segunda-feira, 14 de maio de 2012

As 5 Ondas da Dominação Mundial pela China Moderna





A PRIMEIRA ONDA iniciou-se há uns 30 anos, sendo o resultado nas alterações internas de poder dentro do Partido Comunista Chinês.  A missão dos comunistas pós-Mao era transformar uma China essencialmente agrícola e de subsistência numa potência industrial mundial. Preservando o sistema de governo, o plano deveria obter para a China algo que não tinham, a tecnologia, em troca de algo que tinham em grande abundância, a mão-de-obra.


Foi quando começou por lá um insipiente processo de industrialização, com a manufatura de cópias de produtos simples e a venda destas cópias ruins a preços baixos ao redor do mundo. Aqui, no Brasil, estas quinquilharias chinesas aportaram basicamente por contrabando, via Foz do Iguaçu, nas décadas de 80 e 90 e eram uma febre entre os camelôs.  Produto chinês era então sinônimo de “porcaria”. Isto, porém, era só um treinamento para o que viria depois.  A primeira onda era um plano piloto de preparação para as demais ondas.

Na SEGUNDA ONDA, já dominando os rudimentos de uma estrutura industrial, os chineses então abriram o seu território para receber indústrias que quisessem se beneficiar de sua mão-de-obra semi-escrava e muito barata. A única exigência feita foi a entrega obrigatória ao governo chinês da tecnologia (know-how) que fosse empregada nas indústrias que quisessem se instalar em solo chinês. Ninguém se importou com isso e a tecnologia foi toda entregue.  Não era crível que os chineses fossem saber fazer algum uso daquele conhecimento. O que importava aos industriais ocidentais, enfim, era calcular os lucros que iriam receber sugando a energia da mão de obra barata dos trabalhadores chineses, ainda mais num país em que não há, praticamente, legislação laboral com maiores restrições ao limitações ao empregador.

A TERCEIRA ONDA é a que está em andamento hoje. Envolve a criação de indústrias totalmente chinesas, que manufaturam os mesmos produtos das empresas estrangeiras que se instalaram na China.  Neste estágio, os produtos feitos 100% por chineses passam a concorrer diretamente com seus similares nos locais de mercado mundial destes produtos.  Como o processo de absorção de tecnologia é gradual, os chineses começaram a vencer os concorrentes através de preço baixos e da qualidade, cada vez maior, dos produtos.  É aqui  que os pólos industriais dos países estrangeiros começam a entrar em declínio, pois não conseguem concorrer com os produtos chineses.

Aqui no Brasil, são exemplos típicos a destruição e desmonte dos pólos calçadistas do RS e de SP, assim como os pólos cerâmico e têxtil de SC.

Os industriais estrangeiros com fábricas na China, após lucrarem bastante, ainda possuem um trunfo: a propriedade das marcas mundiais.  Eles não mais se ocupam com o processo produtivo, em si:  os chineses fazem tudo e colocam as marcas deles nos produtos que são distribuídos ao redor do mundo.  Melhor exemplo de produto com estas características:  os tênis da marca Nike.

Na QUARTA ONDA, que já se inicia, a China começa a dar o “golpe de misericórdia” nos mercados, para desequilibrar e tornar-se dona de todos os parques produtivos mundiais.
Neste estágio, é quando passam a ser criadas as marcas chinesas, as quais são lançadas nos mercados, associadas a produtos agora mais complexos e sofisticados, de alta qualidade e a preços em média 30% mais baixos do que os similares da concorrência.  Exemplo recente no Brasil: automóveis chineses da JAC Motors.

Este percentual a menor nos preços é meticulosamente calculado, pois esta é a margem média de ganhos dos ocidentais na cadeia de todo o processo industrial até a colocação do produto na loja.  Os pólos industriais concorrentes passam então a vivenciar o dilema de escolher entre produzir seus produtos sem lucratividade ou fecharem as portas.  Evidente, eles têm fechado as portas, pois o sistema capitalista, como o nome já diz, vive do lucro.

