sexta-feira, 13 de abril de 2012

Resposta a Inês Pedrosa no "Sol"

Resposta dada no "Sol" de hoje à última crónica de Inês Pedrosa aquele semanário:

Tenho de confessar, embora me custe, porque a Inês Pedrosa dá o que tem, que nunca li nada tão cego à mais evidente evidência, tão deprimentemente obtuso (é o termo mais suave que me ocorre) do que aquilo que Inês Pedrosa escreveu na sua crónica no Sol de 5 de Abril.

A tragédia do que foi a educação nos últimos trinta anos em Portugal quem mais feriu foi as crianças pobres, as que não tinham livros em casa, nem pais que pudessem ensiná-las ou -las a estudar nas escolas diferentes, como aquela em que – aposto – Inês Pedrosa, pôde, felizmente, pôr a filha a estudar.

Foram trinta anos de crime e irresponsabilidade, a deixar que as crianças pobres entrassem na escola pública sem nada e saíssem dela sem coisa nenhuma. Miseravelmente, polpotianamente, sacrificadas à ideologia obscurantista. Um analfabeto deixa de ser um analfabeto por lhe oferecerem um diploma de doutoramento?

O resultado desses trinta anos de delírio estão aí, aos olhos de todos, nos resultados da educação e na realidade social (o abandono escolar não parou, o fosso entre pobres e ricos não deixou de aumentar, etc., etc, todos os indicadores foram já mais do que divulgados), cultural, política, económica.

Mas valerá a pena tentar explicar ou pedir lucidez a quem não entende o óbvio e não vê a realidade mais do que gritante à sua volta? Não vale. Inês Pedrosa é claramente um daqueles seres que acredita no que deseja acreditar.

Relevante é o saber e a competência do ministro e a determinação que está a demonstrar. Aguardemos os resultados. Virão muito depressa. E é disso que andam com medo.

Guilherme Valente

8 comentários:

Rui Baptista disse...

Prezado Dr. Guilherme Valente: Permita-me relevar do seu texto este pequeno/grande parágrafo: " Um analfabeto deixa de ser um analfabeto por lhe oferecerem um diploma de doutoramento?"

Distribuir diplomas a granel, é fácil. Difícil é dar-lhes a seriedade e a honestidade que deviam merecer num país em que se formam licenciados em vãos de escada e se aceitam teses de doutoramento que são simples redacções ou, pior do que isso, cópias da antiga 4.ª classe do antigo ensino primário.


A propósito escrevia Francisco Sousa Tavares, anos atrás: "estamos a formar não um país de analfabetos como até aqui, mas um país de burros diplomados".

Armando Inocentes disse...

A Senhora conhece bem «a escola» quando afirma "Os ricos terão sempre vantagens – mas essas vantagens esbatem-se com a continuação do trajecto escolar, quer porque as escolas secundárias estão apetrechadas com computadores e bibliotecas quer porque o peso dos professores e do ambiente extra-familiar se vai tornando mais importante à medida que as crianças se transformam em jovens e ganham autonomia"... (continua a falar de meninos de 9 anos? Ou só daqueles que conseguem chegar ao secundário?) Pergunto só: quem marca mais a criança? O professor do 1ºCEB ou o do Secundário?

A escolaridade obrigatória em Portugal é gratuita, mas no próximo ano cada manual para o 1º ciclo vai custar em média 9€... (que não podem futuramente ser utilizados por outros alunos) e só no 1º CEB são em norma 3 manuais mais 2 de fichas... (façam-se agora as contas!).

E se todos os pais se recusassem a comprar esses manuais?????

José Batista da Ascenção disse...

A propósito do comentário de Armando Inocentes:

Este ano paguei um pouco mais que cinquenta euros, sim

um pouco mais que cinquenta euros!, por um manual de

12º Ano da disciplina de Física.

Cuidei que cumpri o meu dever, ainda antes de as aulas

terem início.

Pois que se fique sabendo: o professor da disciplina

nem sequer liga ao manual. E isto não é uma crítica ao

professor. Para que conste.

PS: Este comentário é apenas um humilde apontamento.

Pois não li a crónica de Inês Pedrosa, que é o motivo

do "post" de Guilherme Valente.

