quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O CENTENÁRIO DO TITANIC


Minha crónica publicada no "Sol" de sexta-feira passada (antes, portanto, do naufrágio do Costa Concordia nem Itália:

No próximo dia 14 de Abril, um navio de cruzeiro, com mail de mil passageiros a bordo, em trânsito de Southampton para Nova Iorque, parará nas águas gélidas do Atlântico Norte na posição de coordenadas 41° 43′ 55″ N, 49° 56′ 45″ W, onde, exactamente há cem anos, o RMS Titanic naufragou devido à colisão com um grande icebergue. Rezar-se-á uma oração pelas 1517 vítimas do acidente.

O Titanic Memorial Cruise recriará a viagem do que era, na época, o maior navio do mundo. As indumentárias da tripulação serão as da época, assim como as refeições e as músicas pela orquestra de bordo. Só o navio – o Balmoral – não será da época. Não haverá desta vez uma colisão como aquela que originou a inesperada tragédia. Algumas das razões da segurança das actuais viagens marítimas remontam ao inquérito efectuado logo após o acidente. De facto, essa investigação identificou factores que podiam ter evitado o desastre ou, pelo menos, minimizado os seus efeitos. Por exemplo, os passageiros de 3.ª classe morreram em percentagem maior que os das outras classes, porque, albergados nos níveis inferiores, não tinham acesso fácil aos botes salva-vidas, no nível superior. Aprende-se com os erros: As leis que presidem à construção naval melhoraram, os procedimentos de segurança foram reforçados (com a obrigatoriedade de salva-vidas para todas as pessoas a bordo) e até patrulhas de detecção e destruição de icebergs foram instituídas.

Uma das tecnologias que os navios modernos utilizam surgiu precisamente em virtude do desastre. Trata-se do sonar, o uso de ultra-sons para detecção de obstáculos graças ao fenómeno do eco. Já se sabia no século XIX que os morcegos tinham uma propriedade estranha: viam com os ouvidos! Mas só com as notícias do Titanic o meteorologista inglês Lewis Richardson se lembrou de criar um invento baseado no princípio que a evolução desenvolveu nos morcegos. O sonar haveria de ser aperfeiçoado durante a Primeira Grande Guerra para detecção de submarinos pelo físico francês Paul Langevin (o mesmo que teve em 1911 uma relação escandalosa com Madame Curie).

O desastre do Titanic continua a desencadear o uso de novas tecnologias. Foi assim que o oceanógrafo norte-americano Robert Ballard detectou em 1985 o sítio do naufrágio para a seguir efectuar uma campanha arqueológica, que permitiu resgatar objectos que têm andado pelo mundo em exposições. E é assim que, em Abril próximo, a recente tecnologia do cinema a três dimensões vai permitir estrear uma nova versão de um dos mais famosos filmes de sempre, o Titanic, de James Cameron, com Leonardo di Caprio e Kate Winslet nos principais papéis. Àqueles que não arranjaram lugares no Titanic Memorial Cruise resta-lhes a consolação de viverem a experiência multimédia no cinema.

1 comentário:

Luís disse...

Eis mais um marco da misera cultura historiográfica da Ciência deste criatura:

"físico francês Paul Langevin (o mesmo que teve em 1911 uma relação escandalosa com Madame Curie)."

Isto é a mesma coisa que dizer "Einstein, o mesmo que durante anos teve relações extra-conjugais". Ou "Newton, o que mesmo que tudo indica tinha relações homossexuais". Ou seja, reduz um dos nomes que fazem parte da História da Física a um episódio da vida privada. É preciso ser-se muito pobre ou de espírito ou de cultura. Acontece que Lagevin ficará na história da ciência (ao contrário de Fiolhais, que não dará sequer tema a um obscuro trabalho de um estudante de uma cadeira de História da Ciência em Portugal) pois foi um dos grandes nomes da Física da viragem do século. Um dos primeiros a trabalhar na radioactividade, na física atómica, esteve presente nos grandes congressos da Solvay, etc, etc. E, episódio por episódio, foi o orientador da tese de Doutoramento de Louis de Broglie. A tal tese que deu prémio Nobel e deu caminho à Mecânica Quântica. Coisa pouca. O que vale mesmo é recordar a tal coisa com a Madame Curie.

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