terça-feira, 29 de março de 2011

A Nave dos Loucos

Lembram-se de um filme de 1965, de Stanley Kramer a partir de um romance de Katherine Ane Porter, com Lee Marvin, Vivien Leigh, Sigmone Signoret e José Ferrer intitulado A Nave dos Loucos?

É a ideia que Portugal dá: uma nau de loucos, no meio da tempestade, com o leme partido e as velas rotas. O Presidente faz um discurso incendiário, quando a atmosfera estava ao rubro e o calor era sufocante. Um bombeiro pirómano em dia de greve. O Governo (por falta de jeito ou premeditadamente?), como se não tivesse que dar contas a ninguém, nem soubesse da fragilidade política em que estava, pareceu um elefante desorientado por uma loja de louças. Quanto às oposições, sempre o mesmo; não têm emenda. Uns, à direita, com uma ânsia de poder que chega a ser impúdica; outros, à esquerda, sempre cantando de fora, perderam a razão e a realidade. No que respeita à direita, lembramo-nos bem da sua ave canora, à frente d’ O Independente, anunciando escândalos todas as semanas. Muitos sem consistência, simples fogos de palha, mas impiedosos e sistemáticos até à destruição do governo de Cavaco Silva, a quem agora tecem loas e canta hossanas. Os da esquerda esquecem-se que sempre foram contra todos os acordos, todos os orçamentos, todas as concertações sociais, todas as coligações, todos os entendimentos, enfim tudo o que fosse resolução de problemas.

Nem à esquerda nem à direita há pois autoridade moral. E que falta ela faz! Mas continuam. À direita, a invocar princípios e coerências, e à esquerda a apregoar coerências e princípios. Uns, mudam de princípios como de camisa, embora digam, em relação a tudo, que “sempre têm dito”, etc. Outros, com duas ou três ideias mais secas e espalmadas que arenque fumado; sempre de facto disseram (dizem e dirão) o mesmo.

Mas a massa não política não está melhor. Uns, em jornais, blogs, entrevistas de rua para as televisões e antenas abertas, com comentários tolos ou furiosos, mostram como nos falta bom senso, informação e espírito democrático. Outros, muitos, cada vez mais, achando que “todos” são iguais, ajudam a afastar os competentes e alimentam a praga dos carreiristas, que dão cabo do país.

E quanto à crise atual, também temos muitas culpas. Andámos, durante anos, endividando-nos euforicamente, como se fôssemos ricos. Continuávamos pobres e pouco produtivos, mas, levados pela indústria do consumo, chegamos a isto. E os bancos - com o Banco de Portugal à cabeça, dormindo um sono profundo - a empurrarem-nos para crédito em massa e para o consumo alegre e desenfreado. E não explicando que, para nos emprestar, se endividavam nos bancos estrangeiros. Ninguém alertava: nem Governo, nem Presidente, nem Oposição, nem Comunicação Social; só um ou outro medina-carreira ou ferreira-leite, que ninguém quis ouvir. E agora reclamamos e fazemos greves. Para melhorar a situação e facilitar a vida aos mais pobres, claro. A desonestidade, a estupidez e a velhacaria é que deviam pagar imposto.

João Boavida

11 comentários:

Ziza's N.E.M. disse...

http://raiosqueparta.blogspot.com/, vê este blog, provavelmente vais gostar ;] O meu verdadeiro nome é : marisa alexandra silva rodrigues x)cumprimentos ao sr excelentissimo caro bloguista

Anónimo disse...

Quando os velhacos pagarem
imposto neste país,
Portugal será feliz
por todos nos invejarem!

JCN

Anónimo disse...

Não há dúvida nenhuma
de que estamos todos loucos,
afogando-nos aos poucos
sem se ver saída alguma!

JCN

Anónimo disse...

Transformou-se Portugal
numa nave carregada
de uma espécie de cambada
em burlesco carnaval!

JCN

fernando caria disse...

