualificação, acrescida do critério da antiguidade, do que da sobrevalorização do critério único da antiguidade. Estou solidária com a autora e acho que foi um acto de coragem ter levantado este problema. Por fim, o ensino universitário: a autora apenas refere a importância que é dada às qualificações e a todo o tipo de provas, para além do critério da antiguidade. Não me parece que esteja a dizer que o critério da antiguidade deva ser abolido, apenas que não deve ser o único critério a ter em conta, nos dias de hoje.

Sofia Anacleto

Anónimo disse...

É preciso mudar a escola pública, as mentalidades, a cultura e os valores nas escolas: as qualificações avançadas são certamente um pilar fundamental para esse efeito.

Anónimo disse...

Em vez de bonificações remuneratórias, por aquisição de graus académicos, como parece que existiam antes,(demasiado dispendiosas, hoje, para o estdo do país) fica a seguinte sugestão: alterar as prioridades nos concursos: 1º) titular do grau de Doutor e Média profissional; 2º)Titular do grau de Mestre (pré-bolonha) e Média profissional; titular do grau de Mestre(ao abrigo de Bolonha) ou Licenciatura pré-Bolonha e Média profissional ... e assim por diante. Eu concordo, porque me parece da mais elementar justiça. Quanto à escolha dos níveis de ensino, bastaria uma legislação a dizer, em conformidade com o que antes se menciona, que a ordem de seleção (selecção para os que não usam o AO) deveria respeitar as qualificações académicas, seguidas da média profissional. Parece-me muito mais justo. Força com a ideia! Subscrevo e já estou a ouvir um coro de vozes a entoar o corporativismo da velha guarda.

motta disse...

Em nome do reconhecimento integral de blá, blá, blá..., eis um texto venenoso, à Relvas, de alguém, debutante, que, notoriamente, não conhece o "sistema". E, com isto, provoca o efeito contrário ao pretendido.
Os "mais qualificados", seja lá isso o que for, que se reconhecem na prosa, fraquita, que levantem o braço.

Jorge Teixeira disse...

Não, ninguém o obriga a usar o AO90. Só o usa se quiser. Se no seu local de trabalho é forçado a usá-lo, de certeza que ninguém o força nas suas comunicações pessoais, nos seus e-mails e nos seus posts.

Jorge Teixeira disse...

Peço que faça o seguinte exercício: imagine o Alan Turing ou o Vint Cerf ou oBob Kahn ou o Tim Berners-Lee a dar aulas a alunos do ensino básico ou secundário. Que tipo de vantagem apresentariam face aos outros professores, "simples mortais"? É tão simples como isso.

José Batista disse...

Claro, tem toda a razão.
O problema é que eu, se uso o que me parece bem, não sou depois capaz de me reprimir no desempenho profissional: nos testes, nas fichas, nas informações, etc.
E aí reside o que me incomoda sobremaneira... E que teria consequências...
Acontece que gosto muito da minha profissão e nem sequer sobreviveria sem ela.
Já viu?...

Jorge Teixeira disse...

Então faça-me o favor de escrever textos que correspondam ao que pensa. Escrever um post dizendo que usa o AO90 obrigado, ou seja, que se pudesse não o usaria, é muito diferente de o usar porque concorda.

Se concorda, então tenho de chegar à triste conclusão de que embora seja professor, não sabe as regras da escrita e da leitura do Português (especialmente as da leitura). Porque se soubesse não poderia estar de acordo. Pobre país com tais professores.

Pedro, o Duffus disse...

Agora, há um iluminado que defende que o MEC legisle a distribuição de serviço em cada escola.

Deve ser a este tipo de ideias que chamam autonomia.

Esqueçam lá as qualificações, porque o que interessa é o brio profissional de cada um. Façam lá (mais) um estudo sobre a matéria.

E o meu tio? Não passou da quarta classe, mas ainda hoje sabe as linhas de caminho de ferro, os rios e o diabo a sete. Enquanto isso, a doutorada cá do sítio não sabe qual é a capital da Bélgica.

É caso para dizer: dof*-*e!

Fernando Caldeira disse...

