domingo, 27 de janeiro de 2013

A nossa vida pode não estar condenada à mediocridade

Aqui deixei o meu grande pesar pelo desaparecimento do programa radiofónico de Questões de Moral, "escrito e realizado" por Joel Costa.

Soube hoje que Joel Costa iniciou a escrita de um blogue. O estilo é o mesmo. Falta a música, mas ganha-se a imagem. E, o mais importante, é que cada linha traz de volta a inconfundível voz do autor, as pausas, as entoações, a ironia...

Caso os leitores entendam visitar este blogue (aqui), não esperem encontrar breves notas lineares que nada mais solicitam do que um breve passar de olhos para, de seguida, se esquecerem. Terão, antes de se preparar, para ler textos profundos e luminosos, onde cada ideia é explorada em múltiplas vertentes, onde o conhecimento tem primazia, onde a interrogação marca presença.

A exemplificar, eis um extracto do primeiro texto:
"Noutro dia ouvi dizer que não há alunos nas faculdades de Letras, que o ensino das Humanidades está pela hora da morte. Sendo a música dos tempos aquela que indubitavelmente é, tais licenciaturas serão passaportes para o desemprego. Seja como for, quanto mais consciência se tiver da vida que se vive menos bem se suportam as realidades que nos são impostas, e menos a sério se levarão os políticos, os jornalistas, os magistrados, os professores, os dirigentes, a propaganda. Os governos não podem permitir ao cidadão uma consciência excessiva – ou seja, verdadeira, rigorosa – da realidade. Para tanto usam os media. Os poderes sabem o quanto um estudo de Filosofia pode mudar o pensamento de um cidadão, pode despertar uma consciência individual. A Filosofia ensina a pensar, o que é coisa posta fora de moda, porque há que consumir e acreditar no que se vê na televisão. E se o pensar ficou fora de moda por alguma razão superiormente determinada foi. Pensar pode ser um perigo. Até para as instituições. Um perigo para a credibilidade das hierarquias decisórias. Disciplina que ensine a pensar é um incómodo para os poderes. Se ensina a pensar, até pode ensinar a falar, a escrever. É factor de desenvolvimento mental. Desmascara as pesporrências, coisa proibida em Portugal. E não só… o que é pior… A Filosofia pode até, calcule-se, ensinar a viver. Se ensina a pensar, a falar e a escrever, ensina seguramente a viver. Sim, penso que é tudo o mesmo, cumprido com maior ou menor habilidade. Pois é, a vida de cada um pode não estar condenada à mediocridade a que cada um se acomodou."

4 comentários:

Anónimo disse...

Sempre desconfiei de moralistas. O moralista coloca-se numa posição eticamente superior à daquele(s) que considera imorais, mas frequentemente o faz para esconder a sua própria imoralidade.

O que leio no blog do senhor Joel e o que escutava nas suas crónicas radiofónicas é o apontar do dedinho em riste sempre contra os mesmos (a direita, os patrões, os capitalistas, etc., etc... a treta do costume).

Os patrões, os capitalistas, os governantes são sempre uns papões e uns poltrões e o povo, os trabalhadores, os assalariados uma mole coberta de santidade e probidade indiscutível.

Até aprecio a ironia e o estilo mas, como digo a todos os moralistas: vai-te catar, ó Joel!

Anónimo disse...

Sr. Anónimo 27 de Janeiro de 2013 à0 20:05

“Sempre desconfiei de moralistas. O moralista coloca-se numa posição eticamente superior à daquele(s) que considera imorais, mas frequentemente o faz para esconder a sua própria imoralidade.”

“Até aprecio a ironia e o estilo mas, como digo a todos os moralistas: vai-te catar, ó Joel!”

Então em que ficamos: Há moralidade ou.... "comem todos"

Anónimo disse...

O regresso de Joel Costa é uma excelente notícia, gostava era que ele também gravasse o áudio, no You Tube, editor de vídeos teria seguramente música clássica disponível para manter o seu estilo.

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Por onde andariam?! Àqueles de lucubreidade, apurada. Bons, no tempo de outrora...

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