José Batista da Ascenção disse...

Afinal, cansado que ontem estava, nem reparei que a

crónica de Inês Pedrosa estava facilmente acessível.

Não sei o que a levou a gastar o seu tempo,

escrevendo-a. Nem eu vou desperdiçar o meu tempo,

comentando-a. Mas poderia dizer-lhe que eu era um

menino desprotegido (de uma família pobre) e que senti

grande contentamento quando fiz o exame da quarta

classe, lá por volta dos (meus) onze anitos. E senti

muito gosto porque mostrei, sobretudo a mim próprio, um

"atestado" de capacidade.

Diferentes, que os seres humanos são...

E ainda bem.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista;

É muito mau haver doutores analfabetos.
Mas é também mau os cérebros pobres que produzem homens medíocres.

Do livro “como se forma uma inteligência” (autor Dr. Toulouse) – da Biblioteca Cosmos (direção do Professor Bento Jesus Caraça) retiro uma transcrição para dar o significado do que eu considero ser os “cérebros pobres” e “homens medíocres”.

“O bom sentido popular, por outro lado, não se deixa enganar pelos factos da inteligência. Uma pessoa poderá ser muito instruída, graduada em todas as Faculdades e laureada em cursos superiores, ser até possuidora de cátedra e ter funções eminentes e, contudo, continuar a ser um pobre cérebro. O seu criado de quarto não ficará deslumbrado por esses títulos; pensará que apesar de tudo, o seu amo não é inteligente; e não se enganará. Desta forma se explica o fracasso de certos indivíduos notados na escola, alunos de prestígio, que se converteram em homens medíocres.”

Um bom exemplo é António Barreto (sociólogo) poderia ser outro, há tantos;

António Barreto diz num documentário televisivo, e escrevo de memória: que a lei agrária com o seu nome (lei barreto) era boa, tudo era pensado e indicado à realidade do páis; só descuidou um pormenor, e diz ele - com à-vontade surpreendente - que só mais tarde compreendeu que a sua reforma nunca poderia ter sido viavél sem que houvesse a adesão voluntária das massas trabalhadoras”.

Professor Rui Baptista, haverá melhor exemplo pelos resultado e conclusão (qual verdade de La Palisse), de falta de inteligência, e de homem com cérebro pobre que se tornou medíocre.

Não basta pois a certas personalidades deixar crescer o cabelo e puxa-lo atrás para mostrar a sua testa e assim parecer doutor; nem tão pouco o país proporcionar-lhes oportunidades (com recursos e meios) o que para outros não passaria de uma quimera; nada lhes servirá no branqueamento da verdade, pois o bom sentido popular não se engana.

A História fará justiça certeira, assim espero.

Liberte-mo-nos de certas amarras intelectuais.


Cordialmente,

Fartinho da Silva disse...

O texto de Inês Pedrosa representa o nosso triste passado, não representa o futuro!

Fernando Martins disse...

Caro Guilherme Valente:

Concordando em absoluto consigo sobre a questão em causa (a necessidade de avaliar, com exames a sério, os conhecimentos dos alunos, a começar pelo 1º Ciclo), há que referir que o nosso amigo Doutor Nuno Crato está a cometer alguns erros: as turmas de 30 alunos sem antes se mudar o Estatuto do Aluno, os Mega-Agrupamentos com a indisciplina que isso acarreta, a poupança a todo o custo com os professores e funcionários das Escolas a pagarem (do bolso ou com o desemprego) a fatura toda. Será que Giga-Agrupamentos, com 30 estabelecimentos de ensinos, 350 professores e 3.000 alunos, geridos por telefone de uma Escola Secundária, irão funcionar?
Nunoi Crato, para poupar no próximo ano 370 milhões de euros vai sacrificar toda uma geração e dar cabo da Escola Pública - e digo isto porque conheço e gosto de Nuno Crato...

Cão que fuma disse...

Exames escolares a meninos de 9 anos mantêm as classes sociais estáticas

CONTRA A HEGEMONIA DA "NOVA NARRATIVA" DA "EDUCAÇÃO DO FUTURO", O ELOGIO DA ESCOLA, O ELOGIO DO PROFESSOR

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