Este discurso de que da direita à esquerda são todos responsáveis pela actual bancarrota, bem como os cidadãos também são culpados, é um discurso perigoso e falacioso. Pessoas responsáveis e lúcidas não deveriam dar eco a tais opiniões infundamentadas.
a) A crise é financeira com origem na incompetência dos diversos governos quanto ao planeamento e governação económica, incapazes de terem qualquer ideia estratégica sobre o papel do estado numa economia de mercado e estupidamente convencidos de que todos os problemas se resolvem atirando-lhes com dinheiro.
b) Os bancos privados portugueses estão bem, tal como muitos analistas estrangeiros explicam e se verifica pelas avaliações do BP e do BCE (ver p.e. aqui: http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704471904576228701429150030.html).
c) Se é verdade que as famílias estão sobre-endividadas, isso não tem nada de grave, não fosse a ameaça do desemprego, latente sobre todas as empresas privadas do país, fora dos sectores estatalmente protegidas em monopólio. O único erro dessas famílias foi o de terem acreditado que os seus empregos estavam garantidos ou que em caso de desemprego poderiam encontrar outros, o que é normal numa economia de mercado madura, mas não o pode ser em Portugal, após 15 anos de “crescimento” anémico.

Carlos Albuquerque disse...

Bela peça de pura propaganda governamental.

Critica abundantemente as oposições, dispersa as culpas por todos e ao governo apenas apelida de elefante desajeitado.

José Sócrates governou quatro anos com maioria absoluta e agora ano e meio com os orçamentos aprovados. Sempre disse que estava tudo bem. Agora surge de repente a dizer que estamos à beira do naufrágio e é apenas desajeitado? A única solução razoável era mesmo o governo ser demitido. Vai-nos custar caro? Vai. mas mantê-lo seria ainda mais caro. E Sócrates também não queria lá estar sabendo que o dinheiro e o crédito acabaram.

O chumbo do PEC IV foi um dos poucos sinais de sanidade mental na política deste país nos últimos tempos.

Francisco Domingues disse...

Caro João Boavida!
Concordo com quase tudo o que afirma e não me revejo nada neste último comentário. Por muitos erros que o PM tenha cometido, o que é certo é que ele foi vítima de muitas circunstâncias: 1 - Internamente, não ter tido maioria absoluta e ter tido uma oposição estúpida e destruidora (como, aliás, o PS tinha feito aquando na oposição) revelando que este modelo de democracia não funciona num país como o nosso) 2 - Externamente, ter apanhado com a crise internacional que o forçou a propor PEC atrás de PEC, cometendo o erro gravíssimo de não querer ver a realidade do nosso endividamento para além do razoável.
Posto isto, no momento, só nos resta uma alternativa: o PR formar um GOVERNO DE INICIATIVA PRESIDENCIAL, governo com os melhores e mais consensuais da nossa "praça", pondo os partidos a falarem sozinhos a ver se algum dia se entendem... Eleições será um erro do PR pois de consequências imprevisíveis, além do muito dinheiro e tempo perdidos em folclore tradicional... E o povo está farto de os ouvir!...
O melhor é assinar a petição que circula. Medina Carreira será um nome. Pois o que importa é que não seja dada a voz aos partidos que tudo...partem!

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=medinaPM

No meu blog “Ideias-Novas” apresenta-se uma nova ideia de democracia. Revolucionária, mas certamente eficaz para acabar com a tirania da partidarite que nos é imposta por este sistema partidário.

http://ummundolideradopormulheres.blogspot.com

Francisco Domingues

Anónimo disse...

Caro Francisco Domingues:

Permita que repita aqui a quadra que inseri no blogue "Livre e humano" do Prof. Doutor Amadeu Carvalho Homem, a saber:

O que é preciso à frente da nação
é um presidente eleito, soberano,
que tenha garra, músculo, tesão,
e faça andar o barco a todo o pano!

JCN

Anónimo disse...

Em três décadas e meia
fizeram de Portugal
um tremendo pantanal
onde a miséria campeia!

JCN

J.Pedro Henriques disse...

O meu forte aplauso, caro Senhor João Boavida.
Lamentavelmente não temos politícos, apenas partidaristas.
Permita-me acrescentar algo "...ask not what your country can do for you, but what can you do for your country..." J.F.K., um bom mote para estes tempos.

Anónimo disse...

Caro J. P. Henriques:
Isso é bom para masoquistas. Não é o meu género, as vida é só uma.

A panaceia da educação ou uma jornada em loop?

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