Antes de M. L. Rodrigues um mestrado permitia ganhar 4 anos e um doutoramento 8 anos, na antiguidade, ou seja, para efeitos de progressão na carreira; com MLR passaram a valer 1 ou 2, respectivamente. Actualmente não sei como é.
Se para efeitos de concurso e progressão na carreira está na legislação (bem ou mal), que é por antiguidade, já para atribuição do serviço lectivo nada está escrito, penso eu. De qualquer modo, a escolha do horário (serviço lectivo), tendo como critério a antiguidade, é um processo que está infelizmente generalizado, nas escolas e nos grupos disciplinares. Assim, parte-se dos professores (ordenados por antiguidade), para a escolha dos horários, e não, como deveria ser, dos horários para a escolha dos professores cujos currículos e competências demonstrados sejam os mais adequados para as funções a desempenhar. Com efeito, os professores, como quaisuer outros profissionais, devem ser avaliados pelo seu trabalho, experiência e desempenho, e não pelas maiores ou menores habilitações (a partir das mínimas aceites, claro) e, ainda menos, pela antiguidade.
Os prejuízos desta situação são obviamente graves e frequentes, sendo naturalmente os alunos os principais prejudicados.
É pois urgente que nas escolas a hierarquia da antiguidade seja substituída pela hierarquia da competência, como acontece em qualquer organização que se guie pelos resultados.

José Batista disse...

Caro Jorge Teixeira

Então o que faço eu quando digo o que digo e escrevo o que escrevo em diálogo com outras pessoas interessadas no assunto como é agora o caso?
Escrever um "post" dizendo que uso o AO obrigado? Escrevê-lo onde? Eu não pertenço ao quadro redatorial de nenhum meio com difusão alargada... E mesmo que pertencesse, o que adiantaria, para além da manifestação da minha opinião, que emito em todas as oportunidades?

Caro Jorge Teixeira, com pena lhe digo que discordo de grande parte das leis e das normas que regulam a profissão de professor. É por isso que frequento sítios como este. Onde digo o que penso. Para não ser acusado de conivente.
Mas não quero mais protagonismo do que este. Que para mim é suficiente. E que, em muitas ocasiões, pode até incomodar terceiros, coisa que me pesa.
Espero não o ter aborrecido muito.
Com cordialidade.

José Batista disse...

Caro Fernando Caldeira

Antes de MLR, um mestrado conferia, realmente, quatro anos de bonificação no tempo de serviço; já o doutoramento conferia, apenas, seis anos. O que aconteceu foi que os mestrados começaram a "chover", alguns feitos em cerca de oito meses!, e mesmo os doutoramentos. E, claro, sendo a fartura muita...
Agora, quanto à distribuição de serviço em função, principalmente, da antiguidade, muitas vezes disse que os professores funcionavam ainda pior que na tropa, pois que, aí, as graduações eram formalmente respeitadas (suponho...). Já as obtidas pelos professores, quantas vezes a expensas dos próprios, não levavam a procedimento similar...
Diga-se, no entanto, e para sermos justos, que muitos jovens e menos jovens que se valorizaram com (alguns) mestrados e mesmo (alguns) doutoramentos, revelam uma preparação geral e específica em domínios fundamentais, como seja o do uso da língua portuguesa, absolutamente lamentável.
Uma vez alguém sugeriu neste blogue um procedimento simples para demonstrar o que afirmo: consultar os registos dos sumários para ver como muitos estão redigidos.
E mais não digo, para não "cuspir" na sopa. E também não "cuspo" para o ar...

Isto, o ensino, transformou-se num mundo "extra ordinário". Nos diplomas, na falta de diplomas e no resto.

Fernando Caldeira disse...

Caro José Batista

Obrigado por corrigir o meu erro. Estava realmente convencido que eram 8 anos o “salto” que um doutoramento permitia antes de MLR. De qualquer modo, de 6 para 2 a diferença é muita. Sabe-se lá porquê, esta diferença, este corte, não gerou grande controvérsia com professores nem com sindicatos...
Só por não querer alongar demasiado o meu comentário, não recordei que na tropa do meu tempo se ouvia frequentemente dizer: “a antiguidade é um posto”. Foi aliás por esta razão que depois do 25 de Abril se reivindicou, pelo menos nas Forças Armadas, a hierarquia da competência, por oposição ao posto e à antiguidade. Estava ainda longe de vir a reencontrar esta mazela numa área que deveria ser um reduto da racionalidade: o sistema educativo.

Pedro, o Duffus disse...

Ó meus amigos, já o Camões sustentava, em 'Os Lusíadas', a aliança entre o saber teórico e o prático.

A esmagadora maioria dos mestrados e doutoramentos tem uma valor acrescentado muito residual no que à leccionação diz respeito.

E, como alguém já escreveu, mestrados e doutorados impantes com os seus papelinhos, são uns labregos no que toca ao uso correcto da língua portuguesa.

