Texto publicado no Diário de Coimbra.
Há um século atrás Thomas Hunt Morgan, e seus colaboradores, demonstraram que os genes são “transportados” por cromossomas presentes no núcleo das células eucarióticas e são a base da hereditariedade de caracteres sexualmente transmitidos.
Entre 1909 e 1911 Morgan publicou na revista Science, artigos seminais sobre o mapeamento de genes em cromossomas, associados a características sexualmente transmitidas, da pequena mosca da fruta (nome científico Drosophila melanogaster), tornando-a num modelo animal incontornável e comum para o estudo da hereditariedade genética no século XX. Pelos seus trabalhos Thomas Hunt Morgan recebeu, em 1933, o prémio Nobel da Medicina e ou da Fisiologia.
Cem anos depois de identificadas as bases genéticas da transmissão sexual de características hereditárias, Y. Grosjean e colegas investigadores europeus, publicaram na revista Nature a identificação dos receptores olfactivos responsáveis pela forte atracção da Drosophila por frutos e mostraram que esta percepção olfactiva influencia o comportamento sexual do macho da mosca da fruta. Assim que detecta uma certa substância exalada pela fruta, o ácido fenilacético (uma auxina – hormona vegetal - resultante da carboxilação metabólica do ácido acético), o macho confirma que está na presença de um local rico em alimento (a fruta) e logo muito apropriado para a postura de ovos, pelo que inicia a corte a potenciais fêmeas acasaladoras.
Refira-se, a propósito, que o ácido acético (precursor do ácido fenilacético, como se indicou acima) resulta da oxidação do etanol – produto final da fermentação alcoólica - num processo designado também por fermentação, mas desta vez adjectivada por acética.
Um odor a ácido fenilacético, traduzido pelos órgãos olfactivos em estímulos paras a vias neuronais olfactivas, desencadeia, por sua vez no cérebro da mosca, os circuitos cerebrais responsáveis pelo comportamento complexo de corte sexual que a Drosophila macho passa a exibir.
Por isso, se reparar num ajuntamento de Drosophila numa qualquer peça de fruta madura ou no mosto da vindima, seja discreto, não interrompa o cortejo esvoaçado e dançado de acasalamento.
António Piedade
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
A ARTE DE INSISTIR
Quando se pensa nisso o tempo todo, alguma descoberta se consegue. Que uma ideia venha ao engodo e o espírito desassossegue, nela se co...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Por Eugénio Lisboa Texto antes publicado na Revista LER, Primavera de 2023 Dizia o grande dramaturgo irlandês, George Bernard Shaw, que ning...
-
Meu texto num dos últimos JL: Lembro-me bem do dia 8 de Março de 2018. Chegou-me logo de manhã a notícia do falecimento do físico Stephen ...
Sem comentários:
Enviar um comentário