terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Os avós levaram malas de cartão. Os netos trazem diplomas*


Transcrevemos um recente post do nosso leitor João Boaventura inserto no seu blogue "Desporto e Economia" na sexta-feira passada:

O Plauto português, Gil Vicente, nas suas obras, já denunciava o abandono dos campos e a desertificação do país, provocados pelas políticas de acumulação de riqueza dos Nobres, da Igreja e da Coroa Real.

Voltamos à desmistificação do jogo de palavras que enrolam pensamentos obtusos, confusos, pouco claros, escondidos os esconjuros, mas exteriorizando com limpidez cristalina o que se pretende disfarçar com o dito que não foi dito, depois de claramente dito.

Depois de o Secretário de Estado do Desporto e Juventude ter apostado na elaboração do Livro Branco da Juventude, convidou os jovens a emigrar para deixarem o aconchego da família, fez o jogo das contradições ou das inutilidades, porque perante tal convite ficava-se por saber a quem se destinaria o Livro perante a fuga da juventude, a menos que o manuscrito iria fazer jus ao título.

Como os políticos, apesar de adultos mantêm espírito adolescente, produto dos tempos de chefes de turma e de camaradagem escolar, logo o Ministro Adjunto se apressou a vir ao terreiro defender a classe, apoiando as declarações do seu subordinado, não fosse a plebe pedir a cabeça do Secretário de Estado pelo atrevimento de querer expulsar os jovens para os poupar de ler o Livro Branco da Juventude, ou para se poupar de o escrever perante a ausência e leitores. Com a agravante de o Ministro Adjunto, metido numa vara de onze camisas, apoiar-se na tese de os navegadores de antanho, a desbravar mundos – em vez de primeiro desbravar cá dentro - sem lhes dar as naves. E não satisfeito com esta arenga permitiu-se, em reunião alegre com angolanos, enaltecer, como prova do que vinha afirmando, os portugueses instalados no estrangeiro a fazerem figura, em vez de se penalizar de não poderem fazer figura na própria pátria. Os alçapões são tremendos.

E como a camaradagem é o emblema do Governo – um por todos e todos por um – logo o Primeiro Ministro se apressou a saltar à arena já que, ostracizados os alunos, os professores ficariam desempregados, pelo que, em recurso, e para salvar os seus hierárquicos, aconselhava também os mestres a acompanhar os alunos, sugerindo as ex-colónias para continuar a colonização interrompida abruptamente. O que ia em contraponto com a opinião do secretário de Estado das Comunidades, António Braga, que anunciava, em 21 de Junho de 2005, a intenção do Governo de acabar com o envio de professores de português para o estrangeiro, e tinha inaugurado, em Outubro de 2009, o Gabinete de Emergência Consular que funcionava 24 horas por dia para prestar apoio aos portugueses no estrangeiro que se encontrassem em situações de emergência.

Para este Governo não há situações de emergência. Para a frente e cara alegre.

Postas as coisas nestes termos para que a memória do futuro não o esqueça nos seus arquivos, somos despertos pelas trombetas dos arautos do semanário Sol, do dia de hoje, com esta diatribe, que brama como um rastilho:

Passos Coelho tinha sugerido que os jovens alarguem o seu mercado de trabalho e, posteriormente, o euro-deputado do PSD Paulo Rangel chegou mesmo a sugerir, na última reunião do Conselho Nacional, a criação de uma agência nacional para ajudar os portugueses que queiram emigrar.

Chama-se a isto a difusão de ideias difusas, provocadas pela sensação de que Portugal afinal anda de mente perdida, que não há uma nova forma de fazer política, mas uma nova forma de perder a vergonha, e de argumento em argumento, deixando a História percorrer os trilhos dos dias que correm, Portugal tende a desaparecer dentro dos próximos 50 anos.

É provável que, perante a crise que nos arrasta, a única solução viável para Portugal se realizar seja esse: espalhar alunos e professores nas malas diplomáticas para o estrangeiro e esperar de volta pelos netos aptos a negar a asserção de Júlio César:

Ali para os lados da Lusitânia há um povo que não governa nem se deixa governar

João Boaventura
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*O título deste Post, com a devida vénia, foi tirado do de um artigo publicado no Jornal i, no dia 17.12.2010, abordando o Dia Internacional do Migrante - o 18 de Outubro de 2010 – para dar a conhecer o mundo dos luso-descendentes em Portugal.

1 comentário:

José Batista da Ascenção disse...

Caro João Boaventura:

Se ao menos pudéssemos convidar certos

políticos a emigrar...

Caso daqueles cerca de duzentos deputados que

nunca ninguém, exceto eles próprios, sabe para

que servem;

E daqueles ex-governantes que se governam nos

lugares que avidamente ocuparam, após o seu

(brilhante) exercício ao leme do país;

E daquelas pessoas que constituiram

(a)fundações de que só elas (próprias)

conhecem os benefícios;

Etc.

Portugal pode desaparecer nos próximos 50

anos? Será por fuga ou por exaustão e morte

dos seus (pobres) habitantes?

Como o clima é bom e o país é fisicamente

variado e bonito, talvez haja alguém depois

que consiga ter mão nisto...

Os nossos filhos, os fugidos de agora, é que

não vão (provavelmente) orgulhar-se muito de

nós, admito.

Obrigado por colocar o dedo na ferida. Para

isso também é preciso coragem. E lucidez.

Embora haja quem prefira correr para o abismo

com (cego, ou disfarçado?) "otimismo". Nesta

fase, não os condeno.

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