Com excepção dos professores de língua portuguesa (e não são todos), os demais (com excepções, e muito boas!) são uns canastrões.

Um professor, fosse de que área disciplinar fosse, nunca deveria ser contratado se não utilizasse de forma correcta o português padrão. é só ler as actas produzidas regularmente para verificar a miséria que grassa nas nossas escolas.

Lamentável!

P.S. Eu conheço uma professora mestrada e pré-doutorada que é mais ignorante do que a maioria dos alunos. Como é que ela chegou lá? Pediu a um colega de português que tratasse da parte linguística, ao de matemática que se ocupasse dos gráficos, aos de línguas estrangeiras na tradução de parte da bibliografia... O resto parece que foi a acama a resolver.

Tudo isto é uma valente trampa!

Anónimo disse...

Sou professora no Ensino Básico há 33 anos (será possível?) e não me reconheço no texto da Maria Barros: além do trabalho intensivo em condições muito duras, continuo mal remunerada, sem ver reconhecidas as habilitações que entretanto adquiri e com redução parcial do tempo lectivo - já não vou beneficiar das reduções a que tiveram direito tantos colegas, entretanto aposentados ( e a ser verdade o que soa na comunicação social, até essa redução vai terminar).
Ao contrário dos colegas mais novos, completei o curso em horário pós-laboral e não tive qualquer apoio estatal, foi inteiramente custeado por mim.
Concordo que a antiguidade só por si não é um mérito. Mas julgo que o desgaste nesta profissão é real e que os professores nesta fase não têm pura e simplesmente a resistência e a capacidade de encaixe, que já tiveram e usaram, para enfrentar diariamente o trabalho com as suas turmas. Haja respeito! Penso ainda que a experiência e saber que acumularam, pode e deve ser transmitida aos colegas mais novos - sobretudo se mostrarem algum interesse em ouvir...
O que nos leva directamente à questão da avaliação. E cito:
"Num tempo em que se premeia a excelência e o desempenho, tendo sido, alias, criada uma rigorosa legislação para o efeito, continuamos a sentir a supremacia do critério da antiguidade neste campo." A colega faz alguma ideia de como tem sido aplicada nas escolas a "excelente legislação" que refere? Naquela em que participei nenhum dos trabalhos que me poderiam "distinguir" foi sequer considerado (refiro, a título de exemplo, a colaboração com a Casa das Ciências). Fui obrigatoriamente avaliadora num sistema que considero injusto e desajustado; este ano letivo fui compulsivamente integrada na bolsa de avaliadores externos e a experiência anterior foi tão traumatizante que exerci o meu direito de pedir escusa.
Gostaria de ter discutido as ideias acima sem ter de referir a experiência pessoal mas talvez o meu testemunho traga um cunho de realidade à questão: assim sabemos do que falamos, teorizar não basta.
IG

Maria Elvira Callapez disse...

Muita da investigação recente diz que é necessário atrair professores altamente qualificados quer para os ensinos básico e secundário quer para o superior. Todos, provavelmente, beneficiariam porque deste modo tanto as boas como as más escolas poderiam ter a mesma qualidade de professores beneficiando, assim, tanto os bons como os maus alunos e a escola no seu todo.
Se se estudasse o impacto dos “professores altamente qualificados” nas escolas talvez se chegasse à conclusão de que mais profissionais destes seriam necessários!
Urge contratar novos docentes com talento, com base no mérito. É claro que os professores mais velhos têm a vantagem da experiência mas esta não pode ser critério para assegurar todos os cargos, sob pena de desmotivar e desinteressar quem muita vontade tem de dar ao ensino e com mais e melhor preparação do que muitos dos instalados.
Há que distribuir as competências dos professores e eliminar as disparidades existentes no que diz respeito às capacidades dos professores. Há sem dúvida, ainda um longo caminho a percorrer e penso que a autora vem levantar um assunto que necessita de ser amplamente discutido em todas as escolas. As qualificações académicas dos professores, e o seu reconhecimento enquanto tal, são importantes pelo que subscrevo na íntegra o post da autora.

Anónimo disse...

"Para Quando o Reconhecimento Integral das Qualificações Académicas no Ensino Básico e Secundário?"