A partir do implante desta política em cada segmento, são necessários entre 10 e 15 anos para que a China se torne detentora de 100% de cada pólo industrial, em cada tipo de produto.  Exemplo disso, no Brasil, é que há determinados produtos hoje em que todas as marcas disponíveis no mercado são chinesas.  É a China concorrendo com a própria China, um verdadeiro atentado à lógica ocidental sobre os mercados, quando se sabe que todas as fábricas chinesas possuem um mesmo dono, o Partido Comunista Chinês.

A QUINTA ONDA será aquela em que a China se tornará o único país a produzir os bens de consumo que abastecerão todos os mercados globais. Produtos que terão o selo de marcas chinesas e este selo se afirmará como uma garantia de qualidade e de procedência confiável. Nesta última onda, o valor das benchmarks globais hoje tão consagradas despencará e o processo de dominação chinesa estará quase completo.

No último ato destas 5 ondas, o governo da China passará a utilizar-se de um novo discurso sócio-econômico.  Dirá ao mundo que, durante décadas, os países ocidentais capitalistas e suas populações se aproveitaram e exploraram o povo trabalhador chinês. E que ninguém se importou com o sofrimento dos trabalhadores chineses, com as jornadas de trabalho longas e sem descanso, com os baixos salários e com o fato de adolescentes, quando não crianças, serem obrigados a trabalhar duro em fábricas não raro insalubres e inseguras. E que tudo isso ocorreu, sob os olhos de todos, porque os ocidentais só quiseram obter altos lucros e as populações de seus países só se preocuparam em adquirir bens de consumo a preços baratos, para o seu proveito e conforto próprios.

E que, assim sendo, terá chegado então o momento histórico do mundo ocidental passar a trabalhar, a seu turno, para os lucros das indústrias chineses e para o conforto e bem-estar do povo chinês.  Que é chegado o momento da população chinesa ser dispensada de sofrer e de submeter-se a condições degradantes de trabalho.

Esta será a senha. Detendo o controle de todos os parques produtivos mundiais sobre todos os bens de consumo do planeta, sendo detentores das marcas e de todo o processo de distribuição destes produtos, os chineses não terão concorrentes. Desta forma, estarão livres para elevar os preços de todos os produtos de consumo o quanto quiserem.  Isto irá gerar, num primeiro momento, uma enorme transferência da riqueza econômica para a China, ao mesmo tempo em que empobrecerá, dramaticamente, as economias mundiais de todo o mundo ocidental capitalista. Nos países ocidentais, a recessão e o desemprego atingirão níveis sem precedentes, em escala três vezes superior aos níveis que se abatem hoje nos EUA e na Europa.

Este cenário será perfeito para a instalação de fábricas chinesas em todo o mundo capitalista. A mão-de-obra ocidental será necessariamente barata e as condições de trabalho oferecidas serão muito precárias, em muitos casos idênticas aos padrões sub-humanos que ainda hoje são impostos aos trabalhadores chineses. Evidentemente, além dos salários baixos, serão ainda implantados padrões típicos de produção do sistema comunista de trabalho nas fábricas chinesas montadas em territórios ocidentais. Patrimônios imobiliários em larga escala serão adquiridos pelo governo da China, já que seus cidadãos não terão permissão para adquirir propriedades individualmente, enquanto cidadãos chineses.

Em países ocidentais onde a legislação laboral não for atenuada para adaptar-se à nova realidade as fábricas chinesas não se instalarão.  Nestes países, o quadro recessivo e de dificuldades econômicas será ainda bem mais dramático, beirando aos caos.

Com estas 5 ondas, o maior país comunista do planeta, a China se tornará também o país mais rico (talvez, o único país rico) e alcançará a dominação política e econômica mundial.  A moeda planetária passará a ser o iene e o idioma padrão no mundo será o mandarim.

