terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Depois dos Deuses e de Deus… naturalmente,o hipermercado.

Neste época de Natal, surgiu um anúncio publicitário curiosíssimo duma cadeia de lojas de hipermercado. Descrevo-o aqui segundo a recordação com que dele fiquei.

Uma "voz" interroga um(a) consumidor(a) anónimo(a), sobre o seu comportamento durante o ano. Com um olhar entre o incrédulo e o desorientado, este(a) move-se em redor à procura de quem pergunta. Prontamente vários sujeitos com aspecto humano surgem (do nada?) e o(a) consumidor(a) anónimo(a), confessa, prontamente, que cometeu um pecadilho.

Por sua vez, os sujeitos com aspecto humano (que se assemelham a júris de concursos televisivos, mas com aspecto mais austero), complacentes, listam boas acções do(a) consumidor(a) que superam o pecadilho quotidiano, concedem-lhe uma auréola, que o(a) faz transcender a condição humana, e permitem-lhes… comprar.

Comprar: eis o prémio de quem denuncia o Mal e faz o Bem! A alegria das alegrias!

Como ocidentais, penso que não podemos deixar de estabelecer um paralelismo entre estes sujeito(s) com aspecto humano e os deuses gregos olhando, lá de cima, do Olimpo para os mortais, cá em baixo, ora escarnecendo, ora cuidando, ora esperando o momento de intervir. Ou com o Deus dos Católicos, olhando também lá de cima, do Céu, para os que foram feitos à Sua Imagem, mas que, cá por baixo, desenvolveram a tendência para se desviarem da orientação divina.

Enquanto numa lógica teísta o nosso comportamento é hetero e auto-regulado para ascender à Eterna Felicidade, que há-de surgir num futuro mais ou menos distante, mas incerto; numa lógica publicitária, o nosso comportamento é directamente regulado por alguém desconhecido que, num instante, sem delongas e com toda a certeza, permite-nos ter o que (mais) desejamos.

A dúvida não pode, pois, deixar de se instalar em qualquer um: não valerá mais ter paraísos terrenos, concretos, de acesso imediato, do que paraísos celestes contingentes e adiados? Na dúvida, é de aproveitar os que temos, tão à nossa mão, num hipermercado perto de nós.

5 comentários:

Anónimo disse...

"cadeira"... ou "cadeia"? JCN

Augusto Kuettner de Magalhaes disse...

Como é evidente, na duvida"VAMOS AO HIPER"!
ESSE É CERTO!!!!! o resto........

Anónimo disse...

É o sentido da vida como sendo imbuída da lógica de um flato.

Carlos Costa disse...

Há uns séculos era o "penso, logo existo". Hoje em dia é o "compro, logo existo".

Certa vez o filósofo Sócrates, ao chegar a um mercado de Atenas, disse o seguinte: "Que bom! Tanta coisa à venda de que eu não preciso!"

Pergunto-me se hoje em dia o Facebook, McDonald´s e a Microsoft não serão os nossos deuses!?

Anónimo disse...

Quem lhe responde?... JCN