quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O fantástico manuscrito da Joanina

Perguntaram-me se o manuscrito referido no final do livro "História do Rei Transparente", da escritora espanhola Rosa Mantero (Edições Asa 2006), é verídico e respondi que é perfeita ficção tal como a maior parte desse romance histórico-fantástico que ganhou um prémio em Espanha para o melhor romance histórico. Deixo aqui o bocadinho com a referência à famosa Biblioteca (que também entrou no livro "Fórmula de Deus", José Rodrigues dos Santos, Gradiva):
"Segundo está recolhida no chamado Manuscrito de Fausse-Fontevrault (circa 1080), doado em 1770 pelo rei Luís XV da França à Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, Portugal, onde se conserva.

“Nos tempos antigos existiu um reino nem grande nem pequeno, nem rico nem pobre, nem totalmente feliz nem completamente desgraçado. O monarca do lugar governava às vezes quase bem, às vezes um pouco mal, como haviam feito seu pai, e o pai do seu pai, e o pai do pai do seu pai, e todos os seus antepassados, um antes do outro, até se perderem nas sombras da memória, pois a estirpe do Rei era longa e o Reino pacífico e estável, e todos os monarcas tinham morrido placidamente de velhos e na cama. Contudo, nosso Rei estava envelhecendo e não conseguia ter descendentes. Havia repudiado dez esposas consecutivas porque nenhuma lhe paria um herdeiro, e começava a se desesperar, pois temia que com ele se truncasse tão extensa linhagem. Numa noite de insônia, ocorreu-lhe uma idéia: aprisionar Margot, a Dama da Noite, a fada mais poderosa do seu Reino, e obrigá-la a cumprir seus desejos. Para isso enviou a Margot um emissário com ricos presentes e um convite para a grande festa que ele daria em palácio por motivo do repúdio à sua décima esposa e dos esponsais com a décima primeira. A fada, que era alegre e coquete, aceitou de imediato, e na noite da grande celebração chegou ao palácio numa carruagem puxada por cervos com os chifres pintados de ouro, e ataviada num traje deslumbrante confeccionado com vagalumes vivos…

2 comentários:

António Conceição disse...

O certo e sabido é que, não possuindo este, a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra possui manuscritos muito mais fantásticos. Estou a lembrar-me de uma célebre Bíblia hebraica escrita em caracteres minúsculos e com páginas borgeanamente labirínticas. Aliás, foi pena que Jorge Luís Borges nunca (penso eu)tivesse chegado a ter notícia deste tesouro, porque, com certeza, nele se teria inspirado para um conto fantástico. É um prodígio que, quando tive a felicidade de o ver, andei dois ou três meses a planear roubá-lo.
Será possível um post sobre ele?

ana disse...

Muito interessante este post!

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