Quando esta época chegar, não passarão de lamentos hipócritas as críticas direcionadas à China pelos economistas e analistas econômicos ocidentais, já então desempregados, os mesmos neoliberais papas-de-mercado de hoje, que não se cansam de  supervalorizar o lucro como bem supremo, em nome do qual tudo se justifica.  E todos nós, ocidentais, assim como nossos filhos e netos, trabalharemos para sustentar o life style do povo chinês e ratificar o poder do Partido Comunista Chinês.

Os dirigentes chineses, é claro, não perderão a oportunidade de se vangloriar.  Afirmarão, com convicção, sem ninguém que os possa contrariar, que o comunismo, ao final das contas, mostrou-se o mais efetivo e mais inteligente regime político já criado pelo homem. Dirão que a liberdade, tão apregoada como valor máximo pelas civilizações ocidentais capitalistas, nunca passou de uma ilusão, de uma ferramenta de dominação utilizada pelos mais fortes e egoístas, na exploração, sem piedade, dos mais fracos, mesmo os seus compatriotas.  Dirão que o sistema capitalista ocidental é desumano e iníquo ao concentrar a riqueza nas mãos de poucos.

Caso chegarmos a este dia (o que espero que nunca ocorra), o pior de tudo será nos darmos conta, nos cinco minutos de intervalo durante as jornadas de trabalho de 14 horas diárias que enfrentaremos nas fábricas chinesas, que o Partido Comunista Chinês terá toda a razão. 
Texto: Rogério Guimarães Oliveira,  advogado militante  em Porto Alegre/RS

4 comentários:

Robinson disse...

Não foi pensado o seguinte: quando a mão de obra chinesa começar a consumir, o que já esta começando, o mundo não terá materia prima e produtos para abastecer a China.

fernando caria disse...

Caro Rerum

Estou surpreendido com o relaxo dos critérios de rigôr na publicação deste "post".
Além de erros monetários evidentes, já que o Iene é a moeda do Japão, quando se queria referir o Yuan. Ou da ignorância sobre a língua mais falada na china que é o Cantonês.
A arrumação da história recente da china em ondas está errada, no que toca à sua cronologia bem como no que se refere ao prognóstico.
Quanto ao prognóstico apocalíptico para o capitalismo ocidental, revela (tal como a maioria dos actuais líderes europeus) um desconhecimento profundo da História e da aritmética económica básica.
Só há capitalismo com lucros, se houver mercados e estes só existem (como elemento económico) se houver poder de compra. Ora com salários miseráveis, não há mercados.
O autor apresenta um argumento circular para justificar a escravização dos mercados ocidentais, que sendo escravos não constituem qualquer mercado e deixam de poder fornecer qualquer rentabilidade para os investimentos.
Aliás, é exactamente pela manutenção artificial de condições de trabalho esclavagista que a China tem de vender para os mercados externos (com poder de compra) e não vende para o seu mercado interno (inexistente) porque os 1.000 milhões de camponeses não consomem nada do que a china industrial produz.

Claudinei M. Santos disse...

A ideia é plenamente plausível, porém, o consumo do mundo não poderá ser atendido pela China, uma vez que a exemplo da Inglaterra, que dominou o mundo em uma determinada época, o mesmo ocorreu com os Estados Unidos e, vai ocorrer com a China.
O mundo vive de ciclos e estamos vendo que mais um está se iniciando, sempre haverá dominadores e dominados, o importante, é que nós ainda não estamos nem no caminho de nos tornarmos a potencia que podemos ser, ainda estamos pensando que realizar uma copa do mundo onde alguns tentam se locupletar-se, com o evento.
Talvez se todo este gasto fosse investido em nossas Universidades,o retorno seria maior.

Valter de Oliveira Filho disse...

Como as ondas do mar, as ondas econômicas também não são previsíveis, estando sujeitas a fatos novos, como os recentes da Europa, que com certeza deverão mexer nos planos chineses. Ainda temos as guerras religiosas, em pleno andamento, que também deverão interferir no nosso ambiente econômico. Qualquer previsão de 5 anos, é chute.

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...