Muito do que refere no seu artigo é verdade.
Até posso aditar o meu caso pessoal. Sou docente do ensino secundário há quase trinta anos. Comecei a leccionr aos 20 anos (então ainda estudante na Universidade de Lisboa). Concluí os meus estudos (antes do Processo de Bolonha) na Universidade do Porto e na Universidade de Lisboa: Licenciatura de 6 anos, Mestrado de 4 anos, Doutoramento de 5 anos e um Pós-Doutoramento de 3 anos (com investigação original na área científica de docência).
Incompreensivelmente, o MEC ou alguém colocou na minha escola não agrupada (com 3.º ciclo e ensino secundário) uma Educadora de Infância (com Bacharelato em Ed. Inf. e DESE para ensino especial pré-escolar e 1.º ciclo), ou seja, sem quaisquer habilitações para o 3.º ciclo e ensino secundário.
Como se não bastasse, esta Sra. Educadora de Infância é avaliadora do desempenho docente dos professores de áreas curriculares do 3.º ciclo e ensino secundário. Ou seja, é minha avaliadora do desempenho docente!

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O princípio da mediania que refere chama-se DISCRIMINAÇÃO, Humilhação até à exaustão dos professores do ensino não superior em Portugal.

Paula Gil disse...


https://twitter.com/jfilipev/status/605729041862291457

Anónimo disse...

Concordo com o exposto...também tenho convivido com uma série de incongruências desse tipo. Antes de estar na escola onde estou, já tinha mestrado feito. Mas uma colega que só tinha bacharelato escolhia horário à minha frente porque tinha mais tempo de serviço. E agora lecionando noutra escola e tendo feito Doutoramento numa das áreas cientificas que leciono, pago pelo erário público pois usufrui de bolsa da FCT e de equiparação a bolseiro atribuida pelo mesmo Ministério que me paga o ordenado todos os meses, impedem-me de lecionar disciplinas do Secundário (apenas do 3º ciclo do básico) pela mesma razão (tempo de serviço mais idade). Mas, ironia das ironias posso dar formação aos meus colegas e ser avaliadora externa.
Não tiro o mérito a quem desempenha profissionalmente o serviço que lhe é atribuído, mas para que efeito o estado investiu nas pessoas que fizeram formação especializada?
Reforço a questão colocada: Para Quando o Reconhecimento Integral das Qualificações Académicas no Ensino Básico e Secundário? E para quando um esforço determinado para melhorar o ensino e as aprendizagens em Portugal, com fundamento científico e pedagógico? O ensino só melhora se os professores se empenharem na atualização dos seus conhecimentos e se todo o Sistema Educativo se empenhar para que isso aconteça.
Entretanto todos assobiam para o ar e aos sindicatos não lhes interessa de modo nenhum o reconhecimento das qualificações dos professores. Parece-me que em nenhum outro local que não no sistema educativo português, pessoas com graus de formação tão dispares como licenciatura e doutoramento, ou bacharelato e mestrado, se vejam colocadas no mesmo escalão a usufruir do mesmo vencimento e das mesmas escolhas. Como mudar a situação?

Paula Gil disse...

É verdade. É importante que as pessoas (docentes) refiram os seus casos pessoais. Os exemplos concretos são importantes para que se conheça bem o ensino não superior em Portugal.
O meu caso, acima exposto [12 de junho de 2015 às 12:01], reflecte uma grave situação de assédio moral que perdura há vários anos.
O Sr. Director distribui o serviço docente aos professores com Doutoramento (antes Bolonha) ao arrepio da graduação profissional de antiguidade na carreira e em total desrespeito pelas instituições de ensino superior universitário que certificaram as minhas competências (Universidade de Lisboa e Universidade do Porto. E também do Conselho Científico e Pedagógico da Formação Contínua que me atribuiu o registo de formadora de professores.
Ou seja, à professora mais antiga na carreira e mais qualificada da escola (e das mais qualificadas do ensino não superior público em Portugal) atribui o Director o nível de ensino menos exigente cientificamente, i.e., o 3.º ciclo do ensino básico.
Diz o Director que ele é que distribui o serviço.

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Assim, distribui-me o serviço claramente abaixo das minhas competências. E em total prejuízo do interesse público. Mas em completo favorecimento das suas amigas pessoais, sem qualquer curriculo cientifico ou profissional relevante e com muito menos antiguidade na graduação profissional e menos experiência na profissão.

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Nesta escola, o Director já mandou instaurar um Processo Disciplinar a um professor (também dos mais antigos, com Doutoramento antes Bolonha, formador de professores acreditado pelo CCPFC e com vasto currículo, nomeadamente leccionação no ensino superior público politécnico), porque afirmou que não podia ser avaliado por uma educadora de infância com habilitações para o pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico.

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A panaceia da educação ou uma jornada